São Paulo – Capital Mundial do Roubo
Se ficar o ladrão rouba, se correr o ladrão mata
Se você ainda não vivenciou essa experiência incrível de ser roubado, mude-se para São Paulo. É pura adrenalina.O menú é variado, é roubo de carga, de carro, de residência, de condomínio, de banco e de qualquer tipo de comércio de modo isolado ou cumulativamente e se você contar com alguma sorte, da sua vida também, como tem acontecido muito ultimamente.
Fala-se tanto no avanço da criminalidade e na inércia do poder público em contê-la através de medidas preventivas e repressivas eficazes, que até mudar a mão de direção de toda a malha viária da capital serve como proposta a exemplo da solução encontrada para o “ladeirão” do Morumbi. É muito tecnocrata para pouco policial de verdade. Lugar comum em todas as mudanças administrativas na Pasta da Segurança Pública é a retórica em torno de temas como inteligência policial, estatísticas, reengenharia, etc. Anunciam a queda de todos os indicadores criminais, mas a sensação de insegurança da população não demonstra isso. Parece coisa de meteorologista, a temperatura é uma e a sensação térmica é outra.
Algumas medidas do pacote do marketing político do governo na área da segurança pública, demonstram a falta de visão, de boa assessoria e de experiência no assunto.
É inaceitável assistirmos atônitos uma pacata cidade do interior do Estado, distante apenas 100Km da capital, ser saqueada por uma quadrilha que dominou as forças de “insegurança” local e roubou 11 caixas eletrônicos, feriu dois munícipes e aterrorizou seus habitantes. Isso é coisa de sertão nordestino e mostrar a situação de caos que vivenciamos na área da segurança pública.
Gostaria de lembrar ao Governador que existem cidades do interior, mais distantes da capital, que possuem uma população três vezes menor que Piracaia e com uma população carcerária maior do que a população local.
Nos trabalhos sobre variação da criminalidade, é imprescindível a precisão e correção no que tange às informações sobre a modalidade criminosa e onde tenha ocorrido.Acompanhar os desdobramentos das tentativas de homicídio, mortes suspeitas e vítimas de roubos internadas em hospitais são cautelas indispensáveis para totalização correta dos dados e deveriam ser fiscalizadas por entidades da sociedade civil organizada.
Disponibilizar o auto-atendimento à vítima, possibilitando-lhe que registre pela internet o próprio roubo, é jogar na lata de lixo, informações valiosas para o seu esclarecimento. É o tiro que sai pela culatra. Facilitou a vida da vítima e a do bandido também, vez que o procedimento aumenta as chances de jamais ser identificado.
O monitoramento de câmeras é um recurso que a polícia parece só utilizar em casos de crimes graves. Desconheço um só caso onde uma vítima de furto ou roubo de veículo, ao chegar numa delegacia, antes de registrar o fato, tenha sido convidada a acompanhar um policial até o local onde teria acontecido, para que o mesmo analisasse eventual monitoramento por câmeras, a fim de resgatar as imagens que poderiam identificar não apenas os autores daquele fato, mas de outros tantos já ocorridos no mesmo local ou imediações. O procedimento só não é adotado em razão da absoluta falta de pessoal nas delegacias de polícia territorial. A equipe básica de plantão mal consegue atender a população que acorre à delegacia.
Elencar os distritos policiais onde a quantidade de veículos localizados é maior do que a de veículos roubados ou furtados é simplesmente dizer que lá residem ladrões de veículos que atuam em outras áreas. Com certeza, nas áreas desses distritos não existem grandes concentrações de desmanches, caso existisse, os veículos não seriam abandonados em via pública e sim em suas gôndolas. O que teria que ser levantado é onde ocorreram os furtos e roubos desses veículos localizados a fim de se estabelecer o elo entre eventuais ladrões residentes na área desses distritos e o local onde atuam. Não é surpresa nenhuma que em áreas mais periféricas e pobres a quantidade de veículos localizados supere a de roubados/furtados. Não existe qualquer “meritocracia” em razão disso.
Sequer o número de veículos roubados/furtados oficialmente divulgado pela Secretaria de Segurança Pública é confiável. O “quantum” mais correto, durante o período em análise (mês,ano,semestre,etc) poderia ser obtido junto a Prodesp, através da totalização das mensagens recebidas das unidades policiais para bloqueio de veículo por motivo de roubo ou furto. É sabido que muitas subtrações de veículos que ocorrem nos roubos à estabelecimentos(bancário, comercial, ensino) ou em residência e condomínios são subnotificadas.
Em outras oportunidades, postamos comentários sobre a vergonhosa situação dos inúmeros desmanches de motos encravados no centro de São Paulo, circunvizinhos de várias unidades policiais civis e militares, com os quais, ao que parece, convivem harmonio$amente. Reportagem da global, através do jornal “Bom dia São Paulo”, mostrou o descalabro da situação ao divulgar as imagens de inúmeros chassis de motociclos roubados descartados nas calçadas na cara de todo mundo.
