O QUE DIRIA ESPINOSA AO DOUTOR MAURÍCIO LEMOS FREIRE 10


Barouch de Spinoza’ברוך שפינוזה’

ESTADO DE GREVE 24/8/2008
‘A maioria dos policiais tem orgulho’­
FABIANO MAIA
Delegado-geral da Polícia Civil comenta sobre estado de greve e diz: profissão é sacerdócio
O delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo, Maurício José Lemos Freire, afirma que a profissão é um sacerdócio e que, por isso, os policiais não podem penalizar a população e não podem, em hipótese alguma, entrar em greve.
Recentemente, ele esteve em Jundiaí para uma palestra numa universidade e, em entrevista exclusiva ao JJ Regional, comentou sobre o estado de greve da categoria, escândalos como o que envolveu a emissão de CNHs (Carteira Nacional de Habilitação) e as perspectivas para os policiais civis.
Com 31 anos de carreira, Freire já exerceu muitas funções e é o único brasileiro credenciado – desde 1991 – como instrutor da Swat, do Departamento de Polícia de Miami.
JJ Regional – O estado de greve dos policiais civis causou grande polêmica.
Na sua avaliação, o que precisa ser melhorado para a categoria?
Maurício José Lemos Freire – Eu acho que é um direito de todos reivindicar cada vez mais melhores condições e melhor remuneração.
Mas é inaceitável que a polícia entre em greve, qualquer que seja a situação.
Nós temos trabalhado e o governador é muito sensível a essas melhoras.
Vários secretários estão trabalhando conosco para valorizar cada vez mais o policial.
E quais serão as melhorias?
São diversas ações.
Nos últimos cinco anos, recebemos muitos equipamentos, talvez mais do que nos últimos anos da Polícia Civil.
Mais do que isso, estamos trabalhando num projeto de reestruturação das carreiras.
Hoje temos 14 carreiras na atividade policial civil e há uma reestruturação e uma revalorização das carreiras, uma recomposição de unidades policiais, vários concursos estão em andamento, enfim, buscamos cada vez mais aquela que é a arma principal da nossa instituição, que é o ser humano, que é o policial.
Na sua avaliação, qual deve ser a formação para as diversas funções dentro da Polícia Civil?
Eu acho que cada vez mais a gente busca uma polícia do futuro, do mundo cibernético.
A marginalidade vai mudando sua maneira de agir, o mundo vai se globalizando, enfim, novas formas vão surgindo e a polícia precisa estar avante disso.
Esse trabalho que é feito em faculdades, em academias de polícia, é fundamental para manter os policiais cada vez mais atualizados, cada vez mais num nível elevado.
Hoje nenhum policial pode estar à parte do mundo da informática.
Diversos instrumentos estão sendo disponibilizados aos policiais.
Nós estamos ligando todos os municípios através do registro digital de ocorrências.
Apenas 70 dos 645 municípios tinham esse sistema.
Até o final do ano, vamos aumentar para esses municípios e os sistemas serão mais poderosos. Softwares poderosos irão cruzar dados aumentando a eficiência da elucidação dos casos.
Então, o policial precisa acompanhar isso.
Cada vez mais a gente busca um nível elevado do policial, através dos novos concursos, que estão sendo modernizados.
Recentemente foram divulgadas informações sobre fraudes para emissão de CNHs (Carteira Nacional de Habilitação).
O que o senhor pode comentar sobre esse assunto?
Isso está sendo apurado pela nossa corregedoria e pela corregedoria do Detran.
Infelizmente, numa instituição de 36 mil homens e mulheres, como em qualquer outra instituição ou qualquer outra atividade, existem aqueles que saem do caminho bom.
Mas o mais importante é que a polícia tem constantemente tirado esses elementos da sua instituição.
Não vamos aceitar de maneira nenhuma aquele que trilha o caminho errado.
Não é isso o que a polícia quer e não é isso o que o governo tem traçado para a população. Não vamos admitir de maneira nenhuma aquele que sai do bom caminho.
Os salários dos policiais civis são baixos?
Eu acho que em todas as carreiras as pessoas buscam melhores salários.
Mas nós temos que ver que existem 50 milhões de brasileiros que ganham até um salário mínimo.
Temos um milhão e 900 mil desempregados só na Grande São Paulo.
Então, isso é um problema estrutural do País.
Os policiais têm que buscar remuneração melhor constantemente, mas não se pode admitir que deixem de cumprir sua missão, que é um sacerdócio.
A grande maioria dos policiais tem grande orgulho da profissão e por isso não podemos permitir que outros penalizem a população.
O senhor está satisfeito com sua carreira?
Tenho 31 anos de carreira. Já passei por vários departamentos, comecei como investigador e hoje tenho muito orgulho de ter chegado ao cargo máximo, de delegado-geral.
Se pudesse voltar no tempo, faria tudo de novo?
Com certeza.
Nascesse mil vezes, mil vezes seria policial, sem sombra de dúvida.
Fonte: Jornal de Jundiái
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Sacerdócio, além de significar função religiosa, também possui o significado de qualidade de venerável, nobre, superior.
Missão ou profissão honrosa.
Mas ser policial não é nenhuma honra, nenhuma missão.
É só profissão qualificada, embora desprestigiada e desvalorizada pelo governo.
Assim entendo o sacerdócio acima referido naquele sentido rotineiro, ou seja, daqueles “homens santificados” que devem trabalhar apenas por amor ao semelhante.
Desapegados materialmente.
Talvez acreditando em velhas mentiras: na terra comemos capim, mas no céu será só pudim!
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Verdadeiramente, o doutor MAURÍCIO LEMOS FREIRE deveria ler de Espinosa o Tratado Teológico -Político.
Talvez nunca mais compare qualquer profissão a “sacerdócio”.
Ora, Excelência!

Não precisa nos ofender.
Com efeito, caso a carreira de Delegado de Polícia seja espécie de sacerdócio, então devemos passar a receber os direitos de estola.
Vamos cobrar o dízimo!
Ou melhor, exigir…
Ficaremos ricos como os sacerdotes de todas as religiões.
E, também, como os sacerdotes em geral, ocuparemos muitas vagas em cadeias.
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Prefácio do Tratado Teológico-Político
Baruch de Espinosa

Tradução: Diogo Pires Aurélio

“De fato, há muito que as coisas chegaram a um ponto tal que é quase impossível saber se alguém é cristão, turco, judeo ou pagão, a não ser pelo seu vestuário, pelo culto que pratica, por freqüentar esta ou aquela igreja, ou finalmente porque perfilha esta ou aquela opinião e costuma jurar pelas palavras deste ou daquele mestre.

Quanto ao resto, todos levam a mesma vida.

Procurando então a causa deste mal, conclui que ele se deve, sem sombra de dúvidas, a consideram.se os cargos da Igreja como títulos de nobreza, os seus ofícios como benefícios, e consistir a religião, para o vulgo, em cumular de honras os pastores.

Com efeito, assim que começou na Igreja este abuso, logo se apoderou dos piores homens um enorme desejo de exercerem os sagrados ofícios, logo o amor de propagar a divina religião se transformou em sórdida avareza e ambição; de tal maneira que o próprio templo degenerou em teatro onde não mais se veneravam doutores da Igreja mas oradores que, em vez de quererem instruir o povo, queriam era fazer-se admirar e censurar publicamente os dissidentes, não ensinando senão coisas novas e insólitas para deixarem o vulgo maravilhado. Daí o surgirem grandes contendas, invejas e ódio, que nem o correr do tempo foi capaz de apagar.