Caros colegas,
Avizinha-se mais um pleito eleitoral e, diante disso, me dirijo a você, delegado de polícia – independente da classe –, para pedir um momento de sábia reflexão.
Desde a nossa democrática assunção, temos lutado, dia a dia, guerras irregulares, muitas das vezes, coadjuvadas por oponentes que, acreditem, deveriam, por dever moral, estar ao nosso lado. Sinto, por vezes, que se tivéssemos mais coesão e mais espírito de corpo, certamente não estaríamos vivenciando esse cenário atual, onde os nossos ganhos denotam troféus que, ao invés de serem erguidos a muitos braços, o são, em razão da nossa gritante diferença de credos,vistos com invulgar desdém.
Nos anos que se passaram, embora muitos delegados e delegadas tenham lutado, o quanto puderam, para edificar a nossa carreira, somos impelidos a concluir que, mesmo com esse esforço hercúleo, muito pouco, em termos práticos, foi auferido, não por fraqueza ou ingenuidade dos nossos antecessores, mas por resistência e gratuito preconceito para conosco. Reconhecemos, sim, o passado classista de muitos, mas, por questões estratégicas, o engenho da velha máquina que nos veio às mãos parecia emperrado, tamanha a dificuldade que nós, hoje, tivemos para movimentá-la a rigor. Por isso, a figurada expressão de tantos anos em poucos, não na medida do forte empenho – todos sempre o tiveram –, mas apenas sob a conta dos resultados sob um ponto de vista geral, coesos, seja sob o ponto de vista recreativo, seja sob o institucional.
Por conta disso, em nome daqueles que nos confiaram – ou não –, o seu voto, começamos um trabalho de estancamento dessa odiosa hemorragia, que parecia não ter fim, deixando de lado a amenidade de outrora para buscarmos auxílio junto àqueles que, efetivamente, poderiam fazer com que mudanças acontecessem, pois, se optássemos pela cega soberba, só nos restaria a bárbara agitação a esmo. A par disso, superamos as medidas pífias e estrategicamente mornas, para encontrarmos um caminho a muito perdido, pois, por sermos constitucionalmente atrelados ao Executivo, teríamos que acertar o passo e, com inteligência e diplomacia, fazermos ver as nossas pretensões. E, ao contrário do que ocorria no passado, conseguimos, sim, ser vistos.
Ganhos, sejamos francos, vem sendo aos poucos auferidos, em doses não tão empolgantes como gostaríamos, entretanto, aquele minguado soro que sequer pingava,hoje voltou a escorrer pela sonda, há muito estancada. Os delegados, finalmente, encontraram um canal de comunicação com aqueles que, num passado não tão distante, sequer nos atendiam. Hoje, estamos mudando a imagem do delegado paulista, estigmatizada em razão da política ditatorial de outrora, a qual, em verdade, nos fez pagar, até hoje, o seu alto preço. Hoje, temos acesso ativo a grupos técnicos de estudo junto à gestão do Estado, mostrando a verdadeira face dos delegados, que não aquela que nos foi à revelia imposta. A carreira, de forma inovadora, tem hoje uma lei própria, apenas para si. O plano de ascenção ganhou contornos nunca vistos, pois um delegado, hoje, sabe que sua carreira firma-se em começo, meio e fim. No passado, acumulávamos unidades, em sistema escravagista. Hoje, somos remunerados por isso.
Enfim, a nossa luta, agora, será pela derradeira aferição de nossas prerrogativas constitucionais, processo já em adiantada fase, a fim de que, a exemplo do que ocorreu com o Judiciário, o Ministério Público e, recentemente, a Defensoria, possamos ter, como nunca antes tivemos, o “status” não apenas de policiais, mas de operadores da lei, do Direito escrito. Sim, a propalada “carreira jurídica”, acrescida da nossa imprescindibilidade a Justiça, está por vir!
Por isso, sem verborragias, ofensas e deméritos a pessoas que, acreditem, nós respeitamos e reconhecemos, venho a sua presença, colega, pedir um momento de reflexão a tudo aquilo que, de maneira séria e ordeira, conseguimos e estamos por conseguir. De nós, não esperem agressividades gratuitas, ataques a iguais e vilipêndios à honra daqueles que nos são, de certa forma, familiares. Delegado não se volta contra delegado. Podemos não concordar, mas vamos, sempre , respeitar e ponderar, afinal, sem educação e ética, nada se consegue num Estado moderno, livre da barbárie.
Se prezam pela humildade, pela decência no trato com as pessoas de bem, pela estratégia programada e pelas ações advindas do coração, e não do fígado, peço, desde já, um novo voto de confiança, para, nos próximos três anos que se aproximam, mudarmos, de vez, a imagem do bravo delegado bandeirante!
Marilda Pansonato Pinheiro
Delegada da Polícia – Nova Adpesp





