Homens de ben$ na Polícia Militar 17

Homens de bens na PM
24 Set 2014
MP suspeita de escrituras achadas em casa de coronel; comando pode ser investigado

Sérgio Ramalho

 

Escrituras de quatro imóveis, incluindo uma casa em Búzios, foram encontradas no apartamento do coronel da Polícia Militar Alexandre Fontenelle de Oliveira. Ele foi preso no último dia 15, durante a operação Amigos S.A., sob a acusação de comandar uma quadrilha de 23 PMs, entre eles cinco oficiais, que receberiam propina de comerciantes e empresas da Zona Oeste. Os documentos, obtidos com exclusividade pelo GLOBO, revelam que há apartamentos em nome da mãe de Fontenelle, da irmã e de outros dois oficiais da corporação que são réus no mesmo processo. Ontem, após um policial beneficiado pela delação premiada ter acusado o Estado-Maior da PM de receber R$ 15 mil mensais de cada batalhão, o Ministério Público (MP) estadual pediu que a Corregedoria-Geral Unificada da corporação investigue o comandante-geral, coronel José Luís Castro Menezes, e os oficiais da mesma patente Paulo Henrique de Moraes e Ricardo Coutinho Pacheco, respectivamente chefes do Estado-Maior Operacional e Administrativo.

Enquanto a CGU não se pronuncia sobre o pedido do MP, as investigações se concentram sobre uma casa em Búzios, dois apartamentos – um no Grajaú e outro em Jacarepaguá – e uma lotérica, cujas escrituras estavam no apartamento em que vivia o coronel Fontenelle, no Leme. Os documentos mostram que, em 30 de novembro de 2012, Fontenelle comprou, em sociedade com uma pessoa cujo nome não foi divulgado para não atrapalhar as investigações, uma lotérica, pagando R$ 200 mil em espécie. Na época, o coronel estava à frente do 14º BPM (Bangu), batalhão classificado na denúncia do MP como “balcão de negócios da holding criminosa militar”.

 

Mãe e colegas da PM teriam uma cobertura

No dia 13 do mesmo mês, a mãe do coronel, o major Carlos Alexandre de Jesus Lucas e o capitão Walter Colchono Netto – também presos na Operação Amigos S.A. – são registrados como compradores de uma cobertura de 320 metros quadrados na Rua Araguaia, uma das mais valorizadas da Freguesia, em Jacarepaguá. Na ocasião, o imóvel foi adquirido por R$ 200 mil. Atualmente, de acordo com os policiais que investigam o caso, o apartamento está sendo anunciado para venda por R$ 950 mil.

Dias antes, foi a vez da irmã do coronel Fontenelle arrematar num leilão, por R$ 422 mil, um apartamento de 178 metros quadrados na Rua Oliveira Lima, no Grajaú. O apartamento de três quartos também está sendo anunciado para venda na internet por R$ 750 mil. Mas agentes da Subsecretaria de Inteligência da Secretaria de Segurança e promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MP ficaram intrigados com um fato: integrantes da família do oficial, apesar de terem mais de um imóvel, moravam juntos num apartamento em más condições de conservação no Leme. Eles suspeitam que o coronel, que chefiava a Coordenadoria de Operações Especiais (COE) da PM, tenha usado a mãe, a irmã e um irmão, tenente-coronel do Exército, para ocultar seu patrimônio.

O levantamento comprovou ainda que o coronel Fontenelle tem um imóvel de dois pavimentos no Condomínio Enseada Azul, na Baía Formosa, em Búzios. De acordo com a escritura, ele pagou R$ 25 mil por um terreno de 680 metros quadrados às margens do canal que dá acesso à Marina de Búzios, em 2008. No ano seguinte, investiu R$ 90 mil na construção de uma casa de 305 metros quadrados com quatro suítes, churrasqueira, piscina e um atracadouro.

