“O AI-5 determina a supressão de direitos, impedimento de ação dos poderes e instituições. E é tudo o que não queremos nesse momento. Queremos as forças públicas independentes”, disse Major Olímpio 28

Fala sobre AI-5 é inoportuna e traz mais problemas a Bolsonaro, diz Olimpio

Major Olimpio (PSL-SP) durante entrevista exclusiva ao UOL - 18.jan.2019 - Simon Plestenjak/UOL

Major Olimpio (PSL-SP) durante entrevista exclusiva ao UOL Imagem: 18.jan.2019 – Simon Plestenjak/UOL

Luís Adorno

Do UOL, em São Paulo

31/10/2019 14h02Atualizada em 31/10/2019 15h29

O senador Major Olimpio (PSL-SP) repudiou hoje a declaração do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) em que afirmou que, se a esquerda brasileira radicalizar, uma resposta pode ser “via um novo AI-5”. Apesar da crise entre Jair Bolsonaro e o PSL, o senador continua ao lado do presidente.

Em entrevista ao UOL, Major Olimpio disse que “até parece que o presidente não tem problemas”. “Neste momento que vivemos, ele [Eduardo Bolsonaro] conseguiu criar mais um problema para o pai. Duvido que ele tenha lido o conteúdo do AI-5”, afirmou o senador.

O AI-5 (Ato Institucional número 5), marco do período mais duro da ditadura militar brasileira, foi editado em 13 de dezembro de 1968, no governo do marechal Costa e Silva, e deixou um saldo de cassações, direitos políticos suspensos, demissões e aposentadorias compulsórias.

O mais radical decreto do regime também abriu caminho para o recrudescimento da repressão, com mortes e desaparecimentos de militantes da esquerda armada.

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Em entrevista à jornalista Leda Nagle, divulgada no YouTube, Eduardo Bolsonaro afirmou:

Se a esquerda radicalizar a esse ponto, a gente vai precisar ter uma resposta. E uma resposta pode ser via um novo AI-5, pode ser via uma legislação aprovada através de um plebiscito como ocorreu na Itália. Alguma resposta vai ter que ser dada.Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), deputado federal

Major Olimpio afirmou que o depoimento de Eduardo Bolsonaro é “triste, inoportuno, descabido, lamentável e que, enfim, não agrega nada”.

“O AI-5 determina a supressão de direitos, impedimento de ação dos poderes e instituições. E é tudo o que não queremos nesse momento. Queremos as forças públicas independentes”, disse.

“Lógico que o poder público tem que se colocar para manter o equilíbrio da sociedade. Se houver uma manifestação de quebra da ordem, existe uma gradação sobre o uso de meios e do uso da força. Depende de conhecimento, planejamento, técnica. Por isso, você tem tropa de choque nas polícias militares, GLO (Garantia da Lei e da Ordem) quando os governadores solicitam”, complementou o senador.

Ainda de acordo com Major Olimpio, o que Eduardo fez foi “mais bravatear do que qualquer outra coisa” e que um posicionamento como esse seria natural de ser dito por alguém da esquerda, para atingir negativamente Jair Bolsonaro

Ao representante de militares: QUEM VOTOU NO MITO MERECE SIFU! 3

Representante de militares: “Bolsonaro nos traiu, PSOL e PT nos defenderam”

Protesto de militares graduados da reserva - Reprodução/Twitter

Protesto de militares graduados da reserva Imagem: Reprodução/Twitter

Chico Alves Colunista do UOL

31/10/2019 04h00

As cenas de comoção protagonizadas por militares graduados da reserva circularam freneticamente nas redes sociais, na terça-feira 29. Naquele dia, vários deles foram à Câmara pressionar os deputados federais para tentar reverter as perdas que o projeto de reforma da Previdência criado pelo governo impôs a essa fatia das Forças Armadas. O esforço foi em vão.

