Visão romantizada da ADPESP e da união dos delegados é equivocada… 8

Em resposta ao leitor OFICIAL ESCRITIRA sobre unidade , participação e a greve de 2008

O comentário do leitor acerta no ponto central – sem unidade de base, qualquer governo desmonta o serviço público –, mas erra justamente onde idealiza o papel dos delegados e da ADPESP na história recente da Polícia Civil. 

A greve de 2008 mostra o contrário do que ele descreve: o movimento nasceu de baixo para cima, de grupos orgânicos, principalmente no interior, irradiando‑se para a capital sem comando inicial das entidades tradicionais e muito menos da associação de delegados.

Foram policiais jovens, com disposição para confronto político real, que articularam paralisações, assembleias e atos até o confronto em frente ao Palácio dos Bandeirantes; quando a ADPESP entrou em cena, a greve já tinha vida própria.

Nesse processo, três figuras ganharam protagonismo: João Rebouças, presidente do sindicato dos investigadores, que virou rosto sindical do movimento, explicando a greve à imprensa e responsabilizando o governo pela escalada; Marilda, liderança emergente, de origem humilde nas áreas de saúde e educação, que costurou grupos, aproximou interior e capital e deu capilaridade à mobilização entre os operacionais; e o deputado Major Olímpio, que assumiu o papel de porta‑voz político da revolta na Alesp, blindando e amplificando uma luta que o governo tentava reduzir a “motim corporativo”. 

A ADPESP, sob Sérgio Roque, incialmente , fez o oposto do mito: resistiu à greve, tentou contê‑la e só se reposicionou quando percebeu que seria atropelada pela realidade, comportando‑se como quem “inaugura obra alheia” ao sentar-se à mesa de negociação e falar em nome de um movimento que não organizou.

Todos os Sindicatos de Policiais foram fundamentais nas tratativas com os Tribunais e buscando o apoio de entidades como CUT , CGT , entre outros.

Não esquecendo das associações das Praças da Polícia Militar.

O FLIT E A CENSURA JUDICIAL

No auge da greve um Juiz do DIPO , mal-intencionado , acatando representação de um corrupto delegado do DEIC , ordenou ao Google que o FLIT PARALISANTE fosse extinto ( deletado , excluído ) , dado que era “anônimo” , incitava a greve a atos de insubordinação e de violência contra autoridades do Estado.

Para quem não acompanhou , o FLIT – como não havia redes sociais ou serviços de mensagens em massa – se tornou a fonte de informação em tempo real, especialmente dos operacionais –  empregando-se os comentários que  foram franqueados sem nenhum mecanismo de filtragem ou de bloqueio .

A RETALIAÇÃO DA ADPESP E O GRUPO DELPOL-PC

Destacando a importância de um grupo denominado DELPOL -PC ( Dr. Décio ) , formado pelos excluídos da ADPESP , em abril de 2007 , pelo seu presidente e seus luminares diretores, incomodados que estavam com os assuntos do “FORUM da ADPESP” , uma forma de chat em que os delegados , especialmente do interior , passaram a se conhecer e trocar ideais .  

Desde o FÓRUM , criado pelo próprio Roque – éramos o mais subversivo e extinguiram o espaço , principalmente , pelo que estávamos escrevendo preparando um movimento grevista.

Certamente , não foi iniciativa do Roque , estava sendo muito pressionado por um delegado corrupto que foi Diretor da Corregepol – lembra corrida de Fórmula 1 – que até confirmou em depoimento em PAD que ele e outros queriam a nossa expulsão da entidade .

O presidente negou: ” pegaria mal” !

A gota d’agua foi uma postagem chamada ESTAMOS TODOS CORRUPTOS!

Retomando ao Flit como papel de mensageiro durante a greve ,  alguns comentários posteriormente foram retirados por natureza meramente ofensiva.

Mas respondemos a muitas sindicâncias e processos : civis, criminais e administrativos.

É nesse cenário que o “sacrifício” de Domingos Paulo Neto deve ser lido.

Quando Roque  – o presidente da ADPESP inicialmente contrário à greve – foi afastado do DIPOL em pleno movimento , Domingos entregou o cargo “em solidariedade”, gesto que foi vendido como ato de coragem classista e que, politicamente, o impulsionou até o cargo de Delegado Geral anos depois. 

O leitor vê aí um exemplo de consciência de poder; a cronologia e as investigações sobre contratos e licitações do DIPOL sugerem algo mais prosaico: uma conversão oportunista ao estilo estrada de Damasco, em que o protagonista sai do centro do problema no momento certo, preserva a própria biografia e deixa subordinados e pares arderem na fogueira disciplinar enquanto volta, por cima, como chefe máximo da instituição.

O resultado concreto da greve, para a massa da categoria, não foi liderança iluminada, mas um aprofundamento da distância entre delegados e demais carreiras.

Se durante a greve a ação foi de contenção, após a greve a estratégia foi de esvaziamento

A própria trajetória posterior da ADPESP mostra como a unidade foi sendo sabotada por dentro.

Depois da greve, a mesma Marilda que surgira da base foi eleita presidenta da entidade em 2010, com votos decisivos do interior, derrotando André Dahmer e outros nomes ligados aos “donos da Polícia Civil”.

O voto presencial, nas sedes das Delegacias Seccionais, era o grande momento de rever os colegas, de demonstrar unidade de classe e consciência do próprio poder. Era dia de festa, de congregação, de ver ativos e aposentados lado a lado. Nenhum faltava: além do dever de participação, era a confraternização de dezembro com os pares antigos.

Foi exatamente isso que determinados delegados, no comando da ADPESP, trataram de matar: a união e a participação de verdade, substituídos por um modelo que afastou a base da urna e se aproximou da cúpula do controle silencioso da entidade.

No diagnóstico sobre o governo atual, o leitor volta a acertar: há uma clara sequência de ataques – Sabesp, professores, policiais penais, pesquisadores científicos, e agora Polícia Civil –, todos embalados em discursos de “modernização”, “subsídio” e “reestruturação”. 

Na Polícia Penal, o subsídio com VPS congelou a vida de quem tinha mais tempo de carreira; nos pesquisadores, o mesmo modelo surge para cortar quinquênios e variáveis; na Polícia Civil, tenta‑se emplacar pacote análogo, começando de novo pelos segmentos mais frágeis política e sindicalmente. 

É a mesma lógica que você, leitor, identificou na enfermagem: categoria exaurida, com jornadas múltiplas, baixa discussão política e pouca participação em entidades, vira laboratório preferencial para reformas que, depois, se expandem para o resto do serviço público.

Onde a análise do comentário precisa ser corrigida é na idealização de que “os delegados são mais conscientes do poder que têm e são mais unidos e participativos”.

O que existe, em geral, é mais capital social, mais acesso à mídia e ao Legislativo , mais tempo e recursos para atuar em associações, além de menor risco disciplinar para quem está em cargos comissionados. 

Isso produz a aparência de liderança esclarecida, quando muitas vezes se trata apenas de uma minoria bem-posicionada, oportunista , governista , cuidando dos próprios interesses e aceitando, como moeda de troca, pacotes que sacrificam base operacional , os intermediários  das  carreiras e futuros ingressantes. 

A prova está na história: quando a base se mexeu de verdade, em 2008, não foi porque delegados eram mais conscientes; foi porque investigadores, escrivães e demais policiais decidiram, apesar das cúpulas, enfrentar governo e DGP.

Por isso, a resposta honesta ao comentário é esta: sim, sem unidade não há salvação para servidor público, seja sob governo de esquerda ou de direita; sim, a desunião dos policiais civis ajuda o governo a aplicar o mesmo roteiro de desmonte que já devastou outras carreiras. 

Mas não há saída enquanto se continuar esperando que a ADPESP ou qualquer cúpula “tome a dianteira”.

As poucas vezes em que algo avançou foi quando a base – inclusive delegados de origem mais humilde, como Marilda – tomou a dianteira contra a inércia das próprias entidades e recusou o papel de plateia. 

Quem ainda acredita em “delegado mais consciente” como solução está, no fundo, repetindo a ilusão que sustentou a carreira até aqui: a esperança de que meia dúzia pense por todos, enquanto a maioria trabalha, sofre e, no fim, paga a conta.

Aliás, a Marilda  ganhou duas vezes as eleições da ADPESP e , apesar de todas as dificuldades , obteve conquistas para os Delegados e , indiretamente , para as demais carreiras .

Ela era do Interior!

Sendo redundante : necessário ressaltar que , em razão de ser uma líder nata , de origem de carreiras humildades na suade e educação , Marilda – uma 3ª classe – do Interior – foi eleita a primeira presidenta da ADPESP , em 2010 , justamente competindo com SÉRGIO ROQUE ,  apoiado por DOMINGOS PAULO NETO.

Com a força dos  votos do interior quando eram presenciais .

E foi reeleita em 2012 , salvo engano , competindo diretamente com o próprio assistente do Dr. Domingos Paulo Neto: André Dahmer , que  já estava a caminho da demissão a bem do serviço público.   

E foram os votos do interior que a reelegeram , pois na Capital  o concorrente  – e sua chapa – era imbatível .

O sucessor da Marilda – como principal ato de gestão – sob a alegação de simplificação , facilidade para os delegados e economia de recursos – acabou com a eleição presencial nas Seccionais do Interior ; desativou a eletrônica ( que aparentemente não chegou a ser empregada ) ; restando apenas a opção que raros utilizavam : o voto pelo correio.  

Mantendo apenas a presencial na sede da ADPESP.

Os Delegados dos Departamentos da Capital votam sob duas fiscalizações: os fiscais das chapas e os fiscais dos seus superiores.

Assim , a entidade hoje não passa de um “bom-prato” no almoço e boteco de fim de tarde feliz para delegados da Capital .   

Virou motivo der escárnio !

Deveria alterar o nome para: Associação dos Delegados de Polícia Paulistanos.

O comentário do leitor acerta no ponto central, mas erra em relação à consciência de classe e união dos delegados da ADPESP.

Não esperem muito dessa entidade…Ou melhor: não esperem nada!

Nem eles mesmos podem esperar algo de bom.

Reiterando para fixação : a greve de 2008 (a mesma citada pelo leitor como de 2009 ) mostra exatamente o contrário do que ele descreve: o movimento nasceu de baixo para cima, de grupos organizados por delegados expulsos da ADPESP em maio de 2007 , criando-se o Grupo DEOLPOL-PC ( o original ).

Ainda durante a greve , desliguei-me do Grupo , pois foi tomado por “espiões” e por gente que só domina a lei de Murici: eu cuido de mim cada um cuida de si!

Sabotadores e desagregadores!

A questão que fica é: como reconstruir a unidade de base hoje, sem repetir os erros do passado?