Sentença meramente simbólica – Justiça de primeira instância determina que governo Alckmin reponha policiais civis 71

Justiça obriga governo Alckmin a repor policiais civis, mesmo após fim de resolução

Venceslau Borlina Filho

Do UOL, em São Paulo

31/07/201704h00

  • Foto: ABr

    O governador Geraldo Alckmin (PSDB), responsável pela segurança no Estado de SP

    O governador Geraldo Alckmin (PSDB), responsável pela segurança no Estado de SP

Uma determinação que a SSP-SP (Secretaria de Segurança Pública de São Paulo) criou em 2013 e que ela mesmo revogou no ano passado tem causado uma série de questionamentos e brigas judiciais entre o governo do Estado e os municípios. Há quatro anos, a gestão estabeleceu um número ideal de policiais para cada delegacia, mas sem conseguir cumprir a demanda, voltou atrás em abril de 2016. Agora, decisões na Justiça têm obrigado o governo Geraldo Alckmin (PSDB) a cobrir o deficit de delegados, investigadores, escrivães e agentes nas delegacias paulistas.

A primeira decisão de mérito nas ações ajuizadas pelo Ministério Público por todo o Estado saiu em maio. No entendimento da juíza Juliana Maria Finatti, a segurança é um direito constitucional do cidadão e obrigação do Estado. Coube a ela determinar que o governo estadual adotasse medidas cabíveis para garantir à Delegacia de Polícia de Águas de Lindóia, município de 18,4 mil habitantes na região de Campinas, o mínimo de 22 policiais.

“Certo é que a resolução foi revogada. No entanto, a obrigação do Estado não advém apenas de um ato normativo, mas da Constituição Federal, que instituiu a segurança pública como um direito fundamental do cidadão”, afirmou a juíza na sentença.

No despacho, Juliana rebateu os argumentos do Estado, que tinha afirmado que o pedido de reforço de policiais feito pelo Ministério Público feria o princípio constitucional da divisão dos poderes.

Danilo Verpa/Folhapress

O secretário de Estado da Segurança Pública, Mágino Alves Barbosa Filho

Para o Estado, a demanda é ilegal, pois interfere no poder discricionário do Executivo, além de atingir os princípios da igualdade e equidade, não sendo possível planejar nomeações, afastamentos e aposentadorias.

“Nem se diga que haja ingerência indevida do Judiciário em assunto exclusivo do Poder Executivo, pois isso não se dá neste caso, onde se determina a implementação de políticas públicas para assegurar direitos fundamentais do cidadão, como a segurança”, afirmou a juíza.

Pela decisão, o governo do Estado tem de reservar para Águas de Lindóia, nas próximas nomeações, um delegado, sete investigadores, cinco escrivães, quatro agentes, um auxiliar e três carcereiros, sob pena de multa diária de R$ 1.000. O Estado pode recorrer da decisão.

Atualmente, a unidade conta apenas com cinco policiais, sendo um delegado, um investigador, dois escrivães e um agente. Nos últimos seis meses, os furtos na cidade cresceram 60,7% –para 90 casos– em relação ao mesmo período do ano passado.

“A investigação está parada. Nós temos quase 200 inquéritos aqui em andamento. Não tem como fazer um trabalho de qualidade”, disse o delegado Oswaldo Faria Júnior, que observou que os principais desafios no município são combater os furtos e o tráfico de drogas.

Faria Júnior afirmou que nas atuais condições, busca priorizar o registro de ocorrências e o atendimento ao público. “Aqui eu só tenho um investigador. Não dá para ele ir sozinho para a rua. Por isso a gente só faz uma apuração inicial e pede ajuda da Seccional para mandados de busca, por exemplo.”

De acordo com o delegado, o último servidor estadual chegou na delegacia em 2012. De lá para cá, não houve nenhuma notícia de reposição. A delegacia conta ainda com dois servidores cedidos pela prefeitura para auxiliar nos trabalhos administrativos.

Cidades maiores

No final de junho, o juiz Wander Pereira Rossette Júnior, da Vara da Fazenda Pública de Piracicaba, no interior paulista, determinou que o governo do Estado providencie, em um prazo máximo de seis meses, a nomeação e lotação de 110 policiais para as delegacias da cidade e de outros dois municípios da região, além do IC (Instituto de Criminalística) e a da Polícia Científica.

A decisão liminar foi obtida pelo Ministério Público, que investigou o deficit de servidores. Piracicaba tem quase 400 mil habitantes, de acordo com estimativas do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

“Os transtornos sofridos pela população se dão basicamente pelo descaso das autoridades responsáveis pelo funcionamento da segurança pública no Estado, bem como pela gestão equivocada e nefasta desenvolvida pelo governo estadual, gerando a debilidade do serviço essencial”, afirmou o juiz na decisão liminar.

Responsável pela ação, o promotor do Patrimônio Público e Social de Piracicaba, João Carlos de Azevedo Camargo, afirmou que a revogação da resolução pelo próprio Estado “demonstra o desinteresse em solucionar, de forma definitiva, o problema crônico de falta de policiais civis.”

Outros casos

Leme, no interior do Estado, foi um dos primeiros municípios a registrar decisão da Justiça obrigando o governo a repor os policiais em falta. A liminar foi dada em abril do ano passado. O governo recorreu, mas a Justiça manteve a decisão. Segundo a Promotoria, a cidade tinha 31 policiais, quando o necessário seria ao menos 49 funcionários.

Também no ano passado, a Justiça concedeu liminar na ação ajuizada pelo Ministério Público em Jales, determinando que o Estado apresentasse em 60 dias um cronograma de providências para garantir à Polícia Civil da cidade e da região o número mínimo de policiais. O Estado recorreu e a liminar foi suspensa. Agora, a decisão de mérito está pronta para ser dada.

Fernando Nascimento/Brazil Photo Press/Folhapress

Ex-secretário de Segurança de SP, o ministro do STF Alexandre de Moraes revogou a resolução em 2016

Segundo a Promotoria, faltam ao menos 32 delegados na comarca, sendo que oito deles estão às vésperas de se aposentarem. Além disso, cinco dos sete municípios da comarca não contam com delegado titular. Para o Ministério Público, “a deficiência da investigação criminal implica em impunidade, que, por conseguinte, estimula a criminalidade”.

Também foram ajuizadas ações em São José do Rio Preto, Dracena, Ilha Solteira, Itapura, Lindóia e Jacareí. Em nenhum dos casos há informações de que o efetivo recebeu reforço ou que foi cumprida integralmente a decisão.

Deficit

Segundo levantamento do Sindpesp (Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo), o Estado de São Paulo tem um deficit de 560 delegados e cerca de 10 mil policiais civis, entre investigadores, escrivães, agentes e carcereiros. Ainda de acordo com o sindicato, 256 dos 645 municípios paulistas não têm delegado de polícia.

“A conta nunca fecha. O Estado não acompanhou o crescimento da população desde os anos 1990. Pelo contrário, houve enxugamento. E das nomeações feitas a partir do último concurso público, em 2013, não preencheu sequer os cargos vagos em razão de aposentadorias ou exonerações”, disse a presidente do sindicato, a delegada de polícia Raquel Kobashi Gallinati.

Segundo ela, o trabalho da Polícia Civil no Estado é “limitado”. Além da falta de profissionais, a estrutura é precária e há cinco anos o governo não paga a reposição inflacionária. “O governo paulista não trata bem o policial civil. Apesar de ser o Estado mais rico do país, é o que pior remunera o policial”, afirmou Raquel.

Joel Silva/Folhapress

A delegada Raquel Kobashi Gallinati, presidente do Sindpesp

De acordo com a sindicalista, a demanda por policiais no Estado é “absoluta”. “O governo eleito não pode ficar dando justificativas para o descumprimento de suas obrigações. Alegar que não tem orçamento não coaduna com a realidade”, afirmou ela. “O Estado não é uma empresa para se vangloriar de ter superávit. Esse dinheiro precisa ser investido para a sociedade”, disse Raquel.

Outro lado

Em nota, a assessoria da Secretaria de Estado da Segurança Pública informou que a pasta “realiza estudos em conjunto com a área técnica do governo para viabilizar a abertura de novos concursos para reforçar a Polícia Civil.”

No entanto, ressaltou que “o Estado deve obedecer aos limites impostos pela Lei de Responsabilidade Fiscal e, para toda contratação, deve ser observado o seu impacto orçamentário”.

A assessoria da secretaria informou ainda que contratou 4.219 agentes desde 2011 e que 742 novos profissionais estão em formação e serão distribuídos para todo o Estado após a conclusão do curso na academia de polícia.

Atenção! Polícia Civil na falência! É hora de reverter este quadro! 325

27/07/2017

comunicado

O vazamento do memorando do Dr. Waldir Antonio Covino Junior, Delegado Geral Adjunto em exercício, expôs à sociedade uma das feridas mais profundas da Segurança Pública do estado: a situação calamitosa vivenciada hoje pela Polícia Civil. A mídia não tardou em apurar e constatar que a Instituição vive um de seus momentos mais delicados, beirando a falência completa e o esfacelamento do trabalho investigativo da Polícia Judiciária.

