Populismo policial 2

Populismo policial

Positiva, queda de homicídios em RJ e SP não deve ser atribuída à maior letalidade da polícia

Policiais revistam suspeito no Morro do Adeus, na zona norte do Rio – Fabio Teixeira/Folhapress

Em São Paulo, o dado foi ainda mais positivo: 2019 terminou com a menor taxa de assassinatos da série histórica, com 6,56 casos para cada grupo de 100 mil habitantes.

A má notícia é que a queda nos crimes não conseguiu conter a brutalidade policial. No mesmo período, o número de mortos por intervenção policial no Rio de Janeiro (1.810) aumentou 18% na comparação com 2018, atingindo o maior patamar desde 1998.

Em São Paulo, fenômeno comparável ocorreu: policiais civis e militares em serviço mataram 733 pessoas, um aumento de 12% em relação ao ano anterior.

No caso fluminense, chega a ser chocante o fato de a letalidade da polícia ter sido proporcionalmente maior do que a perpetrada pelos criminosos paulistas: 10,5 casos para cada 100 mil habitantes.

Evidências científicas mostram que inexiste correlação entre maior violência da polícia e redução de crimes, e um estudo do Ministério Público do Rio de Janeiro no ano passado desmistificou a tese do chamado populismo policial.

Cidades como Nova Iguaçu e Angra dos Reis, por exemplo, apresentaram queda tanto nos homicídios quanto nas mortes pela polícia.

Tampouco há ganhadores nessa guerra. A mesma pesquisa concluiu que a atuação policial pela via do confronto expõe os agentes de segurança ao risco e impede a prestação de serviços essenciais.

Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, quase um policial morreu ao dia de forma violenta no país em 2018, sendo muito elevada a incidência de suicídios, com 104 episódios naquele ano —o que dá a dimensão do estresse a que eles estão submetidos.

Falta consenso entre os especialistas sobre as causas da queda nos homicídios. Fatores econômicos, interiorização da violência, mudanças nos conflitos entre facções criminosas e políticas estaduais mais efetivas são, em geral, citados. Mas a cultura de confronto policial não figura entre eles.

Para um fenômeno multicausal e com efeitos percebidos a médio e longo prazo, atribuir os avanços na área a governantes afeitos à retórica belicosa como João Doria (PSDB-SP) e Wilson Witzel (PSC-RJ) é, ao menos, impreciso e, no mais, intelectualmente desonesto.

Embora a maioria dos cariocas ainda considere a política de segurança do estado ruim ou péssima, essa rejeição caiu de 85% para 55% entre março de 2018 e dezembro passado. É um terreno fértil para o populismo policial sem qualquer respaldo em evidências.

Não existem mais jagunços, polícia não entra para matar, diz comandante da PM de SP 9

Marcelo Vieira Salles critica discurso político linha-dura e diz que policial sofre consequência

FOLHA DE SÃO PAULO

“Não há mais jagunços”. É assim que o comandante da Polícia Militar de São Paulo, Marcelo Vieira Salles, 52, resume sua crítica à política de incentivo à violência policial como forma de combate à criminalidade.

Em recado à própria tropa, diz que o policial precisa resistir a esse discurso porque, no final, as consequências recairão sobre ele. “Será ele quem vai responder diante ao júri.”

Esse tipo de posicionamento quase custou a Salles o comando da PM. Na campanha eleitoral de 2018, ele criticou a declaração do ex-prefeito e hoje governador João Doria (PSDB) de que, na gestão dele, a polícia atiraria para matar

Marcelo Vieira Salles fotografado enquanto fala na entrevista. Olha para o lado esquerdo, para seu interlocutor, que não aparece na foto. Tem os dois dedos indicadores pressionados contra a testa. Usa farda da polícia militar de São Paulo, na cor azul claro. Está sentado em um sofá de couro preto.
O comandante da Polícia Militar de São Paulo, Marcelo Vieira Salles, concede entrevista à Folha em seu gabinete – Gabriel Cabral/Folhapress

Caso raro na PM, Salles resistiu à troca de governo e de secretário de Segurança Pública. Desde que assumiu o cargo, ainda na gestão Márcio França (PSB), em 2018, assiste à queda de homicídios intencionais, roubos e furtos de veículos e roubo de carga.

Qual dos índices de violência de 2019 o senhor considera mais positivos? O maior patrimônio que temos é a vida. Sem dúvida, a diminuição dos homicídios. E a redução dos crimes patrimoniais. Quando você evita que seja subtraído um bem da pessoa, aquele veículo que ela custou a comprar, ou você devolve, é uma satisfação muito grande.

Houve queda da maioria dos índices de violência, mas aumentou da letalidade policial. Por quê? Há preocupação do comando quanto a isso? Há uma grande preocupação da instituição em todas as situações em que há o evento morte, seja por parte do infrator, seja ele por parte dos policiais ou na morte de policiais no atendimento de ocorrências.

