Quem agrava a informação não é sua revelação. É o seu esconder. A praça da liberdade de informação é do povo, como o céu é do condor, diria Castro Alves. 6

“Esconder as informações do CNJ é erro histórico”

“Calandra está pautando o Brasil”, afirma Falcão

Sob o título “As portas se fecham, mas ficam abertas“, o artigo a seguir é de autoria de Joaquim Falcão, professor da Fundação Getulio Vargas (Direito/Rio) e ex-membro do Conselho Nacional de Justiça. O texto foi publicado originalmente no “Correio Braziliense“.

Há pouco, o presidente Calandra, da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), entrou com ação no Supremo Tribunal Federal para que os brasileiros não tivessem mais acesso direto ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ). O STF colocou em pauta. A indignação social e midiática da Corregedoria-Geral de Justiça, dos advogados e da sociedade foi tamanha que o Supremo suspendeu o julgamento.

Até hoje não decidiu. Nem deve. Não deve decidir sobre pressão questões de natureza institucional, sobretudo sob pressão corporativa dos próprios magistrados. Tisna a imparcialidade. Mesmo assim, a AMB fez um imenso bem ao país. Pela primeira vez o brasileiro se apropriou do CNJ como se fosse algo seu. Fundamental para sua liberdade. A defesa do CNJ passou a ser causa nacional, defesa da democracia, julgamento justo a que todos têm direito.

Agora, bastou que Eliana Calmon anunciasse 62 processos em curso sobre enriquecimento ilícito de magistrados, para a AMB voltar ao CNJ, solicitar, sem nenhum processo administrativo, que sejam retirados do site as informações sobre os juízes que respondem a processos administrativos em tramitação nas corregedorias-gerais dos tribunais de Justiça dos estados, que lá estavam apenas com iniciais. Agora, nem mais iniciais querem. Por detrás dessa medida duas conclusões podem ser obtidas.

A primeira é óbvia. Quanto mais difícil e mais escondida a informação, maior será o estímulo da mídia, dos profissionais, das associações e da corregedoria em prol da transparência da democracia. Maior será o esforço de revelar o escondido. Maior será o sucesso. É ingenuidade histórica o controle manu militari ou ex auctoritate legis da informação. A praça da liberdade de informação é do povo, como o céu é do condor, diria Castro Alves.

A dificuldade, e não a rotina de obter a informações, fará com que ela já chegue ao público com indesejada dose de escândalo. Quem agrava a informação não é sua revelação. É o seu esconder. O que não é bom para ninguém. Nem para as instituições democráticas. Mas esse será o resultado inevitável dessa política de tentar fechar as inúmeras portas da caixa preta. Tentativa de sucesso efêmero, demolidor de credibilidades e legitimidades.

O presidente Calandra da AMB está pautando o Brasil. É como se ele dissesse: corram atrás dessas informações que elas são relevantes para a boa Justiça e para a opinião pública do Brasil. Correrão. Está cometendo erro histórico político. Quase suicida.

O acesso à informação sobre os magistrados é antes um direito da cidadania do que uma férrea proteção do magistrado. Antes de tomar uma decisão dificultando informações nos sites, o CNJ deveria ouvir os que defendem nesse caso a liberdade de informação. A Ordem dos Advogados do Brasil não foi consultada. A Associação Brasileira de Imprensa não foi consultada. A Associação Nacional de Jornais não foi consultada. As universidades não foram consultadas. Os institutos de Advocacia do Brasil não foram consultados. As associações de classe não foram consultadas. As ONGs que defendem a democracia não foram consultadas. A prudência decisória que caracteriza os líderes do Judiciário deveria levá-los a ouvir, ouvir, ouvir. E só depois decidir.

O fato é que há três anos na gestão Gilmar Mendes e Gilson Dipp (2008/2010) os dados sobre os processos administrativos julgados pelo CNJ eram disponíveis. Era possível saber quais haviam sido julgados. Também era possível ter acesso às decisões desses processos, em sua íntegra, com os votos de todos os conselheiros. Tinha-se acesso inclusive aos documentos. Dificilmente havia sessão secreta. Eram televisionadas.

Hoje, o Tribunal do Acre, por exemplo, segue essa linha e tudo revela. Informa nos motivos do processo administrativo questões como “acumulação indevida de cargos”, “possíveis crimes contra a dignidade sexual, tráfico de influência e formação de quadrilha”, “excedimento de prazo”.

O Tribunal de São Paulo quase nada revela. Dos 167 processos, 163 têm como motivos “apuração preliminar da conduta do magistrado” ou “prática, em tese, de infração administrativa”.

Parece existir crescente abuso do uso do segredo de justiça no caso dos magistrados. Não justifica segredo de justiça quando se reclama de lentidão do magistrado. Não justifica quando ele comete uma falta meramente disciplinar. Justifica-se apenas em denúncias que atingem sua privacidade. Ou no inquérito, como defende Peluso. Nos outros casos, não.

O CNJ, por pressão da presidência da AMB, vai fechando as portas da liberdade de informação. Mas que continuarão abertas, ensina a história. É só esperar com a paciência democrática. O CNJ antes de regular a matéria, deveria dar o exemplo como tem dado. O momento é este: liberar plenamente as informações como já o fez em passado recente. Salvo em raríssimas exceções.

fonte: Blog do Fred

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“A praça! A praça é do povo
Como o céu é do condor
É o antro onde a liberdade
Cria águias em seu calor!
Senhor!… pois quereis a praça?
Desgraçada a populaça
Só tem a rua de seu…
Ninguém vos rouba os castelos
Tendes palácios tão belos…
Deixai a terra ao Anteu.”
(“O porvo ao poder”, Castro Alves)
 

Um Comentário

  1. ENQUANTO ISSO VEJO JUIZES FAZENDO GREVE POR SALRIOS MELHORES E AQUI AS ASSOCIAÇÕES LAMBENDO A BUNDA DO GOVERNO QUE VERGONHA

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  2. Bom Dia!

