Arquivo diário: 10/10/2012
O que a Secretaria de Segurança Pública quer esconder ? 15
Eu, Sandro Barboza de Araujo, portador do RG XXXXXXXXXXXXXX, jornalista, venho por meio desta e com base na Lei 12.527/2011 e no decreto que regulamenta a mesma assinado pelo governador Geraldo Alckmin, solicitar as seguintes informações:
Nos dias 27, 28, 29 e 30 de março a Band exibiu uma série de reportagens sobre os relatórios de inteligência do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), que mostram crimes que estariam sendo praticados por Policiais Militares e que podem estar sendo acobertados pela Polícia Civil e pela Corregedoria da Polícia Militar.
Diante disso, gostaríamos de saber:
1 – Na resposta dada em nota pela Secretaria de Segurança Pública vocês afirmaram que se os relatórios são consistentes, se transformam em inquérito, caso contrário, não. Os relatórios apresentados nas reportagens foram considerados consistentes ou inconsistentes?
2 – Se inconsistentes, gostaríamos de saber os números dos inquéritos em que as denúncias foram apuradas? Quem era o delegado responsável por cada uma delas? O nome do Promotor de Justiça que solicitou o arquivamento dos inquéritos? Em que vara criminal isso ocorreu? O nome do juiz que concordou e determinou os arquivamentos?
3 – Agora, após a exibição das reportagens, foi aberto algum inquérito a respeito das denúncias? O coronel da reserva, Paulo Telhada, o filho dele, o tenente Rafael Telhada, algum policial do Décimo Sexto Batalhão estão sendo investigados pela Corregedoria da Polícia Militar? Respondem a algum processo administrativo?
4 – Há algum inquérito aberto contra o ex-comandante da Polícia Militar, coronel Álvaro Camilo, na Corregedoria?
5 – Há algum inquérito ou processo administrativo abertos contra os delegados Jorge Carlos Carrasco ou Marcos Carneiro na Corregedoria da Polícia Civil?
6 – O Décimo Terceiro Distrito Policial abriu um inquérito contra os jornalistas Sandro Barboza, Fernando Mitre e Fábio Pannunzio por crimes contra a honra. O delegado responsável pelo inquérito oficiou as Corregedorias das Policiais Civil e Militar por considerar grave as denúncias existentes nas reportagens e nos relatórios de inteligência. Quais as providências tomadas pelas duas Corregedorias? Foi aberto algum inquérito? Foi aberto algum processo administrativo?
7 – Algum policial foi afastado após as denúncias?
8 – Há algum outro relatório de inteligência denunciando possíveis crimes cometidos por policiais que viraram apenas arquivos, sem que os inquéritos policiais tenham sido abertos?
9 – Policiais Civis que investigavam os supostos crimes cometidos por policiais militares foram mortos ou ameaçados de morte. Algum inquérito foi aberto para apurar isso? Alguém já foi indiciado?
10 – O Secretário de Segurança Pública, Antônio Ferreira Pinto, gostaria de gravar entrevista para falar sobre os assuntos acima?
Quero saber também:
Nome, RG e local de trabalho dos Delegados de Classe Especial de São Paulo.
Quantidade de delegados de classe especial em atividade hoje no estado.
Quantidade de cargos que deveriam ser ocupados por delegados de classe especial.
O número de delegados de classe especial existente em São Paulo é suficiente para suprir os cargos existentes?
Nome, RG e local de trabalho dos delegados de primeira classe que estão atuando como delegados de classe especial. Quanto eles recebem por isso e quanto isso custa a mais para o governo?
O motivo de delegados de primeira classe estarem ocupando cargos destinados a delegados de classe especial?
Todas os questionamentos feitos acima estão aguardando resposta desde o dia 07 de maio. As questões foram enviadas para a Assessoria de Imprensa da Secretaria de Segurança Pública. Quem ficou responsável de responder tais perguntas na assessoria e até agora não o fez?
Qual é a função dessa pessoa?
Por que não respondeu até o momento?
Quantas pessoas trabalham na assessoria, horário de trabalho de cada uma delas, qual o salário que cada uma recebe?
Quanto custa por mês e por ano a assessoria de imprensa da Secretaria de Segurança Pública?
Quantos funcionários da assessoria de imprensa da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo são concursados?
Quando foi realizado o último concurso para o preenchimento de vagas na assessoria de imprensa da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo?
Qual é o critério para a escolha do chefe da assessoria e de cada um dos funcionários da assessoria?
No dia 12 de julho de 2012 o Secretário Antônio Ferreira Pinto em entrevista coletiva afirmou que os oito assassinatos ocorridos em Osasco aconteceram em “biqueiras”, conhecidos pontos de tráfico de drogas. Que o que ocorreu é uma guerra entre traficantes.
Diante destas afirmações gostaria de saber:
Se os pontos de tráfico de drogas são conhecidos qual o endereço deles?
O endereço onde ocorreu cada um dos homicídios?
Nestes endereços onde ocorreram os homicídios, quantas apreensões de drogas foram realizadas nos últimos seis meses nestes locais? Quantidade de drogas apreendida? Que tipo de droga foi apreendida? Nome dos traficantes presos? Número de cada inquérito ou auto de prisão em flagrante de cada um deles?
Quem são os policiais responsáveis pelo patrulhamento e também pela investigação nos endereços onde ocorreram os homicídios?
Quem eram os policiais que sabiam que nestes endereços onde o secretário afirmou serem pontos de tráfico de drogas havia este tipo de crime?
Quem são os traficantes que atuam nestes pontos?
Quem foi preso traficando nestes pontos nos últimos seis meses?
Números dos inquéritos e delegados responsáveis por investigação de tráfico de drogas nos endereços onde ocorreram as mortes conforme disse o secretário?
Se não houver inquérito e apreensões de drogas nestes pontos, gostaria de saber de onde vem a informação do secretário que os locais são biqueiras. Conhecidos pontos de tráfico de drogas? E se não houver inquéritos abertos até o momento, quais as providências tomadas pelas Corregedorias? Quantos e quais os nomes dos policiais indiciados por prevaricação por saber da existência dos pontos de tráfico de drogas e não ter tomado providências?
E finalizando: em fevereiro do ano passado, mostramos o caso de uma escrivã que foi despida a força no 25º Distrito Policial.
O parecer da Corregedoria da Polícia Civil é pela expulsão de um dos delegados envolvidos (Eduardo Henrique de Carvalho Filho) e absolvição dos demais. O documento está nas mãos do Secretário Antônio Ferreira Pinto desde o final de maio. Que providência foi tomada? Data precisa em que o Secretário Antônio Ferreira Pinto recebeu o parecer da Corregedoria da Polícia Civil? Qual o prazo legal para que ele envie o documento com sua decisão para o governador Geraldo Alckmin? Por que até o momento todos os delegados e investigadores continuam trabalhando normalmente?
Após a prisão da escrivã Vanessa Frederico Soller Lopes feita pela Corregedoria, em quanto tempo ela foi expulsa da Polícia Civil de São Paulo?
Aguardo as respostas no prazo legal previsto em lei
São Paulo, 13 de Julho de 2012
Sandro Barboza de Araujo
Vamos ao despacho do Diário Oficial do Estado de São Paulo:
Despacho da Chefe de Gabinete, de 08-08-2012
Processo: Prot. Geral GS 8160/2012
Interessado: Sandro Barboza de Araujo
Assunto: Informações nos termos do Decreto Estadual 58.052/12 e da Lei Federal 12.527/11 ? Lei de acesso à informação.
O pedido protocolizado busca acessar informações baseadas em premissas não agasalhadas pelos bancos de dados ou documentos produzidos ou acumulados por esta Secretaria de Estado da Segurança Pública, consoante dispõe o art. 7º, incisos II e V, da Lei Federal 12.527/11. Não se refere a dados objetivos e tem a pretensão de acessar informações pessoais que guardam caráter sigiloso, desta forma, Indefiro o pedido formulado pelo interessado nos termos do inciso IV do artigo 32 do mesmo diploma legal.
