O principal desafio do Brasil para garantir a segurança dos torcedores e
delegações para a Copa do Mundo de 2014 é a integração das diferentes
corporações de polícia e outros órgãos que estarão envolvidos com o evento no
país, segundo o secretário extraordinário para grandes eventos do Ministério da
Justiça, José Ricardo Botelho. Ainda sem um orçamento detalhado sobre quanto o
governo gastará para garantir a segurança no Mundial, Botelho explicou à Reuters
na quarta-feira os planos do governo para o setor.
O plano estratégico do governo prevê criar 12 Centros de Comando e Controle,
um em cada cidade-sede da Copa, e mais dois que fariam a coordenação nacional da
segurança pública, sendo o principal em Brasília e um outro no Rio de Janeiro.
“Esse é um dos grandes legados que queremos que fique (após a Copa). Aí dentro
(do Centro) vão estar todas as instituições de segurança públicas, os
representantes das instituições. Todos aqueles que possam direta ou
indiretamente ajudar na segurança pública”, disse o secretário.
Além de agentes das polícias federal, militar, civil, do corpo de bombeiros,
dos serviços de atendimento móvel de urgência (Samu), os centros também terão
representantes dos direitos humanos, da vigilância sanitária, da área de
energia, entre outros setores.
Esses centros é que vão comandar as ações de segurança, monitoradas por
câmeras ou pelas operações especiais da Polícia Rodoviária Federal (PRF), que
receberá instruções para recrudescer suas ações, por exemplo.
“Queremos que isso tudo esteja pronto em dezembro do ano que vem, pelo menos
nas cinco cidades em que haverá a Copa das Confederações (prevista para julho de
2013)”, afirmou Botelho.
O custo da instalação desses centros será dividido entre o governo federal e
os Estados. Apesar de ainda não ter um orçamento específico para a estratégia de
segurança pública para a Copa, o governo investiu neste ano cerca de 200 milhões
de reais na elaboração de projetos estratégicos da Polícia Federal, do Gabinete
de Segurança Institucional, da PRF e outros órgãos.
E há previsão de 717 milhões de reais para o Fundo Nacional de Segurança
Pública, do Ministério da Justiça, para o ano que vem, de acordo com a proposta
orçamentária enviada ao Congresso no final do mês passado.
“Não acredito que teremos problemas com a falta de recursos”, disse o
secretário, que pertence aos quadros da Polícia Federal. O plano será
apresentado à presidente Dilma Rousseff nos próximos meses, quando o governo
terá uma estimativa mais clara de quanto precisará investir.
O secretário afirma que o Brasil já tem experiência em realizar grandes
eventos e cita como exemplo o Carnaval e as finais de campeonatos que envolvem
clássicos regionais. A Secretaria fez um planejamento estratégico para a Copa,
mas também será responsável pela segurança pública de outros grandes eventos até
lá, como a vinda do papa Bento 16 ao país, a Copa das Confederações e a
Conferência Rio+20, da ONU.
Legislação
De olho na integração da segurança local com o restante
do mundo, o Brasil também integrará o banco de dados da Interpol aos bancos de
dados das forças policiais dos Estados, e o secretário espera que o Congresso
aprove uma lei que facilite a aplicação da difusão vermelha (red notice).
Por essa regra internacional, a Interpol emite um alerta de extradição da
pessoa procurada e o país-membro aceita prender o suspeito e levar o caso em até
48 horas ao Supremo Tribunal Federal para concluir o processo de extradição. O
Brasil não adota esse procedimento, que é considerado uma regra importante para
Botelho.
Outra mudança legislativa em análise no Ministério da Justiça é uma lei que
permite a deportação imediata de um torcedor que cometer um delito ou se for um
hooligan, por exemplo.
Nas regiões de fronteira, o governo pretende reforçar a fiscalização nos
pontos onde a Receita Federal já tem controles de alfândega. Nas áreas onde não
há postos da Receita, serão usados os veículos aéreos não tripulados (vants).
No plano estratégico do governo, as Forças Armadas não terão seu papel de
segurança ampliado, e os efetivos do Exército, da Marinha e da Aeronáutica serão
usados complementarmente, segundo o secretário.
Nos próximos meses, os secretários estaduais de segurança irão visitar os
Estados Unidos, a Inglaterra e a China para conhecer os modelos adotados nesses
países para segurança de grandes eventos.
E para a Copa do Mundo, também haverá os centros internacionais de segurança,
que reunirão até 500 agentes de segurança dos países que disputarão a
competição, dos países fronteiriços ao Brasil e de nações estratégicas que não
estejam em busca do título mundial de futebol