PARA IRMÃO QUE VOCÊ GOSTA: Nunes Júnior aparece nos grampos conversando com Rodriguez. Promete cópias do inquérito e o informa sobre os depoimentos. Cortez é citado nas escutas telefônicas, que dão sua colaboração como certa

16/11/200307h20

Acusados na Operação Anaconda agiram para abafar inquérito

GILMAR PENTEADO
da Folha de S. Paulo
FAUSTO SIQUEIRA
da Agência Folha, em Santos

Três homens armados provocam confusão em uma feira de malhas no litoral paulista. Teriam ofendido e ameaçado duas mulheres e agredido uma criança de nove anos com um tapa. Na saída da feira, são perseguidos e cercados por 12 policiais militares. Todos vão parar na delegacia.

Mais de um ano depois, o desfecho do episódio ocorrido na praia de Itararé, em São Vicente, surpreende: os três homens não foram responsabilizados e, por pouco, o tenente que comandou a ação da PM não é punido.

As identidades dos envolvidos também surpreende. Os três homens que teriam provocado a confusão eram, na verdade, o delegado da Polícia Federal José Augusto Bellini, o agente federal César Herman Rodriguez e o advogado Sérgio Chiamarelli Júnior.

Eles estão presos na sede da PF de São Paulo desde o último dia 30. São acusados de pertencer a um esquema que beneficiaria criminosos com a venda de sentenças judiciais, proteção policial, entre outros crimes.

O episódio em São Vicente, ocorrido em agosto de 2002, mostraria que o tráfico de influências exercido pela suposta quadrilha também era usado em benefício próprio, para evitar investigações indesejadas e punir desagravos.

Segundo relatórios de escutas do setor de inteligência da Polícia Federal, Bellini e os seus companheiros usaram seus contados na Polícia Civil paulista para impedir a investigação e forçar o arquivamento do inquérito. Nem um procedimento administrativo para apurar abuso de autoridade foi aberto pela Corregedoria da PF.

Cheque suspeito

Era sexta-feira, por volta das 18h, quando Bellini, Rodriguez e Chiamarelli Júnior, que estavam de folga, pararam em um estande de artigos de couro onde Geruísa da Silva Ferreira trabalhava.

A confusão teria começado, segundo a PF, quando houve a desconfiança que um cheque dado pelo grupo não tivesse fundos. Segundo queixa feita por Geruísa Ferreira, ela e outra mulher, que também trabalhava no estande, foram ofendidas e ameaçadas. O filho de Ferreira teria levado um tapa na cabeça.

O grupo teria mostrado as armas para intimidar, o que fez que um segurança da feira chamasse a PM. Eles foram cercados a poucas quadras dali. Os policiais federais se recusaram a ser revistados. No distrito, no entanto, todos foram “dispensados sem que fosse registrada qualquer ocorrência”, segundo relatório da PF.

Geruísa Ferreira se queixou contra os três, o inquérito teve de ser aberto pela Polícia Civil e o caso chegou à Corregedoria da PF. O mais assustado com o resultado negativo era Bellini, de acordo com os grampos. Ele teria usado sua rede de contatos na Polícia Civil para tentar influenciar a investigação. Queria não só ser inocentado como também teria iniciado uma campanha pelo indiciamento, por abuso de autoridade, do tenente da PM Samuel Robes Loureiro, que comandou a ação.

“É, mas o combinado era o indiciamento [do PM], né meu irmão”, disse Bellini, a um homem não-identificado, segundo a PF, ao saber que o inquérito não iria indiciar o tenente.

Bellini teria sido favorecido por pelo menos quatro delegados da Polícia Civil paulista. Entre eles, segundo relatório da PF, o delegado seccional de Santos, João Jorge Guerra Cortez, e o delegado de São Vicente, Niêmer Nunes Júnior. Os dois negam.

