AO DIGNO COLEGA DA CIRETRAN.

Caro colega de Carreira, a quem sempre considerei muito mais que um camarada… Um verdadeiro amigo. Ainda que, por razões pessoais e do trabalho em locais distintos, nunca tenhamos partilhado de intimidades. Eu sempre lhe admirei como pessoa humana e, especialmente, como profissional. E, até hoje, guardo os seus conselhos pertinentes a determinado episódio no qual – movido pelo corporativismo de noviço e ímpeto próprio de quem ainda não completara 30 anos de idade – promovi invasão de famosa boate com o objetivo de recuperar uma arma retirada de um dos seus subalternos. Um rapaz que, momentos antes, se apresentou a mim com escoriações no rosto e me relatou agressões sofridas por seguranças da casa. O colega, posteriormente, além de me alertar acerca da conduta do rapaz, também me alertou “Delegado é quem dá manchete”; não um simples policial. Respeito, embora considere injustas, as razões que lhe levaram, nos últimos quatro anos, a me olhar de soslaio. Não tome por verdades as palavras de quem quer que seja e muito menos as dores, sem considerar as circunstâncias e motivações da outra parte. Se causei prejuízos para pessoas que lhe são caras, tenha certeza não fiz deliberadamente. E tenha certeza muita coisa fiz para poupá-los. Nunca foram merecedores. Infligiram-me, primeiramente, constrangimentos de toda sorte. Jamais me fiz censor da conduta moral e funcional de quem não tenha me feito mal. Os nossos apetites e paixões são semelhantes; os meus mantenho moderados. Do mesmo modo que, acredito, o colega mantenha. Se nunca lhe fiz bem, também nunca lhe fiz mal. E por diversas oportunidades lhe fui leal, apenas exemplificando: quer encaminhando-lhe boletim que poderia encaminhar para a Corregedoria; quer como meses atrás quando da lavratura de ocorrência em desfavor dos seus funcionários, afirmando peremptoriamente para a vítima que não se tratava do Delegado de Polícia. E se quiser acreditar: NÃO SABIA QUE O SENHOR AINDA CONTAVA COM ADJUNTO, o qual para mim funcionava como plantonista noutra Unidade. Jamais levantei calúnias contra a sua pessoa, também nunca lhe imputei quaisquer irregularidades. Não poderia, pois profissionalmente sou muito acima da média, sei reconhecer os porcos e as suas obras sem a necessidade de colaboradores. Sua gestão foi organizada e caprichosamente muito bem ordenada. Disso o contraste e o desastre do seu sucessor; e daqueles que por lá ficaram sem as suas rédeas curtas. Sob as suas ordens ninguém acabaria processado e condenado, pois não fariam o que lá fizeram sem o menor pudor e temor. E quando os problemas se avolumaram de pronto acharam um culpado: eu. Não tardando a bravatearem ameaças de morte. Eu não ouvi, apenas, por terceiros (um Delegado e um Investigador-chefe). Eu tive a confirmação ao ouvir da boca do seu dileto amigo; ele que ao telefone mostra o quanto é cristão. Não sabia que eu estava sentado ao lado do interlocutor, portas e vidros cerrados sob a chuva. É néscio e maldoso; cordeiro apenas para trouxas. Surpreendentemente, agora, ouvi dizer que o Senhor proferiu para determinada pessoa: “nós o mandamos embora daqui”, além de outras bazófias sem importância. Pelo “Nós” deverei acreditar nas supostas gestões pelo Senhor patrocinada, durante almoços e jantares com superiores hierárquicos, para que eu fosse retirado daquela Ciretran. Pelo “Nós” também devo entender que o Senhor patrocinou a devassa que foi feita no 3º DP de São Vicente em busca de irregularidades por mim cometidas. Pelo “Nós”, também, devo entender ter sido o Senhor a fonte de informações da redatoria de um jornal local, causando-me prejuízos morais há dois anos. Nunca quis acreditar fosse Vossa Senhoria capaz de golpe tão vil. Mas, agora, o seu “Nós” se apresenta revelador e confirmador das palavras do constrangido repórter. Tenha muito cuidado com o telefone e com as conversas de alcova caro colega. Eu , quando tenho algo a dizer , escrevo e assino; antecipadamente dou a todos chances de refutar e de se defender de um opositor declarado. Pelas primeiras razões não o quero como desafeto, mas não tenho medo da sua inimizade… É da nossa profissão. Por derradeiro: cagüetas são aqueles que o bajulam e estão sempre em sua companhia, esperando tomar-lhe a cadeira. Eu não leio pensamentos, tampouco disponho de tempo para “confraternizações policiais”.