O desejável é que não morra ninguém. Mas sempre digo: a opção do confronto é do infrator. A pessoa quando sai de casa armada com um revólver, uma pistola ou às vezes um fuzil não está com as melhores intenções. Quando a polícia vai prendê-la e ela reage, o policial tem que se defender e defender a população.

Por vezes, a repercussão disso é a morte. A guerra contra o crime por vezes tem efeitos que não gostaríamos de produzir. Nem o nome guerra é bonito. Mas temos que defender [a população], cumprir a nossa missão constitucional.

Há incentivo à violência policial, inclusive de agentes públicos. Esse tipo de discurso interfere no trabalho do policial na rua? Há todo um cuidado do comando da Polícia Militar, da instituição, para combater esse tipo de incentivo. A Polícia Militar é legalista. Nós não podemos, sob hipótese alguma, sob argumento nenhum, descumprir a lei.

Eu não gosto desse tipo de discurso. É um discurso fácil, é um discurso que tem eco na nossa sociedade. Talvez um dos motivos seja a sensação da impunidade. A sociedade, por conta a impunidade, quer uma resposta rápida e, às vezes, o Estado não dá.

Às vezes o cidadão fala, como já falaram para mim uma vez: “vocês matam muito pouco, tinham que matar mais”. Isso foi em 2017. Estávamos numa pizzaria, quem disse foi um senhor que estava na mesa, amigo de um amigo nosso. E minha mulher até me cutucou, viu que eu não gostei. Respondi a ele que as coisas não são assim. E ele repetiu. “Não, vocês matam muito pouco, tinham que matar mais”.

Aí, perguntei: “Como o senhor acha que nós deveríamos matar? Afogado? Estrangulado?”. Isso depõe contra a instituição. Não existem mais os jagunços. Somos uma instituição técnica, profissional.

Nosso policial não entra para isso. Ele entra para ganhar o pão dele, sustentar a família. Mas é uma função técnica.

Temos que tomar cuidado, porque quem vai sentar no banco dos réus é o soldado da radiopatrulha. Esse é quem vai responder perante ao júri.

Na época de Paraisópolis [quando nove pessoas morreram pisoteadas durante intervenção policial em um baile funk em dezembro], o senhor disse algo sobre “Não espere reconhecimento daqueles que não conhecem o cheiro da pólvora”. O que quis dizer? Essa expressão usei na formatura de soldados da Polícia Militar. Nós vínhamos sobre uma bateria muito pesada de críticas. Críticas muito duras e injustas, em alguma medida, do trabalho da polícia.

Às vezes você nota que alguns comentaristas, não tem a melhor informação, mas começam a opinar. Gente, nós estamos falando de uma instituição que perdeu, em 2019, 36 homens e mulheres trabalhando. Eu notei um desânimo de alguns policiais naquela formatura. O meu papel como comandante é motivar, é impelir, é pedir, é convencer, é falar, é trazer todo mundo junto para um objetivo só. Isso é um dos papeis de qualquer comandante.

Talvez, tenha até exagerado, mas aquilo saiu como uma forma de falar: ‘senhores, senhoras, não esperem reconhecimento daqueles que não conhecem o cheiro da pólvora ou o calor dos incêndios.”

Os índices de violência estão caindo, mas pesquisas apontam que a sensação de insegurança nas pessoas ainda continua em alta. Isso tem explicação? Primeiro, o brasileiro é meio cético em relação a dados que venham do poder público. Nós temos uma dificuldade, e não é uma crítica à imprensa —por princípio, eu respeito e defendo a possibilidade de ser falado, a liberdade de imprensa é fundamental. Por vezes, ao meu olhar, em algumas situações, injustas, quando você tem uma ocorrência grave e começam ser veiculadas imagens de outras ocorrências que não têm nexo causal com o resultado daquela ocorrência específica.

Para tumultuar? Querem impor uma narrativa que não houve. Na coletiva do caso de Paraisópolis, às 10h do domingo, quando as informações chegaram à imprensa, não havia ainda imagens disponíveis da ocorrência. Começaram a divulgar vídeos de situações de outros locais, de outras datas [um vídeo de abuso gravado semanas antes circulou como se fosse do episódio corrente].

Caso gravíssimo, de abuso policial, mas quem não olhava de maneira atenta, achava que era daquele evento. Na entrevista coletiva fiz questão de falar isso. Cuidado. É isso que, por vezes, questiono, não concordo com esse tipo [de jornalismo]. Porém, temos que respeitar a liberdade de imprensa.

O senhor está dizendo que sensação de insegurança das pessoas se deve a informações equivocadas que a imprensa divulga? São exageradas. Nós temos 5,5 homicídios [por grupo de 100 mil habitantes] na cidade de São Paulo. Aí, você tem um problema grave, e você faz 10, 15, 30, 35 inserções daquele problema grave.

A pessoa fala: ‘não vou pra São Paulo, está perigoso. Eu vou pra Chicago.’ Chicago tem 20,8 homicídios por 100 mil habitantes [em 2018].

Dizem: “Nos EUA que é bom”. Washington, a capital do país mais rico do mundo: 22,8 por 100 mil habitantes. Nós estamos melhor do que Las Vegas, Los Angeles, Washington, Chicago. Eu até entendo. É notícia que vende.

