REELEIÇÃO GARANTIDA – Ivan Sartori já é considerado o melhor presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo de todos os tempos: :”Ele trata funcionários e juízes do mesmo modo. Antes, juiz era privilegiado”. 12

09/06/2013-02h28

Presidente do TJ-SP diz que só disputa a reeleição se houver consenso

MARIO CESAR CARVALHO DE SÃO PAULO

Antes de tomar posse como presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo, em janeiro de 2012, o desembargador Ivan Sartori tinha dois apelidos que tentavam capturar seu estilo: “bolha assassina”, por se imiscuir em áreas em que não entendia nada, e “menino maluquinho”, pela sem-cerimônia com que tratava desembargadores mais velhos.

“Tinha um problema na construção, eu ia dar uma olhada. Tinha problema no patrimônio, eu ia ver. Me chamavam de bolha assassina”, contou à Folha, com voz tonitruante e gestos largos.

Seja como “bolha assassina” ou “menino maluquinho”, Sartori, 56, cultiva características que pouco coadunam com um órgão conhecido pelo recato e ritmo modorrento. Sua atuação à frente do TJ parece o avesso da figura clássica do desembargador: é ambicioso, franco e impulsivo, segundo seus pares.

Tem três perfis no Facebook, com cerca de 12 mil amigos, e abaixo-assinados em apoio à sua reeleição já têm mais de 20 mil assinaturas de servidores do Judiciário, segundo ele próprio -o tribunal tem 45 mil servidores.

O apoio recebido deve-se ao “choque de gestão” que implantou no tribunal, diz o desembargador Guilherme Strenger:”Ele trata funcionários e juízes do mesmo modo. Antes, juiz era privilegiado”.

Era comum, antes dele, um desembargador receber R$ 500 mil de férias atrasadas e um funcionário na mesma situação não ganhar nada.

Fabio Braga/Folhapress
O desembargador Ivan Sartori em seu gabinete no Tribunal de Justiça
O desembargador Ivan Sartori em seu gabinete no Tribunal de Justiça

Sartori fica enfurecido quando alguém sugere que o apoio dos funcionários à reeleição, proibida por lei, decorre dos pagamentos. “A imprensa está sendo malévola porque quer vender jornal. Estou pagando o direito dos caras desde o ano passado”, diz.

Sartori afirma que está chacoalhando o tribunal porque começou a adotar critérios da iniciativa privada que não eram usados no Judiciário.

Seu método é baseado num tripé: “Administração participativa”, em que ouve funcionários, meritocracia e gestão baseada em metas. Diz que é esse tipo de coisa que o CNJ (Conselho Nacional de Justiça) deveria ensinar aos tribunais. “O CNJ é Mandrake, uma caixinha de surpresas. Devia ajudar os tribunais em vez de interferir.”

Ele afirma que nunca fez um curso de gestão, mas que aprendeu muito em suas incursões de “bolha assassina”.

“Não tinha meritocracia aqui. Havia pessoas que eram mais privilegiadas do que outras. Rompi com isso.”

Pode parecer óbvio que “ninguém é mais do que ninguém”, como fala Sartori, mas não era assim no TJ. “Ele diz em público aquilo que, lamentando, dizemo-nos em privado”, diz um desembargador que não quer aparecer.

Logo no primeiro dia de sua gestão, em janeiro de 2012, Sartori mandou apurar por que cinco desembargadores haviam recebido indevidamente R$ 5,2 milhões. O quinteto já devolveu R$ 1,26 milhões. Entre eles, há dois ex-presidentes do TJ, Antonio Carlos Viana Santos (1942-2011) e Roberto Bellochi.

No passado, a situação seria escondida, diz outro desembargador que só aceitou falar desde que seu nome não fosse citado. “Os cinco seriam aposentados e ninguém ficaria sabendo do escândalo.”

O desembargador Ruy Coppola diz que a impulsividade de Sartori prejudicou a imagem do TJ no episódio. “Ele poderia ter feito a mesma apuração sem expor o tribunal. Todo mundo meteu a boca nos desembargadores.”

Sartori tem três projetos em curso que não conseguirá acabar até o final do ano, quando encerra sua gestão.

Ele quer construir duas torres e 36 fóruns, ao custo de R$ 2 bilhões, para deixar de alugar 760 prédios. Pretende também finalizar a implantação dos processos digitais, para os quais já foram gastos R$ 256 milhões.

E, além disso, já enviou um projeto à Assembleia para regionalizar o atendimento do Judiciário. “Vamos criar varas regionais, unidades de execução criminal regional, colégio recursal regional. É pra daqui a sete anos”, avisa.

Sobre o seu futuro pessoal, é mais vago. Já foi sondado para se candidatar a deputado estadual pelo PTB, mas não disse nem sim nem não. “Gosto de ser juiz. Mas se eu puder ajudar os colegas do Judiciário… Poderia ir depois do mandato”, cogita.

