Caro João Alkimin,
Como delegado de Polícia aposentado acompanho com muita atenção e interesse, suas bem elaboradas postagens no “Flit Paralisante”. Confesso minha admiração pela clara, límpida e isenta demonstração da realidade de tudo o que se tem noticiado, ante a falta de segurança que vive nosso estado. Com as devidos comentários, gostaria que em postagem, se abordasse um assunto, que a mim, em tom de desabafo, mais ou menos com as palavras abaixo , foi revelado por eminente Procurador de Justiça:
Depois de dispender muitos sacrifícios e custos, com muito orgulho, ingressei no Ministério Público de São Paulo e cheguei ao ápice da carreira em razão da minha dedicação e esforço.
Pela minha dedicação pessoal ao trabalho e aos estudos, Mestre e Doutor pela USP , recebo o teto constitucional para o funcionalismo; o que me confere vencimentos líquidos na ordem de R$ 22.000,00. Nada ruim, desde que se viva com controle.
Mas guardo revolta por saber que, enquanto isso, Procuradores de Justiça, oriundos dos quadros do oficialato da Polícia Militar do Estado de São Paulo incorporam aos vencimentos todas as vantagens recebidas desde os tempos em que ingressaram na Academia do “Barro Branco”, ocasionando uma gritante disparidade com aqueles, que não tiveram as benesses oferecidas pelo Governo do Estado, dezenas deles, chegando ao absurdo salário mensal na ordem de R$ 60.000,00.
O verdadeiro e único motivo para que o Ministério Público de São Paulo não divulgue os vencimentos de seus membros, vale dizer: os desavergonhados “marajás da PM” que mesmo mudando de carreira e órgão, trazem consigo benefícios de duvidosa legalidade.
Assim, se o foco da matéria estiver condizente com sua opinião, com as devidas correções, gostaria que em postagem, se abordasse o assunto, com as considerações que julgar achar necessárias.
Grato.
Olivo.
Caro Olivo, seu amigo Procurador não é o primeiro a fazer tais desabafos e confidências; ainda há pouco, outro Promotor que é nosso amigo e vizinho, que ingressou na Polícia Civil como escrivão aos 18 anos e com 22 já era Delegado, formado pela USP, revelou a mesma coisa.
Mas existe muito mais a acrescentar, uma lista imensa de irregularidades envolvendo os Promotores que saíram da PM, tais como: estudar gratuitamente, receber alimentação, vestimenta, treinamento esportivo, tratamento odontológico, aparelhos ortodônticos, tratamento para acne, contagem de tempo para aposentadoria desde os 15 anos de idade (não faz muito tempo para ingressar no Barro Branco o requisito era ser maior de 15 anos de idade e portador de curso ginasial ou certificado equivalente, já que o curso equivalia ao antigo colegial) e, para completar, um ordenado correspondente a de um soldado da ativa, realçando que comumentemente são privilegiados apenas os filhos das altas patentes e políticos de nomeada. E tais irregularidades acontecem desde o inicio dos anos 1970, pois a “ditadura” necessitava de seus promotores militares de confiança. Hoje algumas personalidades necessitam deixar bons empregos para seus filhos.
Concluída a academia, dedicam-se eles a ingressar numa faculdade de Direito (normalmente a FMU, uma escola cujo curso era de apenas 4 anos, barata e que concentrava diversos Promotores como professores ) para a posteriori, prestar concurso para o Ministério Público, onde agregam desde o início muitas das vantagens acima enunciadas, sem contar que já com a patente de oficial tripudiam sobre policiais com idade suficiente para serem seus progenitores.
Esta é uma realidade fática incontestável. Sem esquecer que todo Procurador de Justiça, ex- tenente da PM, enquanto fazia faculdade, dedicava-se à difícil tarefa de ser estafeta, auxiliar de gabinete ou fazer parte da escolta de algum Secretário de Segurança ou de Justiça.
Via de regra, após toda essa maratona, muitos passam a lecionar na referida academia, auferindo mais vantagens de ordem pessoal. Vale lembrar que uns poucos, são indicados para a Justiça Militar, onde, mais vantagens são incorporadas.
Lembro a vocês que, atualmente como é necessário fazer prova de experiência jurídica para o ingresso na Magistratura e no MP, o apadrinhado já no 3º ano da Faculdade de Direito é aprovado como mestre nas academias da PM; assim vira professor de Direito sem nem sequer possuir curso de ciências jurídicas e sociais.
É ou não é, um verdadeiro trem da alegria?
Eis o porquê ser tão nefasta a indicação pelo governo do Estado de um procurador (oriundo da caserna) para o cargo de Secretário de Segurança Pública.
Isto tudo ocorre porque os governos, (particularmente o do estado de São Paulo), estão pouco interessados em desmantelar o aparato montado para sustentar os feudos conquistados.
Dizem que o palácio do governo mantém um quartel com seiscentos homens a disposição do Governador (um verdadeiro senhor feudal).
É ou não é para revoltar qualquer cidadão de bem?
João Alkimin
João Alkimin é radialista – http://www.showtimeradio.com.br/
*De lúdico. Referente a, ou que tem o caráter de jogos, brinquedos e divertimentos.

