Impeachment, já! – Bolsonaro atenta contra instituições do Estado , afirmam associações de delegados 10

Bolsonaro tenta intimidar apuração do caso Marielle, dizem associações de delegados

Em nota, entidades dizem que cargo não dá ao presidente direito de cometer ‘atentados à honra’

Nicola Pamplona
Rio de Janeiro

Associações que representam delegados de polícia no Brasil divulgaram neste domingo (3) nota conjunta de repúdio a declarações do presidente Jair Bolsonaro sugerindo direcionamento nas investigações do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista dela, Anderson Gomes.

Eles acusam Bolsonaro de tentar intimidar a Polícia Civil do Rio, “com o intuito de inibir a imparcial apuração da verdade”, ao insinuar em vídeo e entrevistas a adulteração de provas e referir-se ao delegado que comanda o inquérito como “amiguinho” do governador Wilson Witzel (PSC-RJ).

O presidente Jair Bolsonaro, na saída do Palácio da Alvorada – Pedro Ladeira – 2.nov.2019/Folhapress

A nota é assinada por Adepol (Associação dos Delegados de Polícia do Brasil), Fendepol (Federação Nacional dos Delegados de Polícia Civil), e por entidades que representam a categoria no Rio, Amazonas e Pará.

“Valendo-se do cargo de presidente da República e de instituições da União, [Bolsonaro] claramente ataca e tenta intimidar o delegado de polícia do Rio de Janeiro, com o intuito de inibir a imparcial apuração da verdade”, diz o texto, sem citar o nome de Daniel Rosa, delegado responsável pelas apurações.

“O cargo de chefe do Poder Executivo federal não lhe permite cometer atentados à honra de pessoas que, no exercício de seu múnus [dever] público, desempenham suas funções no interesse da sociedade e não que qualquer governo”, completam as associações.

As declarações de Bolsonaro foram dadas após reportagem do Jornal Nacional, da TV Globo, que revelou a existência de depoimento de um porteiro do condomínio Vivendas da Barra, citando o presidente durante as investigações sobre a morte de Marielle.

Na mesma noite, o presidente gravou da Arábia Saudita um vídeo atacando a rede de televisão e insinuando direcionamento nas investigações. No dia seguinte, o Ministério do Público do Rio disse que o depoimento não condiz com os fatos investigados.

No vídeo, Bolsonaro atribuiu o vazamento das informações a Witzel, que contou com apoio do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) em sua eleição ao governo do estado, mas hoje é adversário político da família.

No fim da semana, o governador virou alvo de ataques nas redes sociais, com a distribuição de um vídeo que repete o discurso de Bolsonaro ligando Witzel à TV Globo.

O caso está sendo investigado pela Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática.

No sábado (2), sem apontar evidências, Bolsonaro voltou a acusar Witzel de ter manipulado o processo que apura o assassinato de Marielle para tentar incriminá-lo.

Bolsonaro repetiu que Witzel “está com sonho e obsessão de ser presidente”. Ele acusou o delegado da Polícia Civil que apura o caso de ser “amiguinho” do governo do Rio.

“Temos uma.. está requisitado, está tudo deferido, é a Polícia Federal com o assessoramento do MP [Ministério Público] Federal lá da seção do Rio de Janeiro. Vamos ouvir o porteiro, vamos ouvir ai o delegado também, o delegado que é muito amiguinho do governador, e logicamente que gostaria que o governador também participasse, né?”, disse Bolsonaro.

BOLSONARO PARECE TER CULPA NO CARTÓRIO – Caso Marielle: entidades de delegados civis repudiam declarações de Bolsonaro e defendem Daniel Rosa 3

Por G1 Rio

 


Delegado Daniel Rosa comanda as investigações do Caso Marielle — Foto: Reprodução / TV GloboDelegado Daniel Rosa comanda as investigações do Caso Marielle — Foto: Reprodução / TV Globo

Delegado Daniel Rosa comanda as investigações do Caso Marielle — Foto: Reprodução / TV Globo

Uma nota conjunta de entidades de delegados de polícia emitida neste domingo (3) critica declarações do presidente Jair Bolsonaro deste sábado (2) sobre o Caso Marielle Franco e sai em defesa de Daniel Rosa, que comanda as investigações do atentado.

“Valendo-se do cargo de Presidente da República e de instituições da União, [Bolsonaro] claramente ataca e tenta intimidar o delegado de polícia do Rio de Janeiro, com intuito de inibir a imparcial apuração da verdade”, afirma o texto.

