Desabafo de um Policial Civil no Apagar da Carreira
Estou cansado.
Não é o cansaço físico, aquele que o corpo sente após anos de jornadas extenuantes, noites mal dormidas e confrontos com o lado mais sombrio da sociedade.
É um cansaço mais profundo, que corrói a alma e mina a esperança.
É o cansaço de quem dedicou uma vida ao serviço público, à segurança das pessoas, e percebe que, ao fim da jornada, pouco ou nada mudou.
Minha insatisfação não é novidade para muitos colegas.
É um sentimento compartilhado por aqueles que vestem o distintivo ou a farda e que, dia após dia, enfrentam não apenas os desafios da profissão, mas também o descaso de quem deveria valorizá-los.
A falta de reconhecimento é uma ferida aberta.
Direitos básicos são tratados como favores; precatórios se acumulam como promessas esquecidas; licenças-prêmio se tornam armadilhas para a saúde, sem qualquer compensação justa pela insalubridade enfrentada.
O problema não é apenas econômico ou administrativo.
É cultural.
Vivemos em um país onde a segurança pública é tratada como um mal necessário, algo que precisa existir, mas que não merece investimento ou atenção real.
E nós, policiais, somos vistos como peças descartáveis de uma engrenagem que nunca para de girar.
Ao longo dos anos, vi governos de todas as cores e ideologias passarem pelo poder. Vi promessas serem feitas com palavras bonitas e sorrisos ensaiados.
Vi discursos inflamados em palanques e campanhas que prometiam “revolucionar” a segurança pública e valorizar seus profissionais.
Mas o que realmente mudou? Muito pouco.
O PSDB, com sua postura fria e distante, ao menos tinha a “honestidade” de não fingir proximidade com os policiais.
Outros grupos políticos preferem a “conversa mole”, aquela que ilude com tapinhas nas costas enquanto perpetuam o mesmo ciclo de abandono.
Como bem disse Boris Schnaiderman (sempre tem um Judeu a defender a humanidade) , “palavra bonita e tapinha nas costas” são as moedas de troca de quem nada tem a oferecer.
E nós?
Nós acreditamos.
Somos a “massa bovina fardada ou de distintivo”, sempre prontos para nos agarrar à próxima promessa eleitoral como se fosse a tábua de salvação em um mar revolto.
Mas as promessas não se concretizam, e o desgaste emocional e físico só aumenta.
A verdade é que o problema vai além dos governos.
Está enraizado em uma cultura que aceita pouco e se contenta com migalhas.
Somos treinados para resistir, para aguentar firme diante das adversidades.
Mas até quando?
Até quando vamos permitir que nossas vidas sejam consumidas por um sistema que nos vê apenas como números?
Chego ao último ano da minha carreira como policial civil com mais perguntas do que respostas.
O que deixo para os que vêm depois de mim?
Um sistema melhor?
Uma profissão mais valorizada?
Ou apenas as mesmas lutas intermináveis contra a indiferença e o descaso?
Talvez seja hora de repensarmos nossas estratégias como classe.
De nos unirmos não em torno de partidos ou ideologias, mas em torno de nossos direitos e nossa dignidade.
De fortalecermos movimentos independentes que não sejam reféns das promessas eleitorais.
Porque o problema não é apenas político; é também cultural.
E mudar uma cultura exige coragem, persistência e união.
Não podemos mais aceitar pouco.
Não podemos mais nos contentar com migalhas.
Este é meu desabafo, mas também meu chamado à reflexão.
Que meu cansaço sirva como alerta para os que ainda têm energia para lutar por um futuro melhor.
Porque eu acredito – ou quero acreditar – que ainda há tempo para mudar essa história.
Inspirado em texto – comentário/desabafo – de seguidor do Flit: EDUARDO, O TROUXA…A quem agradecemos!