Bolsonaro é um canalha mentiroso e debochado 32

Em pronunciamento, Bolsonaro critica fechamento de escolas, ataca governadores e culpa mídia

Fala do presidente foi acompanhada por panelaços em cidades do país pelo oitavo dia seguido

BRASÍLIA

Em seu terceiro pronunciamento em rádio e televisão sobre a crise do novo coronavírus, o presidente Jair Bolsonaro criticou nesta terça (24) o fechamento de escolas para combater a epidemia, atacou governadores e culpou a imprensa pelo que considera clima de histeria instalado no país.

​O presidente afirmou que desde o início da crise o governo se preocupou em conter o “pânico e a histeria” e emendou com ataques à mídia.

“Grande parte dos meios de comunicação foram na contramão. Espalharam a sensação de pavor, tendo como carro-chefe o grande número e vítimas na Itália”, declarou Bolsonaro, para argumentar que o país europeu tem características distintas das do Brasil. “O cenário perfeito potencializado pela mídia para que histeria se espalhasse para o país”, complementou.

O presidente disse também que “nossa vida tem que continuar” e os empregos precisam “ser mantidos”. “O sustento das famílias deve ser preservado. Devemos, sim, voltar à normalidade”, afirmou. Bolsonaro ainda voltou a comparar a Covid-19 a uma “gripezinha” ou “resfriadinho”.

As declarações de Bolsonaro ocorrem em meio a diversas ações de governos estaduais para restringir a movimentação de pessoas, sob o argumento de que a redução de contato social é necessária para conter a transmissão do vírus.

O presidente atacou governadores e disse que eles precisam “abandonar o conceito de terra arrasada”, com a proibição de transporte, o fechamento de comércio e o que chamou de confinamento em massa.

“O que se passa no mundo mostra que o grupo de risco é de pessoas acima de 60 anos. Então, por que fechar escolas?”, questionou o presidente em seu pronunciamento. “Raros são os casos fatais, de pessoas sãs, com menos de 40 anos de idade.”

Durante a transmissão, Bolsonaro foi alvo pelo oitavo dia seguido de panelaços em grandes cidades brasileiras, como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Brasília.

Apesar de ter pregado a volta à normalidade, contrariando orientações de especialistas de redução do contato social, Bolsonaro disse que é preciso se preocupar com a contaminação do vírus.

Ele concluiu dizendo que, se ele fosse contaminado, por seu histórico de “atleta”, não deveria se preocupar.

​A conduta de Bolsonaro de buscar a atenuar a pandemia do coronavírus impulsionou panelaços desde a segunda-feira da semana passada, dia 16.

A última vez que o presidente chamou o sistema de rádio e TV para falar à população tinha sido no dia 12 de março, quando ele sugeriu que seus apoiadores não comparecessem a atos de rua planejados para o domingo seguinte, 15 de março. A justificativa era que aglomerações poderiam facilitar a transmissão da Covid-19.

O presidente Jair Bolsonaro
O presidente Jair Bolsonaro – Pedro Ladeira – 18.mar.20/Folhapress

O presidente, no entanto, descumpriu sua própria orientação e, no dia programado para as manifestações, se reuniu com simpatizantes em frente à rampa do Palácio do Planalto. Na ocasião, ele tocou em pessoas, as cumprimentou e posou para selfies.

Antes disso, no dia 6 de março, Bolsonaro havia feito um pronunciamento para dizer que o país tinha reforçado seus sistemas de vigilância sanitários em portos e aeroportos, como preparação para o avanço do Covid-19

A nova doença causou até o momento 46 mortes no Brasil. Há 2.201 casos confirmados de coronavírus. O primeiro óbito foi registrado no dia 17 deste mês.

Bolsonaro minimizou em diversas ocasiões os impactos do Covid-19 e criticou medidas de restrição de movimento que têm sido adotadas por governadores.

Ele já se referiu à enfermidade como “gripezinha” e argumentou que ações como o fechamento de comércios e divisas entre os estados causam prejuízos econômicos para o país.

“Esse vírus trouxe uma certa histeria. Tem alguns governadores, no meu entender, posso até estar errado, que estão tomando medidas que vão prejudicar e muito a nossa economia”, afirmou Bolsonaro no dia 17 de março, em entrevista à rádio Tupi.