Em Brasília, no sábado, Bolsonaro afirmou que pegou a gravação das ligações da portaria do Condomínio Vivendas da Barra, onde tem uma casa, para que não fossem adulteradas (entenda o caso mais abaixo).

“A minha convicção é de que ele agiu no processo para botar meu nome lá dentro. Espero agora que não queiram jogar para cima do colo do porteiro. Pode até ser que ele seja responsável, mas não podemos deixar de analisar a participação do governador. Como é que pode um delegado da Polícia Civil ter acesso às gravações da secretária eletrônica?”, questionou Bolsonaro.

Questionado sobre o que mais Witzel fez, o presidente respondeu: “Manipula o processo.” Bolsonaro, no entanto, não deu detalhes sobre como o governador teria manipulado o caso.

O presidente disse ter acionado a Polícia Federal para ouvir Daniel Rosa, a quem chamou de ‘amiguinho’ de Witzel.

“Vamos ouvir o porteiro, vamos ouvir aí o delegado também, o delegado que é muito amiguinho do governador, e logicamente que gostaria que o governador também participasse, né?”, afirmou.

Bolsonaro diz que pegou gravação para que não fosse adulterada

Bolsonaro diz que pegou gravação para que não fosse adulterada

  1. Federação Nacional dos Delegados de Polícia Civil (Fendepol);
  2. Sindicato dos Delegados de Polícia Civil do RJ (Sindelpol-RJ);
  3. Sindicato dos Delegados de Polícia Civil do Paraná (Sindelpol-PR);
  4. Sindicato dos Delegados de Polícia Civil de São Paulo (Sindelpol-SP);
  5. Sindicato dos Delegados de Polícia Civil do Tocantins (Sindelpol-TO);
  6. Sindicato dos Delegados de Polícia Civil da Bahia (Sindelpol-BA);
  7. Sindicato dos Delegados de Polícia Civil do Espírito Santo (Sindelpol-ES);
  8. Sindicato dos Delegados de Polícia Civil de Minas Gerais (Sindelpol-ES);
  9. Sindicato dos Delegados de Polícia Civil do Pará (Sindelpol-PA);
  10. Sindicato dos Delegados de Polícia Civil do Amazonas (Sindelpol-AM);
  11. Sindicato dos Delegados de Polícia Civil de Sergipe (Sindelpol-SE);
  12. Sindicato dos Delegados de Polícia Civil do Mato Grosso (Sindelpol-MT)
  13. Associação dos Delegados de Polícia do Pará (Adepol-PA);

“O presidente insinua direcionamento das investigações, inclusive com adulteração de provas e coação de testemunha, e refere-se ao delegado presidente do inquérito como amiguinho do governador”, diz o texto.

“O cargo de chefe do Poder Executivo Federal não lhe permite cometer atentados à honra de pessoas, muito menos daquelas que, no exercício de seu múnus público, desempenham suas funções no interesse da sociedade e, não, de qualquer governo”, emenda a nota.

O texto encerra dizendo que as entidades “reafirmam o apoio irrestrito ao delegado responsável pela investigação e repudiam qualquer intimidação a ele e ao trabalho da Polícia Judiciária”.

Neste sábado (2), o presidente voltou a dizer que estava em Brasília e não no Rio de Janeiro no dia em que o ex-policial militar Élcio de Queiroz esteve no Condomínio Vivendas da Barra.

MP diz que depoimentos do porteiro do condomínio de Bolsonaro não condizem com a realidade

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Gravação da portaria

Na quarta (30), o Ministério Público do Rio de Janeiro afirmou que um áudio obtido na investigação da morte de Marielle e Anderson mostra que foi o PM aposentado Ronnie Lessa quem liberou a entrada do ex-PM Élcio de Queiroz no Condomínio Vivendas da Barra, horas antes do crime, em 14 de março de 2018 (veja no vídeo acima). Suspeitos de serem os autores do assassinato, os dois estão presos desde março deste ano.

A perícia que mostrou que a voz na gravação é de Ronnie Lessa foi feita um dia depois da reportagem do Jornal Nacional sobre o assunto e foi realizada em duas horas e meia.

Também na quarta, uma gravação divulgada pelo vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ) mostrou que a autorização para a entrada do suspeito partiu da casa em que morava outro suspeito – Ronnie Lessa – e não da casa do presidente.

Nesta sexta-feira (1º), o presidente da Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais, Marcos Camargo, afirmou que a análise das provas que envolvem o sistema que registra ligações de interfone no condomínio do presidente Jair Bolsonaro foi superficial e que a ausência de perícia oficial pode levar à nulidade do processo.