HIPOCRISIA É CUM NÓIS: Governo manda investigar ameaças contra repórter cometidas por coronel nomeado por José Serra…( Cadê a representação ao Ministério Público ? ) 15
Governo manda Polícia Militar apurar ameaças a repórter
Matéria de André Caramante sobre ex-chefe da Rota gerou onda de ameaças contra a família do jornalista. Coronel Telhada nega ter incitado manifestações contra o profissional
Agência Estado | 10/10/2012 10:58:37
A Secretaria de Justiça e da Defesa da Cidadania do governo estadual enviou nesta terça-feira (9) um ofício ao jornal Folha de S.Paulo oferecendo a possibilidade de o jornalista André Caramante, alvo de ameaças nas últimas semanas, ingressar no Programa Estadual de Proteção à Testemunha (Provita).
Segundo o secretário da Casa Civil, Sidney Beraldo, o governo também determinou a instalação de um inquérito policial militar para apurar as ameaças, assim como cobrou a atuação da Corregedoria da PM no caso.
As ameaças ao jornalista começaram em julho, após a publicação de uma matéria de sua autoria com o título “Ex-chefe da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar) vira político e prega a violência no Facebook”. A matéria relatava como os suspeitos de terem cometido crimes eram tratados de forma desrespeitosa na página pessoal do ex-comandante da Rota, Paulo Adriano Telhada, eleito vereador pelo PSDB.
Em resposta, o coronel acusou Caramante de ser “notório defensor de bandidos” e incentivou seus seguidores a encaminharem ao jornal manifestações de protesto contra o repórter. Desde então, as ameaças não pararam. No começo de setembro, a situação ficou ainda mais grave quando a família do jornalista passou a ser ameaçada.
Na semana passada, o site da Revista Imprensa publicou que o repórter tinha deixado o País, informação que vinha sendo mantida em sigilo. O jornalista continua trabalhando, mesmo fora do dia a dia da redação. Procurado pela reportagem, Caramante preferiu não se manifestar.
“O coronel (Paulo Adriano) Telhada foi infeliz em suas declarações. As afirmações não são compatíveis com o que defende o governo de São Paulo, compromissado com a liberdade de imprensa e com os direitos humanos”, disse Beraldo, lembrando que as afirmações do coronel foram feitas quando ele já havia entrado na reserva.
O jornalista Sérgio Dávila, editor executivo da Folha de S. Paulo, não confirmou se o jornal pretende aceitar a oferta do Provita. Por meio de nota, Dávila afirmou que, “diferentemente do que vem sendo informado, o jornalista André Caramante não foi afastado de suas funções. O repórter continua cobrindo a área de segurança pública para a Folha, como antes. Além disso, o jornal adotou todas as providências que o repórter julgou necessárias para preservar sua segurança”.
Telhada se pronunciou por meio de nota. Ele afirmou: “Em relação ao jornalista André Caramante, apenas relatei minha indignação contra matéria que dizia em manchete que eu ‘pregava a violência no Facebook’”. Ele disse ainda que não pretendeu “que a reação dos leitores à matéria ultrapassasse os limites da democrática discordância”.
“Defendo a liberdade constitucional de imprensa tanto quanto o meu direito constitucional de livre expressão de pensamento. Assim, não incitei, como jamais concordaria com ameaças de qualquer sorte a qualquer jornalista”, escreveu. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Qual é a sua opinião sobre a Rota? Ela deveria acabar? 59
Caramante –
Não só a Rota, mas toda a Polícia Militar.
A PM tem uma estrutura que desconhece meritocracia e privilegia uma variação do nepotismo.
Policiais dos escalões mais baixos são usados como degrau para filhos de oficiais que estão no topo da pirâmide.
É como se o filho do coronel fosse, desde sempre, o coronel de amanhã, e o filho do praça já nascesse sabendo que jamais será oficial.
Há exceções que o governo pode vir a bradar, claro, mas a regra é mais ou menos essa.
Quantos oficiais foram mortos pelo PCC?
Nenhum.
É óbvio que não tem de morrer nem o official, nem o praça.
Mas, hoje, só morre aquele trabalhador que está na linha de frente e também vive na periferia de São Paulo.
Só 3 – Fiquem tranquilos: TRABALHEM SEM DESCANSO ATÉ A MORTE ( nunca se aposentem )…Os PMs da Reserva para esse governo de bosta deixaram de ser Polícia ! 16
10/10/2012–06h00
Só 3 dos 66 PMs mortos em SP no ano estavam em serviço
DE SÃO PAULO DO “AGORA”
Policiais de folga são as principais vítimas de criminosos que tentam intimidar agentes de segurança do Estado de São Paulo. Dos 66 PMs que estavam na ativa e foram mortos neste ano –até anteontem–, 63 estavam fora do horário de serviço.
O número de PMs de folga mortos é o maior dos últimos sete anos. Supera até mesmo o ano de 2006, quando, até o final de outubro, 61 foram assassinados.
Naquele ano, a facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) orquestrou rebeliões nos presídios paulistas e ataques contra policiais militares.
Na relação das vítimas que estavam de folga neste ano estão dois tipos de policiais.
Um é aquele que fazia bico de segurança, como o soldado Hélio Miguel Gomes de Barros, 36, morto anteontem com 15 tiros num posto de combustíveis de Taboão da Serra, Grande São Paulo.
O outro é o do policial que estava realmente de folga. Foi o caso do sargento Marcelo Fukuhara, 45, fuzilado enquanto passeava com seu cão, no domingo, em Santos.
As informações detalhadas sobre policiais mortos neste ano foram obtidas pela Folha por meio da Lei de Acesso à Informação.
Os dados do Comando da Polícia Militar mostram ainda que 17 policiais já aposentados foram assassinados, o que eleva o número de PMs mortos para 83.
NOVA FRENTE
O fato de os policiais inativos se tornarem alvo é uma das novas frentes de ação da facção, conforme a polícia.
Para especialistas, há dois fatores que facilitam a ação dos assassinos. Um é que, na folga, o PM costuma estar sozinho e sem colete à prova de balas. O outro é que ele fica menos atento a ataques.
Segundo a reportagem apurou com quatro comandantes de batalhões da PM da Grande São Paulo, outro fator que favorece o ataque aos policiais de folga são supostos pagamentos de recompensas por parte do PCC ou o abatimento de dívidas.
Em um dos casos investigados, o assassino de um policial obteve o perdão do débito de R$ 50 mil com a facção.
Para o analista criminal Guaracy Mingardi, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, há fortes indícios de que as mortes dos PMs tenham sido uma retaliação do crime organizado.
O comandante da PM, Roberval França, disse que essa é só uma das hipóteses investigadas. No ano, conforme França, 147 suspeitos de atacarem PMs foram identificados; destes, 102 foram presos e 17, mortos. (AFONSO BENITES, ROGÉRIO PAGNAN E JOSMAR JOZINO)
Editoria de Arte/Folhapress | ||
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A política de segurança pública em São Paulo está falida; o liquidante: Antonio F.P. 19
Se você tem dúvida de quem está mandando nas ruas de São Paulo, basta conferir mais esta reportagem da Band: os ladrões estão agindo bem ao lado do Comando da Polícia Militar e da Rota? E o que a PM faz? Nada! A pergunta que fica é: incompetência ou conivência? Afinal, não conseguem nem cuidar do próprio quintal? E a Polícia Civil também não conseguiu, até agora, identificar quem são os criminosos. A política de segurança pública em São Paulo está falida:
Em apenas dois meses, oito restaurantes foram roubados. As principais notícias do Brasil e do Mundo você acompanha de segunda a sábado no Jornal da Band, às 19h20. Este vídeo também pode ser visto no portal band.com.br ou no Canal da Band aqui no Youtube.
