Reforma da polícia é uma óbvia necessidade 62

Os dilemas da PM

Domingo, 12 de Agosto de 2012, 03h09

O Comando-Geral da Polícia Militar (PM) de São Paulo decidiu criar uma remuneração variável para os soldados e oficiais que atingirem índices de desempenho que levarão em conta a eficiência no combate ao crime e na apreensão de armas e drogas, além da satisfação da população com a polícia, como revelou o Estado (9/8). Trocando em miúdos, a PM pretende premiar os soldados que fizerem aquilo que já são regularmente pagos para fazer, isto é, proteger a sociedade, impedir a ocorrência de crimes e respeitar o princípio segundo o qual toda pessoa é inocente até prova em contrário.
O comandante-geral da PM, Roberval Ferreira França, nega que a medida seja uma reação ao que se poderia chamar de “inferno astral” da polícia. Além de sofrer críticas por conta do notável aumento da taxa de homicídios na capital (47% em junho ante o mesmo período de 2011), a corporação foi acusada de usar violência excessiva em casos de abordagem a suspeitos, como no assassinato do publicitário Ricardo Prudente de Aquino, em julho. Juntando-se a isso o fato de que policiais foram alvo de ataques do crime organizado, surge um quadro substancial de crise.
A reforma da polícia é uma óbvia necessidade. As técnicas para tornar a abordagem policial mais eficiente e adequada às exigências da lei existem e estão à disposição da corporação, mas o efetivo de segurança não dispõe de tempo para treinar. Ao longo do ano, os PMs têm apenas uma semana para praticar os procedimentos. Agora, segundo Ferreira França, a intenção é modificar o turno de trabalho dos policiais para permitir a realização de duas horas diárias de treino.
Além disso, a PM pretende definir, em conjunto com a Universidade de São Paulo, uma nova matriz curricular para os cursos a que praças e oficiais atendem. A colaboração já estava prevista no acordo com a Reitoria da USP para a vigilância do câmpus. A polícia receberá ajuda de centros de pesquisa como o Núcleo de Estudos da Violência e o Núcleo de Pesquisas de Políticas Públicas. Ferreira França disse que o currículo deverá mudar o modo de agir dos novos policiais, tornando-os capazes de lidar com os problemas cotidianos da população.
Segundo o comandante-geral, 90% dos chamados à polícia não dizem respeito a crimes, mas a pedidos de intervenção social, como mediação de conflitos e realização de partos. “Um dos desafios é ensinar esse policial a lidar com adolescentes, que não aceitam bem a autoridade”, afirmou Ferreira França. “O policial precisa saber seu papel.”
A discussão sobre o perfil adequado para a atuação da PM é um tema recorrente. Na gestão do governador Mario Covas (1995-2001), o então secretário de Segurança, José Afonso da Silva, pretendia que os PMs fossem afastados da função de policiamento ostensivo, limitando-os a tarefas como segurança de eventos públicos, repressão de perturbação da ordem e policiamento de trânsito. O motivo foi o episódio da Favela Naval, em que PMs espancaram pessoas que paravam em blitz, em Diadema. Covas chegou a propor um Projeto de Emenda Constitucional para a “desmilitarização” da PM. A ideia não prosperou, mas marcou uma posição clara sobre o tema, cujo debate volta à tona a cada episódio de violência da polícia.
Mas a atual situação da PM não é fruto somente de seus problemas estruturais, tampouco de dilemas históricos. É, no limite, uma questão de comando – ou de falta dele. Os policiais, como bons militares, não fazem outra coisa senão cumprir o que lhes é determinado, segundo o treinamento pelo qual passaram e as condições de trabalho oferecidas, coisas que, em última análise, são de responsabilidade da chefia da corporação.
O secretário de Segurança Antonio Ferreira Pinto garantiu que a direção da PM tem o “controle absoluto” sobre seus subordinados. No entanto, o anúncio das medidas é, ao fim e ao cabo, a involuntária confissão de que o comando policial precisa reformar, em primeiro lugar, sua capacidade de administrar a tropa, que demonstra não ter preparo adequado nem orientação suficiente para enfrentar o enorme desafio de manter a segurança dos paulistas.

ESTADÃO.COM.BR

Sem médicos, escoltas são usadas para socorrer presos 13

AE – Agência Estado

A falta de médicos no sistema penitenciário obriga a Polícia Militar a fazer 160 escoltas de presos por dia para que eles façam atendimentos de saúde em hospitais públicos que atendem pelo Sistema Único de Saúde (SUS). No ano passado, foram feitas 4.897 escoltas mensais pela PM para levar os presos para hospitais. A média este ano continua elevada, com 4.814 escoltas mensais.

 

 

Os dados são da Secretaria de Administração Penitenciária (SAP), que respondeu em junho a um questionário feito pela Conectas Direitos Humanos a respeito do atendimento à saúde. Nas respostas, o secretário Lourival Gomes diz ainda que existem três ginecologistas trabalhando 20 horas semanais para atender quase 12 mil mulheres. “Para quem visita os presídios e os centros de detenção provisória é possível constatar que a realidade é ainda pior. Faltam médicos e remédios”, diz o advogado Rafael Custódio, coordenador de Justiça da Conectas.

 

A situação piorou depois de dezembro do ano passado, quando o procurador Regional dos Direitos dos Cidadãos, Jefferson Aparecido Dias, juntou seus alunos de Direito para investigar a assiduidade dos médicos contratados pela SAP nos presídios. Os estudantes ligaram para o consultório particular de 176 médicos para marcar consultas em horário que esses profissionais deveriam dar plantão no sistema penitenciário. Conseguiram sucesso em 48% dos casos.

 

Essa medida levou a uma instalação de processos administrativos por parte da corregedoria da SAP e levou profissionais a pedirem afastamento do cargo. “Hoje a situação é ainda pior. Para fazer atendimentos à saúde, boa parte dos casos precisa ser levada aos hospitais locais. Muitas vezes, por falta de viaturas e policiais, não há disponibilidade de escolta e os presos não são atendidos”, diz o procurador. Atualmente o sistema penitenciário possui 140 médicos. Para completar o quadro, a SAP abriu concurso público e pretende contratar 308 profissionais. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.