I’m So Tired – Desabafo de um Policial Civil no  Apagar  da Carreira 5

Desabafo de um Policial Civil no  Apagar  da Carreira

Estou cansado.

Não é o cansaço físico, aquele que o corpo sente após anos de jornadas extenuantes, noites mal dormidas e confrontos com o lado mais sombrio da sociedade.

É um cansaço mais profundo, que corrói a alma e mina a esperança.

É o cansaço de quem dedicou uma vida ao serviço público, à segurança das pessoas, e percebe que, ao fim da jornada, pouco ou nada mudou.

Minha insatisfação não é novidade para muitos colegas.

É um sentimento compartilhado por aqueles que vestem o distintivo ou a farda e que, dia após dia, enfrentam não apenas os desafios da profissão, mas também o descaso de quem deveria valorizá-los.

A falta de reconhecimento é uma ferida aberta.

Direitos básicos são tratados como favores; precatórios se acumulam como promessas esquecidas; licenças-prêmio se tornam armadilhas para a saúde, sem qualquer compensação justa pela insalubridade enfrentada.

O problema não é apenas econômico ou administrativo.

É cultural.

Vivemos em um país onde a segurança pública é tratada como um mal necessário, algo que precisa existir, mas que não merece investimento ou atenção real.

E nós, policiais, somos vistos como peças descartáveis de uma engrenagem que nunca para de girar.

Ao longo dos anos, vi governos de todas as cores e ideologias passarem pelo poder. Vi promessas serem feitas com palavras bonitas e sorrisos ensaiados.

Vi discursos inflamados em palanques e campanhas que prometiam “revolucionar” a segurança pública e valorizar seus profissionais.

Mas o que realmente mudou? Muito pouco.

O PSDB, com sua postura fria e distante, ao menos tinha a “honestidade” de não fingir proximidade com os policiais.

Outros grupos políticos preferem a “conversa mole”, aquela que ilude com tapinhas nas costas enquanto perpetuam o mesmo ciclo de abandono.

Como bem disse Boris Schnaiderman (sempre tem um Judeu a defender a humanidade) , “palavra bonita e tapinha nas costas” são as moedas de troca de quem nada tem a oferecer.

E nós?

Nós acreditamos.

Somos a “massa bovina fardada ou de distintivo”, sempre prontos para nos agarrar à próxima promessa eleitoral como se fosse a tábua de salvação em um mar revolto.

Mas as promessas não se concretizam, e o desgaste emocional e físico só aumenta.

A verdade é que o problema vai além dos governos.

Está enraizado em uma cultura que aceita pouco e se contenta com migalhas.

Somos treinados para resistir, para aguentar firme diante das adversidades.

Mas até quando?

Até quando vamos permitir que nossas vidas sejam consumidas por um sistema que nos vê apenas como números?

Chego ao último ano da minha carreira como policial civil com mais perguntas do que respostas.

O que deixo para os que vêm depois de mim?

Um sistema melhor?

Uma profissão mais valorizada?

Ou apenas as mesmas lutas intermináveis contra a indiferença e o descaso?

Talvez seja hora de repensarmos nossas estratégias como classe.

De nos unirmos não em torno de partidos ou ideologias, mas em torno de nossos direitos e nossa dignidade.

De fortalecermos movimentos independentes que não sejam reféns das promessas eleitorais.

Porque o problema não é apenas político; é também cultural.

E mudar uma cultura exige coragem, persistência e união.

Não podemos mais aceitar pouco.

Não podemos mais nos contentar com migalhas.

Este é meu desabafo, mas também meu chamado à reflexão.

Que meu cansaço sirva como alerta para os que ainda têm energia para lutar por um futuro melhor.

Porque eu acredito – ou quero acreditar – que ainda há tempo para mudar essa história.

Inspirado em texto – comentário/desabafo – de seguidor do Flit: EDUARDO, O TROUXA…A quem agradecemos!