Esse é um cenário denunciado pela ADPESP há anos. A entidade, por sua vez, tem tentado de todas as formas alcançar uma solução cada vez mais distante, principalmente por carecer de um olhar mais atencioso do Poder Público. Esse é um trabalho que é exercido através da participação ativa dos policiais civis, verdadeiras vítimas de um cotidiano insalubre e incompatível com o fardo de suas responsabilidades.

Sendo assim, é imprescindível que a situação da Polícia Civil esteja exposta ao cidadão comum. Colabore e junte-se a nós, enviando fotos, vídeos e relatos que revelem as circunstâncias deletérias dos departamentos, viaturas, jornadas exaustivas e deficitárias, falta de profissionais, etc. São registros que podem ser feitos rapidamente pelo celular, por exemplo.

O material pode ser enviado para o e-mail imprensa@adpesp.com.br, ou, através do WhatsApp, no número (11) 95126-2000.

Polícia Civil passa por situação crítica na Baixada Santista 23

E-mail enviado pelo delegado-geral adjunto do Estado às diretorias regionais mostra que não há dinheiro nem para despesas básicas

MAURÍCIO MARTINS – A TRIBUNA DE SANTOS 
27/07/2017 – 15:10 – Atualizado em 27/07/2017 – 15:10

O fechamento do 3º Distrito Policial (DP) de Santos, na Ponta da Praia, das 20 às 8 horas e nos fins de semana e feriados, noticiado por A Tribuna em maio, é só um detalhe da falta de investimento na Polícia Civil na região e no Estado. A evidente crise pela qual passa a corporação foi detalhada em e-mail enviado esta semana pelo delegado-geral adjunto do Estado, Waldir Antonio Covino Junior, para todos os departamentos regionais.

De caráter “urgente”, a mensagem, que A Tribuna teve acesso, pede que todos encaminhem um plano de contingência para a “caótica situação orçamentária enfrentada pela Polícia Civil”. Segundo ele, a situação “faz com que se avizinhe quadro de absoluta indisponibilidade financeira, até mesmo para amparar despesas essenciais à manutenção das unidades existentes”.

Covino Junior manda os delegados informarem quais delegacias terão atendimento suspenso por falta de combustíveis para abastecer viaturas e ausência de serviços de limpeza e manutenção, por exemplo.

O presidente do Sindicato dos Policiais Civis em Santos e região (Sinpolsan), Márcio Pino, lembra que a categoria já vinha alertando o Governo Estadual há, pelo menos, três anos sobre a piora da situação.

“Mas segurança pública não é tratada por esse governo como prioridade ou investimento, aí dá nisso. Delegacias sendo fechadas, falta de material, além do excesso da jornada de trabalho que reflete diretamente no atendimento à população e no esclarecimento de crimes”.

Pino explica que contratos de limpeza não foram renovados e os próprios policiais se dividem para manter as delegacias limpas e arrumadas. “Além do baixo salário e da falta de policiais para exercer as atividades, eles ainda precisam recolher lixo nas delegacias. O secretário (da Segurança Pública, Mágino Alves Barbosa Filho), precisa sair do gabinete dele e visitar os locais”.

A Reportagem conversou com um experiente investigador de Santos, que não terá o nome divulgado. Segundo ele, não há contingente suficiente para trabalhar de maneira razoável. “Não temos condições de atender a população. O governo cria delegacias especializadas e tira gente das outras, não aumenta o efetivo, fica só encobrindo as coisas. Aí fecha delegacia à noite e uma pessoa roubada na Zona Noroeste de madrugada precisa ir até o Centro registrar a ocorrência”.

Para o investigador, é injusto abrir concurso para policiais militares e não fazer o mesmo com a Polícia Civil. “Precisa ter um meio-termo. Está um caos, antigamente tínhamos viaturas do GOE (Grupo de Operações Especiais) rodando a noite toda. Hoje, quando precisamos de apoio, temos que acionar a PM”.

Falta de combustível para as viaturas está entre os problemas enfrentados (Foto: Luigi Bongiovanni/AT)

Desmonte

A presidente do Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo (SindPesp), Raquel Kobashi Gallinati, ressalta que a Polícia Civil está em processo de sucatamento há mais de 20 anos e que durante esse período sempre trabalhou com limitações. “Temos um deficit de quase 10 mil policiais civis (no Estado) e um péssimo salário – o delegado de São Paulo é o que pior recebe na Federação e está sem reajuste há 5 anos. A polícia está envelhecida, há morosidade na abertura de concursos, o último foi em 2013, e muitos aprovados ainda nem foram chamados”, explica ela.

Raquel critica ainda a infraestrutura. “Não existe estrutura adequada para o trabalho de polícia judiciária, investigativa, que é a única que poderia desmantelar organizações criminosas, crimes organizados. Somente através de uma investigação robusta podemos dar uma resposta à sociedade”.

Para ela, quando nem o básico se tem para o trabalho, o Governo Estadual impõe uma situação de impedimento de polícia judiciária. “Isso é um absurdo, o governo não pode colocar uma instituição de Estado à mercê de suas atrapalhadas e equivocadas políticas. Absoluta incompetência na gestão de recursos”.

A presidente do sindicato critica, ainda, o crédito suplementar de R$ 4,1 milhões anunciado pela SSP, dizendo que o valor é irrisório para o que realmente é necessário. “Até o final deste ano há necessidade de, no mínimo, R$ 38 milhões”.

Seriam R$ 29 milhões para contratos de manutenção, limpeza, água, luz, emissão de RG e combustível. E mais R$ 5 milhões para material de consumo. “Além dos R$ 4,1 milhões que o secretário disse ter pedido, mas que ainda não chegaram, e que não são suficientes nem para as pendências urgentes”.

Raquel ainda diz que não basta entregar viaturas. “Para propagandas políticas, priorizam a compra de viaturas caracterizadas. Não servem para investigações, faltam carros descaracterizados. O armamento é o pior possível e as condições de muitos prédios são insalubres”.

OPINIÃO: ‘As duas filhas’
Por Eduardo Velozo Fuccia (repórter criminal e advogado)

O homem tem duas filhas: uma em colégio particular, a outra na escola pública. O nome do pai é Governo do Estado. A primeira filha chama-se Polícia Militar. A outra, Polícia Civil.

A comparação pode parecer exagerada, mas na unidade mais rica da federação, a discrepância de tratamento dispensado pelo Executivo estadual às polícias Civil e Militar é flagrante.

Em comparação com a Civil, a PM ainda recebe alguns recursos materiais e humanos para a reposição e ampliação de seus quadros, o que demonstra pretensa preocupação do Estado para com a segurança pública. Preocupação pretensa porque o mesmo não se verifica em relação à Polícia Civil, cada vez mais sucateada com a diminuição acentuada de seu efetivo ao longo de mais de duas décadas.

Isto sem enveredar nas carências de ordem material, evidenciadas nesta semana no e-mail do delegado geral adjunto aos delegados diretores de departamento, solicitando-lhes propostas para o contingenciamento de despesas.

A falta de pessoal na Polícia Civil é tamanha que unidades estão fechando e outras funcionando de teimosas. Delegacias e distritos abertos sem o contingente mínimo para realizar um trabalho à altura das necessidades da população.

O crime cada vez mais organizado só é combatido com eficácia por meio de investigações robustas de provas. Este é o papel da polícia judiciária, a Civil. Porém, com ela enfraquecida, até é possível o Governo se vangloriar de alguns números relacionados a prisões. No entanto, as prisões devem vir acompanhadas de inquéritos policiais sólidos, ou seja, não basta a quantidade, sendo primordial a qualidade das capturas.

Do contrário, quem é preso hoje, amanhã tem a grande probabilidade de ser absolvido e retornar a delinquir, devido a uma investigação sem a solidez necessária para um decreto condenatório.

Começamos com uma comparação e terminamos com outra. A Polícia Civil de São Paulo é um doente na Unidade de Terapia Intensiva e respira por aparelhos. Mas a vontade política do médico ainda é capaz de salvá-la com um choque de gestão. Só é necessário querer e agir antes que ela acabe.

Nomeação oficial administrativo PM – Governo despreza os direitos de cinco mil concursados 36

PRECISAMOS DE AJUDA

O Governador Geraldo Alckmin não nomeou ninguém do concurso  *OFICIAIS ADMINISTRATIVOS da PM-SP* e nem deu satisfação, é muito descaso, a prorrogação do concurso venceu dia 23/07/2017, e até agora o governo não deu uma posição sobre o assunto.

São *5 MIL* aprovados com seus direitos violados.

Isso caracteriza *CRIME* de improbidade administrativa.

Não tem desculpa para a não nomeação pois já foram autorizados novos concursos para a PM além de nomeações já realizadas.
O estado tem verba, só falta vontade.

Exigimos o nosso direito a nomeação!!!

ADMINISTRAR É PREVER E SE ANTECIPAR – Moção de apoio ao Dr. Waldir Antonio Covino Junior, Delegado Geral de Polícia Adjunto; que apenas bem cumpriu o seu dever de administrador público 24

Moção de apoio

comunicado

A Associação dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo, os SIPOLs de Bauru, Presidente Prudente, São José do Rio Preto e o SINPOLSAN de Santos manifestam amplo e irrestrito apoio ao Dr. Waldir Antonio Covino Junior, Delegado Geral de Polícia Adjunto em exercício.

