A Corregedoria da Polícia Militar do Estado de São Paulo investiga no âmbito administrativo se o cabo Rodrigo Domingues Medina, de 36 anos, do Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate), tropa de elite da Polícia Militar já conhecia a jornalista Luciana Barreto Montanhana antes dela ser morta. Segundo a polícia, Medina confessou ter sequestrado e assassinado a jornalista de 29 anos. Ele poderá ser demitido ou expulso da corporação.
Luciana havia sido sequestrada no estacionamento de um shopping em São Paulo, no dia 11 de novembro, quando foi morta por Medina, segundo as polícias Civil e Militar. Imagens obtidas pela polícia mostram apenas a jovem andando pelo shopping, indo para a garagem e depois o carro dela passando pela cancela.
Mesmo após matá-la, o cabo continuou telefonando para a família da vítima. No dia 20 de novembro, ele foi preso pela Divisão Antisequestro (DAS), da Polícia Civil, negociando o resgate. Na ocasião, alegou aos policiais que sequestrou a vítima porque tinha uma dívida para saldar. Ele ganhava cerca de R$ 3 mil, mas teria feito um empréstimo de R$ 20 mil, segundo a corregedoria.
O cabo teria dito também que estrangulou a moça porque ela reagiu. O corpo da jornalista foi encontrado no dia 27 em uma ribanceira nas margens da Via Anchieta, na Baixada Santista. O sepultamento ocorreu no domingo (28). A jornalista Luciana Barreto Montanhana estava noiva e trabalhava em um assessoria de imprensa.
De acordo com o corregedor geral da PM, coronel Admir Gervásio Moreira, a corregedoria participa das investigações instauradas no batalhão onde o cabo Medina trabalhava copiando laudos do Gate.
“Existe essa suspeita. O policial militar teria frequentado a mesma boate da jovem”, disse o coronel Gervásio Moreira nesta terça-feira (30) por telefone ao G1. Policiais militares e civis informaram que o cabo Medina ia sempre ao local, onde colegas do regimento de cavalaria da PM fariam a segurança.
Em depoimento à DAS, Medina nega que a versão que já conhecia a jornalista. Afirmou que escolheu a vítima aleatoriamente porque o carro que ela usava custava mais de R$ 100 mil.
Mais envolvidos
A Corregedoria da PM também suspeita que mais pessoas possam estar envolvidas no sequestro e assassinato da jornalista Luciana. “Há suspeita de mais gente participando do crime, apesar de ele admitir o crime sozinho”, disse o major Rubens Isquierdo Marques Gonçalves, da corregedoria.
Cerca de dez policiais militares já foram ouvidos pela corregedoria no caso, inclusive os três PMs que morariam com o cabo. Todos negaram qualquer envolvimento nos crimes.
Demissão e expulsão
Ainda segundo os oficiais da corregedoria, toda a apuração a respeito de como o cabo sequestrou e matou a jovem integram o procedimento que estuda uma eventual expulsão e demissão do cabo da corporação.
“Foi instaurado um processo legal para analisar a permanência dele ou não na instituição. A conduta dele foi grave e denigre o nome da instituição”, afirmou o coronel Gervásio Moreira.
“Essa sindicância que apura a conduta dele e se ele será ou não desligado está no batalhão dele, o 4º Batalhão de Choque. Como o cabo tem mais de dez anos na corporação, vai ser submetido a um conselho de disciplina”, explicou o major Marques Gonçalves.
Furto
Ainda de acordo com a Corregedoria da PM, o cabo Medina vai responder a um Inquérito Policial Militar por suspeita de ter furtado material de uso exclusivo do Gate.
“Foi encontrado material da polícia na casa dele, que ele levou para casa. Munição química do Gate. Material de distúrbio civis. Não seria para uso próprio. Talvez ele quisesse como lembrança, mas mesmo assim configura furto. É a mesma coisa de pegar bala de uso restrito e levar para casa”, disse o major Marques Gonçalves.
O celular da vítima foi encontrado no quarto da residência onde o cabo morava. No local, também foi apreendido um saco de algemas de plástico, iguais às que o policial usou para imobilizar a vítima.
A corregedoria também apura a informação de que o cabo Medina já teria sido desligado da Academia da PM no início dos anos 2000, quando era candidato.
Indiciado
Na segunda-feira (29), o cabo Medina foi indiciado pela Polícia Civil, que instaurou inquérito para apurar a responsabilidade do policial militar no âmbito criminal. O suspeito vai responder por sequestro seguido de morte e resistência à prisão. Quando foi preso em flagrante, no último dia 20, ele atirou contra os policiais civis da DAS, foi baleado e levado para um hospital. Atualmente, o PM está detido no presídio Romão Gomes da Polícia Militar.
“As investigações prosseguem para que possamos identificar novos autores ou seguimos na versão dele de que ele cometeu o crime sozinho”, explicou durante a semana o delegado Carlos Castiglione, da DAS.
Procurado pelo G1 para comentar o assunto, o advogado Egmar Guedes da Silva, confirmou por telefone que defende o cabo Medina, mas não quis falar sobre o caso. “Nesse momento prefiro não comentar nada”, disse Silva.
A Polícia Militar divulgou uma nota sobre o caso. Leia a íntegra abaixo:
“Em relação a participação do Cabo PM Rodrigo Domingues Medina do 4º BPChq no crime de sequestro e homicídio, informamos que o PM encontra-se preso no Presídio Militar Romão Gomes. A Corregedoria da PM adotou todas as providências necessárias para a elucidação do caso em conjunto com a DAS, delegacia que apoio desde o início das investigações. O Cabo Medina conta 14 anos de serviço e desde maio de 2006 servia no Batalhão de Choque, exercendo atividade administrativa há mais de um ano (confecção de laudos), jamais atuou na função de negociador. Não há registro de punição grave ou desabonadora na ficha do Cabo PM. Foram instaurados todos os procedimentos para apuração do fato na esfera administrativa e criminal. Reafirmamos a política de Comando no sentido de não compactuar com nenhum tipo de irregularidade, apurar com rigor qualquer desvio de conduta e dar a toda transparência aos casos.”
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PM investiga se cabo do Gate conheceu jornalista em boate de SP ( “sic”)
O “conheceu” pode ser interpretado como “iniciou relações”, mas no caso é “conheceu” de foi buscar informações acerca da rotina da vítima.
É o espreitar; o vigiar ocultamente no aguardo do momento mais oportuno ao ataque.
Um verbo colocado erroneamente pode matar a honra da vítima.