Entidades privadas levam 17% das verbas de emendas em
SP
Deputados destinam recursos para associações que não
fazem licitações
Santas Casas e demais entidades de saúde recebem a maior
parte dos R$ 8 milhões que governo de SP libera
RODRIGO VIZEU
DE SÃO
PAULO
Um total de 17% dos recursos públicos
liberados neste ano pelo governo de São Paulo por meio de emendas de deputados
estaduais foram para entidades privadas que não precisam fazer licitação.
Dos
R$ 46 milhões liberados, R$ 8 milhões foram para Santas Casas de Misericórdia,
associações hospitalares e outras entidades voltadas para a saúde, assistência
social, cultura e turismo.
A saúde levou o grosso da verba. Só as Santas
Casas ganharam pelo menos R$ 5 milhões do bolo das emendas. Foram as que mais
receberam, depois de prefeituras.
Na última terça-feira, a Folha
revelou que uma emenda da ex-deputada Patrícia Lima (PR) bancou a compra de
equipamentos superfaturados em um hospital de Registro. Ela disse desconhecer as
irregularidades.
A aquisição foi feita sem licitação, o que é permitido para
os órgãos privados.
A indicação de verbas para entidades desse tipo não é o
único caso em que os deputados optam por mandar dinheiro para onde as as regras
de escolha de quem vai prestar o serviço ou fazer a obra são mais frouxas.
A
Folha mostrou no último dia 8 que 55% do dinheiro liberado após indicação
de deputados foi para obras de até R$ 150 mil, teto que permite a forma mais
simples de licitação, o convite de pelo menos três empresas.
O deputado Roque
Barbiere (PTB), que denunciou um esquema de venda de emenda na Assembleia
paulista, já sinalizou que esse modelo de compras facilita fraudes.
No caso
das entidades privadas, o processo costuma ser ainda mais simples: cotação de
preços no mercado.
O diretor da Santa Casa de Mauá Harry Horst explicou que
as organizações são livres para escolher fornecedor como quiserem por não
estarem sujeitas à Lei das Licitações. “É um pouco mais flexível.”
Além do
controle menos rígido, o investimento rende dividendos eleitorais.
As Santas
Casas e demais associações hospitalares respondem por 50% das internações
realizadas pelo SUS no Estado. Há cidades em que só elas atendem à
população.
“A Santa Casa não consegue tocar sem essa verba. A gente precisa
ter emenda de deputado”, disse Héber Martins, da Santa Casa de Osvaldo Cruz, no
oeste paulista.
A Secretaria de Saúde disse que as entidades se submetem a
“critérios rigorosos para autorização de recursos”. O principal é obrigação de
prestar contas, sob pena de deixar de receber. Também é exigida devolução em
caso de superfaturamento.
Alckmin nega favorecimento de Bruno Covas
Do ENVIADO A APARECIDA
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin
(PSDB), defendeu ontem o secretário de Meio Ambiente, Bruno Covas (PSDB), de um
suposto favorecimento na liberação de recursos para emendas.
“Ele não aprovou
no ano passado R$ 8 milhões em emendas. [Foram] programas de governo que ele
interferiu, solicitou. São coisas diferentes”, disse ele após missa no Santuário
Nacional de Aparecida.
Bruno é pré-candidato à Prefeitura de São
Paulo.
Alckmin disse que o governo divulgará em breve as liberações de
recursos para emendas de deputados estaduais desde 2007.
Deputado promete apresentar indícios contra até 9
colegas
DE SÃO PAULO
O deputado Roque Barbiere (PTB-SP), que
denunciou um suposto esquema de venda de emendas na Assembleia Legislativa,
disse que entregará ao Ministério Público “indícios muito sérios” da
participação de até nove deputados e ex-deputados.
Ele afirmou à Folha
ontem, por telefone, que vai marcar reunião na próxima semana com o promotor
Carlos Cardoso para dar os nomes.
“Dá uns oito, nove nomes, tranquilo. Que já
têm indícios fortes”, afirmou.
Barbiere não quis revelar nomes nem bancadas
porque, disse, isso poderia atrapalhar a investigação que promove para juntar
indícios e testemunhas.
“Quero combinar com o promotor se é conveniente eu
divulgar os nomes, deixar que ele divulgue ou nenhum dos dois divulgar até ele
terminar a investigação”, disse.
O deputado afirmou que tem uma testemunha,
cuja identidade não revela, para levar à Promotoria. Ele também disse que tem um
prefeito “disposto a depor”, mas que vai deixá-lo para o final, por temor de que
a cidade “nunca mais receba verba”.
Ele disse que o que tem “não é bem a
prova”. “A prova vai ser através da quebra de sigilo pela Promotoria, da
investigação.” (RODRIGO VIZEU)
Fonte: FOLHA DE SÃO PAULO