Frente à situação calamitosa vivenciada pela Polícia Civil, cenário já denunciado pela ADPESP e pela imprensa, os casos de delegacias funcionando em condições precárias são diversos e, infelizmente, cada vez mais comuns. São relatos de delegacias com deficiências estruturais gravíssimas, o que prejudica de maneira contundente o desempenho do policial civil e, portanto, de todo o trabalho investigativo exercido nos departamentos.

Dito isso, é importante frisar que o comunicado despachado pelo Delegado Geral Adjunto em exercício tem como principal objetivo a preservação das integridades física e psicológica do policial civil submetido a condições insalubres de trabalho, uma vez que condiz com a realidade e pode ser verificado em diversas delegacias da capital e do interior. A Associação ainda reforça seu compromisso com a verdade e, sobretudo, com a luta pela sobrevivência da Polícia Civil.

COVINO

Nota de esclarecimento do Conselho da Polícia Civil 20

O Egrégio Conselho da Polícia Civil, diante da repercussão dada a uma solicitação destinada ao público interno e que, sem autorização ou conhecimento da Administração, transitou por redes sociais e, consequentemente, pelos meios de comunicação na data de ontem, pela unanimidade de seus membros, em sessão realizada nesta data, aprovou a presente nota para esclarecer que:

O Dr Waldir Antonio Covino Junior, Delegado Geral de Polícia Adjunto em Exercício, recebeu do Dr. Youssef Abou Chahin, Delegado Geral de Polícia, a incumbência de solicitar aos Diretores de Departamento da Polícia Civil, estudos relativos a planejamento de ações a ser aplicado em caso de emergência, visando única e exclusivamente à manutenção em níveis ao menos satisfatórios dos trabalhos de polícia judiciária e do atendimento à população.

O Conselho da Polícia Civil entende que o momento financeiro pelo qual atravessa o País é crítico e, justamente por tal motivo, seus integrantes procuram sempre antecipar-se a eventuais situações de crise, a fim de que a população paulista não seja prejudicada em seus direitos e garantias. Nenhuma instituição pública – e particularmente uma do porte da Polícia Civil do Estado de São Paulo –  pode trabalhar olhando apenas para o dia a dia. Visão de futuro e planejamento estratégico são fundamentais em qualquer área de atuação.

O Dr. Waldir Antonio Covino Junior, dentre suas funções, é o responsável pela análise e pelos estudos referentes à finanças e orçamentos relativos à Polícia Civil. Assim, ele transferiu para o documento por ele redigido todas as preocupações que lhe são bastante conhecidas mercê de sua rotina diária, uma vez que tem sempre à sua frente todas as planilhas relativas aos recursos, as quais, dentre outros assuntos, são diariamente discutidas com o Excelentíssimo Senhor Delegado Geral de Polícia.

Ressaltamos que a administração da Delegacia Geral de Polícia, bem como a de todos os Departamentos que compõem a Polícia Civil Bandeirante – cujos respectivos Diretores integram este Conselho –  sempre foi e sempre será feita de forma prudente e responsável, visando única e exclusivamente à manutenção e à eficiência dos serviços prestados à população do Estado de São Paulo.

Sala de Reuniões do Conselho da Polícia Civil, aos 26 dias do mês de julho do ano de 2017.

Polícia Civil de SP pode parar de funcionar se não houver reestruturação, diz delegado 40

PLANO DE CONTINGENCIAMENTO

CONJUR

25 de julho de 2017, 16h51

Por Brenno Grillo

O delegado-geral adjunto em exercício da Polícia Civil de São Paulo, Waldir Antonio Covino Junior, pediu que a diretoria da corporação elabore um plano de contingenciamento de verbas. Segundo ele, a Polícia Civil paulista não tem dinheiro.

Polícia Civil de São Paulo vai parar se não houver plano de contingenciamento de veba, diz delegado.
Reprodução

Ele afirma no texto que a situação é “delicada” e que procedimentos “para amenizar a situação” não tiveram sucesso, o que pode resultar em “quadro de absoluta indisponibilidade financeira, até mesmo para amparar despesas essenciais à manutenção de unidades existentes”.

Covino Júnior pede que a diretoria da Polícia Civil coordene a verificação das contas das “unidades de despesa” para, com base no dinheiro disponível e nos compromissos assumidos, “seja elaborado um plano de contingência, apresentando quais atendimentos serão suspensos e os períodos respectivos”.

Essas informações, segundo o texto, devem ser enviadas à diretoria até esta sexta-feira (28/7). O delegado adjunto em exercício dá exemplos de que soluções podem ser adotadas pela diretoria da corporação.

“Sem possibilidade de novas aquisições de materiais de consumo, quais unidades deverão ser temporariamente suspensas e a partir de qual data; sem recebimento de recursos suplementares para despesas com combustíveis, a partir de quando não será mais possível abastecer viaturas e aeronaves; sem disponibilização de recursos suplementares para despesas contratuais, quando serão suspensos os serviços e quais unidades deverão ter o funcionamento temporariamente suspenso.”

Em nota, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo negou que faltem recursos e destacou que já foi feito pedido de suplementação orçamentária de R$ 4,1 milhões. Afirmou ainda que o pedido do delegado-geral adjunto em exercício foi “precipitado”.

“A SSP esclarece que não há falta de recursos para a Polícia Civil. A mensagem foi precipitada, uma vez que o secretário Mágino Alves Barbosa Filho já havia solicitado suplementação orçamentária à Secretaria da Fazenda, com aval da Secretaria de Planejamento e Gestão, e o crédito de R$ 4,1 milhões já foi aprovado”, disse o órgão.

Sindicato reage
Em nota, o Sindicato dos Delegados de Polícia de São Paulo criticou a medida. Também questionou os motivos do ato, pois, ao mesmo tempo em que a Polícia Civil sofre com cortes de gastos, a Polícia Militar paulista vai receber 72 viaturas e foi autorizada a abrir concurso para cargos de 221 alunos oficiais e de 2,2 mil soldados.

“É uma vergonha para o estado mais rico da federação que a sua Polícia Judiciária atravesse quadro tão caótico por falta de investimentos, a ponto de sugerir a real hipótese de fechamento de unidades pela ausência de recursos”, afirmou a entidade. Disse ainda que essa situação é resultado da falta de vontade política.

Para 2017, a Assembleia Legislativa de São Paulo aprovou orçamento de R$ 4,1 bilhões para a Polícia Civil. Desse total, R$ 202,8 milhões foram destinados a “administração geral” do órgão, R$ 86,7 milhões para gastos com pessoal e encargos sociais, R$ 116 milhões para outras despesas correntes e R$ 47,5 milhões para investimentos em expansão e adequação da infraestrutura.

Para Henrique Hoffmann, que é delegado da Polícia Civil do Paraná e colunista da ConJur, o meio para evitar situações como essa é dar à organização autonomia orçamentária. “Negar autonomia à instituição predestinada à investigação criminal significa abandonar a polícia judiciária à própria sorte”, disse em um de seus textos publicados no site.

Clique aqui para ler o pedido do delegado-adjunto em exercício.

Leia a nota do sindicato:

O Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo vem a público alertar a sociedade para a gravíssima situação financeira vivida hoje pela Polícia Civil. Nesta segunda, 24, diretores de todos os departamentos terão que elaborar plano de contingência visando informar, diante do iminente quadro de “absoluta indisponibilidade financeira e para amparar despesas essenciais à manutenção das unidades existentes, quais atendimentos serão suspensos e em que períodos”.

O comunicado aos diretores prossegue, detalhando: “sem possibilidade de novas aquisições de materiais de consumo, quais unidades deverão ser temporariamente suspensas e a partir de qual data; sem recebimento de recursos suplementares para despesas com combustíveis, a partir de quando não será possível abastecer viaturas e aeronaves; sem disponibilização de recursos suplementares para despesas contratuais (limpeza, impressão corporativa, manutenção predial ou de viaturas), quando serão suspensos os serviços e quais unidades deverão ter o funcionamento temporariamente suspenso”.

É uma vergonha para o Estado mais rico da Federação que a sua Polícia Judiciária atravesse quadro tão caótico por falta de investimentos, a ponto de sugerir a real hipótese de fechamento de unidades pela ausência de recursos.

O Governador Geraldo Alckmin alega que o Estado não possui recurso para investir como deveria na Polícia Civil, mas o que se vê é diferente: na manhã de hoje, no Palácio dos Bandeirantes, Alckmin pretende entregar 72 viaturas para a Polícia Militar, autorizar abertura de concurso público para provimento de cargos de 221 alunos oficiais e de 2.200 soldados.

Qual a lógica das prioridades? Pelo visto, recurso há, mas falta vontade política. É preciso investir na Polícia Civil do Estado de São Paulo, a única capaz de desmantelar as quadrilhas que assolam a sensação de segurança da população, através de uma investigação criminal robusta e eficaz, e colaborar para uma sociedade mais justa”.

*Notícia alterada às 11h06 do dia 26 de julho de 2017 para inclusão de informações.

