Arrastões a restaurantes e bares chegam a 71 casos
18 de setembro de 2011 | 23h10
ELVIS PEREIRA/JORNAL DA TARDE
Os arrastões a bares e restaurantes paulistanos atingiram no último dia 1º o total de 71 casos, segundo dados da polícia obtidos pelo Jornal da Tarde. De janeiro para cá, esse tipo de crime vem assustando tanto comerciantes quanto clientes e provocou mudanças em ambos. Na avaliação de associações que representam o setor e da polícia, a pior fase de ataques já passou, mas eles ainda ocorrem e não há como garantir que deixarão de existir.
Levantamento da polícia apurou que houve 69 casos de janeiro até 29 de agosto. Mais da metade foi registrada nas regiões da Vila Madalena, Pinheiros, Itaim-Bibi, Morumbi e Lapa, onde há grande concentração desse tipo de comércio. Os demais são invasões nas áreas da Aclimação, Brooklin, Vila Mariana, Ipiranga, Paraíso e Santo Amaro.
Após a polícia concluir o balanço, houve mais dois ataques, em um intervalo de 24 horas, a estabelecimentos na Chácara Santo Antônio, na zona sul. Ao lado da Granja Julieta, a região tornou-se o principal alvo dos ladrões neste segundo semestre. “Eles foram migrando. A polícia fortaleceu o efetivo nas outras regiões e eles abriram o leque para outras áreas”, avaliou o capitão da Polícia Militar Cleodato Moisés, porta-voz do Comando de Policiamento da Capital.
Em meados do primeiro semestre, quando os arrastões se tornaram frequentes na Vila Madalena e Pinheiros e se expandiram para os Jardins e Itaim-Bibi, a PM reforçou o patrulhamento nesses locais, medida mantida até hoje. “Mantemos um policiamento mais forte nessas áreas e diminuiu muito esse tipo de modalidade.” Segundo o capitão, funcionários de restaurantes e bares adotaram a prática de ligar para o 190 ao desconfiar do comportamento de estranhos dentro e fora dos estabelecimentos.
As investigações da Polícia Civil resultaram na prisão de dez acusados de envolvimento em 13 casos. Todos eram jovens e, segundo a polícia, participaram dos arrastões por oportunismo. “São jovens que até ontem eram menores. A lei deu a percepção de que eles são impunes e podem fazer o que quiserem sem punição e quem paga agora é a sociedade”, afirmou o delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo, Marcos Carneiro.
Para representantes do comércio, a série de arrastões chegou a afastar clientes, mas, aos poucos, a situação se normalizou. “Num primeiro instante, houve uma sensação de medo, mas depois as pessoas se acostumam”, disse o diretor executivo da Associação Nacional de Restaurantes, Alberto Lyra. “A população não se deixou atemorizar. E a gente não pode esperar que esse tipo de crime acabe. A polícia não tem condições de coibir todo tipo de crime.”
Segundo o diretor-jurídico da Associação Brasileira de Barres e Restaurantes, Percival Maricato, antes, a maior série de roubos contra o setor havia sido registrada uma década atrás. “Começou com uma quadrilha formada por ex-garçons que conheciam o funcionamento de restaurantes, mas iam mais ao caixa do que ao público. O que mudou foi o modo de operação.” Desta vez, com o crescimento de pagamentos com cartões, os alvos se tornaram os clientes. Restou aos comerciantes se protegerem. “As casas de maior poder aquisitivo contrataram seguranças. As demais treinaram o porteiro, manobrista, e colocaram câmeras para dificultar as ações das quadrilhas.”
Clientes agora só levam o essencial quando saem
- 19 de setembro de 2011
- 0h20 |
ELVIS PEREIRA
A série de arrastões obrigou clientes a alterar os hábitos. Eles não abandonaram a ida aos restaurantes a bares. Mas, agora, carregam menos dinheiro, cartões e documentos. No caso das mulheres, até a bolsa é sacrificada.
O comerciante e advogado Sérgio Floriano, de 51 anos, estava entre as vítimas do roubo a um restaurante no Morumbi, na zona sul, na noite de 8 de agosto. “Um dos bandidos chegou ao meu lado, me deu uma cotovelada e falou: ‘Isso daqui é um assalto, não é brincadeira’.” Levaram documentos, cheques e todo o dinheiro dele.
Após o crime, decidiu parar de sair para jantar. “Nas duas primeiras semanas não fui, mas depois voltei a ir normalmente”, contou Floriano. “Aquele dia eu estava com bastante dinheiro e dei azar. Agora levo uma carteira da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), um cartão e um pouquinho de dinheiro.”
Medida semelhante foi adotada por Cláudia Hessel Saraiva, de 49 anos. “Hoje saio com o cartão de crédito só no dia que vou comprar alguma coisa.” Ladrões levaram a bolsa dela durante o arrastão a uma pizzaria na Granja Julieta, na zona sul, em 14 de agosto. “No fim de semana seguinte, tive o aniversário do meu cunhado e comemoramos num restaurante. A mulherada toda foi sem bolsa. Levou o documento no bolso e mais nada.”
Cláudia passou a andar assustada depois do crime. “Se alguém aparece perto ou se aproxima, você acha que vai roubá-lo”, observou. “Agora até minha bolsa tem menos coisas. A gente precisa tomar cuidados porque a vida continua. Não se pode deixar de fazer o que gosta.”
Na mesma pizzaria, também estava a filha de uma aposentada, que pediu para não ser identificada. “Levaram a carteira dela com uma fotografia dos meus netos. O menino tinha dois meses e a menina, dois anos. Era uma foto linda e não tinha cópia”, afirmou a mulher, de 73 anos. A filha dela mora no exterior e desembarcara no Brasil para visitá-la. “Fazia um ano e meio que ela não vinha e passou por essa tristeza.”