O disque-denúncia em sua propaganda institucional do “webdenúncia” veiculada recentemente na televisão afirmou que das 2000 denúncias recebidas, 20 delas enviadas com imagens auxiliaram no esclarecimento de crimes, ou seja, apenas 1% das denúncias auxiliam a polícia no esclarecimento de crimes. Pergunta-se:
Quantos policiais o Estado disponibiliza para trabalhar no disque-denúncia? Quanto representa isso em termos de salários? Quanto é arrecadado do empresariado a título de colaboração para manutenção do serviço? A quem são prestadas as contas do arrecadado e se foi efetivamente investido na ampliação, modernização e manutenção do serviço? O Poder Público, além dos policiais disponibilizados, faz algum tipo de doação? Alguma entidade, além das polícias, compartilha informações sobre as denúncias recebidas? Em caso positivo, esse compartilhamento tem amparo legal? Todas as denúncias são averiguadas? Existem relatórios que comprovem isso? Por que na ouvidoria existem várias reclamações de denúncias que não foram averiguadas?. Tempos atrás, a polícia vivia problemas de abastecimento, com várias viaturas paradas. Nessa situação, com apenas 1% de sucesso entre as denúncias recebidas, é viável na relação custo/benefício, usar as viaturas para ficarem averiguando esse universo de denúncias recebidas? . Precisamos parar de mentir para a população a quem servimos.
Na direção da polícia sempre os mesmos, só muda a escalação do time principal. As renovações nada acrescentaram.
O DHPP destruído pela gestão anterior que o transformou em lavanderia de BO ensangüentado da PM.
No DECAP e no DEIC, empresários da área de segurança, titularizando várias unidades policiais.Pode não ser ilegal, mas não se afigura como moralmente correto.
O DPPC só atua bem se o MP estiver em cima. A Corregedoria só atua no interior, graças ao prestígio e acompanhamento dado pelos Gaeco’s. Na Grande São Paulo e Capital a coisa está leve e, segundo comentários, o ambiente de trabalho por lá está péssimo, pior que o DECAP na gestão anterior.
A Polícia Militar está treinando para o UFC coletivo, PM versus Black-Blocs. Faz de tudo, menos policiamento preventivo ostensivo fardado, pois caso o fizesse, não teríamos a ocorrência dessas centenas de milhares de roubos todos os meses. Os quartéis lotados de oficiais e praças fazendo serviços de escritórios ou nas unidades escolas como professores ou alunos. Por sua vez a Polícia Civil não investiga mais nada, mormente na capital, por conta da enorme defasagem de seu efetivo, o qual mal consegue documentar as ocorrências.
A Polícia Civil, com um efetivo menor do que o existente ha dez anos atrás, atende o dobro de ocorrências. Muitas delegacias de municípios do interior funcionam graças aos estagiários e funcionários municipais emprestados. Laudos periciais cujas finalizações se arrastam no tempo. Em contrapartida, a PM foi para mais de cem mil homens, somada a multiplicação do número de municípios que criaram suas guardas municipais, temos como resultado disso a piora significativa da qualidade de atendimento nas delegacias de polícia. Não se investiga mais nada e o efetivo existente, trabalhando em dobro, com escalas desumanas que impossibilitam qualquer tipo de “bico” para compensar o péssimo salário que o governo sempre nos pagou.
Se não bastasse tudo isso, somos enganados de forma recorrente pelo governo e administração superior da instituição, com recomposições salariais que, ao final, constatamos não representarem absolutamente nada, tais como: nível universitário e adicional de carreira jurídica, esta última, sequer alcançada pelos aposentados. Para aproximar o salário dos delegados às demais carreiras jurídicas usou dois pesos e duas medidas. Para defensores públicos, 50% de aumento, para os delegados 9%, excluindo os aposentados. Na fase da vida que você mais necessita em razão dos comprometimentos de saúde que são inevitáveis, o governo lhe vira as costas, mesmo sabendo tratar-se de um direito constitucional, sua recomposição salarial no mesmo nível do pessoal da ativa. Duvido que judicialmente esse descalabro não seja corrigido. Passou da hora de nossas entidades de classe provocarem o Judiciário com essa finalidade.
Só para lembrar: O tão festejado e aplaudido adicional, que mais se parece de burrice jurídica, valeu R$ 500,00 limpo no meu salário o que equivale ao valor do vale alimentação que a cúpula da polícia militar conseguiu para todos os seus patrulheiros, praças e oficiais. Além do mais, pensando em seus inativos, arrastou para todos os oficiais e praças que se aposentaram a partir de 2001 a inatividade no posto ou graduação superior.
Muito obrigado governador, secretário da segurança pública e cúpula da polícia civil, como delegado de polícia, eu e minha família agradecemos mais essa grande conquista da categoria profissional a que pertenço.
Resumo da ópera:
A Polícia Civil é uma instituição destinada aos membros da corte. Você jovem bacharel, não caia nessa arapuca.
Autor: Delpol PC