-Aquele animal matou a Polícia!
-E agora lhe darão enterro com honras de chefe de Estado!
Foram as frases proferidas pelo meu saudoso pai naquele feriadão de maio de 1979.
Até então eu não compreendia o porquê de seu rosto desfigurar-se ao ouvir o nome daquele homem.
-E agora lhe darão enterro com honras de chefe de Estado!
Foram as frases proferidas pelo meu saudoso pai naquele feriadão de maio de 1979.
Até então eu não compreendia o porquê de seu rosto desfigurar-se ao ouvir o nome daquele homem.
Demonstrava asco; vergonha, inclusive.
Bradava: mancha!
É uma mancha…
-Uma grande e gorda mancha cambaleante!
Afinal, qual a razão de tal desprezo por um colega de trabalho?
Para mim o meu pai era um trabalhador como outro qualquer; como qualquer operário ou comerciário que pouco folgava, e quase sempre trabalhava a noite.
Enquanto eu e meus irmãos brincávamos, recomendados por minha mãe para não interromper-lhe o descanso, o nosso pai dormia.
O meu velho era taciturno…
Afinal, qual a razão de tal desprezo por um colega de trabalho?
Para mim o meu pai era um trabalhador como outro qualquer; como qualquer operário ou comerciário que pouco folgava, e quase sempre trabalhava a noite.
Enquanto eu e meus irmãos brincávamos, recomendados por minha mãe para não interromper-lhe o descanso, o nosso pai dormia.
O meu velho era taciturno…
Olhar triste, poucas palavras e muitas contas atrasadas.
Aparentava vaguear noutras esferas.
Em alguma nuvem ou praia deserta.
O seu primeiro “carro zero”, um Voyage, foi adquirido em 1986; semanas antes de se aposentar voluntariamente.
Mesmo assim depois de esperar meses pela entrega e ameaçar ajuizar ação contra o consórcio.
Eu acabara de me formar pela FDUSP.
O seu primeiro “carro zero”, um Voyage, foi adquirido em 1986; semanas antes de se aposentar voluntariamente.
Mesmo assim depois de esperar meses pela entrega e ameaçar ajuizar ação contra o consórcio.
Eu acabara de me formar pela FDUSP.
Ao contrário dos meus irmãos mais novos, aos 23 anos continuava dependente do velho.
As nossas brigas eram rotineiras.
O motivo sempre o mesmo: meu obstinado querer abraçar o ofício de meu pai.
E não pela minha natural vocação ou admiração pelos seus feitos.
As nossas brigas eram rotineiras.
O motivo sempre o mesmo: meu obstinado querer abraçar o ofício de meu pai.
E não pela minha natural vocação ou admiração pelos seus feitos.
Aliás, do seu trabalho, verdadeiramente, pouco sabia.
E nunca soube de nenhum grande feito de meu pai.
Dele apenas conhecia a boa fama, uma quase idolatria, entre os funcionários.
O mesmo não se podia dizer de seus colegas, salvo dois.
E nunca soube de nenhum grande feito de meu pai.
Dele apenas conhecia a boa fama, uma quase idolatria, entre os funcionários.
O mesmo não se podia dizer de seus colegas, salvo dois.
Depois de aposentado recebia muitas visitas de funcionários.
Não raro em busca de conselhos e orientações.
Questionavam-lhe por não voltar exercer a advocacia.
O meu pai fora ainda muito moço.
Antes de “virar” – como dizia – Delegado de Polícia.
A todos repetia a seguinte resposta: “o direito desta terra é tão sério quanto uma revista Playboy, preferível a segunda pelas fotos de lindas mulheres”.
A amargura e algum recalque eram notórios.
Ele não fazia questão de esconder.
Muito educado de sua boca ouvi um único palavrão.
Naquele 1986, quando mutilando a minha felicidade ao pretender surpreender-lhe com maravilhoso o presente: passei pai, passei; vou ser Delegado como o Senhor…
Respondeu-me lívido: então foda-se!
É mais burro que eu, pois vai comer merda sabendo o fedor e o gosto que tem.
Foi uma punhalada.
Não raro em busca de conselhos e orientações.
Questionavam-lhe por não voltar exercer a advocacia.
O meu pai fora ainda muito moço.
Antes de “virar” – como dizia – Delegado de Polícia.
A todos repetia a seguinte resposta: “o direito desta terra é tão sério quanto uma revista Playboy, preferível a segunda pelas fotos de lindas mulheres”.
A amargura e algum recalque eram notórios.
Ele não fazia questão de esconder.
Muito educado de sua boca ouvi um único palavrão.
Naquele 1986, quando mutilando a minha felicidade ao pretender surpreender-lhe com maravilhoso o presente: passei pai, passei; vou ser Delegado como o Senhor…
Respondeu-me lívido: então foda-se!
É mais burro que eu, pois vai comer merda sabendo o fedor e o gosto que tem.
Foi uma punhalada.
Muito chorei.
As suas palavras e decepção me atingiram como pedras.
O extremado amor pelo meu pai era o porquê de eu querer ser Delegado de Polícia.
O extremado amor pelo meu pai era o porquê de eu querer ser Delegado de Polícia.
Estava iniciando mal o primeiro capítulo desta estória, ou será: “a minha história”.