Ruy Castro: Pessoas dentro da farda. Ou: policial bom é policial morto! 182

Pessoas dentro da farda

30/04/2014 02h00

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RIO DE JANEIRO – A 13 de março último, o aspirante a oficial da PM, Leidson Alves, 27 anos, foi morto com um tiro na cabeça por traficantes durante um patrulhamento no morro do Alemão. Foi o 19º PM morto neste ano no Rio, sendo 13 em emboscadas parecidas –alguns quando estavam de folga. A 7 de abril, ao voltar para casa, outro PM, Lucas Barreto, 23, foi capturado em São Gonçalo e levado para uma favela. Deram-lhe oito tiros, a maioria nas pernas, e o jogaram num matagal.

Desde então, não sei a quantas anda a estatística de PMs cariocas mortos ou feridos –não em combate, como de praxe no ofício, mas pelas costas, à traição. Nem sempre os jornais registram que o policial assassinado era jovem, recém-casado, filho exemplar ou pai de filhos. Artistas da Globo não vão a seus enterros. Não se sabe de missas por suas almas e, na verdade, ninguém está interessado. É como se não houvesse uma pessoa dentro da farda.

Nas últimas “manifestações” no Rio, elementos brandiram cartazes dizendo “Fora UPP” e “UPP assassina”. É fácil protestar contra as Unidades de Polícia Pacificadora. Quando um policial comete um excesso ou mata alguém, pode enfrentar processo, ser expulso da polícia ou ir preso. Mas ainda não se viu nenhum cartaz dizendo “Fora traficantes”. E, no entanto, contra a violência destes, não há recurso –a comunidade tem de aceitar calada os tapas na cara, o estupro de suas filhas e as execuções sumárias de quem eles considerem suspeitos.

É difícil acreditar que essa hostilidade à polícia parta de gente de bem nas comunidades. Os números mostram que, com as UPPs, as mortes diminuíram, os serviços aumentaram e sua economia cresceu.

Tais dados são lesivos, isto, sim, aos traficantes, às milícias, aos que vivem das migalhas do crime e a políticos que, para sobreviver, precisam que as UPPs fracassem.

Fonte: Folha de São Paulo

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Transcrito da Folha de São Paulo ; nos termos do artigo 46 da Lei nº 9.610,  de 19 de Fevereiro de 1998.

Luiz Flávio Gomes: O risco de ser morto no Brasil na Copa do Mundo 58

O risco de ser morto no Brasil na Copa do Mundo

Publicado por Luiz Flávio Gomes

Se você está na Gávea, no Rio de Janeiro, e caminha dez minutos, chega a uma grande favela (uma das maiores do mundo). Essa caminhada de dez minutos significa a perda de mais de 13 anos na expectativa de vida (veja Empoli). O local em você se encontra retira anos da sua expectativa de vida. Muitos estrangeiros virão para o Brasil para assistir aos jogos da Copa do Mundo. Talvez não tenham consciência exata dos riscos que estarão correndo. Somos o 15º país mais violento do planeta (conforme os números da ONU de duas semanas atrás) e das 50 cidades mais violentas do mundo, 16 estão aqui. São mais de 53 mil assassinatos por ano.

Imagine um estrangeiro de um desses países econômica e socialmente “escandinavizados” (Dinamarca, Suécia, Suíça, Bélgica, Holanda, Nova Zelândia, Austrália, Coreia do Sul, Japão, Alemanha etc.). Nos seus países eles têm (em média) apenas um homicídio para cada 100 mil pessoas (veja nossas estatísticas no Instituto Avante Brasil)? Os Estados Unidos têm 5 (embora seja um império capitalista)? O Brasil tem 27? Quando um “escandinavizado” colocar os pés no Brasil, seu risco de vida já aumenta 27 vezes. E conforme a capital em que ele estiver, sua expectativa de vida vai reduzir drasticamente.

O que os “escandinavizados” estão mostrando para o mundo? O seguinte: quanto mais igualdade material e social, menos violência (menos crime). Esses países possuem as seguintes médias: PIB per capita de USD 50.084, Gini de 0,301 (pouca desigualdade e, ao mesmo tempo, pouca concentração da riqueza nas mãos de pouquíssimas pessoas), 1,1 homicídios por 100 mil habitantes, 5,8 mortos no trânsito por 100 mil pessoas, 18.552 presos (na média) e 98 encarcerados para cada 100 mil pessoas.

