Diz o eminente jurista Vladimir Passos de Freitas : O Brasil precisa de um Ministério da Segurança Pública 53

SEGUNDA LEITURA

O Brasil precisa de um Ministério da Segurança Pública

7 de maio de 2017, 8h10

Por Vladimir Passos de Freitas

O Brasil atravessa a pior fase de sua história em matéria de segurança pública. As atrocidades se multiplicam de Sul a Norte e vão entrando na rotina da vida dos brasileiros. Vejamos.

Em janeiro, massacre em presídio de Manaus deixou 56 mortos1, e em sete cidades do Rio Grande do Norte, “17 ônibus, 1 micro-ônibus e três carros foram incendiados”2. Em fevereiro, greve da PM em Vitória gerou depredação e saques3. Em abril, 16 ônibus foram incendiados em Fortaleza4. Roubos a empresas de valores de São Paulo, que rendem milhões5, sucedem-se e migram para outros estados (como Recife6) e até para o exterior (Paraguai7).

Fora do ambiente urbano, a situação não é diferente. Dia 30 de abril, por causa de disputa de terras, 30 índios gamela foram atacados na cidade de Viana (MA), ficando vários deles feridos. No dia 4 passado, a líder de agricultores Kátia Martins foi morta em Castanhal (PA). Fatos isolados, porém não menos graves, ocorrem permanentemente nas cidades brasileiras.

Quais os resultados dessa situação? Ao contrário do que se pensa, eles vão muito além da dor das vítimas e dos familiares. Exemplo concreto: no dia 2 passado, disputa entre facções criminosas no Rio de Janeiro resultou no incêndio de sete ônibus, na interdição da avenida Brasil e na suspensão das aulas da rede municipal, afetando cerca de 5.800 alunos8.

Do ponto de vista social, a falta de aulas será mais uma contribuição para a má formação das crianças. Do ponto de vista psicológico, o sentimento de medo afetará várias pessoas, trazendo resultados negativos nas relações humanas e sobrecarregando o sistema de saúde. Do ponto de vista econômico, as companhias de seguro recusam-se a contratar com as companhias de ônibus, e, como a falência do estado do Rio de Janeiro não permitirá a readequação dos contratos, o resultado será menos veículos e pior transporte público. A tudo isso se acresçam os reflexos no comércio, que permaneceu fechado, e centenas de compromissos descumpridos.

Reportagem do Jornal Nacional, da TV Globo, em 28/10/2016, baseada em levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, informa que morre mais gente assassinada no Brasil do que em países em guerra, dando como exemplo a Síria9.

Enquanto a segurança pública desmorona e os professores de Direito Constitucional ignoram o artigo 144 da Carta Magna, que afirma ser ela um direito de todos os brasileiros, segue a população sofrendo seus efeitos, uns claros e dolorosos, outros imperceptíveis, como o pagamento de taxa de proteção para as milícias.

Atualmente, o Ministério da Justiça, que adotou o nome de Ministério da Justiça e Segurança Pública, retrata a completa ineficiência da atuação estatal na área. A Secretaria Nacional da Segurança Pública (Senasp), que dele faz parte, não exerce qualquer influência no cotidiano dos brasileiros. Não tem o menor poder de interferência nas secretarias de Segurança estaduais, e, de positivo, tem apenas os cursos a distância que ministra10.

Não se mostra razoável pretender a extinção do Ministério da Justiça, de todos o mais antigo (1891). Mantenha-se, nele, parte de sua competência, como o Arquivo Nacional e o seu conselho, a Secretaria de Assuntos Legislativos, o Departamento de Recuperação de Ativos de Cooperação Jurídica Internacional (DRCI), a responsabilidade pelos acordos internacionais de cooperação jurídica internacional, os assuntos relacionados com a extradição e transferência de pessoas condenadas, a ação sobre o complexo tema das migrações internacionais, o Conselho Nacional de Política Indigenista (CNPI) e outros tantos de reconhecida importância.

Mas dê-se ao novo ministério — cujo nome deve, sim, simplesmente ser Ministério da Segurança Pública, transmitindo de forma concisa e direta a razão de sua existência — poderes de tentar avançar no atual sistema pré-falimentar. Nada de nomes como Ministerio de Defensa, como no Peru (confunde com a defesa externa); Ministerio de Salud y de la Protección Social, como na Colômbia; Ministerio del Interior y Seguridad Pública, como no Chile; porque o Brasil precisa ser claro no que pretende: segurança pública.

Já passou da hora de o país contar com um ministério que conduza a política nacional na área, estude e dê um mínimo de efetividade ao sistema prisional, unifique as ações das secretarias da Segurança Pública dos estados, promova políticas públicas de âmbito nacional, gerencie a troca de boas experiências, avance nas estatísticas, hoje sabidamente deficientes, estimule o fortalecimento da Polícia Científica, acompanhe e cobre a realização de concursos públicos, analise os currículos das escolas de formação e capacitação, invista na tecnologia, criando um programa único para todas as unidades da federação, promova estudos para a agilização das investigações policiais, encontrando substitutivo para o arcaico inquérito policial criado em 1871, e adote outras medidas, inteligentes e inovadoras.

Evidentemente, pasta de tal importância não poderá ser entregue a alguém para agradar determinado partido político e muito menos para dar a citado em alguma delação premiada foro em um tribunal superior. Para que ela tenha a eficiência necessária, seu titular deve ter experiência prática, habilidade política e muita respeitabilidade.

Por fim, registre-se que tal iniciativa não tem e nem pode ter qualquer envolvimento ideológico ou partidário. Trata-se de assunto que preocupa e afeta a todos os brasileiros, independentemente de sua coloração política ou condição social. Tema que é tratado com cuidado em países com regimes políticos tão distantes como Cuba e Alemanha.

