Há quase dois anos, a família do menino Kleyton Pedro de Souza espera que algum oficial da Corregedoria da Polícia Militar apareça na casa da criança,

”Kleyton gostava de policial, queria dar oi”
Mãe viu filho ser executado e nunca recebeu pêsames

Camilla Haddad, GUARULHOS

Há quase dois anos, a família do menino Kleyton Pedro de Souza espera que algum oficial da Corregedoria da Polícia Militar apareça na casa da criança, localizada em uma viela no município de Guarulhos, na Grande São Paulo. A visita tão esperada é para saber se houve justiça no caso. Foi ali, no ano de 2006, exatamente na véspera de ano-novo, que o garoto de apenas 7 anos foi morto com um tiro disparado por um PM. Na ocasião, o soldado alegou que o disparo aconteceu durante uma perseguição a três rapazes que eram procurados na região.

“Mas não foi nada disso que aconteceu. Eu me lembro como se fosse hoje. Um PM apareceu na viela onde só estava meu menino, cobriu a arma com um chapéu que eles (policiais) costumam usar e atirou, do nada”, lamenta a mãe da vítima, a dona de casa Cleusa Souza, de 26 anos. Ela presenciou toda a cena pela janela de casa.

Desde aquele dia, Cleusa passa as tardes olhando o álbum de fotos do filho e chorando. “Meu menino gostava de policial. Quando passava um aqui na rua, ele sempre queria dar ?oi?. Tinha admiração mesmo”, revela. “Agora quando vejo um deles atravesso a rua. Dá medo”, afirma.

“O que mais me deixa triste é que ninguém da Corregedoria vem nos ver, dar uma notícia de como está o caso do Kleyton. Eu ouvi dizer que o PM foi afastado,mas eu já vi ele por aí, dentro de viatura, às vezes leio algo na imprensa. Mas não é justo. Sei que pode parecer perigoso ficar falando isso, ainda mais no jornal, só que eu tenho de lutar pelo meu filho”, diz a dona de casa, revoltada com o “descaso sem motivo aparente”.

“Somos negros e pobres. Ninguém quer saber de dar satisfação para nós”, diz Cleusa. Procurada pela reportagem, a Polícia Militar informou que o soldado foi autuado em flagrante, recolhido ao Presídio Romão Gomes e cumpre, atualmente, expediente administrativo.

Além de Kleyton, Cleusa tem outros três filhos. “Eu não deixo eles brincarem por aí ou na rua da minha casa. A gente imagina que pode acontecer de novo.” A família pretende mudar de endereço e, se possível, até de cidade. “Guarulhos, para nós, não tem mais sentido. Morar aqui causa muita dor. São lembranças que quero esquecer.”

RATEIO NO ENTERRO

Segundo outros parentes de Kleyton, no dia do enterro, nenhuma autoridade prestou apoio à família. “Ninguém apareceu nem para dar os pêsames”, recorda um tio. O garoto foi enterrado no Cemitério Vila Rio e o funeral foi pago por meio de um rateio entre os vizinhos dos pais.