Outra marca da resposta de Bolsonaro à pandemia tem sido a troca de acusações com governadores, principalmente com João Doria (PSDB), de São Paulo, e Wilson Witzel (PSC), do Rio de Janeiro.

Ele já se referiu a Doria como “lunático” e acusou Witzel de tomar medidas que extrapolam suas funções, como se o Rio de Janeiro fosse um país independente.

Nos últimos dias, no entanto, o presidente vinha adotando gestos de moderação e de busca de diálogo com os chefes de Executivo estaduais.

Embora ainda reitere que ações excessivas de restrição de movimentação não devem ser adotadas, ele realizou videoconferências com governadores e lançou um pacote bilionário de ajuda aos entes subnacionais.

Segundo o governo, o conjunto de medidas soma mais de R$ 88 bilhões e inclui a suspensão do pagamento da dívida dos estados com a União e a manutenção de repasses do FPE (Fundo de Participação dos Estados) e do FPM (Fundo de Participação dos Municípios) nos níveis de 2019.

Apesar do pacote, governadores do Centro-Oeste e do Sul pediram nesta terça mais medidas a Bolsonaro para auxiliar no combate à pandemia. O argumento é que os estados vivem realidades diferentes e ações como o reforço do FPE e do FPM, embora importantes para o Norte e Nordeste, não contemplam as necessidades dos demais entes federados. ​

O presidente ainda deve realizar nesta semana uma teleconferência com os governadores do Sudeste.

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O coronavírus e o colapso do sistema de segurança pública 6

O coronavírus e o colapso do sistema de segurança pública

REDAÇÃO – ESTADÃO

23 de março de 2020 |

Rafael Alcadipani, é professor do departamento de administração da FGV EAESP.

É preciso que as polícias percebam rapidamente que elas estão em uma missão humanitária, não na tradicional “guerra contra o crime”

