Doutor Ivan Sartori: A coragem e a técnica de um Jurista na Defesa de um Policial Civil condenado por antecipação 14

Ivan Sartori, desembargador aposentado e ex-presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), atuou como advogado na obtenção da liberdade provisória do investigador de polícia Cleber Rodrigues Gimenez, preso preventivamente com base na presunção de periculosidade decorrente de sua condição funcional.

A decisão foi proferida pelo Ministro Messod Azulay Neto no Superior Tribunal de Justiça (STJ) em 10 de setembro de 2025, em agravo regimental no Habeas Corpus nº 1004194-SP.

Fundamentação Jurídica e Viés Decisório

A prisão preventiva foi revogada com base no princípio da excepcionalidade da custódia cautelar, previsto nos artigos 282, § 6º, e 312 do Código de Processo Penal.

O ministro destacou a ausência de fundamentação concreta que justificadoras da segregação preventiva , especialmente diante da primariedade e dos bons antecedentes do investigador de polícia.

A decisão enfatizou que a mera condição de ser  policial  civil não pode, por si só, configurar perigo à ordem pública ou risco de reiteração delitiva, sob pena de caracterizar antecipação de pena.

Esse caso exemplifica o que Daniel Kahneman denominou de viés de ancoragem e ajuste , em quais decisões judiciais são influenciadas por um ponto de partida irracional  e antijurídico  : no caso, a função pública do investigado.

Viés de ancoragem , diga-se , inoculado há décadas no Tribunal de Justiça de São Paulo e amplamente defendido por Guilherme Nucci em suas primeiras obras jurídicas.

A ancoragem decisória implica na presunção de que a simples  condição de policial – ou de um negro periférico –  leva  como consequência à certeza da  periculosidade do suspeito ,  dispensando as demais situações concretas para a decretação da prisão provisória , tal como  provas de ameaça a testemunhas, reiteração de conduta  ou risco de fuga, violando o dever de análise proporcional e individualizada exigidos pela legislação .  

Atuação de Ivan Sartori e Repercussão Institucional

Sartori, conhecido por posições polêmicas durante sua atuação no TJ-SP –  como a anulação dos julgamentos dos policiais do Massacre do Carandiru –  demonstrou novamente domínio profundo do direito processual penal ao combater uma decisão pautada em preconceitos institucionais em desfavor de policiais.  

Sua atuação reforça o papel essencial da defesa técnica transferida na correção de desvios processuais, especialmente nos casos em que a autoridade estatal instrumentaliza a função do acusado para decretar e manter  a prisão.

A decisão do STJ serve como precedente ao reafirmar que a prisão cautelar exige fundamentação idônea e individualizada, não podendo derivar de estereótipos funcionais.

O caso de Cleber evidencia a necessidade de maior rigor na aplicação dos requisitos legais da prisão preventiva, evitando que a justiça se torne refém de vidas cognitivas que comprometem a imparcialidade e a legalidade.

O Flit Paralisante manifesta elevado respeito e admiração pelo Dr. Ivan Sartori.

Mas destacando sua atuação , para além da mera simpatia , como essencial na promoção de uma justiça mais equânime e acessível.

O reconhecimento de Ivan Sartori ,  desembargador aposentado e ex-presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo , não é bajulação ; é  reconhecimento pela sua postura inovadora ao tratar , além de todo o funcionalismo público , os delegados de polícia como verdadeiros operadores do direito, rompendo posições – preconceitos –  tradicionais no Judiciário.

Já em artigo de 9 de junho de 2013, entre outras postagens até hoje disponíveis , o Gonzo Flit afirmava que Sartori  era considerado “o melhor presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo de todos os tempos”; por sua gestão democrática, ética e defesa dos servidores do Poder Judiciário.

“Causa Perdida” e Prejulgamento do Acusado

Essa verdadeira vitória no STJ, em benefício do investigador Cleber , em contexto de gravíssimas acusações , não é mais apenas a correção de um erro processual.

É a demonstração de que até nos casos mais complexos e graves, a técnica jurídica, quando exercida com coragem e excelência, pode garantir que os direitos fundamentais prevaleçam.

O americano quer cheirar por diversão e o traficante latino só quer comer…O Flit Paralisante pergunta: quem são os piores criminosos? 10

O governo americano, sob o comando do presidente Donald Trump, anunciou recentemente operações militares letais contra embarcações suspeitas de tráfico de cocaína no Caribe, perto da Venezuela, sem necessidade de apreensão, prisão , julgamento ou quaisquer provas concretas.

Basta a imagem de uma embarcação pequena em suposta fuga de caça-bombardeiro supersônico !

Contestado e criticado pelo presidente da Colombia que afirmou que os principais líderes do narcotráfico vivem em cidades – que ele descreveu como luxuosas – como Miami, Nova York ou Dubai e, ainda, que qualquer ação terrestre em solo da Venezuela seria uma invasão territorial, imediatamente ordenou sanções a Gustavo Petro, familiares e autoridades colombianas.

Verdadeiramente, Trump não aceita críticas e trata os divergentes como inimigos e o que é muito pior: neles projeta aquilo que diz estar combatendo.

Enquanto isso, o presidente Lula, ao comentar a política externa dos EUA, afirmou que “os usuários são responsáveis ​​pelos traficantes, que são vítimas dos usuários também”, causando controvérsia.

Apesar de , no Brasil , o usuário , desde o antigo art. 281 do Código Penal  , ser tratado como irmanado ao traficante.  

