Dr. Conde Guerra, há pouco mais de um ano sou assíduo leitor deste interessante site que Vossa Sra. chama Jornal Flit Paralisante. Quase quatro anos atrás não gostava daquilo que ouvia a seu respeito e sobre aquilo que aqui o senhor escrevia.
Falava-se que além de inimigo da classe, o colega era especialmente inimigo dos idosos.
Na metade de 2009 perdi o meu primeiro, único e maior amor da minha vida. Minha filha e netos sabem o quanto os amo; também sabem o quanto amei e fui amado pela mulher que comigo esteve desde a infância.
Casamos em 1959, ambos com 18 anos. Possivelmente completarei, semanas antes da expulsória, minhas bodas de ouro na Polícia.
Sou Delegado desde 1961, logo depois de formado pela mesma casa em que o senhor foi diplomado.
Minha filha é magistrada trabalhista e professora; meu genro foi Delegado, pediu exoneração e depois de dois anos estudando e prestando concursos ingressou na magistratura estadual.
Um caso exemplar de companheirismo. Enquanto Delegado plantonista ele se afundou em dívidas para que minha filha apenas se dedicasse aos estudos. Anos depois foi a vez dela.
Eu e minha esposa com muito orgulho contribuímos com tudo que podíamos para suprir os momentos de maiores dificuldades financeiras dos dois. Hoje vivem confortavelmente, talvez com muito mais do que buscavam e necessitam. Um casal de magistrados, nos dias de hoje, com disciplina nos gastos, em 15 anos formam a classe de pessoas consideradas milionárias.
Afirmo a todos os que lerem estas palavras que não sei na prática o que seja recebimento de quaisquer vantagens. Oportunidades tive quase todos os dias. Nada obstante, nunca me julguei mais digno do que meus colegas, alguns amigos leais, que recebem.
Nunca trabalhei em Santos ou cidades do litoral.
Minha carreira foi toda trilhada na Capital. Desde plantonista no antigo Plantão Central a presidente de inquéritos, sindicâncias e processos administrativos conexos a crimes cometidos por políticos e membros do alto escalão das mais diversas Secretarias de Estado.
Salvei muitos funcionários vítimas de perseguição e muitos a beira da demissão por conta de algumas moedas mal tomadas.
Os tubarões sempre foram indiciados , quando não era impedido por alguma medida judicial ou providencial bonde, por mera formalidade, pois sabia que em algum ponto, por alguma autoridade acima, os autos adormeceriam até apodrecerem.
Hoje ainda é assim.
A minha falecida mulher foi uma notável pedagoga infantil dos quadros do Estado. Desiludida com a política educacional aposentou-se ainda jovem. Mas sempre se manteve intelectualmente ativa.
Aprendi a ligar o computador, com o auxílio do meu netinho, apenas para ficar olhando nossas fotos.
O computador era dela, mas em breve quero um mais moderno.
Aos poucos fui descobrindo a Internet. Até já conseguimos, dias atrás, fazer a declaração de imposto.
Muito simples, pois todo nosso patrimônio se resume a um antigo apartamento em edifício com mais de 50 anos na av. Paulista; comprado com muito esforço.
Dizem que vale um bom dinheiro, mas nele ainda pretendo viver mais alguns anos e nele morrer. Nele estão felizes e doces lembranças.
Além do apartamento sou dono de um Gol 1000, modelo 1992.
Concluindo, pois não esperava me estender tanto, a vontade de comentar nesta postagem foi despertada pelas palavras do Delta Uno reverenciando meu contemporâneo Dr. Choji e todos aqueles que digna e produtivamente permanecem na Polícia até os 70 anos.
Como disse antes, espero o mês de dezembro ansiosamente.
A aposentadoria compulsória para mim será motivo de grande felicidade e realização pessoal e funcional.
A dedicarei a minha inesquecível Julia, a minha filha e aos meus dois netos.
Quero lembrar que ingressar na Polícia está ao alcance de qualquer pessoa que dedique um pequeno esforço durante um ou dois anos. Mas deixar a Polícia aos 70 anos, ilibadamente, depois de décadas de sacrifícios e injustiças, é privilégio de poucos.
Dr. Roberto, o senhor ainda é relativamente jovem. Repense sobre os rumos de sua jornada. Não cometa suicídio funcional, pois embora não concorde com a maneira debochada e venenosa como aborda muitos assuntos internos, será muito triste ler o decreto de sua demissão.
E não falta quem aguarde esse dia.
Infelizmente, não posso lhe ajudar.
Se bem que o Sr. não ajuda a que lhe ajudem, quero dizer, o senhor afugenta honestos, neutros e desonestos.
Não faz muito ouvi de uma autoridade o seguinte; vou pedir arquivamento desta “porcaria” instaurada contra o Delegado do Blog, pedindo a Deus para nunca virar notícia no tal de Flit.
Um grande abraço deste velho que adormece as 22 e acorda as 4h00.