Reportagem de Sandro Barboza
Edição de Márcio Strumiello
Imagens de Josenildo Tavares
Atentado à democracia sob pretexto de sua defesa: Querem tungar a vitória do Telhada…( 89.053 votos ) 43
Coronel Telhada pode ter sua eleição para vereador impugnada
Escrito por Simone de Moraes 01:23:00 09/10/2012
O Ministério Público Eleitoral de São Paulo (MPE-SP) decidiu pedir a impugnação do registro da candidatura do vereador eleito Adriano Lopes Lucinda Telhada, o Coronel Telhada (PSDB), ex-comandante Rota, que se elegeu domingo pelo Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), com 89.053 votos. O Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo foi uma das entidades que solicitou providências das autoridades que determinaram o pedido de impugnação.
Entre os motivos para pedir providências contra o vereador aos órgãos do Judiciário e da Segurança Pública estava o fato de Telhada ter utilizado sua página da internet, com cerca de 70 mil seguidores, para intimidar o repórter do jornal Folha de S.Paulo, André Camarante, que não somente se transformou em uma onda de ameaças, como também culminou com sua saída do país junto com toda a família, com o objetivo de lhe dar proteção.
Durante a Campanha Salarial, em uma das rodadas de negociações de Jornais e Revistas da Capital, a direção do SJSP solicitou diretamente ao representante da Folha que proporcionasse todo apoio a seu repórter, o que de fato acabou acontecendo, quando as ameaças chegaram a níveis insuportáveis
Tudo começou por causa de uma reportagem de Caramante intitulada “Ex-chefe da Rota vira político e prega a violência no Facebook”. No texto, o jornalista denunciava que Telhada usava sua página no Facebook para “veicular relatos de supostos confrontos com civis”, e que chamava de “vagabundos” os supostos praticantes de crimes. Telhada não gostou da matéria. A partir daquele momento, as ameaças se sucediam através das redes sociais, blogs e o site da Folha, desde chamá-lo de “péssimo repórter” até defender a sua execução, com frases como “bala nele”. No início de setembro, diante das ameaças, ele teve que deixar o país.
Em entrevista à repórter Eliane Brum, da revista Época, Caramante relata a nova condição de jornalista que não está mais fisicamente presente na redação, apesar de continuar no exercício da profissão. Veja alguns trechos da entrevista:
Quando você deixou de trabalhar na redação?
Caramante– Desde o início de setembro. Os advogados do jornal encaminharam às autoridades uma solicitação de investigação sobre as ameaças. Alterei completamente minha rotina e minha localização.
Foi difícil?
Caramante– Sou trabalhador desde os 11 anos e não tenho dúvidas quanto à profissão que escolhi. A decisão de estar fisicamente ausente da redação não foi nada fácil. Particularmente, via este passo como um sinal de recuo, um erro do ponto de vista do meu ideal e mesmo de estratégia em relação a quem tenta enfraquecer o trabalho da imprensa. O que fizemos, então, foi arquitetar uma ausência que fosse apenas física, com uma operação que permitisse que seguíssemos em frente. Existem inúmeras maneiras de fazer reportagem.
Qual foi a reação da sua família e como eles estão vivendo esse momento?
Caramante– Estão todos cientes e bastante atentos. Não é fácil estar ausente, mas não creio que seria muito melhor estar presente e vivendo com sombras. Meus filhos percebem a situação incomum que vivem atualmente, mas ignoram essa história toda. Felizmente, eles sentem-se seguros onde pai e mãe estão – não importa onde. Minha rede familiar está permeada pelo estresse, mas ela é muito forte. Sempre foi, desde muito antes de toda essa situação. Além disso, a corrente formada por colegas de profissão e entidades daqui e de fora também deixou claro que este não é um problema só meu. Entidades como Repórteres Sem Fronteiras, Knight Center of Journalism (vinculado à Universidade do Texas), Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo, Instituto Sou da Paz, movimento independente Mães de Maio, entre outros, se manifestaram publicamente em apoio à minha atuação e ao direito de informar”.
Ouvido pelo Portal Terra, o ex-chefe da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar) afirmou que “desconhece totalmente” a informação do MPE. “Acabei de pesquisar o site do TRE (Tribunal Regional Eleitoral) e não há nada sobre isso. Não sei de onde estão tirando essa informação. Isso é mentiroso e tendencioso, porque a notícia é falsa”, defendeu-se. “Como vou me manifestar a respeito de uma coisa que não existe”, acrescentou.
Telhada é estreante em candidaturas nas eleições deste ano. Ele obteve vaga à vereança paulistana com o slogan de campanha “Uma nova ROTA na política de São Paulo”. Segundo definiu no início da corrida eleitoral, sua candidatura é “um voto de lealdade a José Serra (PSDB)”, candidato a prefeito, que o nomeou comandante da Rota quando era governador do Estado.
A direção do Sindicato repudia a atitude do ex-comandante e continua exigindo providências do governador Geraldo Alckmin e do secretário de Segurança Pública, Antônio Ferreira Pinto e colocando-se à disposição do jornalista para qualquer ação civil ou penal.
Na oportunidade, o Sindicato anunciou que “atitudes como a do coronel Telhada, que foi comandante da Rota, não fortalecem a democracia no país, além de intimidar aqueles que estão a serviço da informação. A atitude do coronel bem lembra um passado recente em que os jornalistas eram acuados por emitirem suas opiniões”.
Esta é a íntegra do documento encaminhado às autoridades pela direção do Sindicato:
“O Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo tem, reiteradamente, encaminhado a Vossa Excelência e a outras autoridades públicas denúncias e encaminhamentos no sentido de resguardar a liberdade de imprensa e a integridade física dos profissionais da área jornalística.
Consideramos extremamente grave a atitude do ex-comandante da Rota, coronel Paulo Telhada, candidato a vereador pelo PSDB, de incitar a violência física e moral contra o repórter André Caramante, do jornal Folha de S. Paulo, através das redes sociais.
O jornalista, em matéria veiculada na edição de sábado, 14 de julho de 2012, apenas registrou, em nota para o caderno Cotidiano, fatos explanados pelo próprio coronel em sua rede social (facebook) tendo, inclusive, o cuidado de procurar o candidato que, conforme registra o texto, não atendeu as ligações feitas para seu celular.
O texto, em momento algum, foi ofensivo ou atacou a honra ou denegriu a imagem do candidato, não cabendo de forma alguma resposta tão violenta e absurda por sua parte. Desta forma, esta entidade sindical pede especial atenção de Vossa Excelência no sentido de acompanhar o desdobramento do episódio, resguardando a integridade e o direito a liberdade de imprensa e de expressão do jornalista.
Solicitamos ainda que a atitude do candidato seja repreendida por não se coadunar com os princípios da democracia e das instituições políticas a qual pretende integrar na qualidade de representante do povo”.
Fonte: Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo
Um repórter ameaçado de morte 23
André Caramante, um dos mais respeitados jornalistas brasileiros na área da segurança pública, foi obrigado a mudar de país e esconder-se. Em entrevista, ele conta o que a situação de exceção vivida por ele e por sua família revela sobre a intrincada relação entre poder e violência
ELIANE BRUM

Em 14 de julho, André Caramante, repórter da Folha de S.Paulo, assinou uma matéria com o seguinte título: “Ex-chefe da Rota vira político e prega a violência no Facebook”. No texto, de apenas quatro parágrafos, o jornalista denunciava que o coronel reformado da Polícia Militar Paulo Adriano Lopes Lucinda Telhada, candidato a vereador em São Paulo pelo PSDB nas eleições do último domingo, usava sua página no Facebook para “veicular relatos de supostos confrontos com civis”, sempre chamando-os de “vagabundos”. Em reação à matéria, Telhada conclamou seus seguidores no Facebook a enviar mensagens ao jornal contra o repórter, a quem se referia como “notório defensor de bandidos”. A partir daquele momento, redes sociais, blogs e o site da Folha foram infestados por comentários contra Caramante, desde chamá-lo de “péssimo repórter” até defender a sua execução, com frases como “bala nele”. Caramante seguiu trabalhando. No início de setembro, o tom subiu: as ameaças de morte ultrapassaram o território da internet e foram estendidas também à sua família.
