A Polícia Civil em Segundo Plano – Um Legado de Desequilíbrio na Segurança Pública 4

Ao longo das últimas décadas, a política de segurança pública em São Paulo foi marcada por uma escolha estratégica que privilegiou a Polícia Militar (PM) como principal pilar de sustentação do Estado, relegando a Polícia Civil (PC) a um papel secundário e subalterno.

Esse desequilíbrio, consolidado sob governos do PSDB (centro-direita)  não apenas fragilizou a capacidade investigativa do Estado, mas também contribuiu para a perpetuação de ciclos de violência e corrupção que hoje assolam a sociedade paulista.

E sob o atual governo, mais alinhado ao populismo de extrema-direita, esse cenário se agravou, com o recrudescimento da corrupção e da violência policial, evidenciando a falência de um modelo que prioriza o espetáculo da força em detrimento da eficiência e da justiça.

A Polícia Militar, com sua estrutura hierárquica rígida e foco no policiamento ostensivo, foi historicamente vista como o braço forte do Estado, capaz de garantir a ordem pública por meio da presença visível e da repressão imediata.

No entanto, essa ênfase no modelo militarizado de segurança acabou por marginalizar a Polícia Civil, responsável pelas investigações e pelo combate ao crime organizado.

Enquanto a PM recebia investimentos robustos em equipamentos, treinamento e efetivo, a PC era deixada à míngua, com recursos escassos, salários defasados e estruturas precárias.

Esse desequilíbrio não foi casual.

Governadores  mal assessorados ,  em sua busca por resultados rápidos e visíveis, optaram por priorizar o policiamento ostensivo, que oferece uma resposta imediata à sensação de insegurança da população.

No entanto, essa estratégia ignorou o fato de que a segurança pública eficaz depende não apenas da presença de agentes nas ruas, mas também de investigações sólidas, inteligência policial e combate às estruturas criminosas que operam nas sombras.

Ao relegar a Polícia Civil a um papel coadjuvante, esses governos criaram um vácuo que foi habilmente explorado por organizações criminosas, como o PCC, que encontraram na corrupção e na infiltração das instituições policiais um terreno fértil para expandir suas operações.

A retórica de “mão dura” e a exaltação da violência como solução para a criminalidade resultaram em um aumento alarmante da letalidade policial.

Em 2024, São Paulo registrou o maior número de mortes por intervenção policial da última década, com um aumento de 49% em relação ao ano anterior.

Operações como a “Verão”, na Baixada Santista, que resultaram em 56 mortes em três meses, foram marcadas por denúncias de execuções sumárias e abusos de poder.

Essa política de confronto, longe de resolver o problema da violência, apenas alimenta um ciclo de brutalidade e impunidade.

Além disso, o atual governo falha  em combater a corrupção  institucionalizada dentro da Segurança Pública.  

Os recentes escândalos envolvendo delegados e investigadores da Polícia Civil, acusados de lavagem de dinheiro e vazamento de informações para o PCC, são um reflexo da falta de transparência e de controle interno.

A delação de Vinicius Gritzbach, que expôs uma rede de corrupção envolvendo policiais civis e o PCC, revelou a profundidade da crise institucional.

Em vez de adotar medidas efetivas para fortalecer a Polícia Civil e combater a corrupção, o governo optou por uma abordagem superficial, focada em discursos de ordem e repressão, que ignora as raízes estruturais do problema.

É urgente repensar esse modelo.

A segurança pública não pode ser reduzida a uma questão de força bruta; ela exige planejamento, inteligência e investimento em instituições capazes de combater o crime de forma eficaz e duradoura.

A Polícia Civil precisa ser valorizada, com melhores salários, condições de trabalho dignas e autonomia para atuar de forma independente e eficiente.

Ao mesmo tempo, é essencial fortalecer os mecanismos de controle interno e externo, para coibir a corrupção e garantir que os agentes públicos cumpram seu dever com integridade.

O Governos precisa reconhecer que a segurança pública é um direito fundamental e que sua gestão não pode ser pautada por escolhas políticas de curto prazo ou por discursos populistas.

A Polícia Militar tem seu papel, mas não pode ser o único pilar de sustentação do Estado.

Muito menos ser um órgão que vive muito mais em função de ser destacada como um tipo de funcionário público diferenciado ; merecedores de privilégios e indulgencias governamentais.

É hora de corrigir o desequilíbrio histórico e dar à Polícia Civil o lugar que ela merece na construção de uma sociedade mais segura e justa.

A segurança pública não se faz apenas com armas e fardas; ela se faz com inteligência, investigação e respeito aos direitos humanos.

O atual governo, no entanto, parece mais interessado em alimentar a cultura do confronto do que em promover reformas estruturais que garantam a eficiência e a integridade das instituições policiais.

Enquanto isso, a população paga o preço, com mais violência, mais corrupção e menos confiança no Estado.

Um Comentário

  1. Avatar de Verdadeiro diagnóstico de uma instituição em estado terminal submetida a tratamento paliativo. Verdadeiro diagnóstico de uma instituição em estado terminal submetida a tratamento paliativo. disse:

    Infelizmente, a Polícia Civil tem a obrigação de fazer meia culpa por esse estado deplorável em que se encontra.

    Fomos e somos, ao longo de décadas, dirigidos por verdadeiros vendilhões do templo, alguns dos quais, até hoje, esquentam cadeiras em coletorias pulverizadas na estrutura organizacional dessa desintegrada instituição.

    E vamos ladeira abaixo com xixo, bolsonaro, seus superiores, etc…

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  2. TARCÍSIO É SÓ MAIS UM GOVERNADOR QUE TÁ SE LIXANDO PARA A POLICIA CIVIL, MUITO MAIS AINDA PARA SEUS APOSENTADOS E AFASTADOS.

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  3. Não há motivo pra desânimo porque a PC tem o TC da 9.099/95. Aliás, a firma foi transformada em mão de obra terceirizada do MP. O que importa é meia dúzia de cadeiras para uma classe privilegiada. O resto são só detalhes.

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