Do couro sai a correia – Quem quer policial diligente e honesto paga bem e em dia, do contrário autoriza a tropa ao butim 16

Processos contra policiais e bombeiros militares disparam no Estado do Rio

  • LUCAS VETTORAZZO

LUIZA FRANCO
DO RIO

25/07/2017 02h00

José Lucena – 20.nov.16/Futura Press/Folhapress
PM durante ocupação de Cidade de Deus, no Rio; processos contra policiais disparam no Estado
PM durante ocupação de Cidade de Deus, no Rio; processos contra policiais disparam no Estado
A Auditoria da Justiça Militar do Rio, órgão ligado ao Tribunal de Justiça do Estado, abriu 149 processos contra policiais e bombeiros militares por crimes como corrupção, extorsão e roubo neste ano. O volume, alcançado em abril, já é igual ao registrado ao longo de todo o ano passado.

Em casos como corrupção passiva, extorsão e roubo, os valores apurados nos primeiros quatros meses de 2017 já superam os de 2016.

Segundo levantamento do TJ-RJ, os processos abertos são relativos à prática da seis tipos de crimes: corrupção ativa, corrupção passiva, extorsão, extorsão mediante sequestro, roubo e roubo qualificado.

A grave crise fiscal que o Rio enfrenta tem gerado também o caos na segurança pública do Estado. O governo luta para pagar salários enquanto os índices de violência atingem patamares de quase uma década atrás. Até domingo (23), 91 PMs já tinham morrido no Estado.

Policiais estão sem receber o 13º salário de 2016 e sem horas extras por trabalho fora do regime de serviço. Há falta de equipamentos, como coletes, armas e munição, além de ser comum faltar gasolina para os veículos.

Criminosos aproveitam para expandir territórios, o roubo de cargas é frequente e surgem cada vez mais casos de corrupção policial.

No final de junho, 66 policiais de um batalhão em São Gonçalo, região metropolitana, foram presos sob suspeita de integrar quadrilha de venda de armas e prestação de serviço de segurança para traficantes. A investigação mostrou que PMs chegaram a “assaltar” uma boca de fumo e assumir a venda de drogas.

Parentes de militares ouvidos pela reportagem relatam que têm surgido casos de corrupção entre policiais até então honestos em razão da piora das condições de trabalho.

Sob condição de anonimato, dizem que em algumas UPPs da zona norte, policiais estão tendo que negociar com o tráfico para garantir a própria vida, por estarem em desvantagem. Aceitam propina porque, sem coletes, armamentos e carros, não faria sentido “trocar tiro com bandido”, disse a mulher de um PM.

Segundo especialistas ouvidos pela Folha, no entanto, a precária situação da segurança pública não é, por si só, motivo para o aumento de processos por corrupção.

Segundo o ex-capitão do Bope e consultor em segurança Paulo Storani, a má condição de trabalho policial é uma realidade há décadas no país. O aumento recente ocorreria em razão da maior apuração dos casos, tese encampada também pelos ex-comandantes gerais da PM Ubiratan Ângelo e Mário Sergio Duarte.

Na visão do sociólogo Ignacio Cano, do Laboratório de Análise da Violência da Uerj (Universidade do Estado do Rio), a alta, nessa intensidade, não poderia ser explicada por uma mudança súbita na realidade policial, mas pelo incremento dos mecanismos de controle.

Ele, porém, acredita que a crise seja um dos ingredientes que levam ao momento que o Rio se encontra. “Acredito que tenha algum impacto na corrupção, mas não tão súbito nem tão intenso”, disse.

Assim como Cano, o promotor da Auditoria Militar junto ao Tribunal de Justiça, Paulo Roberto Cunha, responsável por denunciar PMs e bombeiros à Justiça estadual, diz que uma reunião de fatores leva ao aumento. Entre eles, justamente o enfraquecimento dos mecanismos de controle.

Ele cita que em 2015, por exemplo, a Policia Militar reduziu a quantidade de homens na Corregedoria. No ano seguinte, o número de inquéritos abertos contra militares, que girava em torno de 3.000 em 2013, foi para 4.000.

“Não dá para dizer que os casos aumentaram somente em função da crise, embora ela tenha sua parcela de responsabilidade nisso tudo. O cenário vai além das questões de condições de trabalho e aumento da violência em geral.”

“A polícia que mais mata é também a que mais morre”, diz ex-comandante-geral da PM no Rio 11

“A polícia que mais mata é também a que mais morre”, diz ex-comandante-geral da PM no Rio

Paula Bianchi

Do UOL, no Rio

25/07/201704h00 > Atualizada 25/07/201704h00

  • Sandro Voz/Estadão Conteúdo

    Marcha de PMs e familiares contra a morte de policiais realizada neste domingo, em Copacabana, zona sul do Rio

    Marcha de PMs e familiares contra a morte de policiais realizada neste domingo, em Copacabana, zona sul do Rio

Ex-comandante-geral da Polícia Militar no Rio de Janeiro, o coronel reformado Ibis Silva Pereira, 54, vê na política nacional de guerra às drogas um dos principais problemas da segurança pública no país.

Um dos porta-vozes brasileiros do Law Enforcement Against Prohibition, associação internacional que reúne agentes da lei contrários à proibição e favoráveis à regulação do comércio e do consumo de drogas, Ibis diz acreditar que a chamada “lógica da guerra” resulta apenas no aumento de mortes tanto de agentes de segurança quanto de civis.

A crítica, quando é feita, é para o dedo que aperta o gatilho, seja esse dedo o do policial ou do criminoso. Não se enxerga a ausência de política pública por trás disso

Ibis Silva Pereira, ex-comandante-geral da Polícia Militar no Rio

Na madrugada do último domingo (23), um sargento da PM morreu após ser baleado enquanto fazia uma ronda na favela do Vidigal, vizinha ao bairro do Leblon, zona sul da capital fluminense. Com ele, já são 91 PMs mortos no Estado em 2017.

Formado em direito com especialização em filosofia e mestrado em história, Ibis critica o que classifica como falta de planejamento de segurança pública a longo prazo por parte do Estado e defende que não há plano de segurança de fato para tratar da crise atual.

A escalada de violência no Rio levou o governo federal a enviar ao menos mil homens homens da Força Nacional e da Polícia Rodoviária Federal para o Estado, no bojo de um plano de segurança para o Rio, elaborado pelo governo de Luiz Fernando Pezão (PMDB) em conjunto com a cúpula da segurança pública da União.

O coronel também pontua que o projeto das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora), principal aposta do governo do Rio para combater a criminalidade nos últimos anos, foi um dos fatores de desestabilização da segurança no Estado, ao esvaziar os batalhões de polícia nos bairros e ter sido ampliado sem o devido planejamento.

Paula Bianchi/UOL

Após 33 anos na PM, o coronel se aposentou em janeiro de 2016

Ibis foi comandante da PM no final de 2014, já no governo Pezão. Ele deixou a corporação em janeiro de 2016 devido a uma regra que permite que uma pessoa permaneça no máximo quatro anos no posto de coronel. Com isso, a aposentadoria é compulsória para aqueles que já contribuíram por 30 anos.Uma vez aposentado, participou da elaboração do plano de segurança da campanha à prefeitura do deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL).

Questionada sobre as críticas do coronel, a Secretaria de Segurança Pública informou que não iria se posicionar. Confira os principais trechos da entrevista:

Falta de política de segurança

“A nossa tragédia é de falta de uma política pública de segurança. Como você não tem política pública, quer resolver o problema com militarização, as decisões ficam limitadas ao policial na ponta. Isso significa adoecimento da tropa, mais vitimização de policiais e de civis. Sofrimento psíquico. Agentes que sofrem farão sofrer. Serão não portadores de segurança, mas de insegurança.”

“Se existe um plano de segurança, eu desconheço e acredito que ainda não foi apresentado à sociedade. Se você vai ao governo federal sem um plano, como você pode esperar uma ajuda que faça sentido? Claro, a nossa situação é tão grave que o reforço de mil homens, que não sei como serão utilizados, vai produzir um efeito, ao menos por algum tempo. Mas isso não vai adiantar muito, até porque eles já têm prazo para ir embora.”

Guerras às drogas

“O foco na guerra às drogas é um dos principais problemas da política nacional de segurança. Achar que com o direito penal, com mais enfrentamento, você vai resolver um problema ligado à saúde. Aí você tem uma alta letalidade de policiais e alta letalidade da polícia brasileira que, em última análise, é culpa do Estado que, no mínimo, é omisso.

As cenas gravadas em frente à escola em que a Maria Eduarda [estudante que morreu ao ser vítima de bala perdida dentro do colégio em que estudava em março, na zona norte do Rio] foi atingida, que mostram duas pessoas no chão atingidas por policiais, parecem de uma guerra. Quando a gente vê os policiais com aquele comportamento, aquilo de alguma forma está legitimado.

Há toda uma narrativa de guerra. E a crítica, quando é feita, é para o dedo que aperta o gatilho. Seja esse dedo o do policial ou do criminoso. Não se enxerga a ausência de política pública por trás disso. Por que essa falta? Por que não formulamos uma política pública? Essa é uma pergunta que temos que fazer para as nossas autoridades.”