Vamos comparar os números (não os países): O Brasil conta com renda per capita de USD 11.340, Gini de 0,519 (0,51: país exageradamente desigual), 27,1 assassinatos para 100 mil pessoas, 22 mortos no trânsito para cada 100 mil, quase 600 mil presos, 274 para cada 100 mil habitantes. Somos 27 vezes mais violentos que a média dos países mais civilizados do planeta. A palavra chave para explicar tudo isso se chama igualdade, porém, não a igualdade puramente formal, sim, material, social, cultural etc. E isso se consegue por meio de (a) educação de qualidade para todos e (b) aumento da renda per capita.

A única maneira de salvar o planeta das tragédias anunciadas (rebelião dos pobres, revolução dos indignados, sangue das guerras, mutilações decorrentes dos conflitos etc.) é melhorar a qualidade de vida de todo mundo. Os “escandinavizados” (Suécia, Noruega, Islândia, Holanda etc.) são os únicos que estão salvando o capitalismo desigualitário do seu desastre final. São dignos de ser copiados. Não temos, portanto, que nos comparar a eles, sim, copiar o que eles estão fazendo de certo (e deixar de fazer as coisas erradas).

Luiz Flávio Gomes

Publicado por Luiz Flávio Gomes

Jurista e professor. Fundador da Rede de Ensino LFG. Diretor-presidente do Instituto Avante Brasil. Foi Promotor de Justiça (1980 a 1983), Juiz.

Sistema Policial Falido – Pode baixar as portas e encerrar as atividades 107

Sistema Policial Falido
De vítima do descaso à vítima fatal
Tanto na delegacia como na abordagem policial

Erro de interpretação? Erro grave?

É muito mais do que isso. É puro despreparo, desequilíbrio emocional, quiça falta de vocação profissional. É um sistema policial adoecido, ultrapassado, apodrecido que não atinge aos anseios sociais, na medida em que seus integrantes não conseguem entender que suas atribuições existem para proteger e servir aos cidadãos de bem que são a quase totalidade do organismo social e ainda conseguem protagonizar eventos graves como os acontecidos nos últimos dias.

A repercussão dessa notícia vai robustecer a imagem de terra sem lei que o Brasil tem no exterior, mormente às vésperas dos grandes eventos desportivos internacionais que se avizinham. Vai o alerta aos turistas antes de saírem de seus países: Vocês vão, mas não garanto que voltarão.

Um cidadão de bem, aproveita seu descanso semanal para resolver um problema pessoal que sequer era noticiar uma infração penal em boletim de ocorrência policial, mas tão somente obter um documento público para poder se ressarcir de pequenos danos em seu veículo.

Não se utiliza da festejada delegacia de polícia eletrônica para registrar o fato porque sua empresa seguradora não aceita documento lavrado na citada delegacia virtual, vai numa delegacia do município onde reside, acompanhado da noiva e a partir daí começa seu calvário: “ Horas de espera e o incrível, inverossímil, inacreditável e inaceitável acontece. Dentro da repartição pública onde, em tese, seria o local mais seguro para abrigá-lo, do nada, surgem disparos só desfechados por policiais que acabaram por atingi-lo mortalmente.”

Agente de telecomunicação não tem, entre suas atribuições, a de fazer a proteção das pessoas e da repartição pública. Não tem atribuição de fazer investigação de campo. Não é uma questão de ter agido com culpa ou dolo, mesmo diante de uma falsa percepção da realidade não teria qualquer motivo para sacar de uma arma e efetuar disparos a esmo, sem alvo, sem motivo, só parando por ter sido baleado por outro policial da mesma equipe de plantão. O verdadeiro policial é o que se encontra preparado para enfrentar o perigo procurando demovê-lo preservando sua segurança e a de terceiros.

Como numa abordagem veicular, onde uma vítima de sequestro relâmpago, ao ver a viatura policial, momentaneamente acreditando que estava salva, ao sair do veículo, segurando um celular, pode ser , por erro de interpretação, confundida como se fosse o marginal e fuzilada por policiais?

Lamentável. Puro Despreparo. Falta de profissionalismo, motivação, estresse no trabalho com necessidade de fazer bico oficial ou não, baixa remuneração com problemas econômicos domésticos ou não dela decorrentes, enfim, sistema policial apodrecido, falido, arcaico, oceano para poucos e deserto para quase todos, a corte para os amigos do rei e o lixo para todos os demais.

Passou da hora desse sistema de segurança falido ser repensado, reorganizado, remodelado de modo a atender os reclamos sociais.

Que Ele ilumine os dois e seus familiares e também proteja os policiais para não protagonizarem fatos tão lamentáveis.

liquidação