O que aconteceu com o repórter e com o coronel é revelador – e nos obriga a refletir. Hoje, um dos mais respeitados jornalistas do país na área de segurança pública, funcionário de um dos maiores e mais influentes jornais do Brasil, no estado mais rico da nação, está escondido em outro país com sua família desde 12 de setembro para não morrer. Hoje, Coronel Telhada, que comandou a Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar) até novembro de 2011, comemora a sua vitória nas eleições, ao tornar-se o quinto vereador mais votado, com 89.053 votos e o slogan “Uma nova Rota na política de São Paulo”.
O que isso significa?
Os 13 anos em que André Caramante cobre a área de segurança pública são marcados pela denúncia séria, resultado de apuração rigorosa, dos abusos cometidos por parte da polícia no estado de São Paulo. A relevância do seu trabalho foi reconhecida duas vezes pelo Prêmio Folha de Jornalismo. Caramante já denunciou sete grupos de extermínio formados por policiais militares e civis, assim como por ex-policiais. Mantém sua própria planilha na qual registra os mortos pela polícia. E faz a denúncia sistemática da figura amplamente difundida da “resistência à prisão” como justificativa para execução, em geral dos suspeitos mais pobres. Por sua competência, Caramante ganhou o respeito da sociedade interessada em uma polícia eficiente, com atuação pautada pelo cumprimento da lei – e o ódio de uma minoria truculenta, os maus policiais, tanto militares quanto civis, e daqueles cujos interesses e projeto de poder estão ligados a eles.
Antes de ser jornalista, Caramante quis ser jogador de futebol. Morador da periferia de São Paulo, comprou a primeira chuteira vendendo papelão. Era “um meia-direita dedicado”, na sua própria avaliação, e usou a chuteira com brio nas peladas de várzea e nas peneiras na Portuguesa, no Novorizontino e no Palmeiras, clubes nos quais chegou a treinar nas categorias de base. A necessidade de ajudar com as despesas da casa o despachou para a arquibancada. Em especial a da Vila Belmiro, por um amor incondicional pelo Santos herdado do pai.
Aos 11 anos, Caramante começou a trabalhar como camelô, vendendo chocolates e sacolas no Brás, em São Paulo. Mais tarde, aos 17, o estudante de escola pública pagou a faculdade de jornalismo da Uniban com o salário de office-boy e com os vales-transporte que economizava fazendo o serviço a pé. “Não sabia se a faculdade era boa ou ruim, não entendia dessas coisas, apenas sabia o que queria fazer”, conta. “O livro Rota 66, de Caco Barcellos, tinha me mostrado o que era jornalismo.”
Em seu livro Rota 66 – a história da polícia que mata (Record), Caco Barcellos, um dos grandes nomes do jornalismo brasileiro, hoje na TV Globo, investigou o trabalho da Rota entre as décadas de 1970 e 1990. E provou que ela atuava como um aparelho estatal de extermínio, responsável pela execução de milhares de pessoas. A reação às denúncias obrigou o repórter a passar um período fora do Brasil, devido a ameaças de morte. Duas décadas depois do lançamento do livro que o inspirou, Caramante vive uma situação semelhante.
A notícia de que ele estava vivendo escondido, com a família, vazou na semana passada, em matéria da Revista Imprensa. Até então, Caramante pretendia manter o fato em sigilo. A decisão de esconder-se com a família foi difícil para o repórter que nunca quis virar notícia – e que sempre evitou ser fotografado. Enquanto era alvo único das ameaças de morte, Caramante manteve uma rotina normal. O jornalista só aceitou se mudar para um destino secreto quando sua família passou a ser ameaçada. Mesmo assim, para ele é ponto de honra seguir com seu trabalho de reportagem. Pela internet, envia informações ao jornal com frequência. E segue assinando matérias na área da segurança pública.
Quando um repórter é obrigado a mudar de país e se esconder com a família por fazer bem o seu trabalho e prestar um serviço à população, ao fiscalizar os órgãos de segurança pública, este não é um problema só dele – mas da imprensa, que tem o dever de informar, e da sociedade, que tem o direito de ser informada. É disso que se trata.
Na entrevista a seguir, feita por email entre sexta-feira e domingo, André Caramante, 34 anos, fala sobre a situação de exceção que ele e sua família estão vivendo, mas principalmente sobre as complexas relaçõesentre violência e poder que a tornaram possível.
Em 14 de julho, você publicou na Folha de S.Paulo uma matéria com o seguinte título: “Ex-chefe da Rota vira político e prega a violência no Facebook”. Você se referia ao coronel reformado Paulo Adriano Lopes Lucinda Telhada, que comandou a Rota, em São Paulo, até novembro de 2011, e, nestas eleições, disputou uma vaga para vereador pelo PSDB. O que aconteceu a partir desta matéria que o levou a, dois meses depois, ter de esconder-se com a família? André Caramante – Cubro segurança pública há 13 anos, então, muito dessa situação não é exatamente novidade. Nestes 13 anos, sempre mantive minha lupa sobre os abusos cometidos por policiais, especialmente no que diz respeito à letalidade. Considero legítimo que a sociedade possa fiscalizar o Estado, especialmente seu braço armado. Não podemos considerar eficiente uma polícia que mata tanto quanto a do estado de São Paulo. Entre 2006 e 2010, a Polícia Militar de São Paulo matou nove vezes mais do que todas as polícias dos Estados Unidos juntas. A cultura da nossa polícia militarizada permite que se mate sem que se conheça sequer a identidade do “oponente”. É tão normal e aceitável quanto utilizar uma figura jurídica inexistente para preencher o boletim de ocorrência – a “resistência (à prisão) seguida de morte”. A morte do empresário Ricardo de Aquino por policiais militares no bairro Alto de Pinheiros (em São Paulo) colocou a questão na agenda da mídia e das autoridades alguns meses atrás. Como ele, vários outros foram vítimas dessa cultura e do mau treinamento. É óbvio que alguns policiais agem na ilegalidade e a maioria age dentro da lei. Também faço um trabalho consistente de denúncia de grupos de extermínio formados por policiais militares e civis e ex-policiais civis e militares, tendo revelado ao menos sete deles. São grupos que, ao exemplo das milícias do Rio, tentam controlar as atividades ilícitas na cidade – máquinas caça-níquel e tráfico de drogas, às vezes cruzando o caminho do PCC – e geram mortes. Há grupos bem estruturados e com braços de inteligência. Um deles, inclusive, planejou a morte de um integrante do alto escalão do governo paulista, sem que tenha conseguido levar a cabo a ação.Meu trabalho de denúncia também abrange a corrupção na Polícia Civil. Hoje, as coisas se dividem mais ou menos assim no Estado de São Paulo: alguns integrantes da PM cometem violência e alguns da Civil escorregam na corrupção. São questões totalmente relacionadas a poder e dinheiro. Em dezembro do ano passado, publicamos uma investigação da Polícia Federal que mostrava policiais civis cobrando grandes valores para liberar da prisão suspeitos de tráfico de drogas. Somadas, as propinas chegavam a R$ 3 milhões. É uma conduta isolada? Esquemas assim não surgem do nada. É da cultura da instituição, e são as pessoas que constroem a cultura organizacional. Mudar não é uma questão de ser fácil ou difícil, mas de não ser interessante para as pessoas que estão lá.