Nunes Júnior aparece nos grampos conversando com Rodriguez. Promete cópias do inquérito e o informa sobre os depoimentos. Cortez é citado nas escutas telefônicas, que dão sua colaboração como certa.

No final, os investigados comemoram o relatório do inquérito. Nos grampos, Chiamarelli Júnior diz a Rodriguez que o inquérito é “aquele que você faz para seu irmão, irmão que você gosta. Está legal mesmo, bem bonito”. Bellini comenta que, se a Corregedoria da PF vir o relatório, “não poderá abrir sindicância, quanto mais PD (processo disciplinar)”, o que realmente aconteceu.

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O melhor do caso: em vez de apuração, promoção por merecimento.

UM CERTO CAPITÃO UBIRAJARA E OUTROS TORTURADORES QUE DÃO LIÇÕES DE MORAL E PROBIDADE ADMINISTRATIVA

Paulo Sérgio Leite Fernandes

Um certo Capitão Ubirajara(Ou “Klute, o passado condena”)

Tenho fixação, desde os tempos em que freqüentava o cinema, em alguns filmes desencontrados. Destaquem-se “Dona Flor e seus dois maridos”, “Casanova” e “Klute, o passado condena”. Dona Flor, extraído da obra magistral de Jorge Amado (gosto deste e de Capitães de Areia), trata de uma viúva jovem, deixada por “Vadinho” e casada, depois, com o farmacêutico tocador de oboé (facultativamente às quintas, obrigatoriamente aos sábados e domingos). Casanova (Dirigido ou produzido por Fellini?) conta a epopéia do lendário sexômano cujo objetivo final era o de seduzir a mulher gigante, aquela que constituía a atração maior do circo, morando numa tenda escura e enorme. Klute (personificada por Jane Fonda) é a história de mulher bem posta na vida, mas perseguida por personagem misteriosa embolada nos suspeitos antecedentes da grande dama.
“Dona Flor”, pelo contexto psicológico, é minha preferida. Guarda remotíssima ligação com a “Blimunda” de Saramago (as qualidades de ambas, justapostas, fariam a mulher perfeita). Entretanto, a sedutora Flor e a perturbadora vidente não constituem a razão das reflexões deste Domingo de Páscoa. Cuide-se de assunto mais triste ligado ao denominado”Capitão Ubirajara”, codinome pertencente, segundo denúncias repetidas, a ilustre delegado que ocupa, hoje, posto destacado na policia de São Paulo. Realmente, aquela autoridade foi diretamente acusada por duas mulheres de praticar torturas, nos idos do golpe de 1964, dentro das infectas dependências do “DOI-CODI¨ (Rua Tutóia e quejandos). As denunciantes o apontam sem dúvida qualquer. Genoíno, pronunciando-se lá do Planalto, critica também, acerbamente, a nomeação do dito torturador para alto cargo na instituição. Ele nega, juntando os pés: o esbirro da ditadura seria um homônimo. As denunciantes, antigas terroristas, não mereceriam credibilidade. O governador Geraldo Alckimim (aquele da polícia duríssima, pretendendo fazer disso campanha eleitoral) afirma, em outras palavras, não ter ligação qualquer com a nomeação do “Capitão”. Tratar-se-ia de delegado de carreira, seguindo trajeto previsto nos regulamentos. Além disso, passado é passado. A Lei de Anistia, em plena vigência, passou a borracha em tudo, de um lado e do outro. O “Capitão”, se do próprio se tratasse, estava lá e pronto. Referindo-me a “Ubirajara”: a mulher torturada diz que o delegado é o próprio. Restará, no mínimo, séria dúvida sobre os bons antecedentes do policial. Fui buscar na “internet” a data do nascimento do governador Geraldo. Tinha dez anos no golpe de 1964. Depois, crescendo, foi vereador, deputado muito bem votado, prefeito e vice