Promotores, procuradores e delegados: nobres do palácio, párias nos luxos e isonômicos no mau cheiro! 5


Um olhar gonzo para a falta de “ubiquação” das castas que sonham (e espumam) com carros importados ,  bônus milionários  e ficam nos pés, de nariz colado na vitrine do vizinho, chorando isonomia.

Sob inspiração de bombástica matéria publicada no Portal Metrópoles de autoria de Luiz VassalloRamiro Brites.

Vamos falar de carreira que no WhatsApp defendem penduricalhos, ironizam outros servidores e reclamam de carrões de juízes.

Do que é viver com o senso de império na cabeça, mas sem o império no lugar.

No MPSP, nas delegacias e outros gabinetes da elite “jurídica” , a “ubicatión” — que no portunhol castiço significa “sentimento de pertencimento ao lugar certo” — é escassa, e a falta dela é o grande drama da classe.

Também pode significar sentimento de onipotência , grandeza e até pejorativamente como falta de inteligência !

Será trauma institucional dos tempos – até 1988 – em que o Juiz poderia nomear “promotor ad hoc”?

Há muitos anos , tudo virou competição: “quem é mais nobre?”; “quem não é plebeu?”; “quem não está do lado de lá da vitrine?”.

No MPSP, o grupo “Equiparação Já” grita por isonomia!

Mesmo choro; desde antes da “Carta de Curitiba ( 1986 )“…  

No fundo, destilando antiga inveja raivosa; agora de juiz com carro esportivo alemão e inveja de desembargador com coleção de apartamentos.

“Você já passeou de Porsche hoje?”, esbanja ironia um procurador.

Logo no parágrafo seguinte, reclama: “A diferença entre nós e os desembargadores não é eventual, é estrutural. Agora, estamos em uma classe social inferior.”

Os diálogos são ouro para uma crônica cáustica.

Uma procuradora indigna-se:

“Inacreditável! Um conhecido meu, juiz, acabou de comprar o terceiro carro de colecionador!

Mais de um milhão só em carros de colecionadores para ficar na garagem e sair só final de semana!”.

Um amigo meu – Desembargador aposentado – manda biejinhos nos ombros para a invejosa!

E, enquanto isso, outros membros do MP vociferam por “equiparação”, prêmios, bônus, penduricalhos e o “direito a pagar as contas” — claro, com um salário que, para o resto da sociedade, já é digno de aposentadoria precoce em Lisboa.  

Aqui, a isonomia funciona só para puxar o tapete lá de baixo ; nunca para estender a mão.

A categoria em si é unida na angústia de ser “classe média alta funcional”, mas é rara na defesa do serviço público para além do próprio salário.

Quando alguém contesta, é chamado de “mesquinho”, “ingênuo”, “inimigo da classe”, “idealista” ; em vez de exemplo , uma aberração!

O “burro” é quem não quer receber o penduricalho, o “espertinho” é quem milita pela “equiparação” ;  enquanto ela – a coletividade , a razão do serviço, a coisa pública em si – ficou no banco da reserva, à espera do momento em que alguém, por esquecimento, abrir a porta e deixar entrar ar fresco.

O “burro” certamente já vislumbrou que o fim da matata está próximo!

Promotores , procuradores e delegados parecem viver uma cena digna de Kafka ou de uma propaganda de rádio do Eli Corrêa : ambos clamam por “isonomia”.

“Oiiii gennnte! 

Penso que , em vez do inseto gigante de a Metamorfose , estão muito mais para as moscas da feira …

Em “Assim Falou Zaratustra”, de Nietzsche, as “moscas da feira” (ou “moscas venenosas”) representam as pessoas mesquinhas, pequenas e venenosas que se sentem ofendidas pela grandeza e o orgulho de quem está acima delas.

No caso, há isonomia na falta de “ubiquação” — ou, em português claro, ambos sentem falta de reconhecimento, de status, de respeito. Não querem só dinheiro, querem ser vistos, querem ser aplaudidos, querem sentar-se na primeira fila do baile — de preferência, ao lado dos magistrados, seus ídolos inacessíveis.