Morte de policiais

“O PM deveria ser o primeiro a se insurgir contra a lógica da guerra. Quem diz que a perda de uma vida é efeito colateral acaba dizendo também sem dizer que não tem o menor compromisso com a vitimização de policiais, que no fundo é o que assistimos no Rio.

Uma polícia que mata muito morre muito também, ainda que seja na folga. E vai morrer porque mata muito na ativa. Essa guerra não acaba quando você tira a farda. Ela alimenta o ódio.

Quando o assaltante te assalta, ele não te vê como um profissional que estava cumprindo o seu dever, mas como um inimigo. A melhor forma de a polícia parar de morrer é respeitando mais. Respeitando as garantias, os direitos individuais. Quanto mais a polícia entender que ela é uma agente da promoção de direitos humanos menos ela vai ser vitimizada.”

Legalização

“Sou favorável à legalização, ou melhor à regulação da produção, do comércio e do consumo de todas as drogas. Entendo que o uso de drogas é um comportamento humano que não diz respeito ao direito penal. É uma questão intrinsecamente relacionada ao drama da criatura humana. A questão das drogas é uma questão de saúde física e espiritual. Não deve e não pode ser tratada pelo direito penal. Em última analise, é uma questão existencial.

O proibicionismo penal é um caminho inadequado para lidar com uma questão que envolve o drama da existência. Veja: o homem é uma criatura que precisa transcender. Um teatro, um bar ou uma boca de fumo são lugares que o homem busca porque precisa de consolo. As drogas consolam. O direito penal é inútil para lidar com isso.”

Crise na segurança

“O grande problema é que houve uma desestabilização do programa de UPP que, por falta de decisão política, se perdeu. Faltou humildade em reconhecer o passo maior que as pernas que foi dado. A partir de 2015, 2016, entrou em cena a crise financeira, que se somou a um problema de má gestão, intrínseco ao caminhar do programa.

Na sequência, houve também a crise política, que piorou a situação. O cenário é muito preocupante. Não há políticas públicas substanciais, a Secretaria de Segurança parece tímida frente a tudo que está acontecendo. E os números só vêm piorando.”

Envio da Força Nacional

“Agora a grande preocupação é quantos homens irão mandar [para o Rio]. Como se segurança pública fosse você colocar gente na esquina. É assim que você enfrenta violência doméstica, estupro, roubo de carga, roubo de rua? Colocando gente em uma esquina? O sujeito vai roubar na outra.

Colocar gente na rua ajuda, mas segurança pública, redução de taxas criminais, não pode ser limitada só a isso. Estamos mandando tropas para o Rio desde 1994, isso não resolve. Vão trazer a tropa federal, mas ela vai ser empregada em quê?”

UPP

“A primeira UPP foi criada em 2008. Em 2014 chegamos a 38 UPPs com alocação de 10 mil homens em um único programa. A gente sabe que a polícia tem uma perda de efetivo, como em qualquer instituição. No entanto, quase todo o efetivo que ingressou na corporação desde então foi colocado nesse programa. Se esqueceu dos batalhões e, com isso, o policiamento foi saindo das ruas.

A gestão da segurança pública no Estado e desse projeto em especial foi um desastre. Em 2012, tivemos a morte da primeira policial em uma UPP. Um ano depois, em 2013, ocorreu o desaparecimento e a morte do Amarildo, também em uma favela com uma UPP, e o que foi feito? Praticamente nada.

Após essas situações, um programa que dizia estar fundamentado na articulação entre polícia e comunidade, tinha a obrigação de ser repensando, não continuar como se essas mortes fossem um acidente de serviço, um efeito colateral.”

Amarildo

“O desaparecimento do Amarildo dentro de um quartel da PM simbolicamente é o caso mais grave que já envolveu a polícia no Brasil depois da redemocratização. Ele tem um enredo de ditadura, denuncia a ausência de uma transição democrática, mas foi visto e ainda é como se fosse um caso pontual. Não perceberam como isso abalava o programa. A partir de 2012, a gente deveria ter tido a coragem de repensar o programa. Não tivemos.

Só em 2015 foi publicado um decreto para institucionalizar o programa de policiamento de proximidade, o que vejo como a prova de que o grande problema foi a gestão do programa, pela própria Secretaria de Segurança. Hoje a gente tinha que estar com a 5ª ou a 6ª [UPP], mas já com o programa institucionalizado.”

Aumento de homicídios

“A prioridade deveria ser reduzir os homicídios. Isso se faz capacitando os agentes, fazendo o diagnóstico da mancha criminal. Se você investe em redução de homicídios, os outros delitos começam a diminuir. Se você tem muito homicídio, vai ter muito roubo de rua, o clima de insegurança na cidade fica ruim. Um certo ar de barbárie começa a atravessar as relações sociais. O ladrão fica mais agressivo. Isso vai adoecendo a sociedade, a violência vai nos adoecendo. A gente vai se tornando mais embrutecido.

A melhor maneira melhor de reduzir homicídios é começar pelas próprias polícias que, mostram os dados, são responsáveis por ao menos 5% das mortes letais no país. Faltam protocolos para a polícia no Rio. O protocolo é bom para a sociedade e para o policial, que se expõe menos.”

Corrupção policial

“O problema da corrupção tem a ver com a violência. Só uma tropa brutalizada assume uma boca de fumo de um traficante para vender drogas porque já faz coisas muito piores. Se você não tem respeito pela vida humana, não vai ter respeito por mais nada.

Primeiramente é preciso melhorar os mecanismos de controle das polícias. Em mais de dez anos, qual foi o investimento do Estado em Tecnologia da Informação? Quase nenhum. Mais um elemento que aponta a falta de políticas públicas. A polícia precisa de controle em qualquer lugar do mundo.”

“PM tem a cara do povo”

“Nenhuma instituição no Estado do Rio permite que um jovem pobre, negro, morador de favela, ascenda socialmente como a PM. Quando comandei a polícia, achei um quadro que mostrava a nossa academia de polícia no final dos anos 1920. Nós já tínhamos negros estudando para serem oficiais naquela época.

Isso é a grande potência que a polícia tem e não enxerga. Que ela, apesar de tudo, é uma instituição que tem a cara do povo brasileiro, do povo pobre do Brasil. E isso é uma fonte enorme de legitimidade. A população não olha para o Judiciário, para o Ministério Público, e se enxerga, mas ela se enxerga na polícia. A cor, a origem.”

RAS

“Apostar no RAS [Regime Adicional de Serviço, que permite ao PM trabalhar para o Estado no horário de folga], na oficialização do bico, depois falar de humanização do policial é perverso. Sem levar em conta o que é ter um policial na rua trabalhando esgotado para suprir uma deficiência sua. Nessa condição, querer uma polícia humanizada, falar em polícia de proximidade, é um tremendo contrassenso.”

Desmilitarização da PM

“Gosto sempre de falar da desmilitarização da política. Como temos uma Polícia Militar, as pessoas acham que se ela fosse civil resolveria o problema, mas isso é um erro. Precisamos nos libertar dessa lógica do criminoso como inimigo. Entender que o crime se enfrenta com políticas públicas. Que o gerenciamento das forças de segurança constitui uma parte da política de segurança, mas não se encerra nisso.

Temos um modelo de justiça criminal esquizofrênico. As instituições não funcionam como um sistema. A PM patrulha as ruas da cidade, mas não investiga. A [Polícia] Civil investiga, mas não patrulha. O que isso gera? A PM acaba privilegiando o flagrante.

E ela vai procurar mostrar serviço onde possa encontrar alguém sem precisar abrir um inquérito, de uma investigação. Onde possa atuar visualizando, e esses locais acabam sendo os espaços de periferia, de pobreza. Ela não vai fazer isso na zona sul, onde você pede droga pelo telefone, tem que ter um inquérito. O perfil principal do morto pela polícia, e também dos assassinados no Brasil em geral e das pessoas que estão presas –isso tudo está ligado–, é de jovens negros e pobres.”

Tráfico de armas

“Existem vários estudos que mostram que a maior parte das vítimas de homicídio não são mortas por armamento pesado. É preciso focar no controle de armas no território, nas que circulam, mas esse é um discurso que precisa ser calibrado. Parece que, ao dizer isso, o governo se exime de ser cobrado por outras coisas. A modernização das polícias, por exemplo, não depende de mudar lei federal, mas lei local.

Também, quando você foca no fuzil e dá força ao discurso de que precisa é desarmar o criminoso, indiretamente incentiva quem defende a desregulamentação da venda de armas, a ideia de que ‘a gente precisa desarmar o criminoso, não o cidadão de bem’.”

Naturalização da violência

“Ver um carro da PM com fuzil apontado para fora é tido com algo comum. Naturalizamos a violência. Vivemos isso há pelo menos 40 anos no Rio. Só que agora parece que há um vácuo no poder.

O episódio da torre blindada no Alemão é inacreditável. Ao menos cinco pessoas foram mortas para construir uma torre, conquistar 100, 150 m dentro de um local. Se traz uma lógica da guerra para o espaço urbano sem perceber que isso é incompatível com o Estado de Direito, sob o argumento de que os PMs estariam mais seguros, quando ali eles se tornam alvos dentro e fora da torre.”