de Mário Covas, chegando aonde chegou sem grandes entreveros com o regime. De acordo com a biografia oficial, foi um dos fundadores do PSDB. Vale isso, no fim das contas, a dizer que não sofreu nas carnes o beliscão dos alicates empunhados pelos esbirros da ditadura. Já grandinho naquela época, tive participação discreta na resistência. Meus méritos: defendi uns meninos acusados de lançamento de bombas caseiras na cavalaria (conseguimos convencer a Auditoria de Guerra que aquilo não explodia – saímos do recinto no intervalo, com medo de que fizessem teste) e apresentei um fugitivo à 36.ª delegacia, um dia depois do assassinato de Herzog (Fui tratado com melão e presunto. Filmaram o almoço). Tive parceiro num dos episódios. Ele tinha dez mil dólares no bolso e o passaporte, tudo pronto para uma emergência. Pedi-lhe algum emprestado, de brincadeira. Se precisasse fugir, não chegaria além de Osasco…
Arredondando a tragicomédia de “Um certo Capitão Ubirajara”, retorne-se ao ilustre delegado de polícia e ao governador. Há hoje homens que usavam calças curtas na ditadura. Não acompanharam os dramas daquele tempo infernal. Outros teriam, ou não, um passado condenável, à moda de “Klute”. A tortura é execrável, governador. Tirei um preso da Cadeia, naquele tempo, vivo sim, mas vinte quilos mais magro, isso dezesseis dias depois da prisão. Nunca se recuperou. Uma advogada foi posta em liberdade depois de ensurdecida com os “telefones” (mãos em conchas) nos ouvidos. Isso é o que se pode contar sem levar o leitor a desespero. Daí,é preciso que o governador, ex-vice de Mário Covas, examine durissimamente o assunto. Tocante ao “Capitão”, ou ele é o próprio ou não é. Se não for, as torturadas dizem que é. Se for, arrependeu-se ou não, mas não pode ficar onde está. Lembro-me de um antigo esbirro que confessou suas faltas ao entrar na velhice. Era exceção. A maioria tem ausência completa de autocrítica. Sonha com anjos. Alguns guardam, inclusive, os instrumentos de tortura sob a cama, a título de recordação. Dizem, aliás, que o bom torturador não tem partido político nem ideologia. Serve a qualquer governo. A história política dos povos passa. Os carrascos costumam solidificar-se, a exemplo daqueles fetos gerados fora da cavidade uterina dos seres monstruosos. Disfarçam-se. Sempre encontram quem se entusiasme pelo mimetismo. Candidatam-se. Bem votados, dão lições de moral e severidade no trato da coisa pública. O único recurso de quem mantém nas carnes as cicatrizes do ferro em brasa é reivindicar justiça. Ficam no espaço os gritos de horror ricocheteando pelas paredes do palácio vermelho, prédio lá perto da estação de trens. Pretende-se transformá-lo em museu. Já é alguma coisa. As torturadas de antanho podem ocupar o palco na inauguração, enquanto repetem os urros de dor, acompanhando os acordes do hino nacional. É como o roteiro de Klute. As más ações condenam sempre.

conlusão:
O BOM TORTURADOR NÃO TEM PARTIDO POLÍTICO NEM IDEOLOGIA.
SERVE A QUALQUER GOVERNO…(da Arena ao PT, passando antes pelo PSDB)
OS CARRASCOS COSTUMAM SOLIDIFICAR-SE…(de Investigadores são promovidos a Delegados, depois Diretores e quem sabe até Senadores)
SÃO ESTELIONATÁRIOS NATOS E SEMPRE ENCONTRAM QUEM ACREDITE NAS FARSAS QUE ENREDAM… (vão rotineiramente a Igreja…se emocionam e choram)
NEGAM SEUS CRIMES DE PÉS JUNTOS! (mentem…mentem…mentem)
JAMAIS DEIXANDO DE TORTURAR E ASSASSINAR ( O DIREITO E O VERNÁCULO, INCLUSIVE).
“Aquele que identificar um tipo assim ganhará um prêmio do Blog”.