 

24 policiais, 43 endereços residenciais

Os investigadores já solicitaram à Capitânia dos Portos dados para saber se o coronel tem alguma embarcação. Há informações de que pelo menos dois oficiais envolvidos na quadrilha são donos de iates, colocados em nome de terceiros. Além disso, promotores do Gaeco destacaram que os 24 PMs denunciados na operação Amigos S.A. tinham 43 endereços residenciais registrados na corporação.

O major Lucas, por exemplo, tem três endereços, dois deles em condomínios de classe média em Jacarepaguá. A equipe de reportagem tentou ouvir por telefone o advogado Paulo Ramalho, que defende o coronel Fontenelle, mas ele não retornou as ligações.

 

Patrimônio do Alto Escalão na mira

Ontem, o MP pediu que a CGU investigue o comando da PM. Um sargento preso na operação Amigos S.A. teria dado detalhes sobre repasse de propinas para o alto escalão da corporação. Ele contou, em depoimento, que cada batalhão repassava R$ 15 mil mensais para o Estado-Maior, e afirmou que o esquema só não funcionou durante a gestão do coronel Erir Ribeiro Filho. O militar disse que o repasse de dinheiro foi informado pelos majores Edson e Neto de forma reservada, e em mais de uma vez. Apesar de ainda não ter recebido o ofício com o pedido do MP, o corregedor Giuseppe Vitagliano disse, na tarde de ontem, que pode pedir a quebra de sigilo patrimonial e bancário dos oficiais citados.

Ao tomar conhecimento das acusações do praça da PM preso na operação Amigos S.A., o comandante-geral da PM, coronel Luís Castro, informou que que vai abrir um Inquérito Policial Militar (IPM) para apurar o caso. Segundo ele, a intenção é convocar os comandantes e representantes do Estado-Maior da corporação para esclarecer as denúncias sobre o suposto “mensalão da PM”. Ele explicou que, se o encarregado do IPM considerar necessário, militares da reserva poderão ser chamados para prestar depoimento.

Em nota, a Secretaria de Segurança informou que tem total interesse em esclarecer o caso e ressaltou que sempre pautou suas ações em cima de provas concretas.

Segurança, uma catástrofe brasileira 71

Segurança, uma catástrofe brasileira

Operação para reprimir a venda de produtos piratas por camelôs, na zona oeste paulistana. Cria-se um tumulto. Um PM saca uma pistola. Um spray de gás de pimenta numa das mãos, a arma na outra. Uma pessoa tenta impedi-lo de usar o spray e o soldado atira para matar.

A PM tenta desconversar, mas um vídeo exibido pela TV Record mostra tudo. Em carta à Folha, o comando da corporação rechaça a ideia de que seria um exemplo de despreparo. Nenhuma polícia é tão preparada quanto a paulista. Não é um padrão. Foi um fato isolado –diz o prefeito. Noticia-se a seguir que o soldado já respondia por outro homicídio. Passam-se uns dias e o autor do disparo, preso em flagrante, recebe um alvará de soltura.

O assassinato de pessoas desarmadas por parte de policiais não é exclusividade do Brasil. No Reino Unido, onde a quantidade de mortes é baixíssima, o brasileiro Jean Charles foi friamente assassinado, “confundido com um terrorista”.

Nos EUA, não faz muito que a violência explodiu em Fergusson. Um policial disparou contra num homem desarmado –”casualmente” era um negro. Em Nova York, pouco antes, outro negro havia morrido em decorrência de um golpe fatal, uma “chave de pescoço” aplicada por um agente da polícia.

No Brasil, entretanto, a polícia mata como um exército no front. Quatro vezes mais do que nos EUA. Mais de 100 vezes mais do que na Inglaterra. E são conhecidos os expedientes para maquiar execuções nas estatísticas oficiais como se fossem resultado de troca de tiros.

Sim, o narcotráfico mantém quadrilhas armadas em nossas cidades de Deus. Fuzis e granadas. Há anos uma guerra acontece aqui ao lado. Na favela vale tudo. Invadir residências sem autorização judicial, torturar, sequestrar, dar sumiço, eliminar. Onde está Amarildo?