Falta de verba

“Não tem sentido você falar em falta de verba sem planejamento. É preciso ter um programa, saber quantos homens, quantas viaturas, em que locais, para então se discutir financiamento. Envolver o MP, o Judiciário, ver a situação das delegacias, quanto tempo, quantas pessoas, serão necessárias para sanar o passivo de inquéritos. Sem isso, não se vai a lugar nenhum.

O secretário de Segurança não tem condições de formular sozinho uma política de segurança. Mas tem que fazer um projeto, apontar o que é necessário que as outras secretarias façam, em que pontos elas têm que se envolver, e apresentar isso ao governo. Ele nem poderia ser chamado de secretário de Segurança, mas de secretário de polícia, já que pode atuar apenas sobre as forças de polícia.

A gente reduz segurança pública à polícia, enquanto 640 pessoas são roubadas todos os dias, 90 policiais morrem, sem contar os amputados, que vão para cadeiras de rodas. O grande problema que a gente tem está dentro do Estado. Com decisão política e formulação de políticas públicas adequadas, em alguns anos, a gente pode ter níveis civilizados de indicadores criminais. Não tem guerra externa. O problema é muito mais a falta de planejamento adequado do que qualquer outra coisa.”

NOTA DE FALECIMENTO – O governo de São Paulo acaba de anunciar a morte da Polícia Civil, a festiva fúnebre acontecerá amanhã no Palácio dos Bandeirantes às 10 horas 78

Governo entrega 72 viaturas para PM e autoriza abertura de concursos

No mesmo evento, ainda será anunciada uma redução no prazo de promoção dos aspirantes a oficial da Polícia Militar

A Polícia Militar receberá 72 novas viaturas, nesta terça-feira (25). Além da entrega dos veículos que reforçarão a frota da corporação na Capital, também serão anunciadas autorizações para abertura de concursos para contratação de 2.421 policiais militares e uma medida que irá reduzir o prazo para que aspirantes da PM sejam promovidos a oficiais.

O secretário da Segurança Pública, Mágino Alves Barbosa Filho, participará do evento, que será realizado no Palácio dos Bandeirantes, Morumbi, zona sul da Capital.

Serviço

Entrega de viaturas e anúncios para a Polícia Militar

Data e hora: Terça-feira (25), às 10 horas.

Local: Palácio dos Bandeirantes – Avenida Morumbi, 4.500, Morumbi, zona sul da Capital.

CORRUPÇÃO LEGAL O CRIME PERFEITO – Judiciário , Ministério Público e Defensoria vendem o direito do cidadão em troca de vantagens institucionais e pessoais para aqueles mais fiéis ao Poder Executivo 34

 O consórcio bandeirante dos Três Poderes

Judiciário e Ministério Público  ganham mais que os da Suécia, Itália, Portugal, Inglaterra e Espanha

Em 2013, o defensor público Bruno Shimizu, de posse de parecer médico que indicava a necessidade de banho quente para presos tuberculosos, pediu ao Estado água aquecida nos presídios de São Paulo. Conseguiu uma liminar que determinava a instalação de chuveiros elétricos, restritos, àquela época, a 7% das penitenciárias estaduais. Suspensa pelo presidente do Tribunal de Justiça do Estado, a liminar acabou tendo decisão favorável em abril deste ano por determinação do Superior Tribunal de Justiça.

Suspensões favoráveis ao Estado são rotina na segunda instância judicial paulista. Pesquisadora da Fundação Getúlio Vargas, Luciana Zaffalon analisou 566 processos que passaram pela presidência do TJ entre 2012 e 2015. Encontrou uma única situação em que o Estado foi derrotado 100% das vezes: ao questionar a aplicação do teto remuneratório no serviço público, em especial das carreiras do Judiciário, as mais bem pagas do Estado.

Luciana não se limitou às decisões do TJ. Debruçou-se sobre as 404 proposições relativas ao sistema judicial apresentadas à Assembleia Legislativa entre 2011 e 2016. Apenas 17% das mudanças legislativas não tiveram repercussão orçamentária, sendo que metade das leis aprovadas nesta seara resultou em aumentos, vantagens, bonificações, abonos e auxílios. O governador Geraldo Alckmin foi o principal autor das benesses. Aprovou 91% das propostas que apresentou. Foi contemplado ainda com a possibilidade de suplementação orçamentária sem o crivo da Assembleia, o que, apenas no ano de 2015, resultou em quatro acréscimos às verbas do Tribunal de Justiça do Estado.

Os levantamentos foram a base da tese de doutorado apresentada por Luciana à Fundação Getúlio Vargas (FGV), que será transformada em livro, pela Hucitec, neste semestre. O título (“Uma Espiral Elitista de Afirmação Corporativa: Blindagens e Criminalizações a partir do Imbricamento das Disputas do Sistema de Justiça Paulista com as Disputas da Política Convencional”) poderia ser resumido em uma lápide: aqui jaz Montesquieu. O imbricamento mapeado por Luciana não é mais uma tese sobre a judicialização da política, mas da outra face da moeda, a politização do Judiciário.

O ineditismo de sua tese está na demonstração de como a elite judiciária de São Paulo ao mesmo tempo em que blinda a política de segurança pública do Executivo tem garantido uma política remuneratória que se vale de subterfúgios para extrapolar o teto constitucional. O dueto é avalizado pela Assembleia, em prejuízo do contribuinte e, principalmente, da democracia.

Os últimos sete secretários de Segurança Pública do Estado são egressos do Ministério Público. A tese demonstra que não se trata de uma coincidência. A repressão a manifestações (96 bombas de gás por dia no primeiro semestre de 2016) e as políticas prisionais seguem sem questionamentos daquele que deveria ser um principais contrapesos ao monopólio da violência pelo Estado. País com a quarta população carcerária do mundo (depois de EUA, China e Rússia), o Brasil é o único desses líderes a manter índice crescente de encarceramento. Mais de um terço dos presos brasileiros está em São Paulo.

A Defensoria Pública, criada em São Paulo depois que a maior parte dos Estados brasileiros já o havia feito, não aparece uníssona na ameaça à blindagem entre os poderes. Coordenadora do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCRIM), Luciana Zaffalon foi ouvidora-geral da defensoria, instituição judicial mais bem-sucedida na estratégia de conseguir aumentos remuneratórios retroativos. Seu portal da transparência informa um rendimento médio mensal de R$ 26.980,00 (sem contar férias e 13º salário). Dos 716 registros do seu universo de análise, 12 estavam acima do teto constitucional daquele ano (2015), R$ 33.763,00.

As vantagens obtidas pelos defensores, no entanto, não são comparáveis àquelas com as quais os procuradores foram agraciados. De 1.920 matrículas do MP estadual, encontrou apenas 3% aquém do teto constitucional. O rendimento médio no MP em São Paulo em 2015 foi de R$ 45.036,30 (sem contabilizar férias e 13º). Naquele ano, a complementação para vantagens, abonos e outras indenizações alcançadas pela carreira impuseram ao orçamento estadual gastos de R$ 421 milhões, o equivalente a 12 vezes a previsão daquele ano para as políticas de enfrentamento ao crack.

Dos três órgãos do sistema judicial paulista, o menos amigável à investigação foi a magistratura. O formato em que as informações são prestadas afronta resolução do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e dificulta o manejo dos dados. A pesquisadora valeu-se do orçamento aprovado e do órgão de controle da magistratura para se aproximar da caixa-preta da toga paulista. Na Alesp, presidida durante a maior parte do período pesquisado por um parlamentar egresso do MP (Fernando Capez), encontrou um fundo especial de despesas do TJ lá aprovado e destinado ao custeio de penduricalhos como auxílio alimentação, creche e funeral. Em relatório do CNJ identificou que a despesa média mensal com magistrados na Justiça estadual em 2015 foi de R$ 45.906,00.

Às dificuldades enfrentadas, contrapôs acórdão do ex-ministro do STF, Carlos Ayres Britto: “A publicidade é o preço que se paga pela opção por uma carreira pública no seio de um Estado republicano. A prevalência do princípio da publicidade administrativa outra coisa não é senão um dos mais altaneiros modos de concretizar a República enquanto forma de governo”.

Os dados de que dispunha, no entanto, lhe foram suficientes para concluir que a remuneração das carreiras judiciais em São Paulo é superior à média federal e à de cinco países europeus: França, Alemanha, Portugal, Espanha e Suécia. No Ministério Público, por exemplo, o rendimento médio anual dos procuradores paulistas em 2015 foi de € 157.130 (com férias e 13º), € 30 mil a mais que o dos procuradores federais e o dobro do valor nominal dos salários da carreira congênere na Alemanha. Os defensores paulistas, com um rendimento médio anual de € 95.239 euros (com férias e 13º), deixam para trás os congêneres alemães e suecos.

Os achados convergem com estudos que mostram o Judiciário brasileiro com um gasto médio por habitante (€ 94,2) superior ao da Suécia (€ 66,7), Itália (€ 50), Portugal (€ 43,2), Inglaterra (€ 42,2) e mais de três vezes aquele registrado na Espanha (€ 27). O mesmo acontece com o Ministério Público, com uma proporção de gastos per capita 15 vezes superior àquela da Alemanha e da Espanha, cinco vezes maior que em Portugal e três vezes ao registrado na Itália.