Mas será que Lula, em seu deslize retórico, não tocou numa verdade incômoda que o próprio Trump insiste em ignorar?

O vício que alimenta o império

O tráfico de cocaína é um negócio movido por dólares americanos, não por plantações andinas.

A cocaína, extraída da folha de coca na América do Sul, há mais de um século , foi transformada em cloridrato na Europa.

Virou panaceia ; o remédio para todos os males .  

Até que – diante da escravidão e zumbificação das elites da Europa –  foi proscrita.

Já era tarde!

A procura nunca foi estancada.

Nos anos 1960 passou a ser  traficada por americanos para americanos , pois o governo direcionava toda a repressão para os maconheiros e negros usuários de heroína.

E os americanos vivendo um momento de prosperidade e euforia a adotaram como “medicação de referência “.

Vivas à lei da oferta e procura até que o produtor descobriu  que merecia ganhar muito mais e poderia dominar toda a cadeia , desde a plantação , refino e entrega ao consumo .   

Aí houve uma grande revolta; muito mais do que a saúde dos povos estava a saúde financeira dos governos .

O Tesouro Nacional passou a verificar o “desaparecimento” de toneladas de dólares dos “mercados”.

Uma fortuna bilionária estava sendo desviada para outros países e mantida fora do sistema bancário e imobiliário formal.

E veio a guerra aos cartéis dos latinos

Ora, sempre latinos ; esse tipo meio palestino que fala uma língua mais musical .  

Com a guerra , nos EUA, o  seu valor quintuplica – ou mais – ao chegar aos bares, festas e escritórios de Nova York, Miami ou Los Angeles.

São os “filhinhos de papai” do norte, os endinheirados usuários recreativos, que sustentam os cartéis com seu hábito de cheirar cocaína como se fosse oxigênio .

Enquanto isso, Trump manda drones e fuzileiros para matar supostos traficantes em alto-mar, sem direito a defesa, sem julgamento, numa espécie de justiça extraterritorial que fere qualquer noção de civilidade e respeito à soberania.

Trump está matando todas as noções de Direito ;  não está defendo a saúde da população americana .

Talvez só esteja defendendo  o interesse de alguns dos seus sócios .

A hipocrisia do combate às drogas

O discurso de Trump é o mesmo de sempre: culpar o outro, o latino, o estrangeiro, o pobre.

Mas ninguém fala em invadir os arredores  de Beverly Hills para prender os usuários que financiam o tráfico.

O governo americano prefere bombardear barcos no Caribe a investir em tratamento, prevenção e redução de danos em seu próprio território.

Afinal, é mais fácil culpar o vendedor de rua do que admitir que o vício está dentro de casa, nas salas de reunião de negócios , nas festas de gala, nos eventos esportivos.

O latino quer comer, sim!

O americano só quer cheirar , mas que  o mundo inteiro pague o preço por isso.

A ironia do destino

Lula, ao soltar a frase de que ‘os traficantes são vítimas dos usuários’, provocou o esperado coro de indignação daqueles que preferem o mundo em preto e branco.

Foi taxado de defensor de bandidos, como era de se esperar no teatro raso da política .

A ironia cruel, no entanto, é que a fala que soa como absurdo no plenário do Congresso seria uma verdade elementar, um dado operacional, num relatório das nossas polícias e certamente do DEA ou da CIA. 

Os policiais mais capacitados sabem: o ‘traficante’ não é um monstro unidimensional, mas o elo final de uma cadeia movida a uma demanda voraz e insaciável.

Enquanto Trump, no mesmo teatro, manda matar esse mesmo ‘elo final’ em alto-mar – sem provas, sem julgamento, num ato de pura barbárie –, a fala de Lula, na sua crueza, escancara a pergunta que nenhum presidente americano quer ouvir: 

O que é um cartel senão a versão brutalmente eficiente de uma empresa que atende a uma demanda de um mercado abastado e viciado?

O pequeno traficante, o ‘trincheiro’, é a vítima sacrificial perfeita: morto pela polícia aqui, vaporizado por um drone americano ali, enquanto os verdadeiros arquitetos do negócio ;  a demanda dourada do Norte e a lavagem de dinheiro que escorre para o sistema financeiro global  seguem intocáveis.

Lula, de fato, ao dizer que os traficantes são vítimas dos usuários , não foi linguisticamente  preciso.

Mas não deixa de ter razão: os pequenos traficantes do terceiro mundo  – o trabalhador do crime –  são sim vítimas!

Vítimas do sistema que os empurram para o crime, vítimas da repressão desigual, vítimas da ganância dos cartéis e da hipocrisia dos países consumidores.

Enquanto Trump manda matar sem provas, o Brasil debate uma PEC da Segurança Pública e bate registros de apreensão de drogas destinadas ao “Primeiro Mundo”.

O Brasil é vergonhosamente inepto quando se trata de apreender drogas destinadas ao “público interno “.

Aqui não se apreende na entrada , apenas na saída …

Melhor dizer : não se apreende o que se destina ao comércio interno ; apreende-se muito mais drogas que seriam exportadas.  

Por quê?

A outra ironia é que o país que mais consome drogas no mundo é o mesmo que mais se arvora no direito de julgar e punir os outros.

O Flit Paralisante pergunta: quem são os piores criminosos?

Os que vendem para sobreviver ou os que compram para se divertir, cegos pela sua riqueza e pelo seu poder?