Não estou falando em cerceamento não. Tem que falar. Total liberdade de imprensa.

O que acha de armar a população como forma de combater o crime? É preciso olhar sob alguns aspectos. Pelo aspecto técnico, policial: quanto menos arma, melhor. Agora, você tem que lembrar que a legislação brasileira é nacional. Nós não podemos ter como base a cidade de São Paulo, com 12 milhões de habitantes, com um número imenso de delegacias, uma polícia com 86 mil homens.

Como é que nós falamos lá no Alto Solimões? Será que quando a pessoa precisar, o Estado brasileiro vai estar lá? Será que a polícia, a Polícia Militar, a Polícia Civil, vão estar lá quando ele ligar para o 190? Sabemos de rincões no Brasil que se demoram horas para chegar de barco. Por isso que há pessoas que falam de legislação nacional e tem como base o minimundo que moram, que elas convivem.

Se fosse presidente, o que tentaria mudar na segurança públicaTentaria agilizar uma resposta aos infratores da lei. Tive a oportunidade, em 2001, de frequentar um curso nos EUA. Lá, o processo é sumaríssimo. Então, você tem a prisão, se for ainda no horário de expediente, a instrução dos autos que tem em mãos, de autoria e materialidade, se tiver todos disponíveis ali, o promotor de Justiça já oferece a denúncia.

Tem a instrução criminal, já oferecida a denúncia e já responsabilizado. Nos casos que se tem indícios claros de indício e materialidade. Acho que isso seria um avanço gigantesco. Seria um grande inibidor do crime essa resposta.

A cracolândia, ao seu ver, é fruto dessa mudança legal? É um assunto a ser discutido. Nós não tínhamos esse teatro dantesco. De pessoas errantes. Acho que deve ser feita uma análise, muito detida, de como assistir essas pessoas. É um flagelo.

É contra a liberação das drogas? Pode ter um efeito perverso. Sou contra a descriminalização das drogas. Principalmente, por essa experiência. Qual será o controle disso? Nós temos que ter cuidado para não criar titãs incontroláveis. O pai medonho de todos os crimes é o tráfico de drogas. A mãe é a impunidade.

O que senhor pode falar sobre reajuste salarial [os salários dos policiais de SP estão entre os mais baixos do país]? O policial militar ainda ganha mal. Mas não é de hoje. Então, há necessidade de recomposição salarial, o governo tem plena consciência disso.

Ele [o governador João Doria, do PSDB] declarou, e vem fazendo os melhores esforços nesse sentido, no que tange melhorar a arrecadação, a parte fiscal. Tenho contato com ele todas as quintas-feiras. Sinto nele o maior interesse, até para poder cumprir a promessa dele, de que irá recompor o salário.

Nós tivemos um aumento de 5%, o governador conhece os números, declarou para todos que foi o possível.

Acredito que o governador, ao final dos quatro anos, colocará o salário do policial militar entre os melhores do país, um vencimento que o policial mereça. O policial precisa, o policial espera e o policial merece.

Governo do Estado nomeia 250 delegados de polícia 5

Após formados, os novos profissionais reforçarão o efetivo das delegacias na capital e no interior de São Paulo

Sáb, 01/02/2020 – 10h02 | Do Portal do Governo

O Governador João Doria nomeou 250 aprovados em concurso público para a carreira de delegado de polícia. As nomeações foram publicadas na edição deste sábado (1º) do Diário Oficial do Estado (DOE).

A próxima etapa será a posse dos nomeados, que deve acontecer em aproximadamente 15 dias. Em seguida, os novos policiais iniciarão o curso na Academia da Polícia Civil (Acadepol).

Após a formação, os alunos passarão por um período de estágio probatório. Os novos policiais serão designados para reforçar o efetivo das unidades da polícia civil de todo o Estado.

Reforço de efetivo

Atualmente, já estão em formação mais de 1,4 mil novos policiais civis, sendo 166 papiloscopistas, 109 auxiliares de papiloscopista, 239 agentes de telecomunicações, 312 agentes policiais e 617 escrivães.

Além disso, há concursos em andamento para preencher 600 vagas de investigadores da Polícia Civil. A distribuição do efetivo é feita após a formatura, com o objetivo de programar a reposição dos profissionais

Aprovados em concursos para Polícia Civil de SP esperam nomeação

por: , em: 

A novidade, no entanto, não torna mais próxima a nomeação dos aprovados, diz Raquel Gallinati, presidente do Sindpesp (Sindicato dos Delegados de SP).

Segundo dados de dezembro de 2019 do Defasômetro, índice da entidade que mede a ocupação das carreiras da Polícia Civil, há hoje um déficit de 3.562 investigadores e 945 delegados de polícia em São Paulo.

A Secretaria da Segurança Pública afirma que, do concurso de 2017, 1.815 aprovados foram nomeados em novembro de 2019 e que, deste total, 1.453 compareceram à posse em dezembro e já estão na Acadepol (Academia de Polícia).

