Um dos piores salários do País

“Até o fim do meu mandato os policiais militares e civis de São Paulo serão os mais bem pagos do País, depois de Brasília”. A promessa feita por João Doria (PSDB) durante a campanha eleitoral ao governo paulista em 2018 deixou esperançosa parte das polícias Militar e Civil do Estado. No fim do mês passado, porém, a expectativa foi frustrada com o anúncio do governador de reajustar os salários das forças policiais em 5%, começando a valer somente em 2020. O valor foi considerado irrisório.
O tucano ainda afirmou em campanha que a valorização salarial seria colocada em prática no início de 2019. O ano vai terminar sem um real de aumento. Apesar de ser o Estado mais rico, São Paulo está entre as polícias mais mal pagas do País (veja quadro abaixo). Além do reajuste de 5%, Doria ainda anunciou um “pacote de valorização” com bônus de produtividade, assistência jurídica gratuita, equiparação do auxílio alimentação e adicional de insalubridade.
De acordo com o senador Major Olimpio (PSL-SP), é impossível que o governador cumpra a palavra de tornar a polícia paulista a mais bem paga. “Há casos de defasagem de piso de soldado em comparação a outros estados que chegam a 90%. Como com 5% de correção ele vai tornar a polícia a mais bem paga até o fim de seu mandato? Ainda mais que em 2019 não houve aumento e em 2022 não pode fazer reposição salarial. É impossível ele cumprir a palavra”.
Para ele, Doria fez a promessa por acreditar no “marketing pelo marketing”. “O pessoal que o assessorava avaliou mal a possibilidade real de cumprir. Ele também precisava de votos naquele momento… Ele tropeçou nas palavras e no compromisso”.
Sobre o governo do Estado ter feitos anúncios publicitários recentemente exaltando a aquisição de novos equipamentos à polícia, Major Olimpio diz: “Viatura sozinha, rádio sozinho, colete sozinho, arma sozinha não faz segurança. Doria segue as mesmas mentiras dos outros governos tucanos do passado”.
‘NÃO É AUMENTO’
Para o deputado Coronel Tadeu (PSL-SP), o valor oferecido por Doria não pode sequer ser chamado de aumento.
“Não é aumento. Aumento é quando se tem toda a sua reposição inflacionária já garantida e então recebe um aumento. Desde 2014 até hoje só tivemos dois aumentos: um de 4% e outro de 4%. A defasagem salarial dos policiais de São Paulo está hoje em 30%. Quando ele vem com 5% de aumento, ele não está repondo sequer as perdas inflacionárias”.
Assim como Major Olimpio, Coronel Tadeu também acha muito improvável que Doria consiga cumprir a palavra de tornar a polícia paulista a mais bem paga do País. Além disso, explica o deputado, uma semana após anunciar o aumento de 5% Doria enviou um projeto aumentando a contribuição previdenciária de servidores de 11% para 14%. “Ou seja, ele deu aumento de 5% mas tirou 3%”.
Tanto Major Olimpio quanto Coronel Tadeu dizem que entidades ligadas às forças policiais vão protestar em prol de valorização em todos os eventos abertos com a participação de Doria.
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública diz que conjunto de medidas de valorização da categoria encaminhado pelo governo à Assembleia Legislativa tem um impacto de R$ 1,5 bilhão no orçamento do Estado. “Apesar do déficit fiscal do governo anterior, a atual gestão pagou os bônus que estavam atrasados desde 2018 e reforçou o policiamento com a compra de armas, equipamentos e a autorização para a contratação de mais de 20 mil policiais”.
POLÍCIA CIVIL SE DIZ DECEPCIONADA
Entidades de policiais civis se mostraram decepcionados com João Doria. A presidente do Sindicato dos Delegados do Estado de São Paulo (Sindpesp), delegada Raquel Kobashi Gallinati, afirmou que a categoria “recebe com tristeza a notícia sobre o pacote de medidas para a Polícia Civil”. De acordo com ela, o salário dos policiais civis no Estado tem uma defasagem de quase 50% e só após esse acréscimo que se pode falar de aumento real.
Para o presidente da Adpesp (Associação dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo), delegado Gustavo Mesquita, a medida está “muito distante do compromisso firmado por ele [Doria]”.
CONTRIBUIÇÃO SOBE DE 11% PARA 14%
O principal ponto da reforma previdenciária do funcionalismo paulista enviado por João Doria para a Alesp na terça-feira (12) segue os moldes das regras adotadas na União, instituindo idade mínima nas aposentadorias, de 65 anos, para homens, e de 62 anos, para mulheres. O tempo mínimo de contribuição será de 25 anos.
As mudanças na legislação previdenciária estadual estão distribuídas em dois projetos: a Proposta de Emenda à Constituição do Estado número 18 de 2019 e o Projeto de Lei Complementar número 80 de 2019, ambos publicados nesta quarta-feira no Diário Oficial do Estado.
O cálculo do benefício também deverá mudar, assim como a pensão por morte, que será paga por cotas.
A alíquota de contribuição vai subir de 11% para 14%. Segundo o deputado Coronel Tadeu, os policiais civis do Estado estarão incluídos nessa alíquota de 14%, o que desvalorizará ainda mais seus salários.
*Com informações da Folhapress
https://www.gazetasp.com.br/estado/57833-um-dos-piores-salarios-do-pais