Tierri Whisky e Dra. Jorgete Constantin – Metanol, Fraude e Risco: Os Caminhos Invisíveis das Bebidas Alcoólicas Falsificadas no Brasil 10

Tierri Whisky e Dra. Jorgete Constantin esclarece como o metanol chega ao copo, o perigo real da adulteração, os sinais de intoxicação e orienta a população sobre como se proteger e agir em caso de emergência

Orientações para a população sobre intoxicação por metanol do vídeo “Tudo sobre Metanol e Intoxicação, com a Dra. Jorgete Constantin”

No vídeo produzido por Tierri Whisky a Bioquímica Jorgete Constantin, Doutora pela pela Universidade do Paraná, apresenta uma análise detalhada, técnica e clara sobre o risco de intoxicação por metanol, especialmente em bebidas alcoólicas falsificadas, e oferece orientações práticas para a população ser protegida. Abaixo um resumo das principais recomendações e informações por ela transmitidas:

Identificação do Problema Atual

  • Casos recentes: Há relatos de intoxicação por metanol principalmente em São Paulo e Nordeste, com vítimas que consumiram bebidas suspeitas, muitas vezes em bares e restaurantes que compram de fontes desconhecidas.
  • Cenário de falsificação: Cerca de 30% das bebidas alcoólicas no Brasil são falsificadas, segundo estudos relatados no vídeo. O uso de metanol puro (e não apenas o residual da destilação malfeita) em bebidas adulteradas é o grande vilão dos casos graves recentes.
  • Riscos invisíveis: O metanol nas bebidas adulteradas não tem cheiro, cor ou sabor perceptíveis, tornando impossível identificar a contaminação pelo paladar ou olfato, mesmo para especialistas.

Como se prevenir

  • Compre somente de fontes confiáveis: Adquira bebidas exclusivas somente em estabelecimentos oficiais, lojas reconhecidas e com registro no MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento). Bebidas sem registro não devem ser consumidas.
  • Desconfie de ofertas “boas demais”: Descontos muito altos em bebidas fora do comércio oficial são um sinal de alerta. Não compre bebidas vendidas na rua, sem procedência ou em locais suspeitos.
  • Evite bebidas misturadas ou “tubão”: Cuidado especial com bebidas servidas em copos ou garrafas abertas, misturadas com refrigerante ou suco, pois isso facilita a adulteração e oculta o sabor do metanol.
  • Áreas de risco: Em regiões onde há casos já registrados (ex.: São Paulo), o recomendado é não consumir bebidas alcoólicas em bares, restaurantes ou festas. Consuma apenas o que você mesmo comprou em local confiável.
  • Identificação da falsificação: Não existe, hoje, um método seguro para o consumidor comum identificar bebida falsificada apenas pelo lacre, rótulo ou aparência. Mesmo holografias, selos e lacres, antes de indicadores de originalidade, podem ser falsificados com perfeição.

Sinais de Alerta e O Que Fazer em Caso de Suspeita

  • Sintomas iniciais: Embriaguez comum, mas com ressaca extremamente forte ou diferente do habitual após consumo mesmo pequeno de bebida suspeita. Sintomas como tontura, alteração mental, visão turva, cegueira súbita, dor de cabeça intensa, mal-estar e acidose metabólica (pH sanguíneo alterado) são sinais de alerta.
  • O que fazer: Diante de sintomas naturais após o consumo de bebida, procure imediatamente um hospital. A intoxicação por metanol pode ser fatal rápida, e o tratamento hospitalar precoce é fundamental.
  • Tratamento: Em casos graves, o tratamento pode incluir hemodiálise, uso de antídotos específicos (etanol ou fomepizol, que competem com o metanol na metabolização) e suporte clínico intensivo. Nada disso substitui a prevenção e o atendimento médico imediato.

Mitos e Verdades

  • Bebida original registrada: Uma bebida industrializada, registrada e fiscalizada dificilmente causará intoxicação por metanol, pois há normas rigorosas de corte da “cabeça” (parte que concentra o metanol) durante a destilação.
  • Bebida artesanal: Mesmo produtores experientes podem cometer erros, por isso bebidas de produção caseira ou artesanal sem registro também representam risco.
  • Metanol residual: Bebidas mal destiladas podem conter pequenas quantidades de metanol, causando ressaca forte, mas dificilmente levam à morte. O problema atual é a adulteração com metanol puro, sem a eliminação de produção.
  • Álcool como antídoto: Em casos extremos de intoxicação, o etanol (álcool de boa qualidade) pode ser usado como antídoto, em ambiente hospitalar, para retardar a metabolização do metanol. Isso não é recomendação para automedicação, apenas informação técnico-científica.

Conclusão Geral

O vídeo deixa claro: a prevenção é a única proteção real . Comprar de fontes confiáveis, desconfiar de ofertas suspeitas, evitar consumo em áreas de risco e ficar atento a sintomas diferentes são as principais recomendações. Não há garantia visual, olfativa ou gustativa para identificar bebidas adulteradas com metanol. Em caso de dúvida, não consuma . Em caso de sintomas, procure imediatamente um hospital .

Recado final do vídeo: “A única forma é comprar de fontes 100% confiáveis. Hoje em dia, no Brasil, é extremamente complicado. Esse é o recado máximo.”

O Tierri reforça a importância da informação de qualidade e da conscientização para prevenir tragédias relacionadas ao consumo de bebidas alcoólicas adulteradas. O tema é relevante tanto para o cidadão comum quanto para os profissionais de saúde, segurança pública e vigilância sanitária.

Análise laboratorial de bebidas sob suspeita de metanol em SP exige rigor, diz o Dr. Mauro Renault – Perito do Instituto de Criminalística da Polícia Civil

Diretor do Núcleo de Química do Instituto de Criminalística explica que a perícia envolve verificação de embalagens e exame laboratorial detalhado; prazo para conclusão não é definido, mesmo com aumento de casos e vítimas

Uma onda de casos de intoxicação por metanol em São Paulo transformou a rotina do Instituto de Criminalística da Polícia Civil em uma verdadeira maratona de periciamento.

O processo de análise das centenas de garrafas apreendidas em bares e distribuidoras interditadas é complexo, detalhado e, sobretudo, sem previsão de encerramento.

O laudo final, documento aguardado por famílias, autoridades de diversas esferas e vítimas para confirmar ou não a presença de substância letal, depende de uma sequência de etapas meticulosas conduzidas por especialistas e equipamentos de última geração.

Nas etapas da perícia, segundo o diretor do Núcleo de Química do Instituto de Criminalística, Dr. Mauro Renault, são claramente definidas e não permitem atalhos:

  • Documentoscopia: O primeiro passo é verificar a apreensão das garrafas. Peritos examinam selos, rótulos, lacres e restrições, em busca de sinais de adulteração ou falsificação, usando tanto a observação a olho nu quanto às lentes especiais.
  • Núcleo de Química: Após a triagem inicial, o material segue para o laboratório, onde o líquido é transferido para frascos, centrifugado e submetido a análise em equipamentos sofisticados. Os programas computacionais identificam todas as substâncias presentes, suas concentrações e estão dentro das restrições legais. Só então é possível detectar a presença de metanol e sua quantidade.
  • Laudo final: A confirmação definitiva só ocorre ao final desse processo. Até lá, não há como afirmar se há ou não metanol em cada amostra, nem em qual concentração. O resultado é encaminhado ao Delegado de Polícia para subsidiar as investigações.

Não há prazo fixado em lei para conclusão dos laudos . Eles dependem da demanda, da complexidade das amostras e das prioridades da perícia. Em meio à urgência dos casos de intoxicação, a pressão por respostas é grande, mas o Instituto de Criminalística insiste: não é possível agilizar o processo sem comprometer a segurança dos resultados.

Casos em SP: aumento das notificações e vítimas

Segundo a Secretaria estadual da Saúde, o número de notificações suspeitas de intoxicação por metanol subiu de 45 para 52 na quinta-feira, 3 de outubro, incluindo casos investigados e mortes. Até o momento, 1 morte foi confirmada como decorrente do consumo de bebida adulterada com metanol (homem, 54 anos, capital paulista) e outras cinco permaneceram sob investigação. Há 10 casos confirmados de intoxicação e 36 ainda em análise.

Histórias de vidas impactadas

Por trás dos números, histórias de perdas e sofrimento: vítimas como Radharani Domingos, que perdeu a visão após consumir caipirinhas em estabelecimento nobre, Rafael Anjos Martins, internado em coma desde setembro, Bruna Araújo de Souza, em estado grave, e Marcelo Lombardi, morto após consumir vodca adulterada, ilustram o perigoso rastro deixado pelo metanol — uma substância inicialmente inodora, insípida e incolor, mas que devastou famílias inteiras.

Equipe de perícia sob pressão

Enquanto aguardam os laudos, as equipes do Instituto de Criminalística reforçam uma necessidade de cautela:

“Precisa verificar se tem o metanol e a quantidade, ou seja, verifique se a composição está no limite do metanol. Pode ser que a amostra não tenha metanol. O resultado só sai no laudo”, resume o Dr. Renault.

Enquanto a perícia segue seu curso, a recomendação à população é evitar o consumo de bebidas alcoólicas sem origem induvidosa.

Especialmente “drinks” em casas de luxo ou “batidões” em barraca de praia.