Em suma, a inércia estatal na área já acarretou danos de vulto, difíceis de serem calculados, inclusive a fuga de jovens talentos para países como Estados Unidos, Portugal ou Canadá. O momento da decisão já tarda. Deve ser enfrentado agora, com prudência, mas com obsessiva determinação.

Tudo errado: Delegado não fez local do crime e tenente toma na mão grande equipamento que não poderia ser retirado de estabelecimento comercial 29

A queda de braço entre as polícias Civil e Militar de Rio Preto ganhou mais um episódio neste sábado, dia 6. O delegado Marcelo Guarnieri Parra registrou boletim de ocorrência de usurpação da função pública (exercer ou praticar ato de uma função que não lhe é devida). A acusação, no caso, é contra a PM. Esta é a segunda encrenca que se torna pública entre as duas corporações em apenas três semanas.

Desta vez, o caso envolve policiais rodoviários estadual que prenderam em flagrante três homens (de 28, 29 e 31 anos) suspeitos de furtar uma loja de pesca no bairro Redentora. A mercadoria levada é avaliada em cerca de R$ 40 mil. O furto ocorreu na madrugada de sexta-feira, dia 5.

Durante a tarde do mesmo dia, os policiais foram até a loja da vítima e pegaram o aparelho RDV que contém as imagens do furto. A justificativa dada ao comerciante é de que a corporação iria investigar o abuso de autoridade que teria sido cometido pelos policiais que efetuaram a prisão. Eles teriam agredido os suspeitos no momento do flagrante.

O delegado Marcelo afirma que a prioridade é a investigação do crime de furto. E que as imagens deveriam ser encaminhadas primeiramente à Polícia Civil. “Houve um furto qualificado em estabelecimento comercial. Trata-se de um crime previsto no código penal, cuja autoridade competente para investigar é a Polícia Civil, inclusive seus desdobramentos que, nesse caso é a receptação já que são produtos de alto valor.”

Antonio Drauzio Badan Junior, proprietário da Loja Tubarão, alvo dos ladrões, afirma que o único motivo para ter registrado o primeiro boletim de ocorrência sobre as imagens, que resultou no segundo, feito pelo delegado, foi o de se resguardar.

“Fui ao plantão policial levar os materiais que foram deixados pelos assaltantes na loja, como alicate, chave de fenda e um maço de cigarro. Para fazer a perícia, eles precisam de todas as provas e também do vídeo que filmou o furto, mas informei que as imagens, assim como o aparelho, tinham sido entregues à Polícia Rodoviária.”

O tenente Maurício Noé Cavalari, da Polícia Rodoviária Estadual em Rio Preto, afirma que as imagens e o equipamento foram apreendidos para apurar os fatos. “Foi aberto um Inquérito Policial Militar e o oficial da polícia militar precisa das provas para averiguar todos os fatos. Esta apuração está baseada no código de processo penal militar e no de embasamento jurídico.”

Cavalari afirma ainda que será avaliado se o equipamento apreendido teve alguma imagem suprimida. “Temos interesse em algumas imagens que não estavam disponíveis e é de nosso interesse na apuração, o que nos causou estranheza. Ao ser enviado para a perícia, o especialista avaliará se alguma imagem foi apagada para depois ser restaurada. Além disso, se a Polícia Civil tiver interesse nas imagens, eles poderão solicitar e ter acesso para algum processo de verificação.”

Briga

No último dia 13, o Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo emitiu nota repudiando o comportamento da Polícia Militar em casos de homicídios envolvendo policiais militares. Houve crítica ao comando da PM de Rio Preto de investigar por conta própria o homicídio de João Paulo Silva da Costa, 18 anos, morto em confronto com a PM, em 2 de abril. A guerra entre as polícias teve início após denúncia da Delegacia Seccional de Rio Preto ao Ministério Público de que a PM estaria dificultando as investigações do homicídio de Costa. O promotor José Márcio Rossetto Leite instaurou inquérito administrativo para apurar o caso.

 http://www.diariodaregiao.com.br/cidades/pol%C3%ADcias-travam-mais-uma-queda-de-bra%C3%A7o-1.691449
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COMENTÁRIO DO FLIT: 
Inicialmente, o  delegado de polícia responsável pela lavratura de flagrante , antes da formalização do auto, deveria ter  comparecido pessoalmente ou , na impossibilidade, determinado o comparecimento de policiais civis ao local do crime para elaboração de laudo pericial, auto de levantamento de local  , arrecadação dos instrumentos do crime e extração de mídia com as imagens do equipamento de segurança. Aparentemente, nada disso foi feito!
Por seu turno, o tenente da PM , possivelmente querendo mostrar serviço ,  buscar pelo em ovo contra os rodoviários que estiveram na loja ou , ainda, faturar uma diária e gastar a verba reservada com a construtiva diligência , JAMAIS poderia ter apreendido o equipamento de segurança da empresa. Como se afirmou acima, seria suficiente o backup do HD efetivado no local; sem quaisquer violações do corpo de delito.  
Ademais, trata-se de instrumento útil e indispensável ao exercício profissional do comerciante, posto a lamentável ineficiência do policiamento preventivo da PM e , também,  da pífia investigação que compete à Polícia Civil. 
Verdadeiramente, a pretensa apuração  baseada no código de processo penal militar e no de embasamento jurídico é só mais uma mentira deslavada de esbirro com pretensão a autoridade policial. 
Enfim, chorumelas de  instituições afrescalhados que não cumprem seus deveres para com a sociedade pagante, preferindo gastar tempo e dinheiro competindo entre si.