Justiça condena mulher por ter chamado policial de ‘macaco’ 6

Justiça condena mulher por ter chamado policial de ‘macaco’

Acusada atribuiu ao agente ‘abuso de autoridade’ e alegou que apenas respondeu suposta ofensa; para relator da ação, desembargador Helio Faria, do Tribunal de Justiça de São Paulo, ‘eventual abuso, despreparo ou injusta agressão’ por parte do policial não teriam relação com as injúrias raciais

Pepita Ortega

18 de novembro de 2019 | 12h31

Viatura Polícia de São Paulo. Foto: Paulo Pinto / AE

O Tribunal de Justiça de São Paulo decidiu manter a condenação de uma mulher ao pagamento de indenização de R$ 20 mil por racismo. Segundo o processo, ela foi presa em flagrante após chamar um policial de ‘macaco’ e dizer a ele: “Sua família não presta, são um bando de pobres e vagabundos.”

A mulher foi, posteriormente, liberada após pagamento de fiança de R$ 8 mil.

A decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo foi unânime pelos desembargadores da 18.ª Câmara de Direito Privado.

Os magistrados analisaram recurso da ré contra sentença de primeiro grau que a condenou ao pagamento de R$ 20 mil pelo crime de injúria racial.

Na apelação, ela alegou não ter proferido os xingamentos de cunho racial, ‘apenas respondeu ofensa do policial’.

O agente teria chamado a mulher de ‘loira vagabunda’ após ela reclamar do aperto das algemas que foram postas em seu pai.

Na ocasião, o policial atendia uma ocorrência envolvendo o dono do estabelecimento que o pai da mulher alugava. Houve um desentendimento entre os dois com relação à retenção de chaves do lugar, e segundo os autos, o pai teria agredido o locador.

A mulher afirmou que o policial praticou abuso de autoridade contra ela e seu pai, tendo registrado a alegação no boletim de ocorrência e realizado denúncia junto à Comissão de Direitos Humanos da OAB.

Segundo testemunha, o policial teria pisado na cabeça do pai da mulher, que estava imobilizado.
Ao Tribunal a ré argumentou que agiu em ‘legítima defesa de seu pai, por causa das injustificadas as agressões físicas e verbais praticadas pelos policiais despreparados’.

Segundo a sentença, ela também alegou que os xingamentos foram proporcionais ‘à atitude do autor e seus demais colegas, havendo cerca de quinze policiais no desenvolver da ocorrência’ .

Durante a tramitação do processo em primeira instância, a mulher sustentou que acusação de injúria racial seria ‘inverídica’. Segundo ela, houve um ‘simples desagravo imediato perante o abuso de autoridade praticado pelo autor’.

O policial havia entrado com processo também contra o pai dela, mas depois desistiu da acusação.

O relator da ação, desembargador Hélio Faria, considerou que a materialidade e autoria das ofensas estavam reconhecidas. Para o magistrado, é evidente que as injúrias provocaram danos morais ao policial, e, segundo ele, nenhum fato isentaria responsabilidade da mulher acerca das ofensas.

“Eventual abuso de autoridade, despreparo ou injusta agressão por parte do autor (da ação), assim como violenta emoção por parte da requerida, não possuem relação com o teor das ofensas proferidas pela ré, que visam a diminuir a dignidade humana do autor.”

Democrático seria assassinar esse coronel Tadeu que apenas envergonha a PM fazendo prova de que todo policial é ignorante e violento 28

Deputado do PSL rasga placa de genocídio negro na Câmara: “Desnecessária”

Guilherme Mazieiro

Do UOL, em Brasília

19/11/2019 17h16Atualizada em 19/11/2019 19h35

O deputado Coronel Tadeu (PSL-SP) se manifestou hoje na Câmara dos Deputados ao rasgar uma placa afixada no túnel localizado entre o Anexo II e o Plenário da Câmara dos Deputados contra o genocídio da população negra. A imagem que estampava o objeto continha a imagem de um homem negro algemado e deitado no chão e um policial com a arma saindo fumaça, como se tivesse acabado de disparar.

Entre 2017 e 2018, negros foram mais de 75% das vítimas de letalidade policial, segundo o Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança 2019.

Em ofício enviado ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia, o deputado pediu a retirada da peça e a classificou como “desnecessária e inoportuna manifestação de desonra e generalização de ilegalidade na atuação dos policiais”. Tadeu é coronel da Polícia Militar.

“Conforme se verifica do conteúdo da imagem, há a absurda atribuição da responsabilidade pelo genocídio da população negra aos policiais militares, prestando-se, assim, verdadeiro desserviço junto à população que trafega pelas dependências da Câmara, retratando negativamente o salutar papel dos policiais militares para a manutenção da ordem pública no nosso país”.

UOL
Imagem: UOL

“Os policiais militares, que todos os dias colocam suas vidas e de suas famílias em risco para garantir o bem-estar dos nossos cidadãos, devem ser reconhecidos, privilegiados e valorizados, não podendo esta Casa compactuar com essa desnecessária e inoportuna manifestação de desonra e generalização de ilegalidade na atuação dos policiais”, alega.

Após a atitude do Coronel Tadeu, a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB) afirmou que entrará no conselho de ética contra o deputado do PSL. Outros deputados da oposição acionaram a Polícia Legislativa e vão relatar o caso ao Presidente da Câmara Rodrigo Maia.

“Sem dúvida, é democrático quebrar a placa”

Em entrevista ao UOL, o deputado Coronel Tadeu assumiu a responsabilidade de ter quebrado a placa e diz tê-la considerado um atentado aos policiais.

“Eu quebrei, sim. É uma placa absolutamente contra os policiais. É um atentado contra os policiais que protegem a sociedade. Não estamos aqui para proteger brancos, amarelos ou negros. São todos. Não fazemos distinção, não fazemos racismo”, argumentou.

O Coronel diz ainda que a atitude partiu da esquerda, que tem como intuito “satanizar a vida do policial no Brasil”, o que ele considera inadmissível.

“Eu considero democrático [quebrar a placa], sem dúvida nenhuma. Não podemos aceitar um atentado daquele contra a democracia. Aquilo é um racismo, não o que eu fiz. Que eles a coloquem outra no lugar com números sobre negros mortos no país. Sou favorável a causa, mas querer induzir que a polícia é a responsável pela mortalidade das pessoas negras, eu não vou admitir”, concluiu.

Errata: o texto foi atualizado
Diferentemente do que informou a matéria, a deputada federal Jandira Feghali é do PCdoB, e não do PCB. A informação foi corrigida.