Mas, entre um café requentado na delegacia e uma reunião importante no MP, um detalhe passa despercebido: promotores e delegados são, de fato, isonômicos .

Só que na falta de percepção da sua verdadeira realidade!

O  sentimento de pertencimento, de estar no lugar certo, de ser reconhecido , falta tanto para o promotor, que sonha com o Porsche do juiz, quanto para o delegado, que sonha, “quando sonha” , com o salário do promotor.

Enquanto isso, a população assiste ao espetáculo com cara de quem tomará um  Flit Paralisante qualquer.

O debate interno,  nas redes sociais , nos grupos do Whatzapp , nos corredores dos fóruns e das delegacias, é uma mistura de culto à autoimagem, ressentimento de banco de faculdade e racionalização jurídica digna de um manual de autoajuda corporativa.

Diga-se: bem mafiosa!

O argumento técnico é só o palco: atrás do pano, a peça é de vaidade, medo de perder o “Submariner” e inveja do juiz que transita de Lexus ostentando um “discreto” Patek Philippe e que compra seus ternos na Europa; sem contar para ninguém.

Cá entre nós : não gostaria de ser julgado por magistrado que  compra Porsche…Prefiro aqueles dos tempos de Chevette , Opala ou mesmo Santana!

Verdadeiramente, todo  mundo quer um pouco do que o vizinho tem.

Mas nada é tão amargo quanto notar que, nem na solidão de frente ao espelho, se consegue gostar do reflexo.

A pessoa  põe bela roupagem, discursa contra os privilégios do poder, mas depois, no grupo interno do WhatsApp, explode o “Inacreditável”!

E, claro, segue remoendo: “A diferença entre nós e os desembargadores é maior do que entre nós e os ( nossos )  analistas. Estamos mais perto de sermos vistos como ( os nossos ) funcionários do que como ( nossos )  iguais. Isto não é eventual, é estrutural. Agora, estamos em uma classe social inferior. Bom domingo, com ou sem Porsche.”

Bem feito para os analistas “metidos a besta” !

Que nos perdoem todos que ainda mantém postura e comedimento ao tratar de questões tão sensíveis.

Porra, todo mundo quer pagar as suas contas …

Mas nem todos trabalham o suficiente para merecer R$ 100.000,00 por mês e ainda achar pouco.

Pior: ainda ser invejoso!  

Defeito que este Gonzo nunca se permitiu; ainda que sempre tivesse muita revolta pela supervalorização de algumas castas do funcionalismo em detrimento de quem ,  verdadeiramente , além de tocar , tem que carregar o piano e toda a banda nas costas…

Esses rapazes merecem um grande : “vão tomar bem no meio do olho do cu”, com especial dedicatória ao Dr. Christino que , certamente , queria ser Juiz “judicialiforme” , para quem não é do tempo desse palavrão : quando o Delegado – ou ou o Juiz – de ofício , investigava , denunciava , presidia a instrução e sentenciava, conforme seus interesses , pelo engavetamento  ocorrências de crimes graves .

Bastava fazer mais ou menos como o Marcio Sérgio : instaurar PIC para , ao final , contrariando a si próprio, suscitar que o ocorreu desistência voluntária e arrependimento eficaz , pelo que, nos termos do artigo 18 do CPP ( risos )  autoarquivada o PIC de gaveta , sem esquecer de expedir ofício com cópia da sua r. decisão diretamente ao  infeliz peculatário  – rico e sogro de Desembargador – como se pedisse desculpas pelo inconveniente .

No fim, o grande drama deles não é a falta de coisa alguma , mas sim o excesso de espelho. Enquanto se olham, se comparam e se lamuriam, a banda – aquela que toca a sinfonia caótica da violência, da corrupção e da miséria real – continua esperando que alguém, por um milagre, pare de chorar o Submariner que não tem e comece, finalmente, ajudar a carregar o piano.