Escuta revela policiais e acusados de golpe milionário combinando fraude em inquéritos em Ribeirão Preto, diz MP
Escrivães e delegado são suspeitos de deixar de ouvir vítimas de fraudes de R$ 100 milhões. Conversas no WhatsApp apontam que investigadores também recebiam ‘presentes’.
Por G1 Ribeirão Preto e Franca
Sede do 4º Distrito Policial de Ribeirão Preto — Foto: Reprodução/EPTV/Arquivo
No áudio, gravado em 12 de abril de 2017, os escrivães Maria José Dias Arena e Marcos Aurélio Carvalho, subordinados ao delegado Paulo Henrique Martins de Castro, conversam com o advogado Klaus Philipp Lodoli, réu na Operação Têmis, sobre o esquema descoberto agora.
A Promotoria alega que os escrivães deixavam de registrar os depoimentos das vítimas nos inquéritos e recebiam “presentes” dos acusados, assim como outros tipos de benefícios, para acobertar os crimes, deixando de investigar devidamente as denúncias.
O advogado Eduardo Maimone Aguillar, que representa Maria José, disse que se manifestará apenas nos autos do processo na Justiça.
O advogado José Roberto Marques, que defende o delegado, afirmou que durante a instrução processual vai demonstrar que Martins não praticou nenhum crime.
O advogado Antônio Roberto Sanches, que representa Marcos Aurélio, também disse que se manifestará apenas nos autos do processo, mas destacou que o escrivão atua na Polícia Civil há 25 anos e que a conversa “foi manipulada por quem tem interesse em buscar espaço na mídia”.
“A denúncia transforma uma relação profissional e costumeira entre advogados e servidores da Polícia Civil na grave conduta de corrupção, crime que exige não apenas um pacto de injusto entre corrompido e corruptor, como também a presença de uma vantagem indevida e uma contraprestação, elementos inexistentes no caso”, diz o comunicado.
O advogado Roberto Tardelli, que defende Gustavo Caropreso, também réu na Operação Têmis, não foi encontrado pelo G1 até a publicação desta matéria.

Escuta telefônica revela fraude entre investigadores e acusados de golpe em Ribeirão Preto
Maria José: É a Maria José, tudo bem?
Klaus: Oi Maria, tudo bem.
Maria José: Ó, tudo. O meu colega aqui, o Marco Aurélio, tá com um inquérito teu. Como chama o cara, Marcos? (diz o nome da vítima).
Klaus: OK.
Maria José: O Marco não sabia como que é o es… aqui, que a gente não ouve mais a outra parte, e chamou. Ele fala aqui que deu o endereço errado, que vocês falaram que é para colocar. Eu vou passar o telefone para o Marco. Você conversa com o Marco para ele marcar para você vir aqui.
Maria José: É… e aí eu falei para o Marco, “nem coloca isso aí”, porque ele fala assim que um advogado, que ele não sabe o nome, que mandou colocar o endereço errado, entendeu?
Klaus: Ah, entendi.
Maria José: Pera aí que eu vou passar para o Marco, tá? Você vê, qualquer coisa, é… sei não, espera o Ministério Público pedir para trazer a outra parte, ou senão, não põe, eu falei para o Marco, pera aí.
Klaus: Entendi.
Maria José: Tá, um abraço.
Klaus: Entendi, tranquilo, obrigado Maria José. Marco?
Marcos Aurélio: Alô?
Klaus: Oi, Marco. Tudo bem?
Marcos Aurélio: Tudo bem, graças a Deus.
Klaus: Tudo bem, deixa eu te falar…
Marcos Aurélio: Esse rapaz foi ouvido lá em Cajuru.
Klaus: Ah, ele foi ouvido em Cajuru.
Marcos Aurélio: É, a família dele morava lá, e que ele permanecia a maior parte do tempo aqui, e que ele entrou com uma ação contra o Bradesco e que… Ele falou que morava aqui por orientação do advogado que ele não sabe o nome.