A reeleição pedida pelos funcionários também está no radar de Sartori, mas ele teme que a questão se arraste em disputas judiciais no STF ou no CNJ. “Eu não vou brigar para ser reeleito. Tem de haver consenso. Se não houver, não vou nem entrar na disputa.”

RAIO-X IVAN SARTORI

FORMAÇÃO Formou-se pela Faculdade de Direito da Universidade Mackenzie em 1979

CARREIRA Tornou-se juiz em 1980 e desembargador em 2005; atuou em Bariri, São Bernardo do Campo, Mogi das Cruzes e São Paulo

PRESIDÊNCIA Em dezembro de 2011, foi eleito presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo para mandato de dois anos

Colaborou FREDERICO VASCONCELOS, de São Paulo

Contra violência em bairros nobres, paulistanos apostam em celular ‘descartável’ e kit “engana ladrão” 33

Gil Alessi Do UOL, em São Paulo

09/06/201306h00

  • Gil Alessi/UOL

    Renata Rodrigues (e) e Regina Pelosi, que abandonaram o hábito de usar relógio para evitar assaltosRenata Rodrigues (e) e Regina Pelosi, que abandonaram o hábito de usar relógio para evitar assaltos

A onda de violência em bairros nobres de São Paulo –nos últimos dez dias, foram oito casos de tiroteios e tentativas de roubo em áreas como Itaim Bibi, na zona Sul, Higienópolis, na região central, e Jardins e Pinheiros, na zona oeste– fez com que o paulistano desenvolvesse estratégias para evitar o prejuízo.

  • A publicitária Taís Rimoli com seus dois telefones celulares: o ‘descartável’, à esquerda, e o mais caro

“Já me levaram dois telefones celulares modelo Iphone [da Apple, avaliado em R$ 1.500] durante assaltos”, diz a personal trainer Taís Rimoli, 31, que trabalha na alameda Santos, região central da cidade, que foi palco de uma troca de tiros entre um suspeito de roubo e um policial militar à paisana no dia 4.

“Então agora eu ando com o meu terceiro Iphone escondido na calça e levo um Blackberry [avaliado em R$ 300] na bolsa. Se o ladrão vier, eu entrego o baratinho e fico com o mais caro”, diz. “A sensação de insegurança é muito grande. Sempre teve assalto na região da Paulista, mas tiroteio é novidade.”

Para Taís, a criminalidade no bairro aumentou, e segundo ela o problema é a impunidade, que faz com que muitos jovens com menos de 18 anos se envolvam com o crime.

Regina Pelosi, 48, secretária de uma empresa nos arredores da rua Oscar Freire, zona oeste, onde um assalto terminou com duas pessoas baleadas em 28 de maio, diz que precisou abandonar as joias, e agora só circula na região – que tem um dos metros quadrados mais caros da cidade – com bijuterias.

Você sente que a violência em São Paulo caiu nos últimos meses?

  • Não, acho que os crimes estão mais recorrentes Saiba mais

  • Sim, pois não sinto a violência perto de mim Saiba mais

VotarResultado parcial

“Além disso parei de usar relógio. Antes de sair para almoçar, tiro tudo e deixo na mesa”, afirma Regina. “E muitas vezes eu opto por pedir comida no escritório ao invés de sair para comer. Não me sinto segura em lugar nenhum.”

De acordo com Renata Rodriguez, 37, secretária de projetos e amiga de Regina, “somos todos reféns dos bandidos, que estão tirando sarro da nossa cara e ninguém faz nada”.

A publicitária Daniela Mantovan de Moura, 34, diz que guarda cartões de crédito e carteira de habilitação vencidos em uma bolsa que fica no banco do passageiro do carro. “Se um ladrão me assaltar enquanto eu estiver dirigindo, entrego esse kit ‘engana ladrão'”, diz.

Para o bancário Paulo Werneck, 48, a situação está fora de controle. Ele trabalha no Itaim Bibi, na zona sul, onde no dia 6 uma tentativa de assalto acabou com um policial que trabalhava como segurança baleado.

“Minha casa, no Alto de Pinheiros [zona oeste da cidade], já foi assaltada duas vezes. Até ameaçaram tacar fogo em mim”, diz. “Alguns privilegiados podem usar carro blindado. Eu tenho, mas deixo com o motorista da minha família”, conta.

Paulo afirma que os bandidos estão mais ousados e que a lei privilegia o infrator. “O sujeito é preso e depois de três meses já está na rua de novo”.

“Me sinto uma vítima em potencial, porque tenho que andar de terno e mochila aqui na região da Paulista. Os bandidos acham que gente do meu perfil é rica e tem computador na mala”, diz Luiz Carlos Ribeiro Filho, 32, gerente de tecnologia. “A situação só piora, os ladrões perderam o medo”.

Para evitar assaltos e arrastões, ele afirma que não atende mais o telefone celular na rua