No entanto, ainda não há um prazo para a nomeação e a posse do restante dos aprovados nos concursos de 2017.

A SSP diz ainda que foi autorizada a abertura de mais 2.750 vagas para concursos da instituição, sendo 250 delegados, 900 investigadores e 1.600 escrivães. Os editais, afirma a pasta, devem ser lançados ao longo deste ano.

Polícia leva 13h para registrar BO 73

Publicado 01/02/2020

Por Alenita Ramirez

Estado informa que autorizou a contratação de 20 mil novos policiais
Cedoc/RAC

Estado informa que autorizou a contratação de 20 mil novos policiais

A falta de policiais civis nos distritos de Campinas fez com que agentes rodoviários esperassem cerca de 13 horas para apresentarem um flagrante por embriaguez ao volante (veja texto nesta página), na noite de anteontem. Os policiais chegaram na 2ª Delegacia Seccional às 20h20, mas só começaram a ser atendidos por volta das 9h20 da manhã de ontem. Eles passaram a noite toda com o preso e não puderam sequer descansar. Eles deixaram a unidade por volta das 10h30. O motivo da demora foi o grande número de flagrantes e de atendimentos que havia na unidade, somado ao déficit de policiais civis e a sobrecarga dos serviços pelos agentes. Além de atender ao público, eles também tiveram de levar custodiados para fazer corpo de delito no Instituto Médico Legal (IML).
A falta de policiais civis no Estado não é uma queixa atual. O déficit de agentes na instituição já leva cerca de dez anos, mas nos últimos meses, segundo o presidente do Sindicato dos Policiais Civis da região de Campinas, Aparecido Lima de Carvalho, a falta de efetivo tem sido cada vez maior e se agrava, ainda mais, com a reforma da previdência e o PLC (Projeto de Lei complementar) 80/19, que impulsiona muitos policiais civis a solicitarem suas aposentadorias temendo perda de direitos.“Aproximadamente 40% do efetivo já têm condições de se aposentar. Ou seja, a Polícia Civil está velha e o Estado não repõem seu efetivo”, comentou Carvalho.
Além disso, segundo os policiais, a falta de funcionários se dá também pelo baixo salário que tem desestimulado tanto quem está na instituição como quem quer entrar, já que outras profissões, financeiramente, são mais vantajosas.
Somente na 2ª Delegacia Seccional, que atende cerca de 60% da demanda da cidade, responsável pelos distritos de Aparecida, Ouro Verde, Campo Grande e regiões do São José, Campos Elíseos e Campo Belo, registra uma média de 24,38 ocorrências por dia, incluindo flagrantes.
Em 2019, a unidade registrou 7.850 boletins de ocorrências, incluindo o atendimento de cerca de 800 flagrantes. Quando a unidade foi inaugurada, em 2014, cada plantão contava com quatro agentes para o atendimento, dois delegados, dois escrivães e uma agente de telecomunicações.
Atualmente esse quadro reduziu em 50%. Cada turno, trabalha com um delegado, um escrivão, dois investigadores, que atendem o público, e uma agente de telecomunicações, além dos agentes que trabalham no setor administrativo durante o expediente.
Além de atender as ocorrências simples e flagrantes, os policiais são obrigados a parar o atendimento e levar drogas no Instituto Criminalístico (IC), presos para exames de corpo de delito no IML, locais de crimes, como homicídio, suicídio e de acidentes com vítimas fatais e também levar presos para cadeias. O transporte de custodiados tem que ser feito separado por sexo e idade. Ou seja, adolescentes não podem ser colocados na mesma viatura de um maior.
“Infelizmente o policial que está no atendimento tem de parar tudo e se deslocar para o IC, IML, pois não há funcionários. Isso gera uma morosidade enorme no trabalho e a população não quer saber, ela quer ser atendida. Muitas pessoas saem das unidades dizendo que vão fazer queixa na corregedoria”, disse um policial, cujo nome foi preservado.
Na noite de anteontem, a unidade registrou a apreensão de quatro menores e a prisão de três maiores em ocorrências distintas. Em todos os casos, os detidos precisaram ser encaminhados ao IML para exame de corpo de delito. Como a remoção de presos era feito pela equipe do “Bonde”, desde o dia 20 deste mês, por falta de funcionários, o serviço passou a ser feito pelos policiais que estão nas unidades, ou seja, plantonistas que estão no atendimento.
O Bonde, que trabalha com apenas duas equipes, se reveza durante o expediente. “Diante do paradoxo, o que o governo poderia e deveria adotar era um plano ‘B’, como, por exemplo, contratar policiais aposentados para serviços administrativos, desafiando desta forma, os policiais civis que estão em desvio de função”, comentou Carvalho.
A falta de policiais civis em Campinas não reflete apenas na 2ª Delegacia Seccional. Atinge também o plantão da 1ª Delegacia Seccional e das unidades que trabalham em horário de expediente. “Fazemos o possível para prestar bom atendimento para a população, mas nosso maior medo é que em algum momento possa acontecer algo de pior. Como por exemplo, um preso fugir ou acontecer algo grave durante a ausência do policial no atendimento na unidade”, falou um policial.