Luciana fez 15 entrevistas em busca de explicações, com defensores, juízes e procuradores. Esbarrou, no entanto, na negativa do presidente do Tribunal de Justiça do Estado à época de sua pesquisa, Renato Nalini. Valeu-se de artigo em que o magistrado reclama da condição de pedinte do Executivo e defende as despesas do TJ reputando-o como a maior Corte judicial do planeta, argumento que não explica a dimensão do gasto per capita. Baseou-se ainda em entrevista concedida a um programa de televisão em que Nalini inclui, como justificativa para os adicionais, desde o desconto do IR até a necessidade de se vestir bem: “Hoje o juiz brasileiro ganha bem, mas tem 27% de desconto de imposto de renda, tem que pagar plano de saúde, tem que comprar terno e não dá para ir toda hora a Miami para comprar terno, a cada dia da semana ele tem que usar um terno diferente, uma camisa razoável, um sapato decente, tem que ter um carro”.

Com inaudita franqueza, o magistrado atribuiu a afronta ao teto constitucional à necessidade de evitar a depressão dos juízes: “Espera-se que a Justiça, que personifica uma expressão da soberania, esteja apresentável e há muito tempo não há reajuste do subídio, então o auxílio moradia foi um disfarce para aumentar um pouquinho e até para fazer com que o juiz fique um pouco mais animado, não tenha tanta depressão, tanta síndrome do pânico, tanto AVC. A população precisa entender isso”.

O outro lado da expressão da soberania judicial é explicitada no destrinchamento dos 15 processos relacionados ao sistema penitenciário que chegaram ao TJ e foram analisados na tese. Desses, 13 foram suspensos, em atendimento aos interesses do governo do Estado. Versavam sobre medidas para sanar a superlotação na Fundação Casa (a antiga Febem), em presídios e na carceragem de distritos policiais em todo o Estado, além da requisição de médicos e dos já mencionados chuveiros elétricos. Em todas as decisões, o TJ alegou que os gastos necessários para atender os pedidos embaraçariam a gestão pública.

A simbiose se completa com a omissão do MP paulista em relação à violência policial, que em 2015 resultou em 2,3 mortes por dia, e à grande proporção de prisões em flagrante, cerca de 70% do total efetuado no Estado. Inquéritos capengas que aceitam policiais como testemunhas levam ao arquivamento de mais de 90% dos processos que questionam os procedimentos. Um Judiciário aristocratizado, conclui, atua como protagonista na segurança pública e referenda o direito como território da força do Executivo, em detrimento da cidadania, com o beneplácito do Legislativo.

Além dos procuradores que comandam a Segurança Pública há duas décadas, o modus operandi da carreira já ditou as cartas na Secretaria de Governo (Marcio Elias Rosa) e hoje ocupa a Secretaria da Educação. A gestão de Renato Nalini foi responsável pela reforma que levou à ocupação das escolas estaduais no ano passado.

A aliança precede a chegada dos tucanos no poder. O PMDB ocupava o Palácio dos Bandeirantes com um titular egresso do MP (Luiz Antonio Fleury Filho) no massacre do Carandiru. Depois do estrago, um procurador do Estado, Michel Temer, seria indicado para comandar a Segurança Pública, sinal de que o consórcio dos Poderes antecede o PSDB, dá gênese à aliança com o PMDB e se nacionaliza.

Maria Cristina Fernandes, jornalista do Valor

https://pt-br.facebook.com/valoreconomico/posts/1685130848187306

 

Vantagens do processo civil eletrônico nas Varas da Fazenda Pública: o advogado não precisa ir do escritório para o Fórum; o juiz não precisa sair de casa…( E ninguém audita quantos minutos de trabalho o juiz deu a cada processo ) 6

Nesse sentido, Luiz Adolfo da Veiga na obra Informática no Direito de Aires José Rover:

Se queremos uma Justiça que atenda aos reclamos da cidadania com rapidez e eficiência, neste milênio, não podemos prescindir dos sistemas inteligentes. E, para construirmos sistemas inteligentes, verdadeiramente adaptados à ciência jurídica e contribuindo para a efetivação do ideal da Justiça, necessitamos da participação direta do profissional do Direito, em conjunto, sem dúvida, com os profissionais da área da informática, já que a matéria é decididamente interdisciplinar (ROVER, 2001).

Em relação ao advogado citamos inicialmente duas vantagens: economia financeira e comodidade para peticionar. Com o fim da grande quantidade de impressões, haverá uma grande economia em relação aos papéis, tintas e aquisição de impressoras, portanto, uma grande economia financeira. Além disso, o advogado poderá peticionar em qualquer lugar do país ou do mundo e não havendo mais a obrigação de ir ao fórum e se dirigir ao protocolo com limite de horário para isso, terá efetivamente cada segundo disponível do seu prazo para enviar a peça processual, passando a não se preocupar mais com o horário de atendimento do respectivo fórum, uma vez que terá até as 23:59:59 h do dia do seu prazo para peticionar/enviar o documento eletrônico. Não podemos esquecer que através do processo eletrônico, desatenções como à falta de assinatura do procurador é parte do passado processual, haja vista a assinatura digital no ato do envio da peça processual eletronicamente.

Assim, o trâmite do processo, conforme já mencionado, será mais célere e o risco com eventuais danos nos autos serão aniquilados, frente à impossibilidade de extravio ou perda de documentos que culminariam em uma restauração dos autos, por exemplo.

O acesso à justiça também será desburocratizado e haverá uma economia gritante em relação ao volume de papéis dentro dos cartórios e a desnecessidade de eventuais gastos do governo em relação ao espaço físico, arquivos e outros materiais necessários para alojar os autos físicos.

Em relação à remessa dos autos para o 2º grau é fato notório a economia e rapidez. Da mesma forma é muito mais célere cumprir cartas precatórias. Complicações/burocracias em relação à juntada de documento e autuação passam a não existir. Os prazos serão fatais e a cobrança de autos não é mais necessária. Enfim, o processo eletrônico traz uma vasta série de fatores extremamente positivos que auxiliam na celeridade processual e na eficácia da Justiça.

Concluímos que o processo eletrônico é necessário para acabar ou pelo menos diminuir a morosidade processual no Poder Judiciário. Logo, usar o que a informática pode nos proporcionar beneficamente, demonstra a evolução do sistema processual na medida em que o mundo se desenvolve, proporcionando uma rapidez nos julgamentos a fim de suprir as necessidades da sociedade moderna. Com a diminuição do trâmite processual (tempo), bem como com a economia financeira (dinheiro) gerada, o processo eletrônico caminha para uma evolução do sistema processual e para o Judiciário com um todo. Evolução extremamente necessária, diga-se de passagem.

“Delegacia não pode abrir de noite e de fim de semana; logo, os criminosos fazem o que querem”, afirma o promotor de Justiça de Guarulhos Rodrigo Merli…Político do PSDB prefere culpar a crise e “nordestinos de pavio curto” 30

Marcos Sergio Silva

Do UOL, em São Palo

23/07/201704h00

  • Quadra onde o corpo de Kleber Risio foi encontrado; ao fundo, o bairro do Taboão

    Quadra onde o corpo de Kleber Risio foi encontrado; ao fundo, o bairro do Taboão

Casas de alvenaria grudadas umas às outras em que as paredes são muros, e extensos terrenos desocupados, com crianças empinando pipas sob a névoa do inverno à beira da serra da Cantareira. Os bairros que compõe o 9º Distrito Policial de Guarulhos (Grande São Paulo), no Taboão, mantêm a aparência de qualquer um da periferia, mas os números da violência os distinguem dos demais.

Em 2017, não se matou em nenhum outro local da região metropolitana como lá. Mortes no atacado, homicídios bárbaros e crimes passionais compõem a estatística dos 33 homicídios dolosos até maio em uma região de 130 mil habitantes.

Olhando os anos desta década, também nunca se matou tanto. Em todo o ano passado, foram 27 mortos no bairro. No ano com mais registros, em 2012, foram 36 mortes em 12 meses –até maio daquele ano, no entanto, dez homicídios haviam sido registrados na região. Como comparação, a delegacia com mais homicídios dolosos em São Paulo, o 73º DP, no Jaçanã (zona norte), registrou 16 –menos da metade dos que aconteceram no Taboão.

Considerando a média das mortes violentas até o último mês em que a estatística foi levantada pela Secretaria de Segurança Pública do Estado, o índice é de 53 mortes/ano para cada grupo de 100 mil moradores. A violência é epidêmica, de acordo com a ONU, se a taxa exceder a dez mortes violentas por grupo de 100 mil moradores.

O Estado abriu mão de combater o crime. A relação custo-benefício pende para quem quer matarRodrigo Merli, promotor de Justiça de Guarulhos

“O Estado abriu mão de combater o crime. Hoje em dia vale a pena matar: 92% dos crimes não são descobertos, e nos outros 8% em que são descobertos a punição é ridícula. A relação custo-benefício pende para quem quer matar”, afirma o promotor de Justiça de Guarulhos Rodrigo Merli.

