
O Brasil sempre foi pródigo em fabricar especialistas imaginários.
Não é de hoje: quando criança, cresci no país dos noventa milhões de técnicos de futebol.
Cada vizinho escalava sua seleção como se fosse Didi no vestiário do Maracanã.
E sempre tinha um corintiano iluminado que deixava o Pelé no banco, como se o negão fosse mera promessa da várzea.
Agora, envelhecido e com a paciência mais curta que garçom espanhol em mesa de turista , descobri o aprimoramento nacional: já não somos a pátria do futebol, viramos a República dos juristas.
E é cada jurista mais brilhante que o outro.
Todo brasileiro acorda bacharel em Direito e vai dormir Desembargador ou Ministro do Supremo.
O bêbado do balcão redige “habeas corpus” entre uma pinga e outra; o garoto recém-formado na São Largo do Pânico veste a beca e se autoproclama penalista renomado; e a analista loira televisiva – com sotaque da moça de boate da região do ABC – é entronizada como ministra decana da nova jurisdição!
Toga invisível, salto estalando, caixa de falsos argumentos escondidos embaixo da bancada para preparar armadilhas aos entrevistados …digamos: “de esquerda” .
Mas esse milagre jurídico não caiu do nada.
Não, senhores!
Toda essa legião de monstrengos intelectuais se formou na mais prestigiosa instituição do continente — a JP, Faculdade do Job Político.
Lá, não existem leis, há enredos ; não se diplomam juristas ou jornalistas, mas gladiadores de microfone.
É a Sorbonne da Asneira com doutorado em falatório mentiroso , deselegante e infantilizado!
O método acadêmico é cristalino:
- Primeiro: invente-se a jurisprudência .
- Segundo: transforme em manchete.
- Terceiro: repita até o rebanho jurar que saíram no Diário Oficial.
A hermenêutica é flexível como chiclete na boca de criança : se amolda qualquer coisa se favorecer o aliado; nada presta se arranhar o cliente.
Imparcialidade? Foi pejotizada.
Uma verdade? Foi demitida.
Liberdade de imprensa?
Só se for a liberdade de puteiro !
Gratificação em forma de curtidas e prêmio em forma de jabá.
E, claro, para tornar o circo mais palatável, sempre escalam a “jurista decorativa”: charmosa, discurso raso, comentário autoritário , sorriso ensaiado no melhor estilo Maluf.
Não se engane: não é pluralidade!
É mais fácil falar para plateias ignorantes e boçalizada do que despertar a atenção de gente minimamente esclarecida.
No tribunal popular da esquina, a situação não é melhor.
Não há contraditório, não há ampla defesa: há só microfone aberto do berreiro e juiz de botequim.
A cada rodada de cerveja, um novo artigo constitucional é parido.
“Está tudo no código, rapaz!”, diz o filósofo do balcão, batendo o pano engordurado como se fosse certidão judicial.
O argumento jurídico definitivo já está pronto: “Se a Dilma indultou corruptos, o Tarcísio não pode indultar o Bolsonaro?”.
Claro, simetria perfeita — até porque Bolsonaro, além de assaltante, também é corrupto.
Bem-vindos ao Brasil contemporâneo, onde discordar virou agressão e toda divergência é guerra santa.
Não se desperdiça munição no debate: é pá de cal direto.
Você não contesta a tese jurídica que não lhe beneficia, você pisa na cara do antagonista.
E o recurso vem rápido, enviado em áudio de quinze segundos pelo deputado-coronel Zucco, direto do mais temível tribunal da República ; o grupo da família no WhatsApp.
Aliás, o tal Zucco discorrendo mais parece um vagabundo de bando do que um oficial do Exército . E não adianta querer dizer que o FUX reconheceu o crime de tentativa de golpe …Essa parte ele não ouviu…E quer que Cid e Braga se ferrem , os dois embora também militares não lhe darão votos…
Pobre povo do bem do Rio Grande do Sul …Que exemplar é esse Zucco…De estrume!
Nesse carnaval jurídico, a única unanimidade é grotesca: o único bom julgador foi o Fux.
E dizem isso com a mesma seriedade com que juravam que Jair era mito, que Olavo de Carvalho era filósofo e que o Neymar joga sozinho.
Resumindo: já fomos o país da bola, depois da pedalada, do impeachment.
Agora somos a pátria dos juristas de ocasião.
Qualquer esquina é tribunal, qualquer locutor é ministro, qualquer mentira vira doutrina constitucional.
E enquanto a Faculdade do Job Político segue emitindo diplomas invisíveis com caches milionários, nós, coitados, seguimos formados em besteirol jurídico ; sem OAB, mas com muito fundamento no IA do WhatsApp.
https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2025/09/13/investigacao-irregularidades-concurso-policia-civil-sp.htm
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