Klaus: Entendi, entendi.
Marcos Aurélio: Mas aí a Maria José conversou comigo. Dá uma chegadinha aqui para a gente conversar.
Klaus: Entendi. Vamos fazer o seguinte, Marco, eu não estou em Ribeirão Preto, a gente pode marcar isso, hum, que seria ideal? Pode ser terça-feira, umas 11h?
Marcos Aurélio: Terça-feira, dia 18?
Klaus: Dia 18 agora, umas 11h, pode ser?
Marcos Aurélio: Ah, sem problema.
Klaus: Tá, você pode me passar o número do inquérito?
Marcos Aurélio: É o (diz número do inquérito).
Klaus: (diz número do inquérito), beleza, está ótimo. Então, eu dou um pulinho aí na terça-feira, tá bom? Umas 11h, mais ou menos. Ah, no 4º, no 4º mesmo.
Marcos Aurélio: 4º DP, em frente à sala da Maria José.
Klaus: Tá ótimo, então. Um grande abraço. Muito obrigado, viu?! Até mais, tchau, tchau.
“O teor das conversas deixa claro o forte vínculo ilegal mantido entre os agentes públicos e os advogados que à época deveriam ter sido investigados pelos policiais”, cita o MP na denúncia oferecida à Justiça. O caso tramita na 4ª Vara Criminal de Ribeirão Preto.
Maria José, Marcos Aurélio e o delegado também são alvos de dois inquéritos na Corregedoria da Polícia Civil, mas as investigações tramitam sob sigilo. Em nota, o órgão informou apenas que o trio é suspeito de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
Em conversa no WhatsApp, escrivã envia conclusão de inquérito a investigado em Ribeirão Preto — Foto: Ministério Público/Divulgação
Para a Promotoria, trocas de mensagens no WhatsApp demonstram ainda a estreita relação entre investigados e investigadores. As conversas foram encontradas nos celulares de Klaus, Renato Vidal e Gustavo Caropreso, apreendidos em janeiro de 2018, na Operação Têmis.
Os três são sócios no escritório “Lodoli, Caropreso, Bazo & Vidal Sociedade”, em Ribeirão. Em uma conversa, em março de 2017, Maria José envia a Klaus uma foto da página de conclusão de um inquérito no qual ele é investigado e diz: “Klaus olha a conclusão do delegado”.
O advogado responde em agradecimento: “Ótimo, fico muito feliz… Ele compreendeu… Independente de qq [qualquer] coisa obrigado… Sei que o mundo funciona melhor com pessoas sérias e comprometidas com vcs [vocês]. Obrigado” (veja acima).
Segundo o MP, Maria José também adulterava informações nos inquéritos para beneficiar os investigados. Em outra conversa no WhatsApp, em 6 de março de 2017, também com Klaus, a escrivã diz que pedirá à Justiça a prorrogação do prazo de investigação (veja acima).
“Os denunciados Klaus, Renato e Gustavo, na época investigados, recebiam informações confidenciais dos policiais e tratamento totalmente diferenciado daquele que era dispensado aos demais investigados”, diz a Promotoria na denúncia.
Acusados sugerem ‘dar um presente’ a escrivã da Polícia Civil em Ribeirão Preto — Foto: Ministério Público/Divulgação
Em outra troca de mensagens, em 15 de fevereiro de 2017, Renato sugere a Gustavo presentearem Maria José. Renato pede ao sócio que peça uma sugestão ao filho da escrivã, que, inclusive, era estagiário no escritório deles em Ribeirão.
O investigador Marcos Aurélio Carvalho também mantinha contato pelo WhatsApp com os investigados e enviava fotos dos inquéritos para eles, conforme aponta outra conversa, em 2 de agosto de 2017, também apreendida pela Promotoria.
Nessas mensagens, Renato diz a Klaus que o investigador pediu para trocarem um cheque e que levaria até eles “novas informações”. O advogado pergunta ao sócio se “não é bom dar um presente a ele” e Klaus responde “sim… o ideal é!”.
Acusados sugerem ‘dar um presente’ a escrivão da Polícia Civil em Ribeirão Preto — Foto: Ministério Público/Divulgação
Depoimentos
Segundo o MP, os dois escrivães e o delegado Paulo Henrique Martins de Castro, que atuavam no 4º Distrito Policial e eram responsáveis pela investigação dos crimes apontados pela Operação Têmis, deixavam de ouvir as vítimas do golpe aplicado pelos advogados.
A Promotoria sustenta que os acusados conseguiam ilegalmente dados de clientes de bancos e entravam com ações judiciais exigindo diferenças de expurgos inflacionários decorrentes dos planos Collor, Verão e Bresser, sem que essas pessoas soubessem.
Com a relação de correntistas em mãos, assim como os números das contas bancárias e os respectivos valores depositados na década de 1990, os investigados saíam à procura de homônimos residentes na região de Ribeirão para usá-los nas fraudes.
Os advogados acusados na Operação Têmis: Ângelo Luiz Feijó Bazo, Renato Rosin Vidal, Klaus Philipp Lodoli e Ramzy Khuri da Silveira — Foto: Arte/G1
As vítimas assinavam procurações em meio a outros documentos, sem nenhum conhecimento. Inadimplente, a maioria dessas pessoas era abordada pelos advogados ou por intermediários deles, com a promessa de conseguirem quitar as dívidas com empresas.
Entretanto, segundo a denúncia oferecida pelo MP, em 23 inquéritos policiais instaurados as vítimas não foram chamadas para prestar depoimento. Entre elas está uma mulher que teve 38 ações judiciais propostas pelos advogados em nome dela, sem o seu conhecimento.
“O denunciado Paulo Henrique não ouviu as vítimas na maioria dos inquéritos e os relatou sem realizar qualquer outra diligência para o esclarecimento dos fatos, lembrando que os inquéritos foram requisitados pelo Poder Judiciário e membros do Ministério Público, para apurar a conduta dos advogados denunciados”, consta na denúncia.

Em áudio no WhatsApp, acusado de golpe cita esquema com policiais em Ribeirão Preto
A Promotoria cita ainda que frequentemente a equipe do 4º Distrito Policial solicitava à Justiça a prorrogação de prazos, sem justificativa e sem que qualquer diligência anterior tenha sido feita. Alguns inquéritos foram concluídos dois anos após o início das investigações.
Um áudio gravado por Renato e enviado pelo WhatsApp (ouça acima)também revela mais detalhes do esquema. O advogado diz aos sócios que é melhor seguirem a orientação da escrivã, ou seja, esperarem o MP solicitar os depoimentos das vítimas e então acompanhá-las.
A investigação da Promotoria conclui também que os investigados não eram submetidos a depoimento no 4º Distrito Policial, mas apresentavam suas versões por escrito e, muitas vezes, esses documentos eram impressos na própria delegacia.
“As conversas demonstram que os advogados recebiam previamente as informações e preparavam suas declarações com antecedência, que eram levadas prontas à delegacia, ou seja, não eram submetidos a depoimento, com perguntas formuladas pelo delegado.”
O MP finaliza a denúncia afirmando que, para os advogados, a vantagem do esquema “era o sucesso financeiro obtido nas demandas fraudulentas propostas, muitas em nomes de pessoas sem os seus conhecimentos, outras em nome de homônimos”.
Já os policiais civis, segundo a Promotoria, recebiam pagamentos de valores em espécie e presentes, além de orientações jurídicas e trabalho gratuito pelo escritório dos advogados denunciados.
Ó ó ó ó…. Pegaram os colegas corruptos! Isso nem acontece.
Cadê vc vitória na guerra? Cadê vc que gosta de jogar pedra no telhado dos outros!?
Hahahahaha
Olha aí nossa casa.
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Cadeia e rua p esse trio q suja a imagem da pc
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Se comprovado, que paguem pelos seus erros. Precisamos limpar a segurança pública dos maus profissionais.
Tira Véio vai infartar ao saber que os suspeitos são os “super polícia dos anos 80 e 90”. rs
Antigão e inocente..
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Circo
Ledo engano seu, nunca falei que antigões são super polícia tampouco símbolo de honestidade!
Antigão tem mais vivência e pronto.
Não distorça comentários dos outros.
Como sempre disse, galinha que come prego sabe o c´ que tem…….
Ademais, não vi nada muito grave nessas acusações tratando-se de cidades do interior. Todo mundo se conhece, um truta é vizinho de um Juiz, de um Delegado, de um Escrivão, Tira e por aí vai……
Geralmente se criaram juntos e é normal um ligar parra o outro e ajudar uns aos outros.
Agora, numa treta dessas com esses valores que os caras arrecadavam dar 300 reais a mais em uma troca de cheques, não acredito que seja propina.
Mas, repito, se fez, paga.
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Com o devido respeito a sua opinião, discordo do senhor.
Omitir depoimentos das vítimas para nao incriminar acusados, com tudo acertado via zap zap acho q passa dos limites da legalidade nao? Ainda que se trate de “interior” onde “td mundo se conhece e cresceu junto”, recebem do Estado p cumprir seus deveres funcionais e por obrigaçao devem ser honestos. Que o MP e a Corregedoria façam um bom trabalho.
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Pc
Respondi, se fez, “paga”, simples assim.
Mas no interior, sem querer tapar o sol com a peneira, ocorre isso em todas as esferas, foi só esse meu comentário.
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Tira Veio
Eu entendi seu ponto de vista, eh uma linha tênue entre o coleguismo e a ilegalidade.
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Para o tal “Vitória na Guerra” a culpa é da PM.
Vai fazer alguma analogia com a PM e desviar o assunto…
Enfim, a culpa é da PM.
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Mais do mesmo.
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Não vai dar nada para o delegado
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A vítima é vítima duas vezes dos maus advogados e dos maus policiais. Isso é uma vergonha!
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Que lixo! Por causa de “merreca” prejudica uma série de vítimas, a instituição e a si mesmo. E o majura? O que ele faz na delegacia além de contar tempo para aposentadoria? Achava que o “shopinho” caiu do céu?
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Vide uma ex-funcionaria q por 200 reais teve ate seus trajes íntimos arrancados…rodam por esmola
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engraçado que policial que troca mensagem com atuantes e conhecidos no seu meio profissional por whats é bandido; já o juiz de Curitiba é apenas um meio social utilizado dentre colegas! O policial megahiperultra corrupto será processado por receber agrado de 300 pilas mas o chefe da liga da justiça de Curitiba e seus compatriotas queriam tomar posse de dois bilhões desviados dos cofres públicos sem nenhuma otimização ou indicar onde seriam gastos se reluz apenas em boas praticas jurídicas.
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ok
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Especialistas formados pela escola de polícia da tv (EPTV).
Sabem por qual razão as supostas vítimas não eram ouvidas?
Porque o IP versava sobre falsidade de um documento que o advogado, quando ouvido, afirmou que era de sua responsabilidade e que não via potencialidade lesiva na documentação.
Os autos não estão em segredo. Antes de ler reportagem e sair abrindo a boca, vai se informar.
Sabe quantas provas de comunicação com o delegado existem nos autos? NENHUMA!
Essa denúncia foi feita porque era necessário dar continuidade para as mentiras criadas pela acusação na primeira investida contra os advogados.
Mais de 20 inquéritos relatados pelo arquivamento e eis que surge o super acusador, com PIC paralelo e oitivas em gabinete que contrariam o que foi dito na delegacia e na fase judicial.
Ta com tempo? Pesquisa o nome do promotor também. Tem boas reportagens pra vocês que acreditam em qualquer matéria sensacionalista.
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