    Senhoras e Senhores.

    Durante toda minha vida e acredito que muitas de Vossas Senhorias também tiveram inúmeras oportunidades de se darem bem na vida, fosse à esfera Social ou Profissional, mas, em momento algum se manifestaram se beneficiaram ou advogaram em causa própria em detrimento e desgraça de inocentes.

    Somos o que somos e, somente evoluiremos se fizermos ou modelarmos sempre atitudes positivas. Não a título de boas ações para simplesmente nos desencanarmos ou até mesmo para nos aliviarmos de futuros aborrecimentos ou desencargos de consciência, mas sim, para mostrarmos a nós mesmos, quem de fato somos, a que viemos e qual é o nosso verdadeiro papel e valor neste pequeno mundo, que de antemão afirmo aos Senhores, não é a Casas dos Horrores.

    Caso exista um mundo superior e aqui seja o seu inicio e, caso já estejamos sendo avaliados e, com a absoluta precisão de um cirúrgico habilidoso, já estejamos sendo julgados, destarte a isto só me resta humildemente perguntar:

    Quem serão os eleitos?

    – Serão aqueles que diariamente dão a cara limpa para bater e que vão literalmente para a Guerra de cabeça erguida defender sua Pátria e seus ideais? Ou,

    – Serão aqueles que ficam na retaguarda se dizendo, cabisbaixos e inferiores e, se esquivando por medo e covardia e tão somente esperando o momento certo para apunhalar pelas costas os inocentes para satisfação de seus egoísmos, aspirações e desejos mundanos? Ou,

    – Serão aqueles que se beneficiam da inocência e da ignorância da maioria e engendram e arquitetam planos nocivos a estes em benefício de uma Classe Minoritária? Ou,

    – Serão aqueles que mesmo não sendo seus, se fartam dos melhores néctares e somente depois de inteiramente saciados os reembolsam para o já estilhaçado e sofrido “POVO” completamente envenenado?

    São tantos quesitos e somente esperaremos humildes e sinceras respostas.

    Caronte.

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  3. Gostaria de saber duas coisas?
    a) desde quando o Calandra é juiz? Desde quando é desembargador?;
    b) desde quando não julga/analisa/tem contato com um processo? Desde quando não trabalha mais?

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  4. Eduardo :
    Gostaria de saber duas coisas?
    a) desde quando o Calandra é juiz? Desde quando é desembargador?;
    b) desde quando não julga/analisa/tem contato com um processo? Desde quando não trabalha mais?

    a) O Calandra citado acima não é o Delegado, mas o seu irmão;
    b) O Delegado Calandra não trabalha na PC desde a sua aposentadoria no ano passado, mais informações https://flitparalisante.wordpress.com/2010/03/14/a-aposentadoria-do-doutor-aparecido-laertes-calandra-operacao-relogio-de-ouro/

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  5. Anonymous :

    Eduardo :Gostaria de saber duas coisas?a) desde quando o Calandra é juiz? Desde quando é desembargador?;b) desde quando não julga/analisa/tem contato com um processo? Desde quando não trabalha mais?

    a) O Calandra citado acima não é o Delegado, mas o seu irmão;b) O Delegado Calandra não trabalha na PC desde a sua aposentadoria no ano passado, mais informações https://flitparalisante.wordpress.com/2010/03/14/a-aposentadoria-do-doutor-aparecido-laertes-calandra-operacao-relogio-de-ouro/

    Sim, eu sei.
    E parece-me que enquanto o da PC está aposentado desde a inatividade, o outro está aposentado na atividade há muito tempo.
    Por isso questiono, desde quando ele é juiz? Pressuponho que enquanto na primeira instância ainda tivesse contato com processos. Desde quando é desembargador? Pressuponho que a partir de então ele já passou a se afastar da judicatura, se é que do ofício já não estava afastado lá “embaixo”.

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  6. Eduardo :

    Anonymous :

    Eduardo :Gostaria de saber duas coisas?a) desde quando o Calandra é juiz? Desde quando é desembargador?;b) desde quando não julga/analisa/tem contato com um processo? Desde quando não trabalha mais?

    a) O Calandra citado acima não é o Delegado, mas o seu irmão;b) O Delegado Calandra não trabalha na PC desde a sua aposentadoria no ano passado, mais informações https://flitparalisante.wordpress.com/2010/03/14/a-aposentadoria-do-doutor-aparecido-laertes-calandra-operacao-relogio-de-ouro/

    Sim, eu sei.
    E parece-me que enquanto o da PC está aposentado desde a inatividade, o outro está aposentado na atividade há muito tempo.
    Por isso questiono, desde quando ele é juiz? Pressuponho que enquanto na primeira instância ainda tivesse contato com processos. Desde quando é desembargador? Pressuponho que a partir de então ele já passou a se afastar da judicatura, se é que do ofício já não estava afastado lá “embaixo”.

    Opa, agora entendi sua dúvida.

    Realmente, deve ter muito tempo que o Desembargador Calandra não “põe a mão na massa”, assim como nosso dinossauros.

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