
O Tribunal de Justiça de São Paulo, frequentemente alardeado como o maior do mundo, ostenta números que impressionam, mas não pelo que deveriam.
Certamente, se julga em escala industrial sem padrão e controle de qualidade.
O padrão é o “prato feito” , ou seja, aquele despacho ou sentença que serviria para qualquer outro caso , menos aquele em discussão.
Com efeito ou com defeito, enquanto magistrados acumulam supersalários e benefícios obscuros – pagos com pontualidade e generosidade –, servidores de carreira, hoje muito qualificados , em número muito superior e custo muito inferior , especialmente se considerarmos que são eles que impulsionam a máquina e, não raro, elaboram e publicam as sentenças em nome dos Juízes , enfrentam décadas de defasagem salarial, desvalorização e descaso.
Certamente, há quem tenha se sujeitado a fazer vez de Juiz de fato em troca de “home office” , não vamos condenar apesar de ser algo deletério .
Torcemos para que trabalhem melhor do que os Juízes, sem a síndrome de querer ser mais realista do que o rei.
O paradoxo é gritante: para os de cima, nunca falta dinheiro; para quem carrega o Judiciário nas costas, falta até o básico como auxílio saúde .
A saúde do Juiz valendo mais de dez vezes do que a saúde dos serventuários.
A explicação oficial para tamanha disparidade costuma ser a contenção de recursos e teto orçamentário , especialmente a velha falácia de que os recursos do Tribunal são consumidos pela Justiça gratuita, pela demanda criminal ou pelos Juizados Especiais.
Nada mais distante da realidade.
O Judiciário paulista é uma máquina de arrecadação, alimentada por taxas judiciais, emolumentos cartorários, custas processuais cada vez mais caras e juros de depósitos judiciais mantidos em fundo fechado sob a gestão do Banco do Brasil.
O cidadão paga caro para acessar o serviço – ou, muitas vezes, sequer consegue pagar.
Os fundos especiais, criados sob o pretexto de modernização ou investimento, movimentam bilhões todos os anos.
São alimentados desde uma simples autenticação de firma até registros imobiliários milionários, passando por multas, reparações e percentuais de bens penhorados e leiloados.
No entanto, a gestão desses recursos é envolta em névoa: não se sabe ao certo quanto se arrecada, como se investe, onde o dinheiro é aplicado, nem qual é a real remuneração paga pelo gestor que os administram.
Falta transparência, certamente, sobra privilégios como financiamentos particulares e cheque especial com menor custo, gratuidade dos cartões ( black ), conferências à beira mar ou na Europa , etc.
O resultado é um Judiciário que vem se comportando como um comércio de luxo, onde o acesso é caro, burocrático e desestimulante.
Um Judiciário que nem sequer , como era normal até o início dos anos 1990, prestigia seus funcionários nos concursos para a Magistratura.
Um deus nos acuda aceitar escreventes ou oficiais de justiça para compor a nobreza. Afinal , são egressos de cursos pouco competitivos e presumidamente mataram horas de trabalho para o estudo.
Tampouco , cursaram a trinca pitagórica das faculdades de Direito paulistanas.
O cliente – ah, pobre cidadão pobre – é visto como incômodo, alguém a ser mantido à distância por meio de taxas proibitivas, exigências desnecessárias ( as três últimas cópias integrais de IRPF ) e processos morosos.
O servidor, por sua vez, é tratado como despesa descartável, enquanto a elite da toga desfruta de um padrão de vida incompatível com a realidade do país e da própria atividade e condição de servidor público.
Agente político só na cabeça do famigerado desembargador Helly Lopes Meirelles, o coonestador de torturas e execuções sumárias do “Esquadrão da Morte” do outro famigerado : Delegado Fleury.
Ah, coonestava tortura e assassinatos , mas não recebia propina da polícia, diga-se à bem da verdade.
Era honesto!
Uma greve dos servidores do TJSP, deflagrada após anos de paciência e promessas vazias, é mais do que legítima: é um grito de alerta contra o corporativismo mafioso que sequestrou o orçamento do Judiciário e transformou a Justiça em privilégio de poucos.