Outro lado

A Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo informou que durante a atual gestão autorizou a contratação de mais de 20 mil novos policiais. Só para a Polícia Civil são mais de 5.400 novas vagas. Já estão na Acadepol os 1.453 aprovados no concurso de 2017 e empossados em dezembro. Atualmente, está em andamento a nomeação de outros 850 aprovados no mesmo certame, sendo 250 para vagas de delegados e 600, de investigadores.

Policial que declarou ser contra Jair Bolsonaro pode ser expulso por dar opinião 1

Redação Pragmatismo

Policial que declarou ser contra Jair Bolsonaro pode ser expulso por dar opinião

PM que declarou ser contra Jair Bolsonaro está enfrentando um processo administrativo geralmente aplicado a policiais que matam ou roubam

martel Policial declarou ser contra Jair Bolsonaro expulso opinião paraná
Martel Alexandre del Colle (Imagem: Reprodução)

Rafael Oliveira, Agência Pública

Aconteceu tudo ao mesmo tempo, os textos saíram, no ano seguinte eu sou aposentado; no outro ano recebo um procedimento de exclusão”, diz Martel Alexandre del Colle, de 29 anos, policial militar do Paraná, autor de textos críticos à PM e aos governos federal e paranaense.

À Agência Pública, Martel falou sobre o processo administrativo que pode expulsá-lo da corporação. Ele é acusado pelo Conselho de Disciplina da PM de “trazer a conhecimento público [em textos publicados no site Justificando] imputações graves contra a instituição Polícia Militar do Paraná bem como em desfavor de autoridades civis constituídas”. No último dia 21 de janeiro, ele foi notificado da investigação interna que resultou na acusação.

Aposentado desde o final do ano passado por causa de um quadro de depressão, Martel ganhou repercussão na internet em outubro de 2018, depois de ter publicado: “Ele não porque eu sou policial”, em que declarava voto contra o então candidato a presidente Jair Bolsonaro.

Relembre: Policial é intimado pela corregedoria após afirmar que não apoia Bolsonaro

Desde então, o Martel passou a publicar textos críticos e analíticos sobre a própria Polícia Militar e sobre políticas de segurança pública de Bolsonaro e de Ratinho Jr., governador paranaense.

Martel é também coordenador no Paraná do grupo Policiais Antifascismo, movimento formado por agentes de segurança pública que defende democracia nas polícias e pautas como desmilitarização e fim da guerra às drogas. Para ele, os códigos de ética da PM e o regulamento disciplinar do Exército, que são utilizados para punir policiais que criticam a corporação, vão contra direitos constitucionais como a liberdade de expressão.

Geralmente aplicado em casos graves, quando policiais cometem crimes e se considera que o agente não tem mais condição de permanecer na corporação, o processo contra a opinião de Martel pode fazer com que o policial seja expulso e deixe de receber sua aposentadoria. Procurada, a PM do Paraná não respondeu até a publicação.

Você está aposentado desde quando?

O meu procedimento de aposentadoria começou mais ou menos em abril de 2019. Fui chamado na junta médica da polícia e fiz uma consulta com o setor psiquiátrico – eu estava lidando com uma depressão e tinha ficado internado, inclusive. Soube que estava rolando um boato entre os policiais de que eu ia ser aposentado. Em setembro ou outubro, um policial veio até a minha casa para que eu assinasse o documento da aposentadoria.

Não foi algo que partiu de você?

Não, eu não tive escolha. De fato, estava fazendo tratamento psicológico. Eu lido com a depressão já faz um tempo, no começo do ano [2019] eu tinha ficado internado uns 30 dias. Mas, eu não sabia, levou meses pra que eu conseguisse diluir a notícia. Ter 29 anos e ser aposentado não é uma coisa que acontece com todo mundo.

Você vê relação da aposentadoria com o fato de você publicar textos críticos?

Sinceramente, não sei. Não consigo ter uma resposta clara porque não sei o quanto influenciou, se influenciou; não sei quantos policiais são aposentados da polícia por depressão. Acredito que os médicos que trabalham na junta médica fazem um trabalho sério e que eles entenderam que eu não tinha mais condição de estar na rua. Mas isso aconteceu tudo ao mesmo tempo: os textos saíram, no ano seguinte eu sou aposentado; no outro ano recebo um procedimento de exclusão.

O seu primeiro texto de repercussão é quando você apoia o #EleNão?

Eu sabia que essa minha crítica passava muito além do Bolsonaro e que eu poderia sofrer mais do que só dizendo “eu não voto no Bolsonaro porque eu não concordo”. Mas eu quis fazer porque nós estávamos no momento do segundo turno onde a chance dele ganhar estava começando a crescer, o que era inacreditável pra mim. Pra mim, ele é um cara que não tem nenhum conhecimento, que não tem capacidade de exercer nenhum cargo. Quando vi que estava se tornando uma possibilidade real, achei que era necessário puxar a responsabilidade para toda a polícia e para todos os órgãos. Eu fiz um texto um pouco mais duro na tentativa de chamar os policiais para a reflexão. Acho que alcançou o objetivo. Sei que muitos policiais não gostaram.

