Delegados denunciados no ABC: um por trabalhar demais outro por se manter em permanente isolamento funcional 26

Policiais civis denunciam dois delegados do Grande ABC 

 

Reclamações são sobre faltas em plantões e incentivo a descumprir normas sanitárias

Bia Moço
Do Diário do Grande ABC

16/02/2021 | 07:00

Policiais civis denunciaram a conduta profissional de dois delegados do Grande ABC, sendo o plantonista do 2º DP (Camilópolis) de Santo André, Fabiano Gagliato, que estaria deixando seu posto de trabalho para realizar atividades pessoais, e o titular da delegacia sede de Ribeirão Pires, Wagner Milhardo, que teria incentivado os profissionais a contrariarem as medidas sanitárias contra a Covid. Os denunciantes procuraram o Diário na condição de anonimato, pois temem represália.

No caso do Gagliato, a denúncia é a de que o profissional estaria deixando os plantões, em seu horário de expediente para participar de programa de rádio, além de usar o cargo para realizar serviços particulares. “Ele pede para investigar coisa de amigos. Faz reunião, almoço e café com políticos e, além disso, se preocupa tanto em fazer favores que esquece de oficializar flagrantes e até registra ocorrência errada”, afirmou um dos policiais.

O outro denunciante conta que a delegacia, nos plantões de Gagliato, fica “a ver navios”, e reclama da conduta agressiva do delegado. “Temos de fazer tudo, mas há certas funções que competem somente ao delegado e ele nunca está na delegacia disponível em pleno plantão”, reclamou o profissional. “Ainda acha ruim se a gente cobra ele de algum serviço”, complementou.

Já no caso de Ribeirão Pires, a denúncia é relacionada à falta de cumprimento das medidas sanitárias para evitar contágio da Covid. Segundo os policiais, o delegado incentiva os funcionários a não usar máscaras e publica fotos de ações com todos os profissionais envolvidos nas operações sem a devida proteção. Além disso, os denunciantes afirmam que Milhardo diz que a pandemia seria “conspiração”. “Ele impõe que os policiais tomem atitudes contrárias dos cuidados sanitários. As pessoas têm medo dele, e fazem”, afirmou um dos denunciantes.

“No dia 22 de janeiro ele convocou policiais de serviço e outros que estavam de folga para fazer operação bloqueio sem objetivos claros. Durante essa ação, que foi realizada ao meio-dia, nenhum dos policiais usava máscaras, porque o líder deles, o delegado Wagner Milhardo, não acredita na existência dessa doença”, afirmou outro policial.

“Como resultado já tem dois policiais civis infectados na cidade. Os policiais não concordam com essas operações midiáticas dele, mas ele é vingativo e persegue quem discorda dele”, reclama o denunciante.

O caso de Milhardo foi levado até mesmo para a ouvidoria da polícia. Em nota, a entidade afirma que “todas as denúncias de infrações disciplinares são encaminhadas aos órgãos responsáveis pelas apurações e que, diante da reclamação da delegacia de Ribeirão Pires, as denúncias recebidas foram encaminhadas à Corregedoria da Polícia Civil”.

Questionada, a SSP (Secretaria da Segurança Pública) informou que as reclamações de ambos os casos serão analisadas disciplinarmente. Os delegados foram ainda intimados a prestar esclarecimentos quanto às denúncias. Em relação a Milhardo, a SSP informou, por meio de nota, que a Delegacia Seccional de Santo André, responsável por Ribeirão Pires, conforme determinações do governo do Estado, orienta a todos os seus subordinados para a adoção dos cuidados necessários contra o coronavírus. “Não houve afastamento por infecção da Covid-19 na Delegacia de Ribeirão Pires”, pontuou a pasta

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Diante do deputado musculoso, policial solitária teve reação mais acertada

Deputado Daniel Silveira discute no IML - Reprodução de vídeo
Deputado Daniel Silveira discute no IML Imagem: Reprodução de vídeo

Chico Alves

Colunista do UOL

17/02/2021 19h39

Foram muitas as reações desde que o deputado Daniel Silveira (PSL-RJ) postou nas redes sociais o vídeo em que despeja ameaças e xingamentos a ministros do Supremo Tribunal Federal, além de fazer apologia ao AI-5.

Alexandre de Moraes determinou prisão em flagrante; os parlamentares da Câmara debatem se ratificam ou não a punição e a Procuradoria-Geral da República denunciou Silveira por agressão, incitação à violência e outros crimes.

Todas essas reações dão margem a controvérsias.

A ordem de Moraes detonou discussão sobre se é possível ou não aplicar o conceito de flagrante a um mandado de prisão daquela natureza.

O debate entre os deputados oscila entre a condenação ao comportamento de Silveira e o receio de que a decisão de Moraes permita punições arbitrárias aos políticos.

A denúncia da PGR chega com atraso, diante do extenso cartel de barbaridades praticadas pelo pesselista marombado.

Partiu de uma solitária policial que cumpria plantão na portaria do Instituto Médico Legal do Rio a atitude mais acertada diante das bravatas do brutamontes.

Como costuma fazer em outros recintos, o negacionista Silveira tentou entrar sem máscara contra a covid-19 para fazer exame de corpo de delito, antes de seguir para a prisão.

Ante o pedido da policial civil para que colocasse a máscara, o deputado alegou que tem “dispensa”. A mulher não aceitou a alegação: “Aqui dentro não tem dispensa”.

E prosseguiu: “Para a nossa proteção e para a sua, mas aqui dentro tem que usar máscara”.

O deputado insiste e a policial repete: “Não existe dispensa”, diz ela.

Silveira se exalta “Não existe? Não? Eu faço o quê? Rasgo? A senhora não manda em mim não”.

A partir daí, sob o olhar complacente do delegado federal que o escoltava, o parlamentar passa a discutir com a mulher. Por vezes, faz menção de avançar em direção a ela e é contido.

Diz que a servidora é “militante petista”, que quer “fazer espetáculo”, avisa à agente que “não está falando com vagabundo não”, solta vários palavrões e provocações.

A policial, no entanto, foi inflexível. “Aqui dentro tem que usar máscara, senhor”, foi a frase mais repetida por ela, em voz tranquila. Também disse a ele algumas vezes: “Respeita a casa”.

Depois de muito esbravejar, Daniel Silveira finalmente colocou a máscara.

Em nenhum momento a mulher pareceu intimidada com o tom agressivo do deputado.

Sem qualquer alarde, a policial cumpriu o seu dever e obrigou o parlamentar musculoso a cumprir as regras de civilidade de uma forma mais instantânea que o ministro do STF, a Comissão de Ética da Câmara ou a PGR.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.