RÁDIO POLÍCIA AFIRMA QUE O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL INVESTIGA RAMIFICAÇÃO DA QUADRILHA NO PORTO SANTISTA

PF investiga 17 delegados por elo com contrabando
MARIO CESAR CARVALHO

DA REPORTAGEM LOCAL

A Polícia Federal investiga 17 delegados da Polícia Civil de São Paulo.

São todos supostamente ligados ao delegado André Di Rissio, preso sob acusação de integrar uma quadrilha que liberava contrabando no aeroporto de Viracopos, em Campinas.

Todos os investigados tiveram conversas telefônicas com Di Rissio gravadas pela PF.

Di Rissio era presidente da Associação dos Delegados de São Paulo e foi preso em 29 de junho. Ele nega as acusações.

Wilson Ordones, delegado da Delegacia Especializada de Atendimento ao Turista em Viracopos, também foi preso pela PF no mesmo dia, mas passou mal e foi internado.

Um dos setores da Polícia Civil que estão sob investigação é o Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais), no qual estão centralizadas as apurações sobre a facção criminosa PCC.

Uma conversa telefônica gravada sugere que Di Rissio teria intercedido junto a um delegado do Deic para que um estoque de bebidas contrabandeadas não fosse apreendida.

Outra gravação mostra Di Rissio conversando com um investigador do Deic.

Ao final do diálogo, o investigador diz ao delegado que vai liberar a pessoa que levava para a delegacia, acusada de sonegar impostos.

A Corregedoria da Polícia Civil também investiga as conversas.

Di Rissio tinha fama antes de ser preso pela PF no apartamento avaliado em R$ 1 milhão em que mora no Morumbi (zona oeste de São Paulo).

Ele andava de Jaguar, tinha uma coleção de Rolex e de ternos impossíveis de serem comprados por quem tem salário de cerca de R$ 7.000.

Nas conversas gravadas pela PF, ele negocia a compra de um apartamento de 660 m2 por R$ 1,5 milhão.

A PF prendeu os dois delegados e 14 pessoas, entre empresários, agentes aduaneiros e funcionários do aeroporto.

Di Rissio, segundo a PF, era o elo entre os empresários que entravam com contrabando em Campinas e o delegado Ordones.

Di Rissio receberia R$ 50 mil por mês para que mercadorias importadas com preços menores do que os de mercado entrassem por Viracopos.

A investigação que resultou na prisão de Di Rissio durou cerca de um ano.

As conversas gravadas entre julho do ano passado a junho deste ano geraram três investigações:

1) O Ministério Público Federal e a PF investigam outros envolvidos com a facilitação de contrabando em Viracopos;

2) O Ministério Público Estadual apura por meio do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) a eventual participação de policiais civis na quadrilha;

3) O STJ (Superior Tribunal de Justiça) deve investigar o eventual envolvimento do pai de Di Rissio, o desembargador Eduardo Antonio Di Rissio Barbosa, no esquema.

PROPINA A POLICIAIS É ANTIGA?

Propina a policiais é antiga, indica escuta
Gravações da PF sugerem que presidente-executiva da Associação Brasileira de Bingos fazia acertos de longo prazo com investigadores.
Numa conversa, policial fala em “negócio (…) que a senhora acertou dois anos atrás”; dirigente afirma que policiais recebiam por bicos
MARIO CESAR CARVALHOANDRÉ CARAMANTE -DA REPORTAGEM LOCAL
A presidente-executiva da Abrabin (Associação Brasileira dos Bingos), a advogada Danielle Chiorino Figueiredo, fazia acertos de longo prazo com policiais civis, como sugere uma conversa dela com um investigador registrada pela Polícia Federal durante a preparação da Operação Têmis.
Em outra conversa, também monitorada pela PF com autorização judicial, a advogada aparece falando em “parceria” com investigadores da 5ª Delegacia Seccional, que controla os distritos policiais da zona leste de São Paulo. Nessa conversa, o interlocutor, um funcionário de bingo, diz que “esse mês aqui [janeiro passado] não passou ninguém lá do Deic” -Deic é delegacia especializada em roubos.
Acerto e parceria devem ser um eufemismo para propina, segundo interpretação de dois delegados da própria Polícia Civil ouvidos pela Folha com a condição de que seus nomes não fossem revelados.
A Folha revelou na quinta-feira que a presidente-executiva da Abrabin conversou com um investigador da 3ª Delegacia Seccional, responsável pela zona oeste, sobre o pagamento de “um zero zero”, o que é interpretado por alguns policiais como sendo R$ 100 mil.Danielle refuta.
De acordo com ela, o “um zero zero” era R$ 100, valor que era pago ao investigador para cuidar da segurança de um bingo.
O aparente acerto de longo prazo é citado em um diálogo de 6 de fevereiro entre a advogada da Abrabin e um investigador chamado Ricardo, que à época estava no 9º DP.
“O pessoal aqui que sempre vem todo mês aqui, pegar o negócio, aqui de perto, lembra, que a senhora acertou dois anos atrás?”, pergunta.Danielle diz que não entendeu o português tortuoso do investigador.
Ricardo tenta se explicar novamente: “O pessoal do 9º [DP] aqui… que acertaram valores há um ano e meio atrás, mais ou menos…
“A advogada entende: “O que tem?” , pergunta.”Eles querem falar com a senhora de novo (…). Trocou lá… os investigadores”.
Aparentemente, a razão do telefonema era a mesma do investigador da 3ª Delegacia Seccional que ligara para a advogada em janeiro.
Tinha ocorrido uma mudança na Secretaria de Segurança com a posse do governador José Serra (PSDB), e os policiais queriam saber o quanto receberiam para não incomodar os bingos, já que há dúvidas sobre a legalidade dessas casas de jogo.
O 9º Distrito Policial é o mesmo no qual os policiais militares tiveram dificuldade para registrar um boletim de ocorrência para relatar que haviam encontrado R$ 38 mil em dinheiro e supostas anotações de pagamento de propinas de donos de caça-níqueis a delegacias e investigadores.Essa documentação foi encontrada no carro acidentado do advogado Jamil Chokr. Vinte investigadores foram afastados porque seus nomes aparecem na lista do advogado.
O acidente foi em 25 de maio.
NotificaçãoNuma outra ligação, de 16 de março, a advogada da Abrabin conversa com Alexandre, aparentemente um funcionário do bingo São Paulo, da zona leste.
Ele informa a Danielle que recebeu uma notificação para depor no 56º DP. “Ele [o investigador do 56º DP] veio junto com dois rapaz da seccional pra acompanhá-los, né? É… são dois investigadores, um chamado João, outro Cido, é… dizendo que a gente ainda não tem (…) nenhuma parceria com eles.
Eles são da 5ª Seccional.
Deixaram o telefone aqui também”, informa Alexandre.
Danielle diz que é para passar o telefone por fax, que ela entrará em contato com os investigadores.