Manifestações ganham força com adesão de entidades empresariais
Especialistas afirmam que setor de transporte de carga está praticando locaute
É preciso esperar a reação dos caminhoneiros nesta sexta-feira (25) para medir o nível de adesão ao acordo. A Abcam (Associação Brasileira dos Caminhoneiros), que vinha liderando a paralisação, deixou a mesa de negociação e não assinou o acordo. O governo vai monitorar em particular se a desmobilização será tão ágil quanto foi a organização.
A rapidez com que a paralisação se alastrou pelo país desperta suspeitas de que as transportadoras, que também sofrem com a alta do preço do diesel, participam da mobilização, o que é proibido por lei.
Seria o chamado locaute, espécie de greve coordenada por empresários. A legislação brasileira só garante o direito à greve aos trabalhadores.
Em entrevista a Folha, na noite desta quinta, o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, disse que informações da área de inteligência do governo identificaram indícios de participação do setor empresarial que, se comprovada, vai exigir ação da Polícia Federal.
O setor de transporte de carga –que responde pela movimentação de 60% de tudo que o país produz e consome– é hoje muito mais profissionalizado. Da frota regularizada de 1,76 milhão de veículos de carga que circulam no país, o caminhoneiro autônomo responde por pouco mais de um terço –37% do total, conforme dados da ANTT (Agência Nacional de Transporte Terrestre). Transportadoras privadas e cooperativas respondem por 62% do setor.
A maioria das transportadoras são pequenas e médias empresas. Possuem cerca de sete caminhões. Mas existem também grandes companhias no setor, com mais de 1.500 veículos. As transportadoras trabalham não apenas com motoristas próprios mas também contratando caminhoneiros autônomos.
Procuradas pela Folha, transportadoras privadas contaram que pararam de enviar os veículos para a estrada. Mas negam que tenham aderido à mobilização. Dizem que se preocupam com a segurança.
“Há transportadoras com centenas de caminhões parados nos piquetes nas estradas, colocando em risco os motoristas e as cargas. Foi por isso que deixamos de enviar veículos a partir de terça-feira (22), mas tudo que queremos é a situação se normalize”, disse à Folha José Hélio Fernandes, presidente da NTC & Logística.
A NTC & Logística é a maior associação nacional de transportadoras de carga do país, reunindo 3.500 grandes empresas associadas diretamente e cerca de 50 entidades patronais do setor. No total, representa cerca de 10,5 mil transportadoras.
Apesar de provocar a paralisação generalizada da produção e do abastecimento, o movimento passou a angariar apoio de entidades empresariais, dentro e fora do setor de logística.
Entre os que se manifestaram está a Abad (Associação Brasileira de Atacadistas e Distribuidores), que representa as empresas que comercializam produtos alimentícios industrializados, bebidas, higiene pessoal, produtos farmacêuticos e perfumaria, entre outros. “Com certeza [apoio a greve dos caminhoneiros]. Sofremos no dia a dia com essa situação de falta de previsibilidade”, afirmou Emerson Luiz Destro, presidente da entidade.
De acordo com ele, todos, sem exceção, perdem com a paralisação, mas o confronto se faz necessário quando o diálogo não resolve o problema.
“Se essa medida se faz necessária para que governo se sensibilize com a necessidade de rever sua política de preço e forma que gere os aumentos, não tem outro jeito, então assim seja”, afirmou.
Na tarde desta quinta-feira, a Aprosoja de Mato Grosso, que representa produtores rurais, um dos segmentos mais punidos pelos custos do transporte de carga, divulgou carta aberta em apoio aos caminhoneiros.
O texto assinado por Antonio Galvan, presidente da entidade, conclama a sociedade, em especial os produtores rurais, a levar suas máquinas para os locais de bloqueio.
Associações comerciais de Mato Grosso também começaram a apoiar os manifestantes. No início da noite desta quinta, foi divulgado que 17 municípios iriam interromper atividades do comércio e serviço em sinal de apoio aos caminhoneiros.
Advogados ouvidos pela Folha, avaliam que seria necessário uma investigação mais detalhada para identificar se a mobilização a esta altura seria de trabalhadores ou de empresários. Mas há especialistas cravando que a paralisação já não poderia ser chamada greve.