Muitos deles foram às lágrimas e se sentiram traídos pelo presidente Jair Bolsonaro, a quem apoiaram fervorosamente na corrida eleitoral. “Na campanha, ele prometeu que ia resolver a questão salarial, disse que o salário dos sargentos está muito baixo”, comenta Adão Farias, sargento da Aeronáutica da reserva e diretor de coordenação política da Federação Nacional dos Militares Graduados Inativos das Forças Armadas. “Mas aí, olhamos o projeto da reforma da Previdência e constatamos que estava beneficiando somente a cúpula”.

Os graduados não gostaram de ver que o governo privilegiou os oficiais superiores, enquanto eles tiveram reduzidos os valores de adicionais de disponibilidade (ganho pelo fato de o militar ser obrigado a ficar completamente disponível para a força) e habilitação (recebido de acordo com os cursos feitos por cada um), além de outros benefícios.

Em uma reviravolta surpreendente, os militares que antes colocavam fé em Bolsonaro foram defendidos na votação da Câmara por deputados do PSOL e do PT. “A sargentada representa 80% da tropa”, afirma Farias, em entrevista à coluna. “Com esses, o presidente perdeu seu capital político para sempre”.

UOL – Por qual motivo os graduados direcionaram seu protesto contra o presidente Bolsonaro?

Adão Farias – É muito simples de entender: pelo discurso de campanha que ele fez. Bolsonaro se manteve 30 anos como deputado porque teve apoio dos graduados dentro dos quartéis, da sargentada, que representa 80% da tropa. Na campanha, prometeu que ia resolver a questão salarial, disse que o salário dos sargentos está muito baixo. A maioria dos suboficiais que sai das Forças Armadas e vai para a reserva sai num dia e no outro vai trabalhar de motorista de táxi ou de Uber. Bolsonaro prometeu melhorar isso. Mas aí, olhamos o projeto da reforma da Previdência e constatamos que estava beneficiando somente a cúpula. Os generais vão para uma remuneração de R$33.900,00.

O protesto está voltado para Bolsonaro porque esse projeto de reforma é de iniciativa exclusiva do presidente, foi ele que enviou à Câmara. É privativo dele tratar de salário e reestruturação da carreira militar. Então foi ele que enviou, está havendo protesto contra o presidente porque a responsabilidade é dele, podia ter melhorado o projeto e não melhorou.

As associações representativas dos graduados tentaram contato direto com Bolsonaro?

Todas as associações tentaram chegar ao presidente e não conseguiram. O vice-presidente chegou a receber um grupo e depois passou para a assessoria. Tentamos negociar com o Ministério da Defesa, eles recusaram. Tentou-se negociar com o líder do partido do governo, Major Vitor Hugo, não tivemos sucesso. Fizemos esse esforço durante seis meses para que eles nos ouvissem para corrigir o projeto, mas ninguém nos recebeu.

Ouvimos várias vezes dentro do Congresso: “É para ser aprovado desse jeito, é assim que o Ministério da Defesa quer”. O próprio relator falou isso. Numa audiência pública na Câmara dos Deputados ele disse: “eu fui escolhido pelos comandantes militares para ser o relator desse projeto”. Isso causou perplexidade: quer dizer que os comandantes escolhem o relator de um projeto de lei que é de interesse deles?

Quais partidos apoiaram a causa de vocês?

A comissão foi formada com 44 deputados de todos os partidos. Algumas legendas disseram que iam apoiar e depois pularam fora. O DEM por exemplo. O PSL foi o tempo todo contra, o Major Vitor Hugo disse que não apoiaria. Quem ficou do nosso lado foi o PT e o PSOL.

Não é curioso que justamente os partidos apontados como “comunistas” e inimigos pelos militares na campanha eleitoral tenham ficado ao lado de vocês?

O que nós vimos foi isso. O partido do governo que dizia que resolveria a questão dos militares ficou contra melhorias no projeto. O PT e PSOL votaram a favor dos graduados. Vi vários militares agradecendo o apoio ao PSOL, vi inclusive entrevistas de militares dizendo que votam no Glauber e no Freixo e não votam mais nos deputados da base do governo e nem no Bolsonaro. Isso pra mim foi uma surpresa, porque esses militares sempre estiveram alinhados com Bolsonaro. O PSL era um partido insignificante e se tornou grande com o apoio dos militares. Não esperava isso. Na hora que o cara se sente traído, o sentimento é terrível.

