
No universo das finanças, há um mantra que ecoa em todas as apresentações de investimento: “rentabilidade passada não garante rentabilidade futura”.
É um aviso, quase um pedido de cautela, para que ninguém se iluda com gráficos ascendentes e promessas douradas.
Curioso como essa máxima se encaixa, como uma luva, nos corredores da Polícia Civil – e, por que não dizer, nas relações humanas em geral.
Na PM, idem!
Lembro-me de quando ingressei na carreira, ainda com o olhar brilhando de idealismo.
Havia algo de quase fraterno na convivência com alguns colegas.
Dividíamos o café amargo, as madrugadas insones e, principalmente, a sensação de estarmos do mesmo lado da trincheira.
As afinidades se formavam, não apenas por simpatia, mas por compartilharmos o peso das mesmas escolhas e dos mesmos riscos.
Mas o tempo, esse velho cínico, trata de nos mostrar que a extensão (duração ) não é sinônimo de lealdade.
Assim como um fundo de investimento pode despencar de um ano para o outro, relações antes sólidas podem se dissolver diante do primeiro vento contrário.
E, na Polícia Civil, os ventos são muitos – e nem sempre sopram a favor da ética.
As pessoas crescem e envelhecem, de regra, para pior!
O Eu se sobrepõe ao Nós.
O que são minhas relações?
Interesses pessoais, quase sempre.
Um cargo mais valioso, uma promoção, uma promessa sussurrada nos bastidores, um lugar melhor para a “nova esposa”…E assim vai!
Às vezes, é apenas o desejo de agradar quem está no topo da faixa.
Sim, há os bajuladores doentios!
Outras vezes, é uma tentativa de corrupção, que se insinua sorrateira, oferecendo atalhos e recompensas simples.
E, quando isso acontecer, o colega de ontem pode ser o delator de hoje, o amigo de copo pode se tornar o algoz de gabinete.
A corrupção, diferente do que muitos pensam, chega raramente como um vendaval.
Ela se infiltra como uma infiltração silenciosa, corroendo a poucos os alicerces da confiança.
Um favor aqui, uma omissão ali, e, quando se percebe, a lealdade virou mercadoria.
E, nesse mercado, quem paga mais leva.
No fim das contas, aprendi que, assim como nas finanças, o passado serve apenas como referência, nunca como garantia.
Porque, na Polícia Civil e na vida, o verdadeiro investimento é aquele feito na integridade.
E esse, sim, pode render bons frutos – ainda que, por vezes, solitários.
Ainda que por vezes – para aqueles que crêem – na vida eterna!
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