“Um constitucionalista chega ao STF e se preconiza delegado”, diz Gilmar Mendes 8

FRAQUEZA INSTITUCIONAL

“Um constitucionalista chega ao STF e se preconiza delegado”, diz Gilmar Mendes

Por Pedro Canário

“Nações falham porque instituições fraquejam”, disse na noite da segunda-feira (19/2) o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal. “Precisamos assumir mais as nossas responsabilidades institucionais. Temos ficado silentes diante de muitos absurdos. Alguma coisa deu errado, e precisamos discutir”, completou o ministro, durante jantar em São Paulo. “Um constitucionalista chega ao Supremo e se preconiza delegado de polícia. Isso é uma vergonha!”

“Nações falham porque instituições fraquejam”, afirmou Gilmar Mendes em jantar com criminalistas.
Carlos Moura/SCO/STF

Gilmar falou durante jantar oferecido por juristas e advogados em homenagem ao ministro, como uma espécie de desagravo. Ele tem sido constantemente criticado especialmente por suas posições em defesa do Habeas Corpus e de garantias individuais de réus em relação à acusação. São posições que os criminalistas veem como coragem e independência do ministro, e o jantar foi organizado para celebrar essas qualidades.

“Vou copiar o meu querido irmão, paradigma, José Roberto Batochio para dizer que temos no ministro Gilmar Mendes uma garantia de defesa do Estado Democrático de Direito”, disse o presidente do Instituto dos Advogados do Brasil, Técio Lins e Silva, olhando para Batochio, sentado à mesma mesa que Gilmar, onde também estavam o professor Mário Cesar Duarte Garcia, decano da advocacia paulista, o criminalista Fábio Tofic Simantob, presidente do Instituto de Defesa do Direito de Defesa (IDDD), o professor João Grandino Rodas, ex-reitor da USP, o advogado Sérgio Renault, presidente do Innovare, o advogado José Luís de Oliveira Lima, e o conselheiro federal da OAB Arnoldo Wald Filho.

Técio, que neste ano completa 50 anos de formado e 53 de advocacia, disse lamentar o momento por que passa o Brasil. “Vemos juízes invocando a vontade popular para decidir. São princípios extraídos do código penal nazista e da Rússia soviética, do stalinismo”, declarou o criminalista.

O discurso de Gilmar, dirigido aos mais de 80 criminalistas presentes, foi no mesmo tom, embora com doses de conclamação. “Perdemos a capacidade de dizer que o rei está nu”, declarou. “Temos que nos perguntar o que podemos fazer para que instituições sejam mais fortes”, continuou. “Tempos estranhos. Um dia vamos olhar para esse período com muita vergonha.”

Gilmar Mendes lembrou de 1977, quando, ainda estudante de Direito na Universidade de Brasília, decidiu ir a Florianópolis acompanhar a Conferência Nacional da Advocacia. O tema era um projeto de constituinte a ser entregue ao governo militar para encerrar a ditadura.

“Vocês vão entender o que quero dizer: o presidente da OAB era Raymundo Faoro”, contou, arrancando aplausos da plateia e ensaios de “vai, Toron”, conclamando o criminalista a concorrer ao Conselho Federal da OAB. Ele citou sua decisão de proibir as conduções coercitivas, cautelar imposta um ano depois de o pedido ter sido feito pelo PT e pela OAB, quando o partido pediu uma antecipação de tutela.

Passado um ano desde o ajuizamento da ação, Gilmar considerou o pedido razoável e o concedeu. “Entendo que o PT esteja passando por todo tipo de constrangimento e tenha dificuldade de articular sua voz. Mas, até hoje, nenhuma palavra da OAB.” Mais aplausos.

Gilmar continuou lembrando da Conferência da OAB de 77. Oscar Corrêia, que depois seria nomeado ministro do STF e constituinte, falou sobre a defesa do Estado de Defesa e foi vaiado. “Faoro imediatamente censurou a vaia, e é isso que falta hoje”, resumiu Gilmar Mendes.

O ministro também lembrou que naquele tempo os estudantes reverenciavam não o Supremo, mas o Superior Tribunal Militar. O tribunal era tido como independente, capaz de dar decisões liberais e impor alguns freios aos excessos da ditadura. “Hoje temos ministros do Supremo que pregam a restrição ao Habeas Corpus. Vejam só: Ernesto Geisel, um general, era tido como liberal, porque era independente. Melhoramos em muitas coisas, mas em algumas áreas, pioramos.”

*Texto editado para correção de informação. Em 1977, Oscar Corrêia foi à Conferência Nacional da Advocacia falar sobre o Estado de Defesa, o equivalente ao atual Estado de Sítio, e não sobre Estado de Direito.

Um Comentário

  1. Verdade seja dita, Gilmar Mendes é um dos únicos ministros do STF que tem coragem de bater de frente com o Ministério Público e imprensa!

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  2. Esta na hora de mudar a composição dos tribunais ou acaba com o quinto ou aumentas outras carreiras juridicas, tambem e necessário aumentar o numeros de ministros no stf.

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  3. Algumas ideias:
    – Fim de cargos Vitalicios para magistrados e membros do MP.
    – Aprovação dá lei de Abuso de Autoridade.
    – Criminalizar a conduta de recebimento de valores acima do teto constitucional (penduricalhos, auxílios, etc), respondendo inclusive por improbidade administrativa.
    -Limite , por lei, do tempo dá prisão preventiva ( que é a forma de tortura atual.). Antes jogavam a pessoa no porão ou cela “as eternum”. Hoje decreta-se a prisão preventiva.
    – Possibilidade de demissão e cassação de aposentadoria a magistrados e membros do MP condenados e sentença transitada em julgado. (Hoje a pena máxima é a APOSENTADORIA COMPULSÓRIA).

    Acredito que já abaixaria um pouco o ego desses cidadãos que acreditam ser deuses, mas são apenas servidores públicos!!

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  4. Mais.ministros kkkkkkkk pra qUE povo corrupto não fazem nada veros teatro logos oriundos de uma platéia corruntada e analfabeta!

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  5. ZÉ, poderíamos, é claro se o senhor permitir, gostando e aprovando todos os quesitos pelo senhor elencados, constar mais um ?
    TODAS AS ACUSAÇÕES DO MP FOREM PROVADAS PERSEGUIÇÕES E CAUSANDO ESSAS ACUSAÇÕES DANOS A PESSOA ACUSADA, AS AÇÕES SERIA CONTRA A PESSOA ACUSADORA QUE USOU DE MÁ FÉ !

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  6. Perfeito colega “Carlos”, podemos sugerir muitas mais ainda. É um rol exemplificativo!
    Do jeito que está, esses servidores possuem superpoderes que os tornam inatingíveis pelas leis. Criamos servidores acima do bem e do mal. Quem for contra suas palavras e decisões estara indo contra a própria sociedade. Isto é uma falácia!!!! São seres humanos com vícios e imperfeições iguais aos demais. O fato de um cidadão passar num concurso de Magistrado ou membro do MP não o torna virtuoso, incorruptível, etc. O caráter ele já traz consigo antes dá prova e o carrega até sua morte. Por isso vemos magistrados vendendo decisões, vendendo liberdade em HCs. Vemos promotores chantageando denunciar ou não grandes empresas poluentes, negociando denunciar ou não grandes traficantes, tudo dependendo do valor do “cachê” $$$$ oferecido ao magistrado ou Promotor.

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