Há cerca de 15 dias, escrevi algumas reflexões a respeito do impacto do coronavírus(i) na Segurança Pública. Desde então, a situação do país com relação ao vírus só piorou. Muito se tem falado do colapso do sistema de saúde do Brasil. Porém, poucos estão discutindo que o sistema de segurança pública também pode entrar em colapso. Infelizmente, parece que até o momento o Brasil está cometendo vários erros, os mesmos que levaram a Itália a uma situação desastrosa. O epicentro da doença, São Paulo, está demorando para entrar em quarentena total. Há uma grande circulação de pessoas pela cidade e saindo da cidade espalhando o vírus internamente e para outros locais. Além disso, estamos perdendo momentos importantes em disputas políticas entre governadores, entre governadores e prefeitos, entre governadores e o governo federal e dentro mesmo do governo federal. Contrariamente a indicação da Organização Mundial da Saúde, estamos apenas testando os casos mais graves e há uma clara falta de sintonia entre as Secretarias de Saúde e o Ministério da Saúde e a rede privada e o Governo no que diz respeito as estatísticas. Isso significa que não temos ao certo a quantidade de casos do país com maior precisão e pessoas contaminadas não estão sendo isoladas. A doença está apenas agora chegando nas classes sociais mais baixas. Ela irá se propagar nas grandes periferias onde pessoas vivem dentro de casas onde o isolamento é impossível.
Diz o ditado Chinês que “podemos escolher o que plantar, mas somos obrigados a colher o que semeamos”. Frente ao que está acontecendo, o Brasil caminha para ser um dos piores países do mundo em relação a propagação vírus. Em breve, a proibição da circulação de pessoas terá que ser total e o país irá parar. Neste cenário, as forças de segurança terão papel fundamental. Em primeiro lugar, as polícias terão que mudar a sua atuação. Elas terão que estar nas ruas para impedir que as pessoas circulem. Uma coisa é fazer isso em países como Espanha, Itália e França. Outra é no Brasil. Quem conhece as comunidades brasileiras sabe que é praticamente impossível garantir, pelas dificuldades da característica da urbanização destes locais, que as pessoas fiquem de fato em casa. Mesmo nas áreas centrais, muitas pessoas irão tentar quebrar a quarentena imposta pelo Estado. Na Itália, o efetivo policial está sendo empregado para coletar material para o exame do vírus na casa das pessoas. Isso também pode ser necessário no Brasil. Além disso, parte expressiva das pessoas que estão nas periferias vivem de empregos precários. À medida que a retração da economia aumenta, inúmeros trabalhadores precários devem ficar sem receber e terão dificuldades para adquirir comida e remédio levando a possíveis saques a farmácias e supermercados. Só neste tipo de trabalho, as forças de segurança estarão sobrecarregadas.
Soma-se a isso, o fato de que policiais serão chamados para resolver brigas e discussões em hospitais, mercados e farmácias. O stress causado pela doença tende a tirar as pessoas da razoabilidade. E isso vai gerar muitas ocorrências policiais de contenção de distúrbios. Há ainda a questão do sistema penitenciário. O que aconteceu em São Paulo, com rebeliões e fugas de presos, pode ocorrer com mais frequência. Há iniciativas sendo tomadas para liberar presos de baixa periculosidade e também de limitar as visitas. Mas, com o aumento da propagação do vírus, visitas terão que ser interrompidas e isso pode gerar muitas rebeliões e distúrbios onde as forças de segurança terão que atuar.
Existe um aumento de casos de todo tipo de estelionato ligado ao vírus. Venda de álcool gel falsificado, golpes de remédios que prometem a cura e por aí a fora. Estas ocorrências, ao serem notificadas, aumentarão o trabalho da polícia que terá muita dificuldade em dar vazão ao atendimento deste tipo de caso. E há, ainda, a questão do crime organizado. A diminuição da circulação de pessoas na rua levará a uma queda da venda de drogas. Com isso, o crime organizado buscará alternativas para seguir ganhando. É esperado que ele possa atuar mais fortemente em roubos e furtos de caixas eletrônicos e, ainda, nos assaltos a residências, joalheiras, cargas e outros locais onde haja possibilidade de auferir dinheiro. Isso fará com que as forças de segurança tenham que ser empenhadas também nestas ocorrências. Haverá, ainda, o aumento dos crimes interpessoais. Inúmeras pessoas convivendo sem sair as ruas dentro de casa tende a acarretar o aumento da violência doméstica e homicídios. Hoje, a logística de recolhimento de corpos é ainda bastante precária em todo o Brasil. Com o aumento das mortes causadas pelo vírus, haverá muita dificuldade para se coletar os corpos. Ester serviço precisa ser aprimorado urgentemente.
Como os membros das forças de segurança estarão nas ruas, a possibilidade de contaminação é verdadeira. Isso tem acontecido na Espanha, na Itália e na França. Ou seja, teremos um forte aumento da demanda pelas nossas forças de segurança ao mesmo tempo em que possa ser diminuído o efetivo. Diante de tudo isso, os comandos das polícias terão que priorizar a alocação do efetivo, de recursos materiais, escolhendo muito bem onde e como atuar. Já estão em curso preparativos e planejamentos para a atuação durante a pandemia. Considero, porém, que é preciso pensar no pior cenário.
Por fim, o ponto mais importante é que esta crise pode nos ajudar a melhorar a atuação das nossas forças de segurança. Talvez como poucas vezes em nossa história, iremos precisar da atuação social de nossas polícias. Isso acontece muito, mas é pouco divulgado. Este cenário pode ser uma chance de ouro para que a relação entre polícia e sociedade melhore. É preciso que as polícias percebam rapidamente que elas estão em uma missão humanitária, não na tradicional “guerra contra o crime”. Além disso, é uma chance para que seja utilizada tecnologia para deixar o atendimento e os processos da polícia mais rápidos e mais eficientes, principalmente no registro de ocorrências. Os efeitos da pandemia se comparam ao de Guerras Mundiais e grandes crises. Estamos diante do maior desafio de nossas vidas. Precisaremos de nossas forças de segurança para nos conduzir diante deste caos. Aos membros das nossas forças de segurança, muito obrigado pelo trabalho de vocês. Precisamos estar todos juntos como nunca.

O coronavírus e os impactos para a segurança pública

Rafael Alcadipani é Professor da FGV-EAESP e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública O Brasil começa a ter um aumento do número de pessoas infectadas pelo coronavírus. Caso ocorra uma epidemia no país, haverá efeitos claros e diretos na segurança pública e nossas polícias, autoridades e pessoas precisam estar preparadas para isso. Em países … Continue lendo