Domingo, 14 de outubro de 2012 – 20h30
Homenagem
Multidão acompanha missa de 7º dia do sargento Fukuhara
Com informações da Agência Estado
Atualizado às 22h50
Uma multidão lotou o interior da Igreja Sagrado Coração de Jesus, em Santos, na noite deste domingo, onde foi celebrada a missa de sétimo dia do sargento da Polícia Militar Marcelo Fukuhara, assassinado a tiros no domingo retrasado, na Ponta da Praia. Do lado de fora, viaturas com as luzes acesas faziam um protesto silencioso.
Além de amigos e familiares, policiais civis e militares, da Baixada Santista e da capital, fizeram questão de participar da missa, que também contou com forte aparato policial. Inúmeras viaturas policiais cercaram a paróquia, interditando meia pista da avenida Bartolomeu de Gusmão.
Na entrada da igreja, a viúva Rosana Alves Gonçalves, bastante emocionada, cobrava a presença do governador Geraldo Alckmin e do secretário da Segurança Pública, Antonio Ferreira Pinto, ao ato ecumênico. “Quem matou meu marido foram eles e não os bandidos”, acusou, negando que o sargento tivesse recebido proteção policial, antes de ser executado. “Ele me deixou pelo ofício que cumpria com paixão. Que esteja onde mereça”, comentou. E prometeu, entre lágrimas: “Eu não vou deixar te esquecerem”. Fukuhara era responsável pelo policiamento dos morros do São Bento, Nova Cintra e Monte Serrat, onde é crescente o tráfico de drogas.
Muito emocionado, o pai do PM, Kazuo Fukuhara lamentava a perda do filho. “Quando eu pedia para ele ter cuidado, ele me falava: ‘pai, eu jurei amar esta farda. E eu vou honrá-la todos os dias. Ele foi embora. Assim é a vida’, relembra.
Um grupo de mulheres, lideradas por Rosana Almeida de Paula, fez questão de descer a serra, a fim de se solidarizar com a família do sargento morto. Rosana contou que seu marido é policial militar e está afastado do serviço desde março, quando foi alvejado por bandidos, na capital, quando retornava do trabalho. “A situação vem se repetindo com frequência, desde 2006, quando ocorreram os ataques do PCC, de modo que não temos mais sossego” afirmou.
Portando camiseta com a foto do sargento estampada, inúmeros policiais civis e militares se manifestaram contra a violência. O vice-presidente do Sindicato dos Policiais da Baixada Santista Márcio de Almeida Pino, disse que já previa a atual série de atentados contra os policiais. “Está havendo um descaso com a segurança pública, não só na região, mas em todo o Estado”, revelou.
O irmão de Marcelo, Walter Fukuhara, subiu ao púlpito para fazer um apelo. “Que nossos líderes tenham consciência, deixem de fechar os olhos e assumam sua responsabilidade”, desabafou.
“Não foi em vão”
O tenente-coronel Flávio de Brito Júnior, comandante do 6º Batalhão de Polícia Militar do Interior (6º BPM/I), garantiu que os esforços para solucionar a execução do sargento não cessarão. “O Estado, por meio das polícias Militar e Civil, está apurando este e outros casos. Ele não morreu em vão: morreu por muitas pessoas que não o conheceram, para que as drogas não chegassem a essas famílias”.
Deputado estadual e membro da Comissão de Segurança Pública da Assembleia Legislativa, o major Olímpio Gomes (PDT) considera que o Governo do Estado demorou para reconhecer a existência da premeditação de execução nos atentados a policiais.
“Já são 83 PMs, quatro policiais civis e 16 agentes penitenciários mortos da mesma forma (que Marcelo)”, revela Olímpio. “Existe, sim, orquestração para os assassinatos”. E, segundo ele, muitas das ordens partem de dentro dos presídios no Estado.
Crime
O sargento Marcelo Fukuhara, 45 anos, foi morto com vários tiros de fuzis calibres 5.56mm e 7.62mm. O segurança José Antônio Alves de Carvalho, 35 anos, que tentou socorrer a vítima, também foi atingido por um tiro de fuzil na perna direita e faleceu após receber atendimento médico.
O crime aconteceu na madrugada do domingo retrasado, por volta das 0h43. O sargento estava de folga, em trajes civis, e passeava com seu cachorro pela Avenida Rei Alberto, às 0h43, quando foi alvejado.
Fukuhara estava em frente ao número 327 da via, onde funciona o Buffet Viva um Sonho Lounge, do qual sua esposa é proprietária. Os disparos teriam sido efetuados pelos ocupantes de um veículo Hyundai IX35 de cor preta.
De acordo com uma testemunha que não quis se identificar, o veículo parou alguns metros à frente do ponto em que o policial estava e os ocupantes atiraram várias vezes. Ao ser atingido pelos disparos, o sargento caiu no chão, sofrendo traumatismo craniano.
José Antônio Alves de Carvalho, que fazia a segurança do bufê naquela noite, correu para socorrê-lo.
Enquanto Fukuhara era socorrido, o IX35 fez o retorno e parou em frente ao bufê, do outro lado da avenida. Um dos ocupantes, então, desceu do veículo usando um capacete e efetuou novos disparos.
As balas atingiram o sargento e o segurança, que teve a coxa direita perfurada. Os dois foram socorridos e levados ao Pronto Socorro Central da Cidade, onde receberam atendimento, mas não resistiram.