Você vem denunciando essa situação há bastante tempo, mas só agora teve de esconder-secom sua família por causa de ameaças de morte. O que aconteceu? Caramante – O que houve foi não digo o surgimento, mas a publicidade e o crescimento exponencial de um clima favorável à intimidação, no qual pessoas sentiram-se à vontade, ou mesmo incitadas, a disseminar “avisos”. A partir da matéria sobre o que estava acontecendo no Facebook houve um acirramento dos ânimos de quem antes já me via como inimigo, além do crescimento quantitativo dos que mantêm os olhos em mim e no meu trabalho de uma forma negativa.Houve uma onda de comentários no Facebook, no Twitter, em blogs e no site da Folha que foram desde “péssimo repórter” até “bala nele”. Era só “ativismo de sofá”, de gente que só despeja frases no teclado do computador? Provavelmente.Depois, alertas de caráter dúbio – “Quando acontecer algo com alguém da sua família…”, “Quando você for sequestrado…” – surgiam nos espaços de comentários do site da Folha em qualquer reportagem que eu escrevesse e até naquelas em que não tive participação, mas que traziam denúncias contra membros das polícias. Também orquestraram o envio de diversas cartas contra mim, enquanto profissional, para a Folha.Após pouco mais de um mês de bombardeio digital, as ameaças tornaram-se mais concretas, com fatos atualmente sob investigação das autoridades competentes.
Que fatos são estes? Caramante – Não falo de um fato, mas de uma série, que se iniciou dias após aquela onda nas redes sociais. Foram ligações, comprovações por fontes altamente confiáveis,de que estavam levantando informações de familiares, motos em trajetos curiosamente iguais aos meus. Não acho possível dimensionar a gravidade do risco, e também chegou-se a um ponto em que não valia mais a pena ficar avaliando. Decidi ouvir gente mais experiente do que eu e, em conjunto com o jornal, foi tomada uma decisão: trabalho à distância. Não estou fisicamente na redação desde o início de setembro, sem que tenha saído da ativa. Esta é uma situação em que o risco físico toma a cena, mas certamente ele não é o único. Venham de onde vierem, a ameaça e a intimidação têm o objetivo de desestabilizar, tirar de cena. Jogam com o risco psicológico também, testam quão boa é a sua cabeça e quão forte é a sua corrente.
Qual é o papel do Coronel Telhada, ex-comandante da Rota, nesta série de ameaças? Caramante – Em sua página, o coronel reformado começou a divulgar relatos de confrontos entre PMs da Rota e civis – estes sempre chamados de “vagabundos” –, além de divulgar fotos de pessoas que, segundo ele, eram suspeitos de crimes. Fiz um texto objetivo, relativamente curto, sobre isso. No dia da publicação no jornal, 14 de julho, ele postou no Facebook uma mensagem na qual me acusava de “defender abertamente o crime” e pedia uma mobilização contra mim. A conduta desse senhor deflagrou uma onda de tentativas de intimidação, de incitação à violência contra um jornalista – um profissional que apenas retratou o que o próprio coronel reformado registrou publicamente na rede social. Não estou dizendo que ele quis ou que ele não quis incitar atos violentos. Estou dizendo que acabou incitando.
Quem efetivamente está ameaçando você? E quais foram as ameaças? Caramante – De onde vejo, apontar um ou outro possível autor pode dar grande margem a erro. Tenho minhas suspeitas, mas não cometeria o equívoco de acusar sem provas. Creio que haja dois tipos de ameaça. A primeira se aproxima do “ativismo de sofá”, de quem escreve no computador algo que jamais cumprirá. Os autores deste tipo de ameaça não são tão desconhecidos assim, e não é tão difícil encontrá-los nos canais digitais. A segunda, esta sim grave, é a ameaça de quem considera a possibilidade de agir. Aqui estão desde admiradores de policiais alvos de reportagens, pessoas que pouco têm a perder e vivem com parâmetros de raciocínio e moral diferentes dos nossos, até outros que há tempos me têm como um inimigo e podem aproveitar justamente esta visibilidade do caso do Facebook para tentar algo e “colocar na conta” de outro. O caso do Facebook, além de ser apenas uma parte da história, pode ser usado por outros para acobertar eventuais retaliações. Mas, veja, isto é o que eu deduzo com base na minha experiência, não há qualquer base de pesquisa ou de investigação científica.
O que você está dizendo é que pessoas que se ressentem há muito tempo com suas denúncias de abusos cometidos pela polícia estariam se aproveitando do caso do Facebook para se vingar e desviar a responsabilidade para o Coronel Telhada? Caramante – Sim, é uma possibilidade.
Quando as primeiras ameaças se tornaram públicas, você disse que continuaria a fazer o seu trabalho. Imagino que deve ter sido difícil tomar a decisão de se afastar da redação. Como esta decisão foi tomada? Caramante – É importante esclarecer que o termo “afastamento” não é apropriado para o meu caso. Continuo exercendo minhas atividades profissionais, onde quer que eu esteja. Não estar fisicamente na redação me causa impedimentos que são irrisórios frente à necessidade atual de garantia da integridade, minha e da minha família.
Quando você deixou de trabalhar na redação? Caramante – Desde o início de setembro. Os advogados do jornal encaminharam às autoridades uma solicitação de investigação sobre as ameaças. Alterei completamente minha rotina e minha localização.
Foi difícil? Caramante – Sou trabalhador desde os 11 anos e não tenho dúvidas quanto à profissão que escolhi. A decisão de estar fisicamente ausente da redação não foi nada fácil. Particularmente, via este passo como um sinal de recuo, um erro do ponto de vista do meu ideal e mesmo de estratégia em relação a quem tenta enfraquecer o trabalho da imprensa. O que fizemos, então, foi arquitetar uma ausência que fosse apenas física, com uma operação que permitisse que seguíssemos em frente. Existem inúmeras maneiras de fazer reportagem.
Qual foi a reação da sua família e como eles estão vivendo esse momento? Caramante – Estão todos cientes e bastante atentos. Não é fácil estar ausente, mas não creio que seria muito melhor estar presente e vivendo com sombras. Meus filhos percebem a situação incomum que vivem atualmente, mas ignoram essa história toda. Felizmente, eles sentem-se seguros onde pai e mãe estão – não importa onde. Minha rede familiar está permeada pelo estresse, mas ela é muito forte. Sempre foi, desde muito antes de toda essa situação. Além disso, a corrente formada por colegas de profissão e entidades daqui e de fora também deixou claro que este não é um problema só meu. Entidades como Repórteres Sem Fronteiras, Knight Center of Journalism (vinculado à Universidade do Texas), Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo, Instituto Sou da Paz, coletivo Sindicato É Pra Lutar e movimento independente Mães de Maio se manifestaram publicamente em apoio à minha atuação e ao direito de informar.
É isso que está em jogo, o direito de informar? Caramante – É uma questão ligada ao direito de informar e de ser informado, e meus companheiros de profissão sabem do que falo. Há, atualmente, no estado de São Paulo, uma grande preocupação por parte de autoridades da segurança pública de tentar evitar que muitos fatos sejam tornados públicos pela imprensa. Por conta disso, funcionários públicos que as autoridades acreditam manter contato com jornalistas passam a ser alvo de perseguição nas instituições às quais pertencem. Muitas vezes, essas perseguições são feitas com base apenas no “achismo”.
Que fatos são estes, que as autoridades da segurança pública não querem que se tornem públicos? Caramante – Qualquer dado que não conste do relatório oficial publicado mensalmente no site da secretaria. Não é exagero. Falo de qualquer dado mesmo. Basta perguntar a quem cobre a área. Não é de hoje. Sempre foi assim. No estado de São Paulo, jornalistas são impedidos de consultar boletins de ocorrência, um documento público. Tudo – absolutamente tudo – tem de passar pelas canetas das assessorias de imprensa da Secretaria e da Polícia Militar. É uma operação extremamente centralizada e que visa impedir o repórter de ir a uma delegacia e obter informações sobre uma ocorrência.
Por quê? Caramante – Vejo como uma tentativa de construir uma realidade que não existe aqui, como se vivêssemos na Suécia. A proibição do acesso a boletins de ocorrência integra uma estratégia de forte controle de informações. “Só sai o que eu quero.” Não importa a relevância do dado, esta é a diretriz. Delegados só dão entrevistas mediante autorização de assessores de imprensa. É meio estranho que uma autoridade seja submetida a esse tipo de imposição para tentar controlar a informação.