Não sei, mas a droga é vendida a céu aberto, pertinho da viatura. Legalizar? Nem pensar, cruz credo, oremos.

Prevalece nas polícias brasileiras a cultura do confronto e da arbitrariedade. Às vezes não se sabe se o governo controla as ações ou se, no fim das contas, é controlado. A insegurança envenena os inseguros, que apoiam a carnificina. Bandido bom é bandido morto. Direitos humanos? Direitos civis? Frescura. Pseudoliberais gastam a lábia para defender o bang-bang.

O sistema prisional é o inferno. O ministro da Justiça declarou que preferia morrer a passar um período numa penitenciária brasileira. Facções criminosas regram em presídios, no lugar do Estado. A Justiça é lenta e o poder público não provê aos cidadãos os meios que deveria.

Quando vamos enfrentar essa catástrofe? Ou não vamos?

marcos augusto gonçalves

Marcos Augusto Gonçalves escreve para a Folha de Nova York. É editorialista e colunista do jornal. É autor de ‘Pós Tudo – 50 Anos de Cultura na Ilustrada’ (Publifolha, 2008) e de ‘1922 – A semana que Não Terminou’ (Cia das Letras, 2012).

Transcrito da Folha de São Paulo ; nos termos do artigo 46 da Lei nº 9.610, de 19 de Fevereiro de 1998.‏

MP denuncia PMs membros da milícia que atua em Carapicuíba 15

Promotoria denuncia dois policiais por chacina que matou sete na Grande SP

DE SÃO PAULO

23/09/2014 21h33

O Ministério Público encaminhou à Justiça, nesta terça-feira (23), uma denúncia (acusação formal) contra quatro pessoas suspeitas de envolvimento em um chacina que matou sete pessoas e feriu outras quatro, em julho, em Carapicuíba, na Grande São Paulo. Dois dos denunciados são policiais militares.

Segundo a denúncia, os acusados teriam atirado contra 11 pessoas, em três diferentes bairros, como uma forma de vingar roubos cometidos contra comércios locais e a morte do PM Adailton da Silva Souza, ocorrida uma semana antes. A Justiça agora deverá decidir se aceita ou não a denúncia contra os policiais.

Um dos PMs foi preso no mesmo dia do crime após receber atendimento médico devido à um tiro na perna. Na ocasião, ele disse ter sido atingido durante uma tentativa de assalto, mas a mulher que ele afirmava estar com ele na ocasião confessou a farsa.

De acordo com o Ministério Público, um dos PMs oferecia ao comércio serviço de segurança particular, que era feito por policiais e civis. O grupo, porém, passou a “exercer verdadeira atividade de organização paramilitar, milícia particular, grupo e esquadrão, dispostos a praticar crimes em nome da segurança, especialmente crimes de homicídio”, aponta de denúncia.

Marcos Bezerra/Futura Press/Folhapress
Série de ataques deixa seis mortos e três feridos em Carapicuíba, na Grande São Paulo
Série de ataques deixa sete mortos e quatro feridos em Carapicuíba, na Grande São Paulo

ATAQUES

Ao todo, foram registrados quatro ataques na noite dos crimes. O primeiro, na rua Comendador Dante Carraro, deixou cinco mortos e dois feridos; o segundo, na rua Jaci, a 500 metros do primeiro, teve um morto; o terceiro, na rua Diógenes Ribeiro de Lima, teve um morto e um ferido; e, o quarto, na rua Rio Branco, teve um ferido.

Em todos os casos, os disparos foram feitos por homens em um carro e duas motos. Entre as vítimas está uma mulher grávida de três meses. Ela estava em um dos bares atacados. Segundo a polícia, ela foi atingida por um tiro de espingarda na cabeça, e não tinha passagem pela polícia.

Transcrito da Folha de São Paulo ; nos termos do artigo 46 da Lei nº 9.610, de 19 de Fevereiro de 1998.‏