Qual foi a reação ao texto?

Escrevi num dia e no outro dia tinha alguns policiais, amigos, colegas, falando que “o texto tá em toda polícia, tá todo mundo sabendo desse texto”. O alcance foi até maior do que eu imaginava. Ficou dividido basicamente em três grupos: o grupo que concordava, que pensa como eu; o segundo grupo que, apesar de não concordar com tudo que eu escrevi, falou que eu tinha direito a me expressar, que a minha opinião era importante porque ela dentro da polícia equilibra e traz a reflexão; e teve o terceiro grupo que foi o que não gostou, achou que não deveria, que policial não pode escrever, principalmente falando mal dessas autoridades – jamais do Bolsonaro e do Sergio Moro.

Ocorreu um processo dentro da polícia por conta desse texto?

Escrevi o texto e na mesma semana a corregedoria da polícia me chamou para ser ouvido. Eu não sabia nem sobre o que era, cheguei lá e eles também não sabiam. Desconfio que alguém tenha mandado eles fazerem isso como forma de represália, mas eles também não souberam como lidar com isso.

Depois abriram sindicância para avaliar os meus textos e também nessa época me transferiram – uma transferência muito atípica. Isso não acontece na polícia, de você acordar um dia e falarem que você está sendo transferido para outro lugar, sem ninguém te avisar nada. Ficou muito nítido que era uma perseguição, uma forma de represália.

Eu fui até a diretoria da polícia dizer que era uma forma de represália, enquanto isso estava rolando o prazo da minha transferência, e aí eles argumentaram que eu não me transferi em tempo hábil e depois me condenaram à prisão no ano de 2019.

Você chegou a ficar preso?

Sim, fiquei preso lá em Matinhos [cidade do Paraná]. Peguei um dia.

As razões do voto contra Bolsonaro permanecem?

O Bolsonaro para mim continua sendo a mesma pessoa. Ele não faz nada além de fazer polêmica. A ideia é manter o povo sempre no ódio, nessa não reflexão sobre a realidade, enquanto algumas pessoas estão pagando um preço muito caro por isso.

Qual o retorno dos textos que você tem feito?

Quando comecei a escrever, muitas pessoas vinham no Facebook dizer que era policial militar, que concordava comigo, que eu estava ajudando na compreensão do tema, mas que tinha medo de se identificar. Muitos policiais falavam: “Ó, eu concordo, mas por favor não fale pra ninguém, não quero me expor”. Muitos policiais me traziam histórias deles, que tinham sofrido abuso de autoridade na polícia, assédio, e pediam pra que eu publicasse, só que sem nome, de maneira anônima.

O mais grave não é nem a questão de os policiais concordarem ou discordarem da minha opinião, mas o fato de um policial ter medo de expressar a sua opinião. É algo muito grave, principalmente se a gente não vê esse medo em certas ideologias políticas.

É muito fácil você abrir as redes sociais e ver muitos policiais que falam que o Lula é ladrão, dizendo xingamentos machistas contra a Dilma, criticando ministros do STF por causa de algumas decisões. E eu nunca vi um procedimento ser aberto por causa disso. É muito curioso que os policiais que têm uma ideologia diferente tenham medo de se expressar, enquanto o outro lado não tem vergonha de se expressar, e nem seja cogitada uma punição para esse tipo de atitude.

Em relação aos processos, o que se pode dizer dos encaminhamentos?

Esse da corregedoria foi bem estranho. Eles me chamaram, houve intimação, mas não houve nenhum processo, nenhum procedimento, nada. Me chamaram porque eu tinha escrito o texto e não aconteceu mais nada. E aí abriu-se uma sindicância depois.

A sindicância foi concluída, mas eles não me avisaram da conclusão. Eu fiquei sabendo agora que a conclusão é que haja um conselho de disciplina que pode levar à minha exclusão.

Então a sindicância que foi aberta depois da publicação do texto resultou nesse processo que saiu agora?

Isso, essa sindicância está anexada nesse processo e é o seu motivo gerador.

Você esperava que chegasse a esse ponto?

Jamais esperava, por vários fatores. Primeiro, porque o conselho de disciplina, o ADL (Apuração Disciplinar de Licenciamento), que é uma outra ação disciplinar da polícia, são documentos usados para casos extremamente graves. Por exemplo, o policial executou alguém, ou está envolvido em grupo de extermínio, ou roubou uma pessoa. Então, colocar a minha opinião no mesmo patamar desses crimes gravíssimos já é algo, para mim, que foi muito surpreendente. Mostra como alguns cidadãos dentro da polícia estão enxergando o fato de eu dar minha opinião, principalmente uma opinião contrária à que eles queriam que eu desse.

A segunda surpresa é porque já fui preso, já respondi sindicância, já tinha respondido ação disciplinar, me aposentaram, então acreditei que já tinham deixado para lá. É inacreditável, acho que foi cruzado um limite que eu não imaginava.