A delegacia que fecha na sexta

Amanda Perobelli/UOL

O 9º Distrito Policial no Taboão, em Guarulhos: fecha às sextas e só abre às segundas

O 9º Distrito Policial, embora seja uma das poucas delegacias de Guarulhos que funcione em imóvel próprio (o prédio foi doado pela prefeitura em 2011), fecha à noite e também aos finais de semana. Quando o expediente é encerrado, na sexta-feira, as ocorrências são encaminhadas para as delegacias de plantão até a reabertura do prédio, na manhã de segunda-feira. “O DP não pode abrir de noite e de fim de semana. Logo, os criminosos fazem o que querem”, diz Merli.

Amanda Perobelli/UOL

Lixeira onde a cabeça de Kleber Risio, o Caramelo, foi encontrada, no Parque Mikail

Em um sábado, dia 15 de julho, enquanto a delegacia estava fechada, o ajudante geral Kleber Risio Barbosa, o Caramelo, 35, foi encontrado desmembrado e decapitado a menos de 2 km do DP, no Parque Mikail. O tronco estava em um futuro parque público, no espaço reservado para o bebedouro e de lado para uma quadra de esportes. A cabeça foi encontrada em uma lixeira de uma casa, na mesma rua do espaço esportivo. Braços e pernas foram achados pela rua.

“Ontem me ajudou na rabiola do pipão que iria soltar, apareceu comendo aquele lanche monstrão à tarde, fumou aquele cigarro solto, falou do Timão, falou do cavaquinho e aquela frase antiga: ‘Internet, videocassete, atrasado eu tô um pouco’ [citação da música ‘Negro Drama’, dos Racionais MCs]”, afirmou um amigo na rede social Facebook. Kleber foi enterrado apenas cinco dias depois.

As fotos do corpo desmembrado foram distribuídas por meio do aplicativo de mensagens WhatsApp. Algumas chegaram até a família. A reportagem do UOL tentou conversou com os familiares do rapaz, que preferiram não comentar. A morte ainda não está nas estatísticas da Secretaria de Segurança Pública.

Mesmo com a operação limitada, a delegacia oferece algum tipo de resistência. Policiais ouvidos pela reportagem que pediram que seus nomes não fossem divulgados afirmam que o distrito tem uma boa rede de informantes, embora o número de funcionários seja baixo.

Tem que escolher o que dá mais repercussão

Policial do 9º DP de Guarulhos sobre o volume de inquéritos na delegacia

A estimativa é que 1.500 inquéritos estejam em andamento para um corpo de quatro escrivães e sete investigadores –o que, na média, daria um processo por dia por escrivão e quase um a cada dois dias para um investigador.

“Tem que escolher o que dá mais repercussão”, diz um policial. “Vá até o 9º DP de Guarulhos e veja se aquilo tem cabimento. Veja as instalações e o número de funcionários. Veja o maquinário, as viaturas e o armamento. E veja a população ao redor”, afirma o promotor.

“Tribunal do crime” do PCC por trás das mortes

Das 33 mortes, 12 foram atribuídas a integrantes da facção PCC (Primeiro Comando da Capital), com cinco prisões e o envolvimento de mais duas pessoas já detidas por outros delitos. São os chamados “tribunais do crime”, em que um “disciplina” (espécie de juiz informal do PCC) decide o futuro de quem está sendo julgado. São “penas” aplicadas em locais isolados, como no meio da mata da serra da Cantareira. “O ‘disciplina’ recebe o comunicado da cadeia e faz as vezes de um juiz de tribunal”, diz outro policial.

Em um desses locais, o Recreio São Jorge, a mata é atravessada pelas obras do Rodoanel. No local, não há circulação de pessoas, apenas os operários da construção e trechos de mata cortados por trilhas. Quando as vítimas desses “júris” foram encontradas, estavam amarradas, com as pernas quebradas e enterradas em cova rasa, cobertas por cal para disfarçar o cheiro dos cadáveres.

Amanda Perobelli/UOL

Obra do trecho norte do Rodoanel, onde aconteceu um dos “tribunais do crime”, segundo a polícia

“O 9º DP tem uma peculiaridade: as informações chegam antes até eles [do que para a Homicídios]”, afirma um investigador da Delegacia de Homicídios. “O informante deles passa para o investigador deles, e é investigado de um lado e de outro. A informação sempre chega à delegacia primeiro.”

A facção também trabalha em uma espécie de “polícia” deturpada. “Um tiozinho que puxou cadeia por estupro começou a mexer com as meninas do bairro. Alguém avisou e ele apareceu morto na mesma rua em que morava”, diz outro policial. “Mesmo quem não concorda com isso, não se intromete. Quem vai delatar o chefe que comanda o tráfico na comunidade? Ninguém é burro.”

Quem vai delatar o chefe que comanda o tráfico na comunidade? Ninguém é burro

Policial ouvido pela reportagem que optou pelo anonimato

“[São] aqueles que sabem que a Justiça não funciona e que querem fazer justiça com as próprias mãos”, diz o promotor Marli. “Resultado: não esperam o Estado agir. Fazem por conta própria, dentre eles os maus policiais que se tornam integrantes de milícias.”

Desemprego e “nordestinos de pavio curto”

Vereador licenciado e secretário de Segurança de Segurança Pública de Guarulhos, Gilvan Passos (PSDB) acredita que problemas fundiários, como a alta taxa de invasões na região, que é protegida por ser área de mananciais (faz parte da reserva da serra da Cantareira), contribuem para o número alto de homicídios.

“Temos dificuldade para entrar na comunidade para fazer um trabalho social. Imagina com segurança? É uma invasão muito grande, e você não tem área para fazer uma praça, porque invadiram tudo. Como o poder público entra lá para fazer um trabalho? Quando chega no fim de semana, pancadão é a diversão deles –e nenhum morador pode reclamar”, afirma Passos.

Com as invasões, diz, aumenta o fluxo de migrantes de outros Estados, que, segundo ele, quando combinado com as atuais taxas de desemprego, resulta na explosão de crimes.

Você encontra um grande número de pessoas que vieram de fora de São Paulo, nordestinos –pessoas trabalhadoras na grande maioria, mas pessoas com pavio curto. Eles bebem, estão ali no forró deles, se um olhou feio para o outro, já quebra a garrafa, dá um tiro, porque infelizmente não tiveram a educação, uma cultura

Gilvan Passos, secretário de Segurança Pública de Guarulhos

“Você encontra um grande número de pessoas que vieram de fora de São Paulo, nordestinos –pessoas trabalhadoras na grande maioria, mas pessoas com pavio curto. Numa sexta-feira à noite, eles bebem, estão ali no barzinho, no forró deles, se um olhou feio para o outro, já quebra a garrafa, dá um tiro, porque infelizmente não tiveram a educação, uma cultura, e infelizmente acontece isso.”

Para Passos, o desemprego incentiva a permanência nos bares até a madrugada e a entrada dos mais jovens no tráfico de drogas. “A pessoa que trabalhava chegava em casa, tomava seu banho e ia dormir. Hoje essa pessoa fica no bar até altas horas, onde o ambiente não é bom. Quem está desempregado vai para o tráfico porque ele não tem uma renda. E a falta de opções no local também leva a isso.”

Em nota, a Secretaria de Segurança Pública do Estado afirmou que a Polícia Civil de Guarulhos prendeu 11 pessoas por suspeita de participação em crimes de homicídio, no primeiro semestre de 2017, sem no entanto especificar a região em que os possíveis crimes foram cometidos. Os outros casos permanecem sendo investigados para esclarecer a autoria e motivação, prossegue o comunicado.

Sobre a região do Jardim Taboão, a SSP afirma que a Polícia Militar conta com uma Base Comunitária Móvel “para aproximar o contato dos agentes com os moradores”.

“Ainda dentro do conceito de Polícia Comunitária, foi implantado na região o projeto Vizinhança Solidária, que estimula a comunicação entre os moradores do bairro para ações de segurança, facilitando e agilizando os pedidos de auxílio à polícia”, afirma a secretaria. Segundo a SSP, 54 pessoas foram presas ou apreendidas em flagrante na região no período de janeiro a maio na região do 9° DP.

Poder Judiciário de São Paulo sob suspeita – Estudo aponta que no estado de São Paulo ações contra a Fazenda Pública são jogos de cartas marcadas: o Estado sempre vence, salvo ações que tratam da remuneração de juízes, promotores, defensores públicos e membros da PGE…Todos no bolso do governo! 14

Estudo aponta blindagem recíproca entre Judiciário, Executivo e Legislativo em São Paulo

Os recursos contra o estado vão parar no Tribunal de Justiça, que é a segunda instância. Uma pesquisadora da FGV fez uma tese de doutorado sobre as decisões do TJ. Analisou mais de 500 decisões da presidência do TJ ao longo de quatro anos, 2012 a 2015. Ela concluiu que os desembargadores são muito compreensivos com o governador do estado. Só tem uma situação em que o governo é derrotado 100% das vezes: quando questiona a aplicação do teto remuneratório do serviço público.

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