Esta foi a primeira vez que você foi ameaçado de morte? Caramante – Não. Como vários outros colegas, já passei por situações semelhantes. Ouvi pelo telefone frases como “Cuidado, muita gente morre em assalto por aí”, seguida por meu endereço completo. Tempos atrás, policiais à paisana fotografaram minha família durante um passeio.
Você costuma denunciar os abusos cometidos pela polícia, especialmente contra os moradores das periferias de São Paulo e da Grande São Paulo. Você se considera, hoje, nesta situação, uma vítima da polícia? Caramante – Não me considero vítima de nada. Tenho plena consciência de que não posso e não quero ser notícia. Sou contratado por um jornal para contar as histórias das outras pessoas, para fiscalizar um determinado segmento do poder público. E a minha preocupação é sempre esta: contar a história do próximo, registrar os fatos, levar a notícia para quem lê a Folha de S.Paulo. As páginas de um jornal marcam a história de um país. Eu sou uma peça dessa engrenagem que imprime a história no papel do jornal. A exposição desses últimos fatos me trouxe tristeza porque não é o que busco como repórter. Aí vão perguntar: “E por que você está dando entrevista?”. Estou dando entrevista porque, do muito que foi dito sobre a minha pessoa, pouco foi dito por mim. Porque quero esclarecer que não estou “afastado”. Afastamento dá a ideia de punição, de suspensão, e nunca houve nada nesse sentido da parte do jornal. Pelo contrário: sanamos a demanda urgente relativa à garantia da integridade e ao mesmo tempo planejamos a continuidade do trabalho. E mais: não existe isso de perseguir a Polícia Militar ou a Polícia Civil com meu trabalho. O que penso é que ninguém quer ter nessas instituições pessoas que não façam jus à condição de representantes do Estado.
Já entrevistei muitas pessoas ameaçadas de morte, algumas delas ameaçadas de morte por policiais, de diferentes estados. Minha percepçãoé de que estas últimas sentem um nível de desamparo maior, na medida em que, se aqueles que deveriam protegê-las, em vez disso ameaçam a sua vida, para quem então pedem ajuda? Sem contar que membros da polícia, por disporem do aparato do Estado, têm meios para comprometer a credibilidade da vítima, “plantando” falsas provas. Como você percebe isso? Caramante – Quando você tem indicativos de que alguns dos representantes armados do Estado querem te desestabilizar, com certeza, a reflexão é sempre essa: para quem recorrer, como agir? Muitas vezes, essas mesmas pessoas tentam desmoralizar seu trabalho e sua conduta fora do campo profissional, mas tenho tentado me manter centrado. Converso com repórteres amigos para dividir alguns pensamentos e pensar em maneiras de me manter firme na caminhada.
Por que o estão ameaçando? Que “ameaça” você representa para que ameacem a sua vida? E por que agora, neste momento? Caramante – Como te falei, não é de agora. É uma coisa que ficou mais acentuada. Pode ser que tenha alguma relação com o período eleitoral ou com outros interesses que ainda não consigo afirmar quais são. Um deles, por exemplo, pode ser a necessidade que muitos têm de manter o poder ou de chegar até o poder.
Quem? Pode explicar melhor? Caramante – Não posso nomeá-los, pois aí já entraremos em informações referentes aos bastidores das polícias, e esses meandros estão muito ligados às minhas fontes e às minhas apurações. Hoje, em São Paulo, a questão da polícia vai além dos muros dessas instituições. A cidade nunca esteve, em período democrático, tão militarizada. Trinta das 31 subprefeituras ganharam comando de PMs da reserva na gestão Kassab. Com a criação da operação delegada, os policiais militares hoje atuam oficialmente não apenas para a corporação, mas também para a prefeitura – é o bico legalizado. Vemos então que as frentes de poder estão crescendo, e há muita gente na disputa. Sem contar os cargos na Câmara Municipal.
Por que isso está acontecendo? Por que, por exemplo, 30 das 31 subprefeituras de São Paulo ganharam comando de PMs da reserva nesta gestão?Como você caracterizaria esse projeto de poder? Caramante – Esse processo ganhou corpo quando o coronel (agora reformado) da PM Álvaro Batista Camilo, também candidato a vereador, pelo PSD, se aproximou do prefeito Kassab, na época em que era comandante-geral da PM. Como é sabido, Kassab vem marcando sua gestão com uma postura de cerceamento. Já são notórias as tentativas de proibição de sopões a moradores de rua, de saraus na periferia, da feira da praça Roosevelt, no centro de São Paulo, e outras mais.
O que o fato de um repórter de um dos maiores jornais do país ser ameaçado de morte revela sobre a violência no estado de São Paulo? Caramante – É uma questão que não diz respeito somente à violência. Esta é a parte tangível de todo o contexto que citei anteriormente. A relação polícia X poder é atualmente um ponto muito importante. Desde a abertura política, talvez seja este o momento em que São Paulo mais tenha a influência de policiais militares. Com poder em jogo, os ânimos se acirram, em qualquer área.
Por que agora? E o que está em jogo? Caramante – Estamos em um momento propício por conta da já citada aproximação sem precedentes (da polícia) com outras esferas do poder público. Muitos oficiais da PM notaram, e agora tentam dar vazão a isso, que há outras e importantes áreas para onde estender seu campo de atuação – e de poder.
Você cobre a área policial há 13 anos. Documentou, como repórter, a ascensão do PCC. Você costuma dizer que vivemos numa guerra. Por quê? Como é essa guerra e em que momento dessa guerra estamos hoje? Caramante – É uma guerra entre o grupo criminoso PCC e as forças de segurança do Estado. O PCC é forte porque controla o tráfico de drogas no estado de São Paulo. É inegável o fato de o estado de São Paulo, desde 1999, ter conseguido baixar suas taxas de homicídios dolosos (intencionais). Essa queda, porém, é fruto de controle duplo: se deve tanto a progressos na Segurança Pública quanto ao comando do PCC. Em muitas situações, é o PCC quem decide quem morre em São Paulo, nos chamados tribunais do crime. Hoje, outubro de 2012, a guerra está mais acirrada entre o PCC e os policiais militares da Rota, considerada uma tropa de elite da PM paulista e que conta com 820 integrantes. Investigações contra o PCC antes feitas pela Polícia Civil, que tem essa atribuição pela lei, foram remetidas à Rota, que tem função de policiamento preventivo, ou seja, trabalhar para evitar que o crime ocorra.Estou dizendo isso porque defendo criminosos e quero dar uma chance a eles? Não. Falo porque é ilegal. Quem investiga é a Polícia Civil. Há aí uma nítida tentativa de empoderar ainda mais os integrantes da Rota. É o Estado agindo ilegalmente.
Por quê? Caramante – Isso é um reflexo da atual cúpula da Secretaria da Segurança Pública, que tem um histórico de relacionamento intrínseco com a Rota. Nos primeiros escalões da segurança pública paulista, também, impera uma certa desconfiança quanto à atuação de parte da Polícia Civil nas investigações sobre o PCC. Fala-se em corrupção.