Quais são e o que falam os regimentos internos da polícia que versam sobre a liberdade de opinião dos policiais? E qual a crítica que vocês [Policiais Antifascismo] fazem a isso?

Nós somos regidos pelo regulamento disciplinar do Exército, pelo código de ética da PM e outros códigos. O problema principal é a questão do militarismo, porque o regulamento disciplinar do Exército é muito amplo, e é para uma função totalmente diferente.

A crítica do militar é reduzida porque, geralmente quando o Exército é chamado para uma ação, ela envolve a segurança do país, envolve soberania nacional, outro patamar de questões, mas a Polícia Militar não cumpre essa função. Nossa função é muito mais social. Esses regulamentos criam uma situação muito estranha em que o policial não pode criticar a sua corporação. Torna-se corporativista.

Você acredita que a aplicação desse regulamento fere a Constituição?

Há um conflito entre o direito constitucional e esses regulamentos administrativos infraconstitucionais. Só que isso nunca foi avaliado, justamente porque a gente saiu da ditadura militar com um desejo de não discutir tudo aquilo que tinha acontecido. Só que cedo ou tarde esses conflitos iam acontecer, cedo ou tarde alguém iria criticar e receber um procedimento.

Qual é a estratégia de sua defesa?

É tudo muito recente. Eu recebi a ajuda de muitas pessoas, e só tenho a agradecer a elas. A gente tá tentando definir uma estratégia.

Esse tipo de processo tem sido recorrente contra outros policiais que se posicionam como você?

Desse nível de gravidade, eu não conheço nenhum. Mas dentro do Policiais Antifascismo e fora dele tenho visto policiais, principalmente nessa questão de opinião, quando é de um setor mais progressista, que estão respondendo a processos administrativos, respondendo a outros tipos de processo por dar a sua opinião. O que tem de inédito no meu é que eles foram pro nível mais grave. Eu estou sendo equiparado aos policiais que cometem as coisas mais terríveis dentro da polícia.

Como você entrou no Policiais Antifascismo?

É um movimento bem importante no país, é uma coisa bastante revolucionária só pelo nome. Policiais falando que não querem estruturas fascistas é surpreendente. Por causa dos meus textos, algumas pessoas foram me conhecendo e me convidaram para participar do grupo desde a inauguração em Curitiba. Em setembro do ano passado, houve um congresso e a gente decidiu algumas coisas, incluindo que cada estado teria um coordenador, e eu fui eleito coordenador do movimento aqui no Paraná.

Basicamente, o que a gente quer é trazer a democracia para dentro da polícia. A minha visão é de que não existe um sistema democrático sem uma polícia democrática. Primeiro entender o policial como um trabalhador, deixar essa ideia de que pode fazer qualquer coisa com o policial, que ele não tem direitos, que não precisa ter contato com a sua família, não tem direito a felicidade, não tem direito a um atendimento psicológico caso tenha algum problema devido à sua atividade. Nós não entendemos o policial como fascistas. Isso não significa que não existem policiais fascistas, mas a nossa ideia é mudar uma estrutura que possa promover ideias fascistas.

Ela representa os delegados de polícia de SP, mas sofre com machismo 7

Raquel Gallinati é presidente do Sindicato dos Delegados da Polícia Civil de São Paulo - Divulgação

Raquel Gallinati é presidente do Sindicato dos Delegados da Polícia Civil de São Paulo Imagem: Divulgação

Camila Brandalise

De Universa

03/01/2020 04h00

Convidada certa vez para participar de um evento sobre segurança pública, a delegada Raquel Kobashi Gallinati, 43 anos, primeira mulher a presidir o Sindpesp (Sindicato dos Delegados da Polícia Civil de São Paulo) em 31 anos, ouviu seu nome ser chamado por uma das autoridades com um complemento: “Venha embelezar a mesa”.

Com o microfone na mão, disse: “Muito obrigada, me sinto lisonjeada, mas o fator que me faz compor essa mesa é representar todos os delegados de polícia do estado de São Paulo”.

Em outro momento, em uma reunião com 20 pessoas, sendo ela a única mulher, Raquel ouviu de um colega delegado, após dar uma opinião sobre determinado assunto: “Ela é louca, descontrolada”. “Falei: ‘Fulaninho, mais respeito ao falar comigo, vai tomar um remedinho porque você está completamente desequilibrado”, relembra.

Na sala de reuniões do sindicato, onde recebeu a reportagem de Universa para esta entrevista, Raquel bateu três vezes na mesa com a lateral da mão ao falar sobre uma pergunta que a persegue desde que assumiu a função de representante dos delegados paulistas, em 2016. “Por que as pessoas depreciam o que eu faço se eu trabalho dez [primeira batida] vezes [segunda batida] mais [terceira batida] do que um homem medíocre?”