Esperamos que seja uma greve para valer , tal como nos tempos em que as serventias ainda pertenciam à estrutura do Poder Executivo ou pior: empregados dos donos de tabelionatos e cartórios.
O povo paulista, que financia essa estrutura com impostos e custas, não sofrerá mais nem menos com as portas fechadas.
Sofre muito mais em razão dos salários minguados para quem trabalha de verdade.
Também é hora de exigir transparência total na gestão dos fundos, auditoria rigorosa dos gastos, revisão das tabelas de custas e, sobretudo, justiça salarial para quem sustenta o Judiciário.
Por fim , que sejam abertas vagas para , no mínimo , 2.000 novos magistrados , com preferência ou incentivos legais , para aqueles que pertencem aos quadros do Poder Judiciário.
Quem disser que não há pessoal talentoso , qualificado e vocacionado sequer para preencher os poucos cargos ofertados a conta-gotas É MENTIROSO!
Na verdade, o pequeno quadro de magistrados considerando o tamanho de São Paulo é proposital.
Um quadro de magistrados compatível com as necessidades da população acabaria com as falsas justificativas para os penduricalhos que há muito tempo fazem a fortuna de magistrados e membros do MP ( o satélite ).
E dinheiro não falta, já que um Juiz, na média, ganha por quatro e muitos deles trabalham por meio; sem nenhuma possibilidade de controle da jornada de trabalho ou do tempo dispensado virtualmente aos processos.
Justiça, afinal, não pode ser artigo de luxo.
Nem privilégio de casta.
Flit Paralisante
Dr. Guerra,
Há caso (e não posso dizer ou imaginar o percentual, se é exceção, algo mínimo ou considerável…), de nem corrigir aquilo que o assistente faz, e se pega algo que desagada, é pior do que pobre que tem um empregadinho que tá com salário atrasado. Fui a um prédio tempos atrás… Parecia uma indústria com “fiscal de fábrica/produção”, entende? Aqueles que fazem home-office sem remuneração de assistente é porque, no local em que trabalham (ao lado do/a manda-chuva), o/a “chefe maior” exige produção de assistente.
Se for ver, tem gente trabalhando mais de dez horas, além dos finais de semana. E não agrada…
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Eduardo , só sei que está cada vez mais difícil tolerar certas sentenças cada vez mais curtas e grosseiras .
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Pressão por produção. E parece que embargos não entram nos números de produção. Então, imagine a situação: a pressão por produção gera essas coisas que desagrada/sem qualidade. Vêm os embargos de declaração (não entram na produção)… Dependendo da extensão dos embargos e de quem interpõe, dá trabalho – e sabemos disso. Vira uma bola de neve… Enfim, uma hora a conta chega, porque o custo-benefício não fecha. As grandes empresas já fogem do Judiciário, mas o pobre não consegue.
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Longe de discordar de sua observação, muito pertinente aliás, mas normalmente juízes que atuam com diligência, leem o processo com acuidade, redigem sentenças que guardam pertinência com a causa apresentada, têm sofrido punição por baixa produtividade, parece até a Polícia Civil, que considera produção o volume de inquéritos relatados, não o número de crimes esclarecidos.
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Verdade, Clint! Não querem Juiz artesão.
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Verdade. Juiz que analisa processo e fica 150 dias com processo e faz trabalho decente, toma invertida. Tive caso que protocolei recurso 22:00 horas de sexta, e 10:00h da manhã de sábado com decisão “prato feito” no julgamento virtual… Alguém acredita que foi devidamente julgado?
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Piada pronta. O TJ tem 30700 escreventes e a PC 26000 policiais dos quais descontando os da SPTC os apadrinhados e os buzinas de avião, sobram uns 3000 escravões que não tem vale coxinha de R$80,00 como os do foro. É meu amigo, dá pra piorar. O CORREGEPOL está afogada com reclamações de procedimentos atrasados.
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Escrevente ganhando R$ 6 mil e juiz ganhando mais de R$ 150 mil (salário 20 vezes superior)
Acontece isso há décadas e acham normal – que justiça é essa ?
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