Na semana passada, a Folha publicou que arquivos da facção PCC revelam atuação em 123 cidades de São Paulo, com 1.343 homens em todas as regiões do estado. O governo de São Paulo tentou minimizaro impacto das informações e o poder do PCC. O governador, Geraldo Alckmin, afirmou que “há muita lenda” sobre facções criminosas no estado de São Paulo. O secretário da Segurança Pública, Antonio Ferreira Pinto, declarou: “A facção é bem menor do que dizem. Não chega a 30 ou 40 indivíduos que estão presos há muito tempo e se dedicam ao tráfico. Nós temos asfixiado esse tráfico com grandes prisões”. O coronel da Polícia Militar Marcos Roberto Chaves da Silva, comandante do policiamento da capital, disse que existe “folclore” nas informações sobre o PCC. Qual é a verdade? Caramante – Curioso como esse folclore é alinhado à realidade. No mês passado, por exemplo, a Rota matou nove pessoas envolvidas em um “tribunal do crime”, um julgamento no qual um homem suspeito de estuprar uma menina teria sua vida decidida pelos criminosos do PCC. Um dos nove mortos pela Rota era o “réu” do partido do crime, como os policiais chamam o PCC. Para justificar a ação, o governo disse que todos eram muito perigosos, que integravam o PCC. Passado o calor do acontecimento, o governo voltou à postura habitual de minimizar a importância, o tamanho e o poder do grupo. Se são apenas 30 ou 40 indivíduos, as oito mortes no mês passado reduziram significativamente o PCC. É isso o que vemos quando policiais militares são mortos quando estão de folga, como tem ocorrido constantemente em São Paulo? Será que o PCC deixou de decidir quem vive ou quem morre durante um “tribunal do crime”, quase sempre via telefones celulares usados por criminosos que estão presos e, na teoria, deveriam estar sem comunicação com as ruas? Quem vive na periferia de São Paulo sabe bem como as coisas são.
E como as coisas são? Como é o cotidiano de quem vive na periferia com relação ao PCC e à Rota? Caramante – O PCC domina os pontos de tráfico de drogas em São Paulo. Para evitar a presença das polícias, tenta corromper alguns de seus integrantes e também busca evitar crimes nas redondezas dos pontos de tráfico, principalmente homicídios. No meio disso, quem não é nem do PCC, nem da polícia, assiste a tudo em silêncio, esperando que não “sobre” para si.
O governador Geraldo Alckmin trocou o comando da Rota, no final de setembro. Entre as razões, estaria a divulgação de que o número de pessoas assassinadas pela tropa aumentou 45% nos primeiros cinco meses deste ano, comparado ao mesmo período do ano passado. Qual é a sua opinião sobre a Rota? Ela deveria acabar? Caramante – Não só a Rota, mas toda a Polícia Militar. A PM tem uma estrutura que desconhece meritocracia e privilegia uma variação do nepotismo. Policiais dos escalões mais baixos são usados como degrau para filhos de oficiais que estão no topo da pirâmide. É como se o filho do coronel fosse, desde sempre, o coronel de amanhã, e o filho do praça já nascesse sabendo que jamais será oficial. Há exceções que o governo pode vir a bradar, claro, mas a regra é mais ou menos essa.Quantos oficiais foram mortos pelo PCC?Nenhum. É óbvio que não tem de morrer nem o official, nem o praça. Mas, hoje, só morre aquele trabalhador que está na linha de frente e também vive na periferia de São Paulo.Quem cobre segurança pública em São Paulo também sabe que os policiais da Rota saem às ruas com um ímpeto diferenciado e, às vezes, alguns deles cometem excessos. É o caso da morte do representante comercial Paulo Alberto Santana Oliveira de Jesus em Osasco, na Grande São Paulo, em setembro de 2011. Ele foi morto em casa, desarmado e com as mãos para trás. Em maio deste ano, das mortes de seis suspeitos de integrar o PCC na zona leste de São Paulo, um deles foi levado a uma rodovia e executado. Em ambas as situações, foi forjado um confronto armado, segundo dados apresentados por promotores. As seis mortes na zona leste são tidas como estopim para o atual acirramento da violência entre PCC e Rota.
Me parece curioso, para dizer o mínimo, que um repórter tenha de se esconder para proteger sua vida após ter denunciado que um candidato a vereador pelo PSDB e ex-comandante da Rota disseminava a violência no Facebook e ninguém, de nenhum partido, tenha falado disso durantea campanha. Você tem alguma hipótese para esse silêncio? Caramante – No fim de setembro, um candidato a vereador em São Paulo, assim como esse ex-chefe da Rota, pediu a impugnação da candidatura dele e alegou que esse senhor aparecia em sua propaganda política fardado, o que não é permitido pela lei eleitoral. Esse mesmo candidato também foi alvo da ira dos simpatizantes do ex-chefe da Rota e recebeu ameaças. A promotoria eleitoral também pediu, na semana passada, a impugnação da candidatura desse PM reformado e alegou que ele utilizou sua página no Facebook para incitar a violência.
Por que você se tornou repórter de polícia? Caramante – Porque quem tem a obrigação de nos defender não pode, sob hipótese alguma, atentar contra nós. Também queria que meu pai tivesse o orgulho de ver seu sobrenome no jornal por uma causa justa.Sempre admirei o trabalho de repórteres como ( Caco) Barcellos. Há histórias e situações que precisam ser contadas. Admiro muito, também, José Hamilton Ribeiro, mestre na arte de contar histórias. Ouvi palavras de apoio dos dois recentemente. As de Barcellos recebi com reverência. O tenho como meu maior exemplo. As de seu Zé Hamilton, com emoção. Me pegou desprevenido. Me marcou.Quero agradecer cada mão estendida e cada palavra de apoio que foi dita em nome da garantia do direito de informar e ser informado.
“Repórter de polícia” ainda é uma boa definição para jornalistas como você? Caramante – Acredito que o termo “repórter de polícia” deixou de existir. Hoje, cobrimos segurança pública e, por conta de uma evolução da cobertura nessa área, que deixou de ser tão vinculada às autoridades, como era no passado, somos repórteres de segurança pública.
E qual é a importância de se cobrir a área de segurança pública num país como o Brasil? Caramante – É um tema intimamente ligado ao cotidiano das pessoas, e ainda temos muito a evoluir tanto no combate à criminalidade comum quanto à de parte das forças de segurança.
Você monitora o número de pessoas mortas pela polícia. Quantos foram mortos até hoje no estado de São Paulo? Caramante – Sim, monitoro porque o jornal para o qual trabalho dá atenção especial para a questão da letalidade policial. Tenho meu próprio sistema de dados, no qual registro todas as mortes cometidas por policiais militares. Estes números não batem com os oficiais. A Secretaria da Segurança Pública de São Paulo divulga em sua página na internet apenas as chamadas “resistências seguidas de morte”, mas há outros casos que entram na vala comum dos homicídios dolosos cometidos por qualquer cidadão. Minha contabilidade mostra que, entre 2005 e agosto deste ano, policiais militares mataram 4.358 pessoas no estado. Destas, 3.401 foram em “resistência(à prisão) seguida de morte” – figura jurídica inexistente, repito – e 957 em homicídios dolosos, que vão desde brigas em bar, no trânsito, casos conjugais, até mortes como a do empresário Ricardo de Aquino. São 47,3 mortos por PMs a cada mês. Ou seja: 1,5 a cada dia. Este é o retrato de uma Polícia Militar extremamente letal e que precisa passar por reformas o quanto antes.
Em que medida as relações entre o aparato de repressão do Estado e a população explicitam a desigualdade e as fissuras da sociedade brasileira num estado como São Paulo? Caramante – A Polícia Militar que atua dentro do perímetro do rodízio de veículos (de São Paulo), o chamado centro expandido, não é a mesma que atua na periferia. Temos duas polícias militares para cuidar da mesma cidade, e cada uma delas trata os cidadãos de maneira diferenciada, isso de acordo com o CEP da pessoa. Muitas vezes, policiais são mandados à periferia como forma de punição dentro do jogo de poder que não está nos manuais da corporação. Então, já vai para lá com um sentimento diferenciado. Recentemente, pesquisadores mostraram, com base em dados da Secretaria Municipal da Saúde, que 93% dos mortos pela Polícia Militar moravam na periferia de São Paulo. O estudo teve como base os anos entre 2001 e 2010. No período, dos mortos por PMs, 54% eram pardos ou negros.