Por homem medíocre entende-se o “homem médio”, explica Raquel, não no sentido pejorativo, mas no que se refere ao sujeito sem nenhuma qualificação de destaque. “Eles são presidentes, CEOs de grandes empresas ou diretores de departamentos institucionais, públicos e privados, e não são questionados o tempo todo sobre sua competência. Eu, ao contrário, estou sempre sendo sabatinada.”

Mais mulheres na segurança pública

Raquel diz que cogitou desistir do cargo um ano após assumir a presidência. “Pensei: não quero ficar aqui. Mas agora vou dar crédito aos próprios homens: foram eles que me apoiaram quando reclamei e disseram que não iam admitir preconceito contra mim”, relembra.

Também por causa das situações que já passou, decidiu criar, em novembro de 2019, o movimento Mulheres na Segurança Pública ao lado de outras três delegadas do estado. Uma das ideias é dar suporte a profissionais femininas do meio que estejam passando por situações similares e incentivá-las a perseguir posições de liderança.

Além disso, quer estimular jovens estudantes a entrarem para a polícia e ocuparem cargos altos. Como consequência, a ideia é que haja mais mulheres no atendimento de vítimas de violência de gênero, para que elas se sintam incentivadas a denunciar.

“Meu filho vai saber que mulher pode prender bandido com metralhadora empunhada”

A delegada é bastante enfática ao dizer que mais leis ou prisões não são suficientes para acabar com a violência doméstica. “É um pensamento ingênuo. O problema é muito mais complexo.”

É preciso, antes de tudo, que cada um reconheça e admita o próprio machismo. Depois, políticas públicas para educar a população a mudar de comportamento em relação ao tratamento dado às mulheres. Acredita, na verdade, que isso tenha que começar em casa.

“Pais e mães precisam ensinar aos filhos que mulheres podem ter o mesmo papel que os homens. Eu, se tiver um filho, e se Deus quiser terei, ele vai saber que mulher não tem que ficar em casa cozinhando, que ela pode estar prendendo bandido com uma submetralhadora empunhada”, afirma. Raquel é uma das poucas mulheres do estado a ter habilitação para manusear submetralhadoras, fuzis e carabinas.

Raquel e o noivo, com que se casa em abril de 2020: "Meu filho vai saber que mulher pode prender bandido e empunhar submetralhadora" - Divulgação
Raquel e o noivo, com que se casa em abril de 2020: “Meu filho vai saber que mulher pode prender bandido e empunhar submetralhadora”

Imagem: Divulgação

O plano de ter um filho será colocado em prática ainda em 2020. Em abril, ela se casa com um investigador de polícia com quem começou a namorar em março de 2019. “Estava pensando mais seriamente em uma produção independente, mas coincidiu de o Marcel [o noivo] aparecer”, diz. E sorri

“Vítima de violência doméstica é como dependente química”

Nos quatro anos em que foi delegada, de 2012 a 2016, diz ter presenciado diversas situações de violência contra a mulher que a chocaram. Mas ressalta uma cena que se repetiu e que explica o ciclo em que as vítimas estão inseridas.

“A mulher estava com a cara deformada de tanto apanhar, o agressor era preso em flagrante e depois ela pagava a fiança para soltá-lo. Aconteceu algumas vezes e chegou uma hora que eu não arbitrava mais fiança”, diz.

“Eu costumo associar essa mulher a uma dependente química. É aquela dependência que ela sabe que faz mal, mas a abstinência a deixa desesperada”, explica Raquel.

A delegada diz que, antes de julgar, é preciso entender que a vítima está envolta em uma situação que, inclusive, lhe tirou a autoestima e a força para superar. “É um crime que se perpetua por quê? Porque quando a mulher fala que não aguenta mais, ‘você me trai, me ofende’, ele diz: ‘Não farei mais isso’. A esperança na relação se renova, e ela fica cada vez mais codependente.”

Proposta de Doria sobre delegacias da mulher é “irresponsável e incompetente”

Raquel não espera o fim da pergunta sobre sua avaliação do primeiro ano do governador João Doria (PSDB-SP) no que diz respeito à proteção das mulheres para responder: “Péssima”.

Em sua opinião, Doria se aproveitou do fato de mais mulheres estarem denunciando e falando sobre violências para usar como bandeira de campanha, de uma maneira “irresponsável e incompetente”.

A maior crítica é para o projeto de aumentar o número de delegacias da mulher que funcionem 24 horas. Em março de 2019, ele anunciou a abertura de seis na capital. “Para fazer isso precisa de estrutura. E a principal estrutura são pessoas: policial, escrivão, investigador. Nós temos hoje um contingente deficitário que supera 13 mil policiais. Então, com abertura de novas delegacias, os profissionais estão acumulando funções”, afirma.

“Abriram algumas, mas não estão funcionando como deveriam porque não há gente suficiente. Outras até fecharam. O governador faz uma propaganda enaganosa”, reforça. “Sem contratação de mais policiais, é realmente para inglês ver, para o eleitor acreditar que existe algo sendo feito. O governador tem que cumprir com sua promessa e sua palavra e dar estrutura para que a polícia civil possa exercer as sua atribuições. É isso que exigimos.”