O JOGO DO BICHO E O P (para) T(todos)!

Jogo do bicho e o PT gaúcho:
Entenda o caso 31/10 – 11:30:00 AM Último Segundo
Às vésperas da corrida eleitoral de 2002, o PT gaúcho enfrenta uma das piores crises de sua história. O pivô do caso é o petista Diógenes de Oliveira, presidente do Clube de Seguros e Cidadania, criado em 1998, em Porto Alegre. Numa gravação apresentada pela CPI da Segurança Pública, na semana passada, Diógenes conversa com o então chefe de polícia Luiz Fernando Tubino e pedia que ele impusesse um relaxamento da repressão ao jogo do bicho. Na fita, Diógenes diz ter bom relacionamento com bicheiros e que falava em nome do governador Olívio Dutra. O governo petista do Estado tem minoria na Assembléia Legislativa, controlada pela oposição, como também a CPI. A CPI trabalha com a hipótese de doações do jogo do bicho à campanha de Olívio, em 1998. Nesse ano, o clube arrecadou R$ 300 mil de doações, posteriormente repassadas ao PT. Os dados foram obtidos pela CPI após quebra dos sigilos bancário, fiscal e telefônico de Diógenes e do clube. Como o ramo de seguros rendeu apenas R$ 20 mil ao clube, a CPI suspeita que a atividade servia apenas de fachada para a arrecadação de fundos para a campanha petista. Nesta terça-feira, o PT nacional resolveu apoiar Olívio e atacar Diógenes. O diretório estadual do partido no Rio Grande do Sul vai analisar a conduta do ex-tesoureiro de campanha. Diógenes disse ter usado o nome de Olívio sem permissão. Cronologia O estopim do caso ocorreu com a gravação, mas ele vem sendo traçado desde 1999. Acompanhe a cronologia: Em março de 1999, é pedida, na Assembléia Legislativa, a instalação de uma CPI para investigar problemas na área da segurança pública. Em março de 2000, a Assembléia instala a CPI do Crime Organizado, deixando a segurança pública de lado, depois de manobra da bancada governista. Em setembro de 2000, o Legislativo aprova o relatório da comissão, que propõe a criação da CPI da Segurança Pública. A intenção era investigar a relação entre o Estado e o crime organizado, baseado em 222 denúncias contra agentes policiais e 31 contra delegados. Dos 53 presos por conta dos trabalhos da CPI, vários eram policiais. Um delegado e 35 agentes da Polícia Civil foram afastados. Em abril de 2001, a Procuradoria Geral da Assembléia emite parecer favorável à instalação da CPI, que estava sendo barrada pelos governistas. Dias depois, é instalada a CPI da Segurança Pública. Em maio, delegados dizem à CPI que banqueiros do jogo do bicho doam dinheiro para o PT e para obras sociais do governo. No mesmo mês, é revelada a existência de um inquérito que investiga ao menos cinco deputados por suspeita de recebimento de verba do jogo do bicho na campanha de 98. No dia 17 de maio, Jairo Carneiro dos Santos, ex-tesoureiro do PT e expulso por desvio de dinheiro, diz que o Clube de Seguros recebeu verba do jogo do bicho para comprar um prédio, que foi cedido ao PT. O prédio custou R$ 310 mil e foi comprado em 1998. Jairo diz que, no total, foram doados R$ 600 mil. Em julho, Diógenes apresentou uma lista de doadores tentando justificar a compra do prédio. Mas a lista mostrava doações feitas em 99, depois de quitada a compra. Uma outra lista foi apresentada depois, mas, como na primeira, não havia dinheiro o bastante para a compra do prédio em 1998. Em junho, o presidente do Movimento de Justiça e Direitos Humanos, Jair Krischke, denuncia uma suposta ligação do governo com a máfia internacional de exploração de jogos eletrônicos e videoloterias. Ainda em junho, Jairo depõe na CPI e diz que mentiu sobre as doações do jogo do bicho, alegando que queria apenas se vingar do partido. Em outubro, Jairo volta a depor na comissão e confirma ter inventado a história das doações. No entanto, é revelado que, na data do primeiro depoimento, ele recebeu duas ligações do PT em seu celular. Uma foi da sede do partido e a outra do atual tesoureiro da legenda, Marcel Frison. Jairo não explica os telefonemas. No dia 22 de outubro, Carlos Zignani, representante da empresa Marcopolo S/A, diz que a empresa fez doações diretamente ao PT, e não ao Clube de Seguros, contradizendo a versão de Diógenes. Mas os recibos da doação são assinados por Diógenes e por Janice Foschiera, funcionária do clube. No dia 26 de outubro, Luiz Fernando Tubino, ex-chefe de Polícia da gestão de Olívio Dutra depõe na CPI, que divulga uma fita na qual ele e Diógenes conversam sobre o jogo do bicho. Diógenes diz que fala em nome de Olívio e sugere o relaxamento na repressão ao jogo do bicho. Tubino reconhece a conversa, feita em 1999. O governador nega que tenha dado qualquer autorização a Diógenes. O presidente do clube diz que manteve a conversa, mas que apenas quis testar a fidelidade de Tubino. Tarso Genro O caso pode acabar enfraquecendo o nome de Olívio para a reeleição em 2002. Até então, ele ocupava o nome preferencial do PT para disputar a corrida eleitoral. Agora, o prefeito de Porto Alegre, Tarso Genro, pode ganhar fôlego na disputa. Genro é da ala Rede, que lançou, em setembro, seu nome para o governo do Estado. O prefeito, reeleito em 2000, é um dos principais nomes da esquerda do partido.