Um Comentário

  1. Oh, meu amigo! Nada mudou e nada mudará! Parabéns por estar no último ano de sua carreira policial! Parabéns por estar vivo e não estar preso! Parabéns por ainda se preocupar com seus colegas de trabalho, os mais antigos, os de sua geração e os mais modernos. Vire a página! Invente, tente, faça um 2025 diferente, num plágio do que fez a odiada Globo e que revelou a odiada Fátima Bernardes, e principalmente suas belas pernas de bailarina à época, para o Brasil. Na verdade ninguém quer que mude nada! Aos 23 anos de idade ingressei como 1º colocado no concurso na carreira de delegado de Polícia. No concurso anterior, apesar de ter tirado 9,275 na prova escrita, fui reprovado, porque segundo a banca não consegui média na prova oral que somada à nota da prova escrita e divididas por 2 desse média 5,0. Ou seja, não tirei na prova oral média 0,725. Brincadeira né! Essa era e ainda é a Polícia Civil. E sobre a Polícia Militar poderia eu falar coisas talvez até mais “cabeludas”. No MP e na Magistratura, que também integrei, as coisas não são diferentes. Enfim, bêbados, idiotas, preguiçosos e corruptos ascendem na carreira de forma bem mais rápida que os demais. Vire a página! Lembre-se, como eu faço, de que é servidor público aposentado no começo de cada vez, quando os proventos nos são depositados. Suas histórias na polícia, que devem ser interessantes, mas ninguém da carreira quer ouvir, conte-as para seus netos; eles terão de Vc o orgulho que seus superiores hierárquicos nunca quiserem ter e nunca se preocuparam em ter. A vida, sem distintivo e arma, é muito mais bela!!!

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    • Fui aprovado no concurso como delegado aos 22 anos de idade e empossado (ou seria empoçado?) vinte dias após completar 23 anos. Exausto, desanimado, repleto cicatrizes físicas e emocionais, e, sobretudo, arrependido, perfaço 27 anos de carreira sem a certeza, que outrora nos fora vendida, da aposentação. Restam a certeza de que nada melhorará em aspecto nenhum e de uma vida desperdiçada. Entristecido, quero apenas esquecer.

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  2. Todos nós para essa gente somos trouxas e se refletirmos sobre todo tempo que passamos nessa instituição chegaremos à conclusão que nunca valeu a pena.O problema não é a Polícia Civil, mas sim todos aqueles que sobre ela tem poder de decisão, as quais jamais nos beneficiam. Tempo de vida jogado no lixo!!

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  3. Altas investigações, altas canas, campanas cinematográficas…

    Mentiras que se contam em festas de família e nas mesas entre amigos.

    Quem está dentro sabe a realidade.

    Faltam-me 3 anos.

    Se pudesse iria ontem.

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  4. eu te entendo do ponto de vista individual, mas, se estamos nessa situação, é graças à sua geração ( parcela de culpa, que visava somente o próprio umbigo), que viu o monstro ( inversão de valores, falta de investimento, parte da mídia sendo literalmente vendida para o crime etc) crescer e nada fez.

    quando digo do ponto de vista individual, quis dizer que sozinho nao somos capazes de mudar o sistema. Ou faz parte dele ou é omisso/covarde/inocente. Só a união mudaria isso aqui, mas não tem como depender da boa vontade dos outros. Sabemos o resultado de quem tenta bater de frente sozinho com o sistema.

    e para piorar….a maioria dos novos que entram hoje querem pagar de gatinho em viatura para o Instagram, se aproveitar da situação para virar político ou apenas almeja a estabilidade.

    Resumindo: se foi honesto, se fez o que esta estava ao seu alcance…. sinta-se confortável para usufruir sua aposentadoria.

    ah, evite dizer para os outros que você salvou o planeta enquanto na ativa….nenhum novato acredita mais nesse lenga lenga de antigão hehehe

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