Não há um crime maior que a traição da liderança, é a rendição da esperança pública ao circo da normalidade política

Imagem: festival da Pizza na ADPESP
Lá estava ele, Dr. André Pereira – um delegado novato e desconhecido até ser eleito representante classista – pontificando como herói recém-saído de um batismo de fogo institucional, cercado por vinte entidades, um microfone e o Largo São Francisco inteiro em adormecida indiferença .
Era para ser demonstração de “resistência ” ; já que o coletivo das entidades se autodenomina: Fórum Resiste.
Autointitulação tão precisa quanto o tal grupo “Guerreiros da ADPESP” .
Resistentes que não resistem ( contra os poderosos ) , guerreiros que não guerreiam ( salvo contra os mais fracos ).
Nunca vi manifestação tão triste , tão sem motivação e sem moral da liderança.
Dias antes, elogiei, elogiaram, soltamos até fogos retóricos para o suposto “despertar” desse presidente da ADPESP, que andou cutucando os donos do poder paulista e gesticulando bravura…
Que não era bravura de verdade!
Melhor seria ter guardado o elogio na gaveta junto com o meu último contracheque de maio de 2011.
Bastou um giro de carro de som, uma suposta proposta do Nico – aquele personagem saído da caricatura policial paulista, mais propenso a pizza fria de muçarela do que a negociações decentes – para que a aura heroica de quem deveria liderar virasse escudo para monólogo.
Convocaram entidades, prometeram pluralidade, mas na prática: monopolizaram a manifestação coletiva no Largo, engaiolaram o discurso, castraram parlamentares e presidentes de sindicato, cortaram a voz da maioria e transformaram o protesto contra o mentirosão Tarcísio de Freitas e seus sabujos em peça de gabinete.
O movimento, que poderia incendiar a pauta e por a polícia em ebulição cidadã, virou eco solitário de um acordo costurado longe das bases.
Assim, os policiais – poucos , diga-se – se dispersaram olhando as arcadas do São Francisco, a ver a própria honra de suas instituições serem roubadas em cena aberta, enquanto o governo embolsa a narrativa do “tudo conversado e acertado “ com a cúpula domesticada.
O ato foi amansado como carré de cordeiro em rodizio de churrascaria.
Olim/Nico garantindo que está tudo bem como prato de entrada , Dr. André garantindo que fez acordo, e o resto?
Ousaram protestar, levaram repelão, restou-lhes lembrar os tempos de pelegagem sindical, em que o patrão enchia o copo do presidente e esvaziava o movimento no mesmo gole.
No final, fica a ressaca: sacrifício de quem saiu cedo para fazer barulho em nome da dignidade, só para ouvir o silêncio imposto pelo interesse de poucos.
Pizza “VIP” indigesta de muçarela ; e vergonha de saber que nem café com leite merece aqueles que, de tão politiqueiros, já perderam o respeito de quem realmente faz polícia nesse estado.
Não é só sobre vencimentos , é sobre a luta pelo direito: respeitar a voz alheia e a honra da própria classe e associação.
Se é para fazer crônica, que façamos ironia pura: dia de protesto da ADPESP que virou reunião de condomínio, manifestação que virou monólogo, Largo São Francisco engolido pela política barata e pela incapacidade de criar unidade real.
Ninguém queria ser figurante, mas foram reduzidos a sombras.
Só falou o dono do microfone e da “carruagem “, enquanto os demais ficaram aturdidos no eco.
Que se tenha certeza: André nem pela sua classe conquistará algo de bom vindo do governo …
De ruim ele já fez pela sua classe e entidade …
Mas , certamente , em breve , será promovido por desmerecido merecimento!

Rcguerra