Jornal da Orla
29/03/2025● Josi Castro

O Procon-SP realizou uma enquete sobre a percepção do consumidor em relação a jogos e apostas, que indicou resultados preocupantes.
Entre os participantes que afirmaram fazer apostas e/ou jogar on-line, 71% confirmam mais perdas financeiras do que ganhos e 39% atualmente possuem dívidas em razão da atividade.
O convite ao risco vem de toda parte.
A sedução é grande: propagandas que prometem ganhos gigantescos, formato acessível via celular ou computador; as apostas e os jogos on-line podem até ser um momento de diversão, mas têm se mostrado grandes armadilhas financeiras.
Perto de 48% dos que afirmaram “fazer sua fé” nos sites tipo ‘bet’ já comprometeram, em algum momento, parte da sua renda mensal, impactando diretamente o orçamento familiar e deixaram de pagar contas de consumo ou retiraram dinheiro de aplicações financeiras ou pediram dinheiro emprestado para jogar.
O questionário, com perguntas abrangentes sobre o tema, foi respondido por 1.533 consumidores que acessaram o site e as redes sociais do Procon-SP entre dezembro de 2024 e janeiro de 2025.
Dentre os entrevistados, 89% declaram que recebem ofertas de jogos ou apostas em suas redes sociais ou celular; e 52% declararam que a publicidade com “celebridades” os influenciam na decisão de jogar ou apostar.
Estas informações chamam a atenção diante de um contexto em que cada vez mais personalidades conhecidas na internet – os influencers – fecham contratos com empresas do setor, sem que haja clareza sobre o vínculo ser comercial.
REDES SOCIAIS
O Jornal da Orla, por meio das redes sociais, também inquiriu seus seguidores quanto ao ato de jogar on-line. Entre os que afirmavam que arriscavam nesses sites, 82% afirmaram gastar menos de R$100 por mês e 18% jogam com mais de R$1000. Destes seguidores, 14% jogam por adrenalina, 29% apenas por diversão, 7% por vontade de enriquecer e 50% sem um motivo específico.
Neste mesmo universo, 6% confessaram que usaram aplicações financeiras ou pediram dinheiro emprestado para apostar on-line.
PATOLOGIA
Os dados expõem o que os consultórios de psiquiatria já constatam. “Tive um paciente que me procurou quando sua esposa deu um ultimato.
Naquela ocasião, ele já devia cerca de R$ 100 mil para pessoas que emprestaram dinheiro que ele usou para jogar pôquer. Ele estava tão viciado que não havia percebido”, revela a médica psiquiatra Ana Beatriz Tanios.
A especialista aponta que existem alguns sintomas que revelam a ludopatia, isto é, o vício de jogar e apostar. “Existem alguns aspectos que podem chamar a atenção e que é quando a pessoa deve começar a procurar ajuda.
Quando há uma certa irritação ou inquietude apenas pelo fato de não jogar; quando começa a desviar dinheiro que era destinados a necessidades básicas, como moradia, escola, alimentação; quando o ‘azar’ e a perda de dinheiro prejudicam relacionamentos afetivos, de trabalho ou educação, entre outros sintomas. No viciado, o jogo vira uma obsessão na maior parte do dia, e quando se tenta controlar por algum motivo, ele falha.
Há uma necessidade de aumentar os riscos, porque o cérebro acostuma com a liberação de noradrenalina e dopamina”, explica Tanios.
Para o médico psiquiatra Miguel Rezende, do hobby ao vício, basta uma emoção mais forte. “Se ganhar, vai querer jogar mais; se perder, vai querer recuperar o valor apostado.
O que vira compulsão.
Aquilo que para alguns pode parecer apenas uma brincadeira, pode se tornar um grande problema que impacta no bolso de quem joga.
E dentro de um quadro compulsivo, o jogador não tem noção da realidade, nem autocrítica suficiente para parar de disputar. Mas existe tratamento. Assim que reconhecer o vício, deve-se procurar um profissional especializado”.
YOUTUBE
Há pouco mais de 15 dias, o YouTube emitiu uma nota em que dizia sobre a proibição dos criadores de conteúdos mencionarem casas de apostas e sites de jogos de azar não aprovados pelo Google.
Desde o dia 19 de março, qualquer canal que cite as empresas proibidas poderá sofrer consequências listadas na política de uso da plataforma.
Os youtubers não poderão divulgar endereços de internet das bets e jogos de azar proibidos, incorporar links em imagens ou textos, publicar artes dos serviços (incluindo logo) ou falar sobre eles nos vídeos.
Antes dessa atualização, a plataforma já proibia meios de direcionar espectadores para casas de apostas ou cassinos.