Hoje há programas de TV que cobrem a área policial, nos quais suspeitos são tratados por jornalistas como condenados – e condenados sem direito algum –, marcas de tortura em detidos e presos são ignoradas e apresentadores incitam a violência da sociedade contra “vagabundos”. Você acha que esse tipo de imprensa colabora para que jornalistas como você, que trabalham com seriedade e denunciam também os abusos cometidos pela polícia, sofram ameaças? Caramante – São profissionais da imprensa que recebem altos salários para fazer o que fazem. Eles são experientes e, creio, no fundo sabem que somente a Justiça pode condenar ou inocentar algum suspeito de determinado crime. Estão ali por cifras altas. É a mesma situação de um profissional de jornalismo que abandona a carreira numa redação para ser assessor e ganhar R$ 1 milhão por seis meses de trabalho numa campanha política. São opções e temos de respeitar quem as toma. Mas essas pessoas também têm de respeitar quem não pensa como elas.
Como é estar no lugar de vítima para você, que tanto denunciou a violação de direitos humanos dos mais pobres e indefesos? Caramante – Vítima é a dona Maria da Conceição, mãe do Antonio Carlos da Silva, o Carlinhos, portador de deficiência mental que foi morto por policiais militares que integram o grupo de extermínio “Highlanders”, segundo a Polícia Civil e a Promotoria. Ele teve a cabeça e as mãos arrancadas após ter sido morto porque andava na rua e tinha dificuldades de comunicação.
Você pode contar melhor esta história? Caramante – Carlinhos foi morto em outubro de 2008, na periferia da zona sul de São Paulo. Estava perto de casa quando foi obrigado a entrar em uma viatura da Polícia Militar que fazia ronda no local. Vizinhos assistiram à cena e relataram à família. Imediatamente, a mãe, dona Maria da Conceição dos Santos, a irmã, Vânia Lúcia, e o pai começaram a procurá-lo. Poucas horas depois foram até o 37º Batalhão, onde ouviram da boca dos PMs – que, segundo a Polícia Civil e a Promotoria, mataram seu filho – que não o tinham visto. Encontraram o corpo de Carlinhos, decapitado e com as mãos arrancadas, em uma cidade vizinha. Ele, que era portador de necessidades especiais, tinha dificuldades para se comunicar.
Uma das maiores dificuldades da situação que você está vivendo parece ser o fato de ter virado notícia. Por quê? Caramante – Para começar, nunca me vi numa situação assim. Não é para isso que decidi ser repórter. A questão da exposição parece parte de uma realidade paralela, não se encaixa na minha trajetória. Optei por sempre passar despercebido.Quero poder continuar sentando numa delegacia sem que ninguém saiba quem eu sou.
Imagino que você tenha medo em alguns momentos ou o tempo todo. Como lida com isso? Caramante – O medo pode ser uma ótima ferramenta para aguçar os instintos. Sim, pode ser devastador também. Tento utilizá-lo como um agente minimizador de riscos. Nos momentos mais difíceis de administrá-lo, busco lembrar por que estou nesta caminhada. Me vêm à mente pessoas das quais contei histórias. O foco são elas, não eu.
Há perspectiva de sair dessa situação em breve? Caramante – Minha situação atual passa por constante avaliação da direção do jornal. Por enquanto, manteremos como está.
Como essa experiência está transformando você? Já é possível perceber alguns impactos e mudanças? Caramante – Situações dessa intensidade são oportunidades para reafirmar algumas ideias e descartar outras. Houve impacto, e mudanças certamente virão. Mas estão em curso, e por isso prefiro guardá-las aqui comigo.
Que ideias você reafirmou e quais descartou? Caramante – Reafirmei, por exemplo, a ideia de que tenho de permanecer alguém que conta as histórias dos outros, e também meu intuito de contribuir, minimamente que seja, para a melhoria dos setores que cubro. Deixei de lado a ideia de que riscos podem ser mensurados com algum grau de exatidão. Ninguém faz nada, até que alguém faça.
Como tem sido seu cotidiano nessa situação de ameaçado de morte? Caramante – Realmente acho difícil falar sobre isso. Há preocupação referente não apenas à situação atual, mas a como será no futuro. Esta não é uma situação que tenha prazo de validade.Agora à noite, um dos meus filhos disse que preferia estar na nossa casa de verdade. Perguntei o motivo. “Lá é mais colorido.”
Eliane Brum escreve às segundas-feiras.
Antonio F.P. revela que há muitas quadrilhas no Estado e que são bem mais organizadas do que o PCC… ( Ah, agora a verdade tá aparecendo!…A coisa é mais feia do que se pensava! ) 13
Em menos de 72h
Onda de violência traz Secretário de Segurança à região
Com informações de A Tribuna On-line
Apesar de o titular da Secretaria de Estado da Segurança Pública (SSP), Antônio Ferreira Pinto, atribuir a “situações locais” a onda recente de homicídios na Baixada Santista, ele esteve mais uma vez em Santos para discutir o assunto com as autoridades policiais em menos de 72 horas.
A presença do representante da pasta somente revela a gravidade da situação, embora considere “um absurdo” o fato de facções criminosas serem as responsáveis pelas execuções registradas nos últimos dias.
Por outro lado, o responsável pelo Deinter-6, Waldomiro Bueno Filho, admite que o momento é delicado, devido à grande quantidade de mortes na última semana. “Isso é preocupante para todos. (…) Queria que o público entendesse que essa é uma exceção. Moramos em uma comunidade tranquila e de paz”, diz ele, que estava de férias, em Portugal, e retornou nesta terça-feira de viagem.
Ainda nesta terça-feira, o secretário Ferreira Pinto esteve reunido com Bueno Filho e outros delegados da região, no Palácio da Polícia, para definir as ações de investigação.
Conforme o representante da SSP, “existem várias quadrilhas aqui. É fácil colocar toda a responsabilidade em uma facção e ela ser exaltada pela imprensa. Temos informações seguras (…) que as ações não têm nenhuma vinculação com essa facção. Se ela fosse tão competente, as pessoas não estariam dentro dos presídios”.
E completa: “Aqui fora o crime é bem organizado. O tráfico aqui na Baixada Santista – não é segredo para ninguém – é muito forte e estamos combatendo. Isso está causando a revolta para eles (membros da facção), que aproveitam esse momento para fazer acertos de contas”.
Ferreira Pinto não descarta nenhuma hipótese de linha de investigação, inclusive a que trata de uma suposta participação de PMs nesses crimes, como ocorreu em 2010, em Guarujá.
O secretário nega a existência de uma lista de cinco PMs que estariam marcados para morrer. Revela que isso é “fruto de sensacionalismo” e nenhum homem foi transferido para outra região por tal motivo.
Reforço
Em nota, a assessoria de imprensa da Polícia Militar confirmou o reforço do policiamento na Baixada Santista com alteração na escala de serviço de todo o efetivo administrativo, empregado em ações policiais como Operação Bloqueio, Patrulhamento, Pontos de Estacionamento e Saturação. A corporação revela ainda que houve alteração no horário de emprego das equipes de Força Tática, Canil, ROCAM, Ronda Escolar, direcionando as abordagens e buscas policiais conforme o levantamento de informações de locais, horários e maneira de agir dos criminosos, de acordo com a característica de cada município.
“A região conta ainda com o apoio dos Batalhões de Choque da Capital (ROTA, ROCAM, COE e Corregedoria PM), que terão suas ações pautadas nas informações reunidas pelo Setor de Inteligência e Divisão Operacional do Comando de Policiamento do Interior -6. Nossa atuação continuará firme, e de maneira legalista, técnica e equilibrada, buscará sempre salvar vidas, proteger pessoas, cumprir e fazer cumprir as leis, combatendo o crime e preservar a ordem pública”.
Sempre foi mais fácil phoder polícia do que prender bandido 17
A baixada santista está infestada de viaturas da corregedoria da PM.
Estão loucos para descobrir os coxinhas envolvidos nas mortes dos “coitadinhos”.
Mas descobrir quem matou os policiais em suas folgas ninguém quer.
Afinal de contas isto não interessa, não dá ibope para a imprensa, não dá votos e nem estrelinhas.