

Caros leitores deste miserável Flit, permitam-me apresentar-lhes uma narrativa que beira o grotesco, o absurdo, o tragicômico — uma história que, não fosse real, pareceria saída da mente febril de um roteirista de Hollywood.
Ou, quem sabe, de um romance de Richard Condon.
Sim, estou falando de The Manchurian Candidate ( Sob o Domínio do Mal ) , aquela obra-prima de 1959 que nos apresentou Raymond Shaw, o infeliz sargento americano (originalmente estrela pelo inesquecível Frank Sinatra ) transformado em arma comunista pela lavagem cerebral de seus captores coreanos.
Um enredo tão surreal que só poderia ser engendrado nos tempos áureos da Guerra Fria, quando o medo do “perigo vermelho” justificava qualquer paranoia.
Mas, meus amigos, o que diria Condon se visse o espetáculo que se desenrolou nos últimos anos?
Pois eis que, em pleno século XXI, surge uma versão moderna — e infinitamente mais caricata — de seu romance.
Sob o Domínio do X : A Era do Presidente Manchuriano
Once upon a time in America um presidente que não precisava de lavagem cerebral para agir como um agente estrangeiro.
Ele já vinha de fábrica com uma tendência natural a elogiar autocratas e a desconfiar de seus próprios serviços de inteligência.
Donald Trump, ou “O Donald”, como preferiam os mais íntimos (e os bots russos), era uma figura tão peculiar que, se fosse um personagem de filme, diríamos que o roteirista exagerou na dose.
Mas a realidade, como sempre, supera a ficção.
Em vez de Raymond Shaw, temos Donald J. Trump, o magnata de Nova York que, em uma reviravolta digna de Shakespeare (ou de Kafka), ascendeu ao cargo mais poderoso do mundo.
E, em vez dos coreanos, temos os russos.
Ah, os russos!
Aqueles mestres da intriga, da desinformação, do jogo de xadrez geopolítico.
Se Condon estivesse vivo, certamente diria: “Eu avisei.”
Vamos aos fatos, ou melhor, à ficção que se confunde com a realidade.
Imagine, caro leitor, um homem como Trump — vaidoso, egocêntrico, obcecado por poder e atenção — sendo “recrutado” em uma de suas viagens a Moscou nos anos 80.
Talvez em um jantar no Kremlin, regado a Vodka e caviar, onde ele foi exposto a técnicas de lavagem cerebral tão sofisticadas que nem ele mesmo percebeu.
Ou, quem sabe, foi algo mais simples: um elogio bem colocado de Putin, um tapinha nas costas, e pronto — Trump estava vendido.
Afinal, como o próprio Richard Condon parece ter dito: “nada é mais perigoso do que um homem que acredita em sua própria propaganda.”
E assim, anos depois, temos o espetáculo: Trump, o agente dormente, é ativado.
Não por um ás de copas, como no filme de 1962, mas por um tuíte, uma palavra-código, ou talvez uma ligação direta de Moscou.
De repente, o homem que prometia “tornar a América grande novamente” começa a agir de forma suspeitamente alinhada aos interesses russos.
Ele questiona a OTAN, elogia Putin, desacredita as agências de inteligência americanas.
Coincidência?
Claro que não.
Na nossa sátira, Trump é o Raymond Shaw dos tempos modernos — um fantoche, uma marionete cujos fios são puxados de longe.
Agora, para os mais jovens que não conhecem o clássico de 1962 (ou que preferem a versão de 2004, com Denzel Washington no papel do major Ben Marco), permitam-me atualizar a trama.
Na versão moderna, Denzel é um agente do FBI ou um jornalista investigativo que, após anos de pesquisa, descobre que Trump foi “ativado” em uma reunião secreta em um hotel moscovita.
Talvez tenha sido um vírus de computador, ou uma sequência de códigos subliminares escondidos em um episódio de “The Apprentice”.
De repente, cada tuíte absurdo, cada declaração polêmica, cada ataque às instituições democráticas faz parte de um plano maior.
Trump, como o Raymond Shaw de Liev Schreiber, é um peão em um jogo que ele nem mesmo compreende.
E aqui está o trágico — ou cômico, dependendo do seu senso de humor — desfecho.
Assim como na versão de 2004, o Agente Johnson (nosso Denzel) tenta confrontar Trump em um debate político ao vivo, mostrando ao mundo as evidências de sua lavagem cerebral.
Imagine a cena: Trump no palco, discursando para uma multidão de apoiadores, quando de repente o Agente Johnson aparece com um pendrive contendo vídeos comprometedores e uma apresentação de PowerPoint detalhando o plano russo.
É puro cinema, mas também é pura realidade — ou algo próximo disso.
No final, como a frase atribuída a M. Twain , “a verdade é sempre mais estranha que a ficção.”
E, no caso de Trump, a verdade é que ele pode não ser um agente russo, mas certamente é um sintoma de uma era em que a desinformação, a manipulação e o culto à personalidade se tornaram armas poderosas.
The Manchurian Candidate nos alertou sobre os perigos da lavagem cerebral e da guerra psicológica.
E, hoje, mais do que nunca, esse alerta parece urgente.
Afinal, como alguém já disse: “o inimigo nem sempre está do lado de fora — às vezes, ele está bem ali, no comando.”
O Brasil na Era do Realismo Fantástico
Se Sob o Domínio do Mal previu a subordinação política via tecnologia, o Brasil de 2025 mostra que até a soberania pode ser hackeada.
Entre ameaças veladas de intervenção militar e lawfare patrocinadas por think tanks estrangeiros, o país virou palco de um golpe em câmera lenta — onde cada capítulo é anunciado por tuítes e desmentido por notas oficiais em letras miúdas.
Bolsonaro, nesse enredo, é ao mesmo tempo vilão e vítima: um Candidato Manchuriano tropical, cujo controle remoto alterna entre o Alvorada e Mar-a-Lago.
Enquanto isso, Trump pratica o que há de mais novo no imperialismo digital: a colonização via 5G, com direito a emojis da bandeira brasileira desbotada.
A pergunta que resta não é “haverá golpe?”, mas “qual versão assistiremos na Netflix?”.
Porque num país onde o real já superou o fantástico, até o autoritarismo vem com opção de replay.
E o crédito final?
Uma mensagem subliminar: “Este filme é uma ficção. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência… ou algoritmo”.
#ChupaQueÉDoSTF