Esse sentimento é generalizado ou restrito a algum grupo?
Pelo fato de atuar com as associações, participo de pelo menos 20 grupos de WhatsApp e Telegram. Posso dizer que a indignação vai do Oiapoque ao Chuí.

Acha que o presidente Bolsonaro pode reverter esse sentimento de decepção?

Acho difícil que ele reverta isso. O capital político que ele tinha com os graduados se perdeu.

E o argumento de que seria muito dispendioso atender as reivindicações de vocês?
Contratamos um matemático que desmente o impacto financeiro caso os graduados fossem beneficiados. Não seria de R$ 130 bilhões em dez anos, mas de R$ 10 bilhões. Inflaram o número para causar impacto.

Outra coisa: dentro da comissão estavam os generais. O Ministério da Defesa mantém uma assessoria parlamentar dentro do Congresso. São coronéis, partes interessadas no projeto como está, porque levam as maiores gratificações. Atuam diretamente nos gabinetes dos deputados, exerceram uma pressão muito forte para que não o projeto não fosse mudado.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

Para policiais, reajuste salarial de Doria é ‘deboche’ 40

Para policiais, reajuste salarial de Doria é ‘deboche’

Henrique Meirelles, secretário da Fazenda, diz que agentes precisam ter mesma disciplina da profissão com gastos do estado

Laísa Dall’Agnol
São Paulo

pacote de medidas voltadas a policiais e agentes de segurança do estado de São Paulo, anunciado na última quarta-feira (30) pelo governador João Doria, foi recebido com críticas por representantes da categoria.

A principal queixa é a de que o reajuste salarial de 5% para policiais militares, civis e técnico-científicos e agentes de segurança, escolta e vigilância penitenciária, estaria muito abaixo da faixa de polícias de outros estados.

Durante o anúncio do pacote no Palácio dos Bandeirantes, Doria afirmou que a corporação paulista é “uma das mais bem pagas do país”.

“Ele diz que as polícias paulistas são as mais bem remuneradas, com exceção do Distrito Federal. Se, em dois anos, ele concede 5%, então vai dar 75% nos anos seguintes? Porque esse é o reajuste necessário para alcançarmos a segunda colocada hoje”, diz o policial militar e deputado estadual Major Mecca (PSL).

Segundo o deputado, um soldado da polícia de Goiás recebe, hoje, em torno de R$ 5.800 de salário final bruto. No estado de São Paulo, a remuneração não ultrapassa os R$ 3.000 brutos.

“A polícia de São Paulo está em 24º lugar no ranking dos estados. É um absurdo, tendo em vista que é o estado mais rico da nação”, diz.

A remuneração de servidores da segurança é composta, além do salário-base, pelo RETP (Gratificação pelo Regime Especial de Trabalho Policial), que, somados, formam o salário inicial.

O aumento salarial concedido pelo estado representará um acréscimo de R$ 110 no salário-base de carreiras como a de investigador, no que diz respeito ao vencimento inicial, e de R$ 72 para policiais militares ingressando na área, descontados valores “extras” de frequência, como diárias.

“O salário é um deboche”, diz a presidente do Sindicato dos Delegados de Polícia de São Paulo, Raquel Kobashi. “O salário dos policiais civis de São Paulo conta com uma defasagem de quase 50% de reajuste e, somente depois desse acréscimo, será possível falar em aumento salarial real”, afirma.

“Policiais civis estão indo para outros estados por causa da baixa remuneração. Não investindo no policial, a população é a maior prejudicada.”

Questionado sobre o reajuste salarial, o vice-governador Rodrigo Garcia (DEM) afirma que o atual governo recebeu um déficit orçamentário da gestão anterior.