Imagens Contundentes Desmentem Discurso Corporativo e Defesa em Caso da ROTA: Morte de Policial Civil Expõe Falhas e Estranhezas – “O Mistério da Chave”  2

Vídeos inéditos, versão da defesa e postura institucional: onde está a verdade sobre a morte de Rafael Moura?

São Paulo — O caso da morte do policial civil Rafael Moura da Silva por um sargento da ROTA, em ação na zona sul da capital, ganha contornos cada vez mais inquietantes diante da análise de imagens inéditas. Em contraste direto com o discurso corporativo e as alegações de defesa, os registros das câmeras corporais e gravações jornalísticas demonstram o oposto do que se narrava: não há, em nenhum fotograma público, qualquer gesto ameaçador por parte da vítima — nem sequer em baixa resolução ou ângulos duvidosos, como atestam técnicos e analistas independentes.

A estranha chave  e a intencionalidade da incursão

Um detalhe peculiar e pouco explicado acrescenta uma camada de mistério ao episódio: o sargento estava de posse da chave de um robusto portão de aço — acesso exclusivo aos corredores internos da comunidade. A cena captada revela o sargento destrancando o portão, antecedida da ordem direta ao companheiro: “vem comigo” . Tal fato sugere não apenas conhecimento prévio do terreno, mas planejamento de incursão, acesso privilegiado e ação intencional, e levanta dúvidas fundadas sobre a natureza e a comunicação daquela operação. Como e por que um policial militar possui tal chave de acesso restrito, em área sabidamente sensível, permanece uma indagação que merece investigação  séria, podendo até ensejar suspeitas de irregularidades nas relações locais.

Metodologia e Protocolo em Xeque: Revogação Tácita do Método Giraldi?

Outro ponto que salta aos olhos de quem confronta imagem e discurso oficial é a total ausência de observância do Método Giraldi (Tiro Defensivo na Preservação da Vida) — doutrina há anos celebrada como modelo para o uso escalonado e racional da força policial em São Paulo.
Enquanto o manual preconiza análise do contexto, identificação, verbalização clara e priorização absoluta da vida antes do disparo , o porta-voz da PM, coronel Massera, parece relativizar ou omitir tais protocolos em entrevistas públicas. Ao classificar o episódio como “tragédia, não crime” e sugerindo que, “diante do risco, não teria tempo para verbalizar”, sua fala soa como — no limite — uma revogação informal do Método do Coronel Giraldi ou, no mínimo, a impressão de que o porta-voz do comando pode não ter assistido integralmente às imagens liberadas à sociedade. Afinal, esses – além da suspeita chave do portão  –  mostram clara ausência dos procedimentos mínimos de abordagem esperados pela doutrina oficial, reforçando um abismo entre teoria e prática policial.

A Realidade das Imagens Confronta a Retórica da Defesa e o Corporativismo

A estratégia de defesa, ancorada em supostos vultos ameaçadores e na defesa legítima putativa, não encontra respaldo visual: a cada quadro, a cada segundo das gravações, se evidencia apenas a surpresa absoluta de Rafael Moura, seguida pelos disparos precipitados e sem qualquer verbalização por parte do sargento .
A posição institucional, por sua vez, tenta suavizar e despersonalizar a responsabilidade — ignorando, propositalmente ou não, um conjunto de evidências que desmontam a narrativa do erro honesto sob pressão.

Conclusão — A cena é cristalina, a dúvida é institucional

Mais que um caso de letalidade policial, os fatos revelam as fissuras e blindagens do corporativismo policial brasileiro: uma versão defensiva que não resiste ao vídeo, uma doutrina que parece ter sido “revogada” discretamente diante do constrangimento dos fatos, e uma estranheza operacional não explicada (as chaves do portão), que precisa ser investigada a fundo.

A sociedade aguarda: prevalecerá a verdade nua das imagens — e as lições do próprio manual policial — ou o (ul ) traje de camuflar tragédias como meros “acidentes”?

Rcguerra [Jornal Flit Paralisante] – Para republicação, citar a fonte.

Um Comentário

  1. ARTIGO DE OPINIÃO

    Por que o Palácio dos Bandeirantes também puxou o gatilho

    Por Um Policial Paulista vivendo a gestão do Pior Secretário de Segurança Pública da História do Estado de São Paulo

    Na noite em que o policial civil Rafael Moura foi atingido por disparos fatais no Campo Limpo, zona sul de São Paulo, não foi apenas um sargento da ROTA que puxou o gatilho. Por trás daquele ato, estão as mãos invisíveis do Estado: um secretário de segurança pública que premia o protagonismo militarizado, às custas das ciências jurídicas e policiais; um governo estadual que transfere recursos, poder e prestígio a uma corporação que deixou de ser instituição de Estado para se tornar aparelho de governo. O disparo foi apenas o clímax de uma crise institucional forjada em anos de abandono da legalidade e de recompensa à invasão de competências.As imagens da câmera corporal do policial militar são reveladoras — e perturbadoras. O agente aparece correndo em via pública, estranhamente portando uma chave, com a qual abre um portão e ingressa em uma viela situada em uma região reputada sensível. Não há correria de criminosos, não há confronto em andamento, não há flagrante algum. O que há é um grupo de policiais militares, armados e aparentemente orientados, adentrando um espaço privado com autorização prévia — como sugere a posse da chave. Pergunta-se: por que um policial da ROTA estava com aquela chave? Quem a entregou? Sob qual justificativa legal? De que forma esse ingresso se encaixa na atividade de policiamento ostensivo?A resposta é clara, ainda que institucionalmente incômoda: os policiais militares estavam investigando. Em total desvio de função, realizavam atividade de inteligência ou diligência preliminar, conduta que, à luz do artigo 144 da Constituição Federal, é de competência exclusiva da Polícia Civil. O que se desenha ali não é uma ação de patrulhamento, mas sim uma interferência direta no trabalho investigativo da polícia judiciária, travestida de atuação de campo. O resultado foi a morte de quem, de fato, investigava: o policial civil Rafael Moura, alvejado por quem jamais deveria estar ali.É necessário deixar claro: o flagrante delito é o único fundamento jurídico que permite a qualquer agente público o ingresso em domicílio sem mandado judicial. Fora disso, qualquer atividade investigativa — mesmo sob a justificativa da urgência — deve ser precedida de autorização judicial ou realizada por agentes com competência para tanto. A presença do PM naquele local, com a chave em mãos, viola não apenas o pacto federativo das polícias, mas a própria legalidade democrática.O episódio expõe a face mais crua da militarização, atécnica e anticientífica, da segurança pública em São Paulo. Ao longo dos últimos anos, a Polícia Militar vem sendo instada a ultrapassar seus limites constitucionais, orientada por uma lógica de produção de números, busca por holofotes e consolidação de poder político. Não raro, agentes da PM são instigados a “produzir ocorrência” — não importa se mediante flagrante forjado, denúncia frágil ou abordagem arbitrária. O que conta são os supostos resultados: capturas, prisões, armas apreendidas, pontos de droga desmobilizados. Ainda que, para isso, seja necessário transgredir a Constituição, atropelar a Polícia Civil e, posteriormente, fomentar uma vasta quantia de absolvições em Tribunais Superiores, em função da precariedade técnica dos trabalhos realizados durante as ações e prisões.Esse modelo, estimulado por secretários que premiam “produtividade” ao invés de legalidade, é o verdadeiro culpado pela tragédia. Um modelo que promove diárias extraordinárias, reaproveita militares aposentados, abre escolas cívico-militares, para que inativos da reserva recebam mais do que professore,s e alimenta o serviço reservado como se fosse uma polícia paralela — quando deveria se restringir ao assessoramento interno.Enquanto isso, a Polícia Civil, que atua com método, critério técnico e rigor jurídico, segue sendo sufocada, institucionalmente ignorada e frequentemente hostilizada. Seus agentes não têm a mesma visibilidade, nem os mesmos recursos, mas são eles que alimentam o sistema penal com provas consistentes, inquéritos robustos e investigações que realmente conduzem à responsabilização criminal. O que se viu no Campo Limpo foi o assassinato simbólico — e literal — do profissional que representava a legalidade.A Constituição de 1988 é inequívoca: a segurança pública deve ser exercida com base na cooperação entre as polícias, cada qual dentro de sua atribuição. A sensação de segurança — ou sua ausência — não pode justificar o atropelo da lei. A Polícia Militar deve cumprir o seu papel de patrulhamento ostensivo, promovendo presença e dissuasão, mas jamais usurpar as funções da polícia judiciária.Se o atual governo do Estado deseja salvar o pouco que resta do equilíbrio institucional entre as forças de segurança, precisa começar desmilitarizando a gestão política da segurança pública. É preciso romper com a lógica do espetáculo e retornar à legalidade. Porque, do contrário, a próxima vítima pode ser qualquer um — até mesmo quem porta uma carteira funcional, um distintivo e cumpre o seu dever.O que matou Rafael Moura não foi o erro de um homem, foi a permissividade de um sistema que premia o desvio e marginaliza o rigor. E esse sistema tem nome: chama-se Atual Gestão do Poder Executivo do Estado de São Paulo.

    Curtir

  2. ARTIGO DE OPINIÃO

    “Enquanto uns escutam, outros invadem: o Brasil precisa mais de investigação do que de espetáculo”

    Por Um Policial Civil vivendo a gestão do Pior Secretário de Segurança Pública da História do Estado de São Paulo, em tempos de severos ruídos institucionais

    No início dos anos 2000, a HBO lançou “The Wire – A Escuta”, uma série que se tornaria, merecidamente, um marco da dramaturgia mundial. Criada por David Simon, ex-repórter policial do Baltimore Sun, a produção é reverenciada até hoje como uma das melhores séries de todos os tempos, principalmente nos Estados Unidos — e não por efeitos especiais, perseguições ou explosões. Mas por mostrar, com crueza e inteligência, a lenta, técnica e sacrificada arte da investigação criminal.A série acompanha a atuação de uma delegacia de homicídios em Baltimore, mergulhada em um cenário de pobreza, desigualdade, corrupção política e guerra às drogas. Seus protagonistas não são brucutus de farda, mas sim detetives civis, muitas vezes mal pagos, ignorados por superiores, mas comprometidos com aquilo que sustenta qualquer Estado Democrático de Direito: a prova técnica, o processo penal regular, a responsabilização com base em elementos objetivos, e não em manchetes.“The Wire” ganhou prestígio internacional porque retratou o real — as instituições disfuncionais, o sistema judicial corroído e a teimosia dos que ainda investigam com ética em meio ao caos. Em países como os Estados Unidos, Reino Unido e França, as polícias investigativas são reconhecidas, valorizadas e centrais para o funcionamento da justiça criminal. No Brasil, contudo, celebramos a truculência de “Tropa de Elite” e a vendeta institucionalizada. Aqui, a lente está voltada para o sangue, para a vingança rápida, para o “bandido bom é bandido morto” — uma estética que ignora a Constituição, o devido processo legal e, claro, os direitos da vítima de ter uma investigação de verdade.E, enquanto isso, a Polícia Militar do Estado de São Paulo parece cada vez mais convencida de que pode ser tudo — menos o que a Constituição manda que seja.No episódio que vitimou o policial civil Rafael Moura, no Campo Limpo, vimos o retrato de uma tragédia anunciada: uma patrulha ostensiva da ROTA adentrando uma viela com chave em mãos — sim, com chave em mãos! — investigando, entrando em local privado, buscando câmeras, flagrantes, informações. Tudo isso sem crime em andamento. Sem flagrante. Sem autorização. E, principalmente, sem competência constitucional.E é aqui que voltamos ao ponto mais indigesto desse debate: desde quando investigar é papel da Polícia Militar? Como justificar o uso da estrutura ostensiva para práticas investigativas paralelas? Onde foi parar a crítica histórica da própria PM à “demora” das delegacias para registrar ocorrências, se agora quer assumir, por conveniência política, a instrução dos próprios Termos Circunstanciados? Seria cômico, se não fosse institucionalmente criminoso.Há anos a Polícia Militar reclama que perde tempo nas delegacias, saindo do patrulhamento ostensivo das ruas para apresentar presos e registrar ocorrências. Mas, agora, o interesse é outro: acumular poder e projeção, surfando na onda de um secretário de segurança que endossa o desmonte da legalidade e promove o “ativismo fardado”, com PMs lavrando termos, divulgando vídeos, operando como se fossem policiais civis.Enquanto isso, os crimes patrimoniais explodem. Cidades de todos os portes são invadidas por “zumbis urbanos” — dependentes químicos com seus carrinhos de supermercado, furtando tudo que é possível revender por R$ 5,00 para o próximo “pino” ou “pedra”. O cidadão comum tem o celular levado a mão armada e sequer vê viatura. Mas a PM está ocupada demais tentando obter imagens de câmeras, entrevistar testemunhas, e, claro, produzir conteúdo para o Instagram, com like em troféu de apreensão e vídeo editado com trilha sonora.Pior ainda: as polícias civis enfrentam o colapso silencioso de uma epidemia de estelionatos virtuais. Golpes por WhatsApp, fraudes bancárias, falsidade documental e transferências via PIX estão dilacerando o tecido econômico e emocional da sociedade brasileira. São milhares de vítimas por dia. E onde está a PM?Ora, não está. A Polícia Militar segue incólume em relação à epidemia de estelionatos, motivando o Oficialato a buscar novas incursões em ocorrências de interesse, em razão das extremadas dificuldades que as polícias civis estão enfrentando para investigar um número praticamente infinito de crimes cibernéticos.A verdade é uma só: enquanto a Polícia Militar se dedica a buscar holofotes e invadir competências investigativas, quem investiga de verdade está sucateado, doente, desvalorizado e morto.Como Rafael Moura.A Polícia Civil de São Paulo, assim como as de todo o Brasil, agoniza diante da escassez de pessoal, da falta de recursos e do descaso institucional. E, em vez de apoio, o que recebe é sabotagem.Sabotagem institucional, política e simbólica. Porque investigar dá trabalho. Muito trabalho. E não rende curtida.É chegada a hora de um basta. De chamar a Polícia Militar de São Paulo ao dever.Não à farsa.Não à encenação.Não à usurpação.Que a PM cumpra, enfim, o seu papel constitucional de patrulhamento ostensivo e preventivo, com foco em coibir os roubos, os furtos e os crimes que mais impactam a vida do cidadão nas ruas.Que pare de perseguir a investigação como um troféu político. Que abandone o papel de protagonista das tragédias e assuma o lugar de guardiã da ordem pública — nos limites da lei.Porque quem quer ser tudo, acaba não sendo nada.E, pior: acaba matando o que há de mais valioso em uma democracia — a verdade, a técnica e a justiça.

    Curtir

Os comentários estão desativados.