Arquivo diário: 23/11/2014
Nem o Pastor se salva – Ministério da Pesca comprou votos mediante carteiras de pescador 14
Ministério da Pesca é suspeito de fraudar licenças
Andreza matais
Um mês antes do início da campanha eleitoral, o Ministério da Pesca alterou norma interna e permitiu que carteiras de pescador, antes confeccionadas pela Casa da Moeda, fossem emitidas em papel comum. A medida permitiu que, desde junho, as próprias superintendências da pasta nos Estados, a maioria controlada pelo PRB, confeccionassem os documentos, que dão direito a salário durante os cinco meses do defeso e outros benefícios.
As carteiras impressas em papel moeda tinham uma marca d’água para evitar fraudes – uma proteção que as confeccionadas em papel comum não dispõem. O PRB, ligado à Igreja Universal, comanda a pasta desde março de 2012, quando o senador Marcelo Crivella (RJ) foi nomeado ministro. Ele deixou o cargo para disputar o governo do Rio. O ministério é chefiado hoje pelo pastor Eduardo Lopes, também do PRB e suplente de Crivella. A sigla trabalha para manter a pasta no próximo mandato de Dilma Rousseff. Das 27 superintendências, 17 estão sob a chefia de filiados e dirigentes do partido.
No Acre, a Polícia Federal e o Ministério Público investigam denúncia de que houve um derrame de carteiras no período eleitoral para pessoas que não praticam a atividade pesqueira. A distribuição teria beneficiado Juliana Rodrigues de Oliveira e Alan Rick, respectivamente eleitos deputados estadual e federal pelo PRB. Até março, doutora Juliana, como é conhecida, foi superintendente estadual do ministério. Ela já havia, sem sucesso, disputado uma eleição, antes de ocupar o cargo.
A Polícia Federal já tomou depoimento de eleitores que receberam as carteiras cinco dias antes das eleições – parte deles assentados da reforma agrária. Eles disseram ter vendido o voto em troca do benefício. A investigação está sob sigilo. O registro do pescador é como um “cheque pré-datado”. O seguro-defeso, que garante salário no período em que a pesca é proibida, só pode ser recebido um ano após a emissão da carteira. Há exigências como comprovação por meio de relatório da atividade pesqueira. O documento dá direito a linhas de crédito bancário e aposentadoria especial.
Dados do ministério mostram que, no Acre e no Maranhão, o número de carteiras emitidas no período eleitoral supera o dos demais meses. De agosto a outubro, foram confeccionadas 30.177 carteiras no Maranhão, mais que as 22.581 dos sete meses anteriores do ano.
A Polícia Federal tem 14 inquéritos abertos no Estado para apurar irregularidades no pagamento do seguro-defeso ou na distribuição de carteiras. O Ministério Público informou que tramita um recurso no Tribunal Regional Eleitoral relacionado à distribuição das carteiras, também sob sigilo. O número de pescadores artesanais registrados no País hoje é de 1.005.888. Dados do Ministério do Trabalho mostram que, de abril a setembro, o número de requerentes do seguro da pesca chegou a 281 mil – foram 198 mil no mesmo período de 2013. A pasta não informou quais Estados tiveram maior crescimento. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Michel Temer futuro presidente – Reportagem da Veja mostra a participação do ex-presidente Lula e da presidente Dilma nas pilantragens da Petrobras, afirma o líder do PSDB na Câmara, Antônio Imbassahy 42
Corrupção
Líder da oposição pede convocação de Dilma e Lula na CPI da Petrobras
Deputado Ronaldo Caiado diz que reportagem de VEJA desta semana comprova ligação dos dois com esquema da Petrobras. Líder tucano vê relação “promíscua”
Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula (Reuters)
O líder da oposição no Congresso, Ronaldo Caiado (DEM-GO), quer que a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sejam convocados para depor à CPI da Petrobras. O motivo é a reportagem de VEJA que mostra como em 2009 Paulo Roberto Costa passou por cima de toda a hierarquia da Petrobras para advertir – por e-mail – o Palácio do Planalto que, por ter encontrado irregularidades pelo terceiro ano consecutivo, o Tribunal de Contas da União (TCU) havia recomendado ao Congresso a imediata paralisação de três grandes obras da estatal.
“Ela disse que não vai deixar pedra sobre pedra e que ela está disposta a aprofundar toda a investigação. Nada mais justo do que ela ir à CPI para esclarecer, em primeiro lugar, a fala do Alberto Yousseff e, agora, esse e-mail do Paulo Roberto Costa”, diz o parlamentar. A primeira convocação a ser solicitada, entretanto, será a do ex-presidente Lula, que comandava o governo à época e que ignorou a recomendação do TCU e liberou as obras.
Para Caiado, o e-mail de costa é uma prova importante do envolvimento de Dilma nos desmandos: “Ela não pode dizer que não conhece, porque recebeu um e-mail direto de alerta”. A assessoria de Caiado está estudando o regimento do Congresso para saber se ele pode apresentar requerimentos na CPI da Petrobras. O parlamentar não é membro da comissão mas, na condição de líder, pode participar das reuniões.
O líder do PSDB na Câmara, Antônio Imbassahy, disse neste sábado que a reportagem comprova o elo entre Dilma, Lula e Paulo Roberto Costa – e aproxima ainda mais a presidente da República do escândalo na Petrobras.
“Esse fato aproxima o escândalo do Palácio do Planalto e mostra a participação do ex-presidente Lula e da presidente Dilma nas pilantragens da Petrobras”, diz o tucano, que também chama atenção para o fato de Paulo Roberto Costa ter se dirigido diretamente à então ministra da Casa Civil, sem seguir a hierarquia natural de seu cargo.
Para Imbassahy, o caso também explica o temor do governo com as apurações: “Isso revela um dos motivos pelos quais o governo atua diretamente para impedir nosso trabalho na CPI da Petrobras”. Ele afirma que a revelação também reforça a necessidade de que uma nova Comissão Parlamentar de Inquérito seja instalada na próxima legislatura, em fevereiro. A CPI atual vai funcionar até 22 de dezembro.
Também neste sábado, o Palácio do Planalto emitiu uma nota em que repete as alegações enviadas à redação de VEJA e reproduzidas na reportagem.
Rousseff poderá ser a primeira presidenta presa – Criminoso confesso reportava-se diretamente a DILMA 18
‘Veja’ traz reportagem em que mostra mensagem eletrônica de Paulo Roberto Costa enviada em 2009 à Casa Civil
A revista Veja desta semana mostra um e-mail enviado em 2009 pelo então diretor de Abastecimento da Petrobrás, Paulo Roberto Costa, para o gabinete da Casa Civil, então sob o comando de Dilma Rousseff, no qual ele lista três obras da estatal contestadas pela área técnica do Tribunal de Contas da União. Na mensagem, Costa informa o Palácio do Planalto que o tribunal estava recomendando à Comissão Mista de Orçamento do Congresso a paralisação dessas obras – refinarias de Abreu e Lima, em Pernambuco, e Getúlio Vargas, no Paraná, além de um terminal de granéis líquidos no Espírito Santo. Na mesma mensagem, o então diretor de Abastecimento ressalta que algo parecido havia sido feito pelo TCU em 2007 em relação a outras quatro obras e lembra que, naquele ano, o Congresso não havia acatado os argumentos do tribunal, mantendo os repasses para os empreendimentos.
Segundo a revista, esse e-mail, obtido pela Polícia Federal nos computadores do Palácio do Planalto, mostra que Dilma poderia “ter interrompido o propinoduto da Petrobrás, mas, por ação ou omissão”, o comando do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva “impediu a investigação sobre os desvios”.
Em 2009, ao contrário do que havia ocorrido em 2007, as recomendações do TCU foram chanceladas pela Comissão Mista de Orçamento. Ou seja, o Congresso aceitou o pedido e recomendou, em um anexo da Lei de Diretrizes Orçamentárias, a suspensão dos repasses para as três obras. Diante disso, Lula vetou a recomendação sob o argumento de que a paralisação causaria desemprego – demissão de 25 mil trabalhadores– e prejuízos mensais de R$ 268 milhões por “degradação” dos trabalhos realizados.
Ontem, o Estado revelou que, três dias após o veto, técnicos do Congresso prepararam relatório dizendo que a manutenção das obras causaria uma “consolidação de danos” na Petrobrás. Os parlamentares não derrubaram o veto. As obras prosseguiram.
Reação. O Palácio do Planalto reagiu ontem à revista Veja. Em nota, afirmou que a reportagem sobre o e-mail é “mais um episódio de manipulação jornalística que marca a publicação nos últimos anos”. O Planalto afirma que receber dados sobre relatórios do TCU é praxe. Diz ainda ter tomado medidas em relação aos alertas do tribunal ao encaminhar o caso à Controladoria Geral da União e tentar sanar os problemas a partir de grupos de trabalho. “E a partir de 2013, tendo em vista as providências tomadas pela Petrobrás, o TCU modificou o seu posicionamento sobre a necessidade de paralisação”, diz.
Na campanha eleitoral, Dilma também acusou a revista de manipulação em razão da reportagem na qual o doleiro Alberto Youssef afirmava que ela e Lula sabiam dos desvios na estatal.
Na nota de ontem, o Planalto afirma que não é possível relacionar os alertas do TCU de 2009 às atuais denúncias de propina porque “as práticas ilegais do senhor Paulo Roberto Costa só vieram a público em 2014, graças às investigações da Polícia Federal e do Ministério Público.”
No Senado, um novo ataque à liberdade 5
No Senado, um novo ataque à liberdade
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23 Nov 2014
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OpiniãoA PEC da proibição das pesquisas se insere numa rotina, a da campanha subliminar pela restauração da censura prévia, sob diferentes formatos e a qualquer pretexto
Está na Comissão de Constituição e Justiça do Senado uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) proibindo a divulgação de pesquisas eleitorais nos 15 dias que antecedem o primeiro e o segundo turnos de votação. Políticos interessados e defensores da iniciativa argumentam com a suposta necessidade de “proteção” do eleitor, contra o “desperdício” de voto em candidatos eventualmente mal situados nas sondagens. Inexiste dúvida quanto ao confronto dessa iniciativa com os princípios fundamentais da Constituição, no caso, a liberdade de acesso à informação e a liberdade de expressão. É matéria vencida: em 2006, a pretexto de um ajuste nas regras eleitorais, o Congresso aprovou proposta similar. Ela foi derrubada — por unanimidade, lembre-se —, no Supremo Tribunal Federal. A Corte decidiu que tal mudança não tem cabimento porque corrói um dos pilares do regime democrático: o direito de acesso do cidadão à informação — como registrou apropriadamente o então relator do caso, ministro Ricardo Lewandowski. Ficou estabelecido que se tratava de iniciativa em ofensa direta ao Artigo 5º da Constituição, onde estão abrigadas garantias e direitos fundamentais dos brasileiros — ou seja, a essência do regime democrático. O Legislativo não deve permitir que artifícios do gênero conduzam o país a patamar digno de uma fictícia República de Sucupira, nascida da imaginação brilhante do dramaturgo Dias Gomes. Afinal, como registrou o ministro Lewandowski, em 2006, “vedar-se a divulgação de pesquisas a pretexto de que estas poderiam influir, de um modo ou de outro, na disposição dos eleitores, afigura-se tão impróprio como proibir-se a divulgação de previsões meteorológicas, prognósticos econômicos ou boletins de trânsito antes das eleições”. Essencialmente, mais uma vez coloca-se em jogo a liberdade. Notável é que parcela relevante daqueles que se têm manifestado perturbados pelo regime vigente de liberdade, nos últimos anos, é composta por agentes públicos, com ou sem mandato. É o que explica, por exemplo, o persistente questionamento da liberdade de imprensa em foros judiciais, inclusive os de pequenas causas. São majoritariamente agentes públicos que não aceitam a submissão à informação e à crítica pública. A PEC da proibição das pesquisas se insere nessa rotina — a da campanha subliminar pela restauração da censura prévia, sob diferentes formatos e a qualquer pretexto. O objetivo é sempre o mesmo: atentado à liberdade. Melhor faria o Congresso se, além de repudiar preliminarmente a iniciativa, voltasse suas energias para reforçar as garantias e direitos previstos no Artigo 5º da Constituição, restringindo de saída ofensivas de agentes públicos contra os consagrados princípios do regime democrático. |