Velas nos Becos, Risos nos Batalhões – A Polícia Militar é a Inimiga Número Um do Povo –  ( “Só nos resta torcer pela vitória dos bandidos autônomos ou dos confederados bem-organizados”. )   1

 

Mais uma vez, o noticiário da Rede Globo , desta manhã , escancara a ferida aberta da periferia: Vitória Emanuelle, 16 anos, morta por quem deveria zelar pela vida.

O vídeo da ação criminosa, ocorrida em janeiro , era mantido sob sete chaves pela Polícia Militar.

O segredo de justiça que apenas a eles – e ao governo – interessava!

O roteiro é conhecido – abordagem policial para suposta averiguação de um inexistente  roubo, resistência,  disparo “acidental”, mãe em desespero, promessas de apuração.

A cada ciclo, a esperança se esvai, como sangue na sarjeta.

Nas ruas de Guaianases, acendem-se velas.

Não é apenas luto: é ritual de resistência, de memória, de denúncia.

Nos becos, o medo é vizinho antigo.

Crianças aprendem cedo que farda não é sinônimo de proteção.

Mães ensinam os filhos a baixarem os olhos diante do coturno, a não correr, a não argumentar.

O Estado, sempre ausente quando se trata de direitos, é onipresente quando chega armado representado por policiais militares cujo maior talento , além da covardia, é a mentira.

No outro extremo da cidade, nos batalhões, risos abafam o choro das famílias.

Entre um café e outro, contam-se bravatas, fabricam-se versões, assinam-se relatórios que transformam vítimas em suspeitos.

Enquanto as mães das periferias contam os mortos, os comandantes contam promoções.

Ah, o Guerra foi infeliz por acreditar na segurança da Glock!

Falo  do PM Thiago Guerra, um assassino covarde que nem se preocupou em prestar socorro á vítima.

Afinal, se a menina sobrevivesse seria a melhor testemunha da covardia que só próspera na Polícia Militar de São Paulo.

Organização que não  faz –  por não saber fazer e não querer aprender – o que deveria , mas busca  trazer para si atribuições da Polícia Civil.

A Polícia Militar não protege o povo.

A PM controla o povo.

E, sem nenhuma necessidade legal , mata o povo.

Não por acaso, mas por projeto.

A lógica é clara: nas periferias todo jovem é suspeito; nas zonas ricas, todo policial é serviçal lacaio.

Sua função real não é a segurança, mas a manutenção de uma ordem que beneficia sempre os mesmos e a eles mesmos com as migalhas que conseguem abocanhar como cães famintos.

O sistema é eficiente: protege seus algozes –  seus escravos domésticos  –  silenciando suas vítimas.

Ah, mas o PM foi preso …

Sim, apenas para “inglês ver” ( manter as aparências )  e “por não saber fazer” , ou seja, matar sem ser filmado. 

Diga-se, preso por iniciativa de corajoso delegado de Polícia; não por iniciativa legal da própria PM.

A punição , como sempre, será a mais branda possível; talvez algum perito ateste – falsamente – que a arma estivesse com problemas de manutenção…

É um Glock , não é?

Fosse uma Taurus seria problema de projeto ou de fabricação!

A coronhada ou porretada na testa foi legítima defesa.

Não digam que o PM foi “muito idiota” , não foi!

Se fosse “muito idiota” ele usaria a pistola como martelo e o tiro seria no meio do próprio peito (para quem não conhece de armas, ele a teria segurado pelo cano como se fosse um martelo) .  

Idiota ele é , mas nem tanto!

Com efeito, a cada morte, a sociedade se divide.

Uns clamam por justiça, outros  –  também oriundos do esgoto –  justificam o injustificável.

O discurso oficial fala em “culpa da Glock” ( a pistola usada como porrete )  “excesso”, “fatalidade”, “caso isolado”.

Mas quem vive na pele sabe: não há nada de isolado.

É projeto.

É rotina.

É método.

E, diante de tanta barbárie, surge o sussurro amargo: “Só nos resta torcer pela vitória dos bandidos autônomos ou dos confederados bem-organizados”.

Não é apologia ao crime – é ironia, é desespero, é denúncia.

Porque, para muitos, o bandido que trafica  é menos letal que  policial militar que tira a vida.

O crime organizado, ao menos, não se esconde atrás de farda, de brasão, de discurso moralista.

Nem recebe bons vencimentos mensais dos cofres públicos.

O caso de Vitória Emanuelle não é exceção – é regra.

A Polícia Militar se tornou uma poderosa maquinação diabólica que mói pobres, negros, periféricos e hipossuficientes indesejáveis pelas “elites paulistas.

Enquanto a polícia for treinada  e voltada para subjugar os mais fracos , enquanto a Justiça for cega só para uns, enquanto a sociedade aceitar a morte como preço da “segurança”, continuaremos acendendo velas nos becos e ouvindo risos dessa escumalha fardada no próprio picadeiro dos crimes ….

Eles são os “Coringas” de farda com seus sorrisos típicos de psicopatas narcisistas.

Talvez, um dia, a indignação vença o medo.

Talvez, um dia, a justiça seja mais que uma palavra vazia.

E assim seguem os dias: velas nos becos, risos nas viaturas e nos batalhões.

Até quando?

Até que o último jovem pobre seja enterrado como “assaltante” ou  “traficante”?

Até que a última mãe esgote suas lágrimas?

Ou até que o povo, cansado de ser caçado como fera, decida que nenhum uniforme será mais sagrado que a vida de um cidadão? 

A Polícia Militar não é solução.

É o problema. E, enquanto ela rir dos nossos mortos, só nos restará uma certeza: quem deveria nos proteger é, de fato, nosso maior algoz. 

Até lá, só nos resta resistir – e, quem sabe, torcer para que o sistema   – com todos os seus assassinos –  finalmente tenha o fim que merece.

Se não for pelos nossos votos que seja pelas nossas palavras armadas!

Nota:
Esta crônica é um arremedo de grito literário de denúncia e reflexão. Não incentiva o crime, mas exige justiça e humanidade  –  e até um pouco de vingança – diante do extermínio cotidiano promovido por quem deveria proteger. Que diante do fato provado e das reiteradas e comprovadas ações abusivas envolvendo PMs, que não se exija linguagem elegante, inodora, incolor e insípida!

https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2025/06/03/camera-corporal-de-pm-mostra-o-momento-em-que-ele-da-coronhada-em-rapaz-e-